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Rainbow Six Siege - Análise

Pura precisão táctica.

Siege sofre com escassez de conteúdos e um foco agressivo no multi de contornos profissionais. A falta de campanha vai desanimar.

Rainbow Six: Patriots foi anunciado em 2011 como um novo jogo do estúdio Ubisoft Montreal. Após três anos de conturbado desenvolvimento, durante o qual as principais mentes por detrás do projecto foram descartadas, a Ubisoft decidiu cancelar esta entrada na série. Patriots, que parecia apostar numa campanha cinematográfica similar ao que vimos nos dois Rainbow Six Vegas, e até nos dois Advanced Warfighters, na anterior geração, foi cancelado. Em 2014 a Ubisoft anunciou a decisão de apresentar no seu lugar este Rainbow Six Siege. Algo se deve ter passado nos estudos de mercado da companhia pois além da mudança de nome, a postura do jogo é completamente oposta ao que foi inicialmente apresentado.

Se Patriots sugeria os mesmos moldes dos títulos da anterior geração, Siege revelou uma nova atitude. Sem campanha, focado no multijogador entre equipas e com uma forte sede de ganhar o seu espaço nos eSports profissionais. A Ubisoft não está para meias medidas, a sua intenção é, tal como outras, dar às consolas um título capaz de deixar os fãs dos jogos de acção na primeira pessoa de tal forma vidrados com o desafio da sua experiência que não mais queiram jogar outra coisa. Para sustentar tamanha ambição, a equipa de desenvolvimento sabia que precisava de bases muito fortes e desde logo estava consciente que seriam necessárias decisões que poderiam afastar alguns jogadores.

Desde os primeiros instantes que Siege nos revela a sua natureza Always Online, uma necessidade que a Ubisoft encontrou para procurar equilibrar ao máximo a sua ambição profissional. Podemos jogar desligados dos servidores, mas a experiência fica altamente reduzida e até a própria recolha de experiência fica afectada. O que mais vos poderá assustar desde logo é o tamanho tão pequeno do menu principal, que nos revela apenas três opções de jogo: Situations, Multi-jogador e Terrorist Hunt.

Num jogo com uma personalidade tão vincada, focado numa jogabilidade que procura ser competitiva, é normal que seja primeiro necessário ensinar aos novatos as regras que terão que respeitar. É dessa forma que Siege está estruturado. O primeiro passo terá que ser no modo Situations, onde iremos jogar 10 pequenas missões que nos colocam perante diferentes situações que representam objectivos na vertente online. A grande maioria delas dura cerca de cinco minutosm mas serão convidados a voltar a jogar para obterem mais estrelas e receber mais Renown Points (a moeda in-game criada pela Ubisoft para Siege).

"O que mais vos poderá assustar desde logo é o tamanho tão pequeno do menu principal, que nos revela apenas três opções de jogo"

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Estas 10 Situations permitem conhecer as mecânicas e o ritmo do jogo que moldam a jogabilidade. Existem três dificuldades à escolha e se a Normal já será um grande desafio para quem se estreia, a dificuldade realista será para vos deixar de boca aberta. Podem ainda passar por tutoriais que ensinam de forma mais rudimentar a jogabilidade, mas as Situations são exemplos mais práticos e emotivos. Nelas iremos aprender o comportamento das armas, o peso do seu coice, como utilizar os gadgets que nos permitem um reconhecimento furtivo da área numa fase de planeamento, e ganhar a experiência necessária para adquirir um Operator.

Estes operadores, unidades especializadas vindas de algumas das forças especiais mais competentes do mundo, são, por assim dizer, os personagens que iremos escolher na vertente competitiva multi. SAS, FBI, GIGN, Spetnaz, e GSG9 são as cinco unidades especiais que teremos à nossa escolha aqui em Siege. Quatro personagens em cada, dois especializados em ataque, e outros dois especializados na defesa: os dois lados que teremos que conhecer nesta experiência do estilo polícia vs. terroristas.

Tão focado na vertente competitiva, com uma personalidade tão táctica, e ciente da necessidade de assumir um tom que lhe abra as portas do eSports profissional, a Ubisoft programou a experiência para ser o mais harmoniosa possível entre a comunidade que poderá nascer aqui. Tudo o que fazem vos garante Renown Points, aliás, se comprarem o Passe de Temporada até recebem RP extra, para que possam caminhar de forma persistente para o acesso a novos Operadores. Com diferentes armas, gadgets e habilidades especiais, podem fazer a diferença e somos convidados a ter pelo menos dois de cada antes de enveredar pelo multi.

