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The Unfinished Swan - Análise

O conto do mistério e da singularidade.

Mais do que um jogo, The Unfinished Swan é uma experiência - e a presente geração tem sido rica nesses conteúdos. Com efeito, são projetos assim, singulares, que têm estreitado a linha que separa os videojogos da arte. São ensaios que noutros tempos seriam incapazes de vingar na indústria mas que, graças à visibilidade das plataformas de venda digital, têm cada vez mais força. O jogo da Giant Sparrow é o resultado desta conjuntura. A prova de que os jogadores estão cada vez mais preparados para apreciar estas formas de arte e, acima disso, o indicador que as produtoras precisam para fazer de pequenos projetos verdadeiras obras-primas.

The Unfinished Swan é intitulado como um "jogo sobre descobrir o desconhecido". E tão bem lhe assenta essa definição. É uma experiência que muda as regras do jogo. Desde o seu verdadeiro começo, priva os jogadores de ferramentas habitualmente utilizadas. Não sabes onde estás e muito menos para onde vais. Os cenários ora são escuros ao ponto de não se ver nada, ora são claros e cheios de um nada que é afinal tudo. Rompe com a apatia habitual e cria um sentimento que é, por vezes, de desconforto. Tudo isto é algo pouco habitual num meio em que estamos habituados a receber instruções que envolvem andar de um lado para o outro, com vista a um objetivo que é quase sempre óbvio. É por isso um jogo refrescante.

Conta uma história triste mas inspiradora. É um conto, como os que conhecemos desde pequenos, vivido na primeira pessoa. O jogador coloca-se na pele de Monroe, uma criança que perdeu a mãe, uma mulher que pintara mais de 300 quadros, nenhum deles acabado. Com a ida para o orfanato, a pequena criança pôde apenas levar um quadro e por isso escolheu "O Cisne Inacabado", o preferido da mãe. Numa noite, Monroe acorda e vê que o quadro desapareceu. Pega no pincel da mãe e embarca na aventura que a partir daí se desenrola. Tudo o que o jogador tem é o pincel, mas mandar tinta contra as paredes não é a única opção.

O enredo desenvolve-se de uma forma intensa, com apresentação constante de novidades.

The Unfinished Swan não é somente aquele jogo com cenários brancos e bolas de tinta preta primeiramente apresentado. Podia ser, mas não é. Apenas o primeiro capítulo do jogo se desenvolve com base nesta mecânica; e logo se desenvolve em algo completamente diferente, uma e outra vez. São várias as mecânicas de jogo conhecidas ao longo da narrativa, todas elas utilizadas em prol da história. Mas, se por um lado é fascinante ver um jogo capaz de se modificar tão facilmente para satisfazer a narrativa, por outro não deixa de ser uma pena perder a oportunidade de explorar de forma mais vincada algumas das suas ideias.

Desde logo esta primeira, da tinta preta no cenário branco. A sensação de desconforto é tremenda. Não saber o que se pisa e muito menos aquilo que está à nossa frente é uma sensação completamente diferente. Lançar as bolas de tinta parece satisfazer uma loucura inerente a todo o conceito - é uma sensação de "tirem-me daqui" constante em busca de algo onde nos possamos agarrar. Mas é fugaz essa impressão e o jogo não consegue acompanhar todo o seu potencial. A ideia é boa mas reflete-se parca em resultados práticos.

Mas se como jogador queria mais, e desde logo idealizei toda uma lista de ideias passíveis de serem utilizadas, como por exemplo um limite de bolas de tinta em cada nível, então como mero espetador da narrativa aqui apresentada não lhe posso apresentar esse defeito. Adorei a estória que me foi contada em todo o seu alcance. É de salutar o facto de ser a jogabilidade a alterar-se em prol da narrativa e não o contrário, como geralmente acontece a cada vez que uma ideia original é apresentada num videojogo. Tudo acontece na altura certa e no sítio certo. Não existe espaço para níveis de encher e o resultado é uma ação que se desenvolve a um ritmo completamente alucinante.

