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Guacamelee: Super Turbo Championship Edition - Análise

Força em estado bruto!

Tal como Street Fighter II obteve diferentes edições como Championship, Turbo e Super, também Guacamelee, o delicioso jogo de plataformas e beat'em up, da Drinkbox Studios, uma das grandes surpresas de 2013, ganhou neste lançamento em 2014 para um novo acervo de consolas, entre as quais a Wii U, uma nova terminação na sua designação. Super Turbo Championship Edition é o subtítulo extra que traduz a adição de mais níveis e bosses, bem como os conteúdos lançados para o original a título adicional. Não conseguimos deixar de encontrar aqui alguma paródia em volta das sucessivas edições do jogo de luta clássico da Capcom e até dos movimentos mais proeminentes de certos lutadores como o "Dragon Punch". Todavia, esta é a edição definitiva de um dos jogos mais relevantes do panorama videojogável de 2013.

Como escrevera Bruno Galvão, o terceiro jogo dos canadianos Drinkbox Studios "é sem dúvida o seu melhor". De facto, o jogo assenta num modelo organizado a partir da estrutura Castlevania e Metroid, e conjuga dois elementos: acção e plataformas, e toda uma carga simbólica mexicana, com o que isso implica em termos de apresentação, traço das personagens, indumentárias, construções, espaços, música e costumes dos npc's. É impossível não pensar em duas coisas quando jogamos Guacamelee: sombreros e o murro do dragão de Ryu, o que desde logo confere uma singularidade ao jogo e a propensão para se distinguir imediatamente dos jogos que possam servir de influência. Guacamelee pode ser a soma de muitas influências mas também é uma produção muito genuína, mesmo que nos apercebamos que o núcleo daquele modelo não é novo.

Sweet home.

O jogador é Juan Agacate, um simples lutador de uma cidade mexicana. Mas um dia Carlos Calaca deita mão ao que lhe é mais precioso, a filha do "El Presidente", com a qual aquele pretende alcançar o poder. A jornada abre num espírito de demanda solitária, com Juan a perseguir e defrontar os primeiros inimigos e oponentes, nesta sua missão que vai ficando mais clara à medida que descobrimos as intenções do vilão mas também a dimensão extraordinária daquela porção de México que nos rodeia, fustigada por uma onda de forças malévolas.

Estética e design são alguns dos elementos que mais depressa sobressaem durante os primeiros tempos de contacto com o jogo. Os movimentos, golpes e combinações de Juan, ainda se encontram num estado primitivo, como um lutador que se encontra a treinar para a real demanda, ainda sem sentir o desafio. Sendo assim, é natural que até ao fim da primeira hora, o jogador, embora aprecie as operações de soco daquela personagem em crescimento, convoca a sua atenção para a riqueza dos magníficos cenários, cobertos de símbolos de um México primitivo e interior. A perspectiva clássica 2D funciona bem, sobretudo quando avançamos em direcção a florestas e encontramos mais contrastes e uma direcção de cores muito viva e expressiva, com um traço vincado e muito original. Entre as novas áreas, destaca-se a secção conhecida como Pico de Gallo e o Canal de las Flores.

A sensação de profundidade do cenário não é muito grande, levando por vezes o jogador a ter alguma dificuldade em descobrir a saída, mas isto é pouco relevante. Assim que sabemos que podemos subir ou descer à procura do ponto assinalado no mapa, bem saliente no ecrã da Wii U, podemos voltar atrás e seguir outra trajectória. Literalmente, os cenários que vamos atravessando formam bonitos quadros que não conseguimos deixar de contemplar, interrompendo a missão nem que seja por uns breves segundos.

Intenso.

Outro aspecto dominante no jogo é o humor, bem patente numa série de expressões em espanhol - não podíamos esperar outra coisa - mas também alguns desenhos cómicos ou cartazes como aquele em que vemos dois lutadores, anunciados como Los Super Hermanos, mas também encontramos referências a jogos da Nintendo, como o Mario Bros, quando dizem a Juan que a princesa está noutro castelo. Interessa salientar que o jogo está em português, mas do Brasil, pelo que é natural que certas expressões tenham uma identificação imediata. A alternativa passa por mudar o idioma da consola para inglês, caso prefiram.

