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Sniper 2: Ghost Warrior - Análise

Espalhafato cinematográfico desnecessário.

”Existem soldados e depois existem os snipers”, é este o principal slogan deste jogo de ação e tiros tático na primeira pessoa a cargo do estúdio City Interactive que nos deu o primeiro Ghost Warrior. É certo e sabido que a vertente sniper que incorpora nas centenas de FPS que por aí andam é aclamada e destaca por um forte segmento das suas devotas comunidades. Representam uma pausa de toda a intensidade dramática e cinematográfica que os FPS militares ostentam nos dias de hoje. Ao mesmo tempo servem para mostrar a perícia dos jogadores no acto de despachar inimigos nos competitivos online e de se tentarem destacar do resto no domínio de uma arma letal e mortífera, quando usada com astúcia.

Talvez por isso mesmo, Sniper regressa nesta sequela para tentar beneficiar da popularidade firme dos FPS militares e para tentar combinar com eficácia dois elementos extremamente importantes da sua essência: combinar todo um destaque para uma arma que força uma postura específica no campo de batalha e que somente surge numa ou outra missão no comum FPS (deixando aparentemente desejo para mais) com o mesmo tom cinematográfico e envolvente que séries como Call of Duty e Battlefield vão apresentando. Para tal foi ainda pedida a assistência ao motor CryEngine 3 para que visualmente este jogo estivesse ao mais alto nível e à altura das ambições do estúdio.

A questão aqui é se as duas componentes podem mesmo dar as mãos e existir lado a lado. É possível combinar o suspense, nervosismo ou concentração que uma experiência sniper representa com o tom cinematográfico e épico que os FPS militares imprimem? O grande problema deste Sniper 2 parece ser mesmo esse e o seu maior trunfo acaba inevitavelmente por seu o seu maior problema. Seria difícil conseguir um bom meio termo entre os dois pontos e este é um jogo que não o consegue.

Desde o primeiro instante em que começamos a campanha do jogo que se instala uma sensação de dúvida perante o trabalho do estúdio. Tudo transpira Call of Duty e temos mais uma história extremamente banal que tenta em vão impor um ritmo intenso e envolvente. Enquanto o jogo carrega em fundo, temos uma imagem com informações da missão enquanto uma conversa decorre entre personagens que tentam sem sucesso ter algum interesse. Isto é algo que já se viu em 2006 e passados 7 anos preferíamos algo próprio e original.

Sniper 2 coloca-nos no papel de um membro elite de uma esquadrão de snipers que vai cumprir várias missões. Toda a experiência está assente numa premissa, morte furtiva. Temos uma área, temos um determinado número e inimigos e temos que os eliminar. A margem para erro é praticamente nula, algo que me cativou, pois assim que somos descobertos, não temos capacidade para enfrentar a rajada de tiros que inevitavelmente surge.

Precisão, cautela e cuidado são pontos a ter em conta e estes elementos conseguem mesmo dar a Sniper 2 um breve ar de graça mas que não conseguem ser partilhados pelos restantes componentes da experiência de jogo. Com recurso a visões alternativas, como térmica, vamos despachando inimigos e temos que ter em conta elementos como balas falhadas que criam sons que podem alarmar, trajetória de bala com influência da altura e vento (um elemento bem interessante e do melhor na experiência) e a linha de visão dos inimigos. Este é um elemento bem implementado pois não podemos despachar os inimigos à vontade, temos que ter em conta quem vê o quê e quem está à frente de quem.

Nalguns momentos podemos até atacar corpo-a-corpo com uma faca, também aqui temos que ser decididos e mortíferos. No entanto, todo o esquema de controlo, toda a forma como o jogo se comporta transpira a Call of Duty e Sniper 2 sente-se como um produto sem qualquer inspiração, mais como uma imitação que podia ser muito mais lisonjeadora.

Existem breves momentos em que tudo funciona como deveria e sentimos que o jogo merece uma oportunidade. No entanto em termos gerais, mantém-se tudo demasiado banal e o interesse fica somente para os mais dedicados. Acredito que existe aqui um produto que poderia ser muito mais do que é e que com mais criatividade poderia ter sido bem mais do que é.