É intenso. Quando pensas que conheces uma coisa, o jogo bombardeia-te com outra mais. É um jogo arriscado, pois dá a volta a toda a conceção que temos dos videojogos. Não se focaliza em levar ao extremo uma ideia. Em vez disso apresenta várias. É um puzzler, pois requer que o jogador perceba como funciona cada mecânica que apresenta, ainda que, na sua génese, seja um jogo bastante linear e por vezes pouco desafiante. Pode ser jogado com o comando normal ou o Move, mas o segundo pouco acrescenta à experiência, quando até havia potencial. A jogabilidade vai acompanhando o progresso num total de 4 capítulos. No contexto da narrativa e da experiência que apresenta tudo bate certo. Fica, porém, a sensação de que algumas destas mecânicas podiam e mereciam maior ênfase.

Cada capítulo tem uma ideia base. Não me quero alongar neste sentido, pois quereria também isso dizer que estaria a estragar algumas surpresas. Há secções de exploração, algumas delas mais viradas para as plataformas, outras onde reina o incerto, como aliás é apanágio deste jogo. São diversas as formas de progredir descobertas ao longo do jogo, todas elas com um propósito na narrativa apresentada. Poder-se-á dizer que existe alguma falta de identidade, mas quando o resultado prático é eficiente não há muito a dizer.

"É uma experiência que muda as regras do jogo. Não sabes onde estás e muito menos para onde vais. Os cenários ora são escuros ao ponto de não se ver nada, ora são claros e cheios de um nada que é afinal tudo. Rompe com a apatia habitual e cria um sentimento que é, por vezes, de desconforto."

Acredito sim que o jogo poderia ter beneficiado de uma maior exploração das diversas mecânicas que apresenta, até porque seria possível fazê-lo sem alterar a estória base. Até porque, no final do dia, The Unfinished Swan é um jogo curto. Cerca de duas horas são quanto basta para acabá-lo e uma vez terminado pouco existe a fazer. A cada nível existem balões para descobrir que desbloqueiam algumas ferramentas, mas até isso é possível conseguir à primeira. Jogado uma segunda vez perde alguma da sua piada, pois o que era surpresa deixa de o ser. O enredo esse é intemporal.

Todo o jogo funciona como um conto. É, aliás, narrado dessa mesma forma, através de sequências de vídeo que separam os vários capítulos ou em pequenos excertos dentro do próprio jogo. A narração está em português e é realmente bem conseguida. Todo o conteúdo sonoro faz parte das grandes valias do jogo. O ambiente sonoro épico cresce e modifica-se consoante a progressão, resultando num clímax em cada momento crucial. O grafismo é um dos pontos mais surpreendentes. Porque é tão minimalista em certas alturas, acaba por destacar-se mais quando apresenta os seus atributos. O estilo está lá. Faz lembrar os gloriosos projetos da thatgamecompany e isso diz que baste.

The Unfinished Swan é uma excelente experiência para o público crescente que valoriza este tipo de videojogos. É bonito, simples e único. Consegue deixar um sorriso na cara tão facilmente como uma lágrima no canto do olho. É difícil ignorar que passa ao de leve sobre muitas das suas mecânicas e que isso resulta num jogo demasiado curto e talvez inexplorado. Mas é satisfatório ver um jogo que funciona tão bem em conjunto com a sua narrativa e capaz de apresentar ideias tão frescas e ousadas. Só lhe faltou arriscar um pouco mais.

8 / 10

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In this article

The Unfinished Swan

iOS, PS4, PS3, PlayStation Vita, PC

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Sobre o Autor
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Ricardo Madeira

Contributor

É redator e dá voz à Eurogamer Portugal. É um dos mais antigos membros da equipa, e ao mesmo tempo um dos mais novos. Confusos? É simples.
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