Podem na mesma aderir com o vosso banal Recruta, mas vão sentir a diferença para quem tem um Operador, e num espaço que se poderá tornar de tal forma tenso, até ficam incomodados com a vossa ousadia. Nos três modos de jogo seremos expostos a situações como salvar um refém, desactivar uma bomba levando uma mala para a proteger enquanto desactiva automaticamente o dispositivo, eliminar os diversos alvos dentro de um local, recuperar itens, ou todo o tipo de situações que envolvam proteger/atacar um espaço. Basicamente, situações familiares para quem se entregou à precisão táctica e jogabilidade estratégica de Rainbow Six Vegas, mas agora glorificado a um extremo pensado na competitividade profissional.

Assim que completarem todas as Situations e tiverem passado algum tempo em Terrorist Hunt (permite jogar localmente ou a solo mas sempre ligado aos servidores), com o vosso Operador desejado, é então aconselhado entrar na vertente online e desde logo vão ficar assustados com a sensação de que tudo é tão real, o peso das nossas decisões pode ditar uma crua e prematura morte. Sempre que são abatidos, não existe qualquer respawn, ficam a assistir através de câmaras de vigilância ou na perspectiva dos colegas até essa partida terminar. Tal e qual como em Vegas, o primeiro impacto será o peso de uma equipa.

Acabei de entrar numa partida online na qual estou na equipa que defende, tenho apenas o meu recruta, porque não fiz as Situations necessárias para comprar pelo menos dois Operadores, e apenas comprei um de ataque e à minha volta vejo os colegas a armadilhar o chão, a colocar tábuas que tapam as portas, a ocupar posições estratégicas, e a aguardar pela inevitável ofensiva. Passados alguns minutos, o ambiente não é tenso mas sente-se um assustador respeito pela experiência de jogo que nos diz que se falhamos, perdemos, e acabou. A equipa ofensiva ataca e vindo do nada, sou abatido por um ataque especial de um operador ofensivo e fico fora de combate.

O jogo informa logo que de 5 vs. 5 já só estão 3 vs 5, mas o planeamento ofensivo foi de tal forma bem pensado que rapidamente despacham os restantes três. Na minha equipa, o peso de dois recrutas é aparente. Passados alguns instantes, estou do lado ofensivo e nesta espécie de embaixada, podemos enviar pequenas câmaras sob rodas para procurar pelo edifício locais de interesse e por onde entrar. Quando assumimos o controlo do operador, agora com um atacante da SAS, uma ascensão em rappel pela lateral do edifício, permite entrar por uma janela partida no telhado e descer até ao centro. Após investigar duas salas, fica claro que estão todos no mesmo local onde estávamos momentos antes.

Descendo então umas escadas à direita, ouço tiros e alguém da equipa adversária é abatido, indicando que um colega evitou um ataque lateral que seria desastroso. Ao descer os degraus vejo um adversário mas o meu tempo de reacção não é o suficiente e falho os tiros preciosos. Sei que a sua saúde não regenera mas ainda assim revelei a minha posição e comprometi um camarada. Após me proteger, tento uma segunda vez mas agora a falha de precisão no disparo foi mais impiedosa, sou abatido e a minha equipa fica com menos um. Assim perdemos rapidamente o jogo pois ficamos comprometidos. O que mais me recordo é de me sentir inútil e impotente.

"Assim perdemos rapidamente o jogo pois ficamos comprometidos. O que mais me recordo é de me sentir inútil e impotente."

Rainbow Six Siege vai conseguir incutir em vocês um espírito de competitividade, poderá até ser tão áspero que a ideia de diversão dará lugar a um empenho de quem não quer cometer erros. Dessa primeira experiência aprendi logo algumas lições muito importantes que nenhuma Situations me poderia ensinar. Não joguem Siege sem uma forma de comunicar com os colegas de equipa. Se preferível, encontrem uma equipa e formem hábitos para se ajudarem, caso contrário usem a voz para comunicar. Provavelmente é muito mais importante aqui do que na maioria dos jogos.

