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Far Cry 3 - Análise

Um paraíso ou um terrível pesadelo?

Existem várias skills desbloqueáveis dedicadas aos assassinatos furtivos (Takedown), uma delas permite matar um guarda, roubar-lhe a faca e arremessa-la na direção de outro guarda, ou até retirar-lhe a craveira da granada e empurrá-lo para junto dos compatriotas. O jogo recompensa a ação furtiva, sem nunca a tornar obrigatória nem desgastante. Mesmo no caso da caça, alguns animais são agressivos quando nos aproximamos, outros fogem desalmadamente quando percebem as nossas intenções, se nos aproximarmos de modo furtivo escondidos por entre as ervas, uma única seta é capaz de executar o trabalho de modo mais eficiente e discreto.

Cada área selvagem é dedicada a uma espécie de animal, cujo couro precisamos para melhorar a quantidade de munições que transportamos, outro elemento importante da progressão. O melhor é que os animais não são hostis apenas connosco, e não posso deixar de contar um episódio fantástico em que depois de uma abordagem menos cuidada, fui obrigado a fugir de um grupo de guardas para o interior de uma zona selvagem. Eles separaram-se para me procurar, e mesmo quando me preparava para atacar dois desses guardas junto a um riacho, surge um grupo de dragões de Komodo que ataca e mata os dois guardas obrigando-me a recuar silenciosamente com um sorriso malévolo na cara, fantástico.

Neste caso foi pura sorte mas podemos utilizar os animais selvagens a nosso favor de outras maneiras, os grupos de piratas costumam guardar tigres em jaulas nos acampamentos, uma boa forma de os surpreendermos é libertando primeiro estes animais para provocar o pânico no campo. Há simplesmente tantas formas de abordar o gameplay, tanta imprevisibilidade que se torna uma obsessão conquistar e explorar os vários pontos de interesse. Mesmo as zonas subterrâneas, que normalmente escondem colecionáveis, são francamente bem desenhadas, com um cuidado notável com o detalhe.

Outro elemento interessante, e que foi adaptado da série Assassin's Creed, são as torres de rádio espalhadas pelo mapa, e que desbloqueiam os objetivos da área envolvente assim que atingirmos o seu ponto mais alto. Algumas delas são autênticos puzzles de plataformas adaptados para um FPS. Cada campo tem também um ou mais objetivos opcionais, que se dividem entre assassinatos ao estilo Rakyat (de faca), a caça de animais raros, e as entregas de mantimentos em tempo limite onde pomos verdadeiramente à prova as nossas capacidades como condutores. A variedade de veículos é notória, barcos, carros, motos, e até uma asa delta servem a navegação do jogo.

"...uma aventura a todos os níveis memorável e que vai simultaneamente transformar Jason e fazer-nos, enquanto jogadores, questionar as nossas próprias ações."

A história principal é onde o jogo se torna mais “scripted”, ao bom estilo dos jogos de ação modernos, mas que me recordou em vários momentos o saudoso Half-Life 2, pelo modo inteligente como o próprio nível ou zona orienta a nossa ação, sempre acompanhada de muitos valores de produção, estruturas a ruir organicamente, explosões, quedas e situações em que desacreditamos ser possível sobreviver. Lembro-me por exemplo de um templo subterrâneo de proporções fantásticas, que acaba por ruir nas nossas cabeças e que é um ótimo exemplo da execução técnica que a Ubisoft Montereal conseguiu.

Julgo aliás, que neste campo Far Cry 3 é do melhor que esta geração tem para oferecer, qualidade nas texturas, da selva, das personagens, da água, grande profundidade e detalhe nos cenários, e uma surpreendente utilização da luz durante o ciclo orgânico de transição horária. O fogo é particularmente surpreendente, a alastrar pela vegetação e edifícios, mudando de cor conforme a intensidade e formando inclusive ondas de calor quando nos aproximamos. A versão que joguei foi para PC utilizando já o DirectX 11, e apesar de não conseguir utilizar as especificações todas no máximo, a ilha não é mais do que deslumbrante.

No capítulo sonoro os diálogos são sempre convincentes, e as animações faciais das personagens durante estes momentos são do melhor que alguma vez vi em videojogos. A música serve para aumentar a tensão nos momentos chave, amplia o nosso estado de imersão quando surge, e em certas alturas consegue mesmo transformar um momento de prazer em êxtase. Quando jogarem Far Cry 3 e vos pedirem para queimar uma série de plantações de cocaína com um lança-chamas talvez se recordem disto mesmo, o casamento entre a música e o ritmo da ação nesta fase está memorável.

Seria estranho terminar a análise sem uma palavra em relação às armas do jogo, afinal, isto ainda é um FPS. Existe uma respeitável quantidade de armas ao nosso dispor, não é exagerada e torna a maioria das armas interessantes, o que nos coloca um problema na hora de decidir quais utilizar dentro do espaço limitado que podemos carregar. Muitas delas podem ainda ser personalizadas com silenciadores, miras laser e uma maior capacidade de armazenamento de balas e rapidez de recarregamento. Se ficarem sem dinheiro, uma boa forma de recuperarem as vossas finanças no jogo é visitando um dos bares podres disponíveis, onde encontrarão parceiros para uma partida de Poker.

O único aspeto negativo a apontar é o facto de ao final de algumas horas, depois de termos percebido o padrão que o mapa impõe, se tornar repetitivo desbloquear a torre, conquistar os campos, apanhar o couro dos animais da área e seguir para o ponto de exclamação. Esta ordem mantem-se constante é verdade, mas a imprevisibilidade da ação é tão grande que disfarça este problema e torna cada captura num momento único e por isso interessante.

Vídeo Análise Far Cry 3

O jogo oferece ainda um modo cooperativo de até quatro jogadores e um modo multijogador como é obrigatório nos shooters modernos. A história do Co-op é independente e disponibiliza o seu próprio enredo e personagens. Fica algures entre a história principal e o multijogador e é uma boa forma de aumentar ainda mais o conteúdo de jogo sem estragar a campanha principal. Como compreendem é impossível falar a fundo do modo multijogador nesta altura, ainda falta algum tempo para que o jogo fique disponível para o público geral. Destaco ainda assim a possibilidade de participar em mapas criados por utilizadores que basicamente pode perpetuar a experiência neste modo, e ainda a existência de tabelas de líderes e achievements assentes na plataforma Uplay da Ubisoft onde corre o jogo no PC.

Resumindo, que experiência intensa que foi Far Cry 3, e eu que não sou particularmente fã de FPS. A nível emocional o enredo lembrou-me muito Spec Ops: The Line, mas acompanhando esta qualidade em termos de “level design” e gameplay. É um ampliar do que conhecemos dos jogos anteriores da série, com um nível de detalhe, variedade e polimento surpreendentes e conjugados num mundo aberto que apesar de extenso, é uma estranha e agradável prisão de maníacos. Como sempre, não será perfeito para todos, mas é altamente recomendado para qualquer um que goste de jogos e absolutamente obrigatório para os fãs do género.

10 / 10

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