Visualmente temos o poderoso CryEngine 3 da Crytek e apesar de ser agradável ver mais um jogo de consola a usar este motor, este não é o trunfo que deveria ser. Mais provável é preferirem acreditar que nem é o aclamado motor que está em uso, antes outro qualquer sem as suas potencialidades. Apesar dos ambientes vastos, Sniper 2 não consegue um aparato visual arrebatador e que conquiste o jogador, antes um que mal cumpre e mais parece fruto de uma equipa sem inspiração. Sem contar com inúmeros problemas gráficos, desde aliasing a sombras, este é um jogo que não nos fica na memória por boas razões.

Mesmo os que não se perdem de amores por motores gráficos e técnicas de renderização para arregalar a vista vão ficar um pouco desiludidos com o nível insuficiente geral do trabalho aqui realizado. Nada tem o impacto que deveria e tal como o jogo em si, parece tudo banal e sem cumprir mesmo nos pontos mais básicos. Mesmo quando disparamos o tiro que vai eliminar o último alvo na zona, a imagem passa para uma perspetiva que segue a trajetória da bala desde o momento do disparo até atingir o alvo, temos algo que tenta ser 'wow' mas que apenas nos deixa a pensar que podia ser muito melhor.

Este é um jogo que na sua grande maioria se sente como uma imensa oportunidade perdida e até frustrante. Porque podia ser mais, ser mais arrojado, mais exigente consigo mesmo, podia dar mais ao jogador, podia fazer melhor tudo o que faz e até podia ser mais original. No entanto nem tudo é mau e existem coisas boas que deixam perspetivas para o futuro, agora resta saber se o estúdio vai estar preparado para isso. Até porque sentimos que cresce uma ligação entre nós e o jogo e queremos que seja mais, desejamos que seja mais...inevitavelmente ficamos pelo desejar.

Poderia ser tudo tão espectacular.

Que o diga o modo multi-jogador que parece refletir na perfeição todo o jogo no geral. Todos sabemos com o que contar e sabemos que não temos nada dinâmico e potencialmente mão muito divertido mas ao mesmo tempo ficamos com a sensação que poderia ser mais. Temos uma quantidade bem pequena de mapas, pelo menos debaixo dos padrões atualmente estabelecidos, e temos um modo que, devido à natureza do jogo, se torna monótono e aborrecido rapidamente. Não existe qualquer incentivo ao jogador para continuar a jogar e nada parece dizer ao jogador que tenta, pelo menos, ser divertido.

Imaginam passar toda uma ronda a levar com tiros de lado nenhum para depois descobrir que estava alguém bem lá ao longe que já vos estava a ver, então tem uma ideia de como isto é. Talvez não seja um grande adepto dos snipers, pelo menos quando inserido em breves doses nos rápidos FPS mais aclamados seja um bom elemento diferente, mas todo um jogo em redor desta classe não é tão divertido quanto esperava.

Se tiverem paciência e tiverem mesmo um desejo imenso por um FPS diferente dos que já tem, talvez possam ter aqui algo que vos dê para entreter. No entanto, deve ser encarado com grande cautela, por própria conta e risco, mais como uma mera curiosidade.

Sniper 2: Ghost Warrior não vai ficar na memória de ninguém e provavelmente mais vale jogarem as poucas missões sniper nos imensos FPS militares que já tem, a diversão deve ser maior. O City Interactive demonstra ter capacidade e até talento para muito melhor pois o jogo está repleto de boas ideias à espera de melhor execução e de melhor suporte das outras vertentes que se deviam suportar em cooperativo. Quem sabe no futuro não temos um jogo que realmente faça justiça aos desejos dos fãs.

5 / 10

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In this article

Sniper: Ghost Warrior 2

PS3, Xbox 360, PC

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Bruno Galvão

Redator

O Bruno tem um gosto requintado. Para ele os videojogos são mais que um entretenimento e gosta de discutir sobre formas e arte. Para além disso consome tudo que seja Japonês, principalmente JRPG. Nós só agradecemos.

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