Se esperam abordar Siege de uma forma casual, então esqueçam, o gameplay não o permite e não vão respeitar o dinheiro que investiram na experiência. Desde logo percebi os meus erros. Na primeira fase, na defensiva, não tinha um personagem ou conhecimento do cenário que me pudesse retirar da desvantagem inerente que nem havia assimilado, enquanto na fase ofensiva, já com um Operador, não tinha contacto com a minha equipa, não pesquisámos o cenário da forma devida, não trocamos estratégias e nem sequer tive apoio quando encontrei um adversário. Siege é assim tão minucioso e castigador quanto isto. O vosso erro tem um preço muito alto.

Lá fui eu embora com vergonha, voltei ao Situations, desbloqueei mais um Operador, e investi mais tempo a conhecer os mapas e as diferentes habilidades. Rainbow Six Siege é um jogo que pode assustar, mas tal é devido à sensação real e até sentimos nervosismo quando estamos no multijogador, aquele desejo de não querer errar. Cada tiro que sofremos tira imensa energia, não existe sistema de regeneração. Se não aprendermos a utilizar as mecânicas a nosso favor, estamos tramados.

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Siege é um jogo duro e bruto, que não vos dá a mão e será somente para os que reconhecem o seu peso estratégico. A sensação de estarmos num ambiente tão real quanto possível, em que sentimos imenso suspense que parece sufocar qualquer diversão que podia existir, é algo que poderá moldar a forma como encaram a experiência. Não existem aqui os fogos de artifício de outras séries, é tudo tão terra a terra que se torna até assustador. É a mesma experiência Rainbow Six, mas glorificada para servir os propósitos do eSports no qual todos devem estar no mesmo pé de igualdade. Feito para privilegiar quem respeita a jogabilidade e honrar quem a ele se dedica.

Em tudo, Siege poderá assumir-se como uma experiência brusca e demasiado crua até. Tudo muito simples e directo, os modos de apoio apenas te preparam para a sua natureza explicitamente online, e a ausência de campanha como meio de nos preparar para esse online poderá afastar muitos potenciais jogadores que adoraram a série na anterior geração. Moldar a jogabilidade para uma natureza competitiva profissional significa que tudo tem de estar de tal forma controlado que será preciso limitar as variáveis que o jogador poderá corromper. Siege apresenta uma jogabilidade firme e precisa, mas que poderá não ostentar a espectacularidade desejada nestes dias.

" Siege poderá assumir-se como uma experiência brusca e demasiado crua até."

Aliás, a sua componente visual será encarada como extremamente fraca para os padrões actuais. Apesar de alguns bons efeitos de iluminação ajudarem a recriar belos cenários que poderiam estar numa série de TV que gostamos de ver, a qualidade das texturas é demasiado fraca para respeitarmos o jogo em termos visuais. Foi um gesto deliberado pela Ubisoft para permitir que o jogo se foque na sua jogabilidade e para permitir a personalização ou destruição dos cenários. Ainda assim, Rainbow Six Siege não é um jogo bonito de ver.

Um dos maiores desafios perante Siege é consciencializar os jogadores que não estão perante um free to play disfarçado de jogo vendido a preço completo. Será consciencializar os jogadores que apesar de poderem pagar para subir de nível, ou para terem algumas coisas mais cedo, a experiência competitiva profissional não será desequilibrada. Esta é o maior desafio de Siege, mesmo depois de convencer os jogadores a ficarem com o seu precioso rigor táctico.

Rainbow Six Siege é para um grupo restrito de jogadores que gostam de sentir o peso de um desafio credível. Não existem explosões nem violinos a tocar, apenas a dura e cruel noção de situações sem piedade. Se encontrares um grupo de jogadores tão dedicado quanto tu e que entenda a necessidade de comunicar enquanto equipa, começarás a sentir do que é feito este Siege. Caso contrário, ficarás perdido num jogo em que a componente a solo é muito fraca e não conseguirás estar à altura da natureza altamente competitiva desta experiência. Como dizem os mais sábios, não existe "eu" em equipa.

Pena que Rainbow Six Siege não afaste a sensação que ao invés das Situations, uma campanha faria melhor serviço para enriquecer o pacote completo, especialmente para quem vibrou com o cooperativo na anterior geração. Sentimos uma falta de conteúdos, poucos modos de jogo, e um papel demasiado relevante nas micro-transacções. Com uma vertente gráfica mais competente e uma campanha, a nova aposta agressiva nas regras tácticas poderia resultar. Será difícil justificar o preço pedido quando temos a clara sensação que não nos são entregues conteúdos que o justifiquem.

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