Durante a sua demanda, Juan pode oferecer ajuda a aldeãos e npc's que solicitam determinados pedidos, como juntar galinhas ou encontrar um elemento de uma banda musical. Encontrando as soluções, Juan é devidamente recompensado, embora nem sempre tenhamos disponibilidade ou vontade para ficar ali muito tempo no mesmo sítio à procura da agulha no palheiro, quando o dever chama por nós. A exploração horizontal e vertical é a nota dominante. Não existe um percurso linear ou só um trajecto até à meta. Vamo-nos aproximando por cálculo e por superação dos obstáculos.

Boa parte do sucesso do jogo advém do desenvolvimento das nossas habilidades destinadas ao combate, embora também possam ser usadas para desobstruir o caminho, quebrando blocos, ou chegar a plataformas mais elevadas, através do murro que lança Juan no ar, permitindo que ele chegue ao ponto mais elevado. Desta forma, o jogo não entra num ritmo monótono e previsível. Como uma pirâmide, também a evolução da personagem começa num nível básico para terminar no último poder que se sobrepõe aos demais. A luta não é só contra as vagas de inimigos, mas também pela sobrevivência do protagonista, ao longo de perigosos segmentos.

Dois jogadores para um boss.

Igualmente relevante é a capacidade para Juan equipar diversos fatos de lutador, que lhe atribuem golpes específicos e lhe conferem a habilidade para superar certos adversários. Para os obter, há um custo monetário, mas uma vez adquirido é possível alterar de fato a partir desse momento, embora só em pontos específicos. Juan coleccionará ainda pedaços de coração e também poderá melhorar os seus atributos, quase como num jogo de role play, a lembrar o incontornável Castlevania: Symphony of the Night. Uma nova habilidade é a "Intenso", que permite à personagem ganhar mais força e velocidade, temporariamente. A "Shadow Swap" é outra habilidade que permite a Juan transitar de dimensão para dessa forma derrotar certos adversários. De resto, o modelo de combate é muito amplo e assente em diversas habilidades que quase sempre acabam por refrescar os confrontos, com destaque para a batalha que irá opor Juan ao esqueleto tricéfalo que habita num vulcão.

O jogo incentiva com alguma regularidade para que um segundo jogador entre em cena, na pele de uma personagem feminina. Desta forma, em cooperação de esforços, dois jogadores podem derrubar com mais poderes o exército de caveiras que se esconde em cada área, mas nem por isso a dificuldade será aliviada. Não há dúvida que o sistema de combate e o design marcante são os elementos que mais sobressaem nesta experiência, ainda que por vezes fique a sensação de que podia existir mais alguma variedade e uma estrutura dos níveis com mais algumas surpresas, já que passar certos túneis ou segmentos pode ser algo que se consegue com uma mera "speedrun".

Guacameele: Super Turbo Championship Edition é a versão definitiva de Guacamelee. Não só abrange os níveis extra, como ainda oferece novas habilidades e novos oponentes. O essencial do jogo não foi alterado, pelo que não podemos falar numa sequela. A diferença nesta versão para a Wii U, face às demais, está na oferta do mapa através do ecrã do GamePad e nas significativas referências aos jogos clássicos e personagens da Nintendo, algo que os jogadores não terão dificuldades em reconhecer. Em suma, um jogo de acção e plataformas único, marcante e com uma abordagem muito própria e genuína. Frenético mas também desafiante, é uma demanda muito peculiar.

8 / 10

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In this article

Guacamelee: Super Turbo Championship Edition

PS4, Xbox One, Xbox 360, Nintendo Wii U, PC, Nintendo Switch

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Sobre o Autor
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Vítor Alexandre

Redator

Adepto de automóveis é assim por direito o nosso piloto de serviço. Mas o Vítor é outro que não falha um bom old school e é adepto ferrenho das novas produções criativas. Para além de que é corredor de Maratona. Mas não esquece os pastéis de Fão.

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