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Inspector Zé e Robot Palhaço em Crime no Hotel Lisboa - Análise

O cum Catano…

Não posso deixar de fazer referência a uma das máquinas de arcadas presentes no interior da loja Press Play Arcade, que corre o fantástico Super Bang On, sim, a sério. Numa outra está uma criança a jogar Operation Poodle acompanhado de um adulto, com os dois protagonistas a questionar se o miúdo conseguiria distinguir a violência no jogo da vida real, apreciei a referência, não entendi se os produtores teriam algo a afirmar.

O jogo ainda encontra espaço para um tributo à música Portuguesa, com a presença do pianista de Jazz Filipe Melo em forma digital no bar Gaf, e da fadista Alexandra Martins, acompanhada dos músicos Ricardo Gordo e Samuel Lupi, a cantar a sua versão de "Caldeirada" no restaurante Noitadas. Grande música, um bem-haja aos artistas Portugueses.

O tom é acompanhado nos diálogos, embora nesse caso a coisa varie mais entre o engraçado e o simplesmente estúpido. As personagens não têm voz, as conversas são sempre acompanhadas pelos tradicionais balões de texto, que têm a vantagem de dar espaço para que seja a nossa imaginação a determinar o tom das falas. O robot palhaço é especial nesta matéria, por ser naturalmente inconveniente e ter sempre algo a acrescentar.

É também o único com consciência de que tudo não passa de um videojogo, conceito alienígena para Zé. O raio do palhaço chega mesmo a reclamar das letras garrafais que surgem nos diferentes capítulos, por taparem os balões de diálogo, "raio do jogo tapa as minhas falas". Muito boa a forma como o jogo percebe as emoções que vai desencadeando no jogador.

O gameplay envolve a procura de objectos escondidos algures pelos edifícios nos cenários em Lisboa, viagem que também vos poderá conduzir a locais estranhos, becos progressistas, ou até o exterior do próprio sistema operativo. Os objectos conseguidos são depois utilizados como prova no momento que interrogámos um suspeito. Faz lembrar L.A. Noire, temos que combinar a utilização dos objectos para reforçar as frases que seleccionamos nos interrogatórios e levar o suspeito a confessar... qualquer coisa.

Podemos conduzir as "entrevistas" com qualquer um dos membros da dupla, mas certos suspeitos apenas revelarão a verdade a um deles. Existe ainda uma cena em que conduzimos um interrogatório duplo, utilizando tanto o inspector Zé como o Robot Palhaço. As perguntas vão ficando cada vez mais dúbias ou similares dando uma ilusão de dificuldade, mas na prática, podemos progredir facilmente com a técnica do "tentativa-e-erro".

"Vestimos a pele do inspector Zé, um detective privado distinguido na licenciatura de investigação criminal com a respeitável classificação de Dozeoito."

Não tem valor de repetição, algo inerente ao género, mas para lá do crime das 14 facadas, existem três saidequestes, e ainda nove cassetes VHS escondidas pelo jogo, que depois de adquiridas, dão acesso a mais preciosos momentos de humor sobre a história do grande Zé. Desde já o meu cumprimento à equipa da Nerd Monkeys pela forma aplicada com que escondeu as cassetes, ou por outras palavras, pela quantidade de "beta testing" envolvido.

Existe ainda um modo de jogo denominado de "Palhaço em pé", que é basicamente o trabalho nocturno do Robot Palhaço. Este já que não dorme, vai para o bar contar anedotas, cabendo-nos a nós a responsabilidade de as terminar e fazer rir o público. É um extra se estivermos aborrecidos o suficiente e quisermos ouvir anedotas toda a noite.

A minha experiência foi curta, cerca de oito horas em duas sessões de jogo, livre de problemas e àquele ritmo em que o tempo passa rápido. O jogo está disponível em Português e Inglês, é das poucas vezes em que nos podemos orgulhar de perceber tudo melhor do que "toda a gente", temos familiaridade com os ambientes, com as figuras, costumes e língua. E depois, os Ingleses nem sequer percebem a piada de só ter dois canais, a RTP1 e a RTP2.

Com todos os seus méritos e limitações, Inspector Zé e Robot Palhaço em Crime no Hotel Lisboa não só é genuinamente nacional, como tem orgulho em ser Português, isso foi o que mais apreciei nele. As mecânicas e certos traços culturais são transversais à língua, e por isso pode e deve ser uma bandeira, sigam-no, apoiem-no, e pela nossa Senhora dos Assobios, joguem-no.

7 / 10

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