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The Legend of Zelda - Retro análise

Clássico que impõe respeito.

No dealbar dos 25 anos da série Zelda a Nintendo lançou aos fãs um amplo convite. Entre concertos orquestrais de atuação limitada por onde passaram temas imemoriais da série acompanhados de chapas e reproduções cinematográficas dos mais evocativos momentos da série, um novo e imenso desafio inscrito em Skyward Sword como exclusivo Nintendo Wii, encontramos também uma revisita ao passado, à firme história e tradição da Nintendo. Conhecer a História da Nintendo é saber mais sobre as bases desta indústria e do quão importante foram estes jogos de meados dos anos oitenta, cujos conceitos possibilitaram novas ideias e concretizações.

Com The Legend of Zelda, Shigeru Miyamoto começou por se adiantar no conceito de exploração de um mundo vasto aberto. Não foi um conceito novo. A aventura bebia inspiração nalguns jogos da época. Aquilo que conseguiu foi reunir e compilar num só jogo muitos predicados de sucesso. Apresentamos assim o herói Link, que percorre a vasta região de Hyrule, na sua primeira jornada épica, a fim de reunir a Triforce, resgatar a princesa Zelda e acabar com Ganon, o mal que invadiu a terra.

Além disso, existe toda uma simbologia que haveria de permanecer ao longo dos seus vinte e cinco anos. Da espada enquanto arma elementar de ataque e escudo como meio privilegiado de defesa, passando pela simbologia associada à triforce, pela natureza das dungeons, enquanto secções labirínticas interiores atoladas de perigos vários que constantemente põem à prova a nossa perícia, passando pelas arcas com tesouros, chaves que garantem acesso a zonas secretas, todo um mundo de descoberta se abriu quando em 1986 foi editado pela Nintendo para a NES/Famicom.

Os episódios seguintes, especialmente a Link to The Past - já dentro da geração 16-bit - sedimentar todo um processo, mas o que lhes deu mais valor foi a habilidade da Nintendo em se exceder perante cada novo desafio, prometendo à série Zelda novos padrões consoante a tecnologia emergente. Tendo sido na geração 8-bit que The Legend of Zelda deu os primeiros passos, é normal que jogar hoje o clássico não seja o mesmo de há dez ou quinze anos. Por isso é que se torna quase um mito pensarmos que é paradoxal encontramos um jogo que não seja difícil e exigente.

Nesta época marcada por um forte imediatismo, acesso a soluções, respostas rápidas e direções colocadas nos jogos para prevenirem que o jogador deambule nos territórios virtuais à custa de dicas e orientações subliminares ou marcadas pela persistência, The Legend of Zelda devolve boa parte dessa busca perdida. O que não é mau. A sensação de isolamento é grande e até a falta de diálogos serão depressa sentidos pelos fãs. Isso só nos deixa mais convencidos que a evolução da indústria é importante para proporcionar experiências mais ricas e fervilhantes e que o futuro ainda esconde muitas coisas boas antes que apareça um "crash" a implicar um restart ou mudar a face daquilo que conhecemos.

Não deixa de ser curioso, contudo, que a acompanhar o cartucho dourado editado pela Nintendo para a Europa nos idos de oitenta, viesse um mapa mundo de Hyrule, com todas as localizações apresentadas em rico detalhe. Lacrado e alertando para o seu uso apenas em caso de força maior, era uma espécie de último reduto e um lembrete à exploração, pois quem é que estaria disposto a completar o jogo sabendo que ao abrir o mapa e apontar para a solução não iria chegar ao fim de forma legítima. Sem esse pequeno grande extra, que apenas os colecionadores possuem e conseguem valorizar para lá da sua função enquanto guia, esta versão clássico do Zelda para a 3DS não é acompanhada desse bónus e deixa-vos totalmente por vossa conta.

Nessa medida, este jogo é mais cru e simétrico, mas ao mesmo tempo intrigante e pleno de fantasia nos poucos mas belos sprites, mais até do que qualquer Final Fantasy. Não tardará a surpreender e se as plataformas mantêm Mario Bros bem conservado após todos estes anos, Link terá nas profundezas das masmorras um sério desafio que permanece distinguível após todo este tempo. Vagueando pelo "overworld", nunca sabemos muito bem qual a área que vem a seguir. O mundo exterior é composto por zonas nucleares típicas de uma aventura em formação. Desertos, espaços verdejantes, lagoas, pontes. Estas secções estão interligadas e não há quebras na sua passam. Nem sempre conseguiremos aceder a todas numa primeira inspeção. Devemos por isso prosseguir para as entradas que garantem acesso às profundezas, onde reside sempre um adversário maior e uma secção labiríntica para a qual é decisivo chegar ao mapa, em ordem a descobrir todas as salas. Com mais objetos e um melhor apetrechamento no saco das coisa que levamos connosco poderemos ir mais além.

Em qualquer ponto os inimigos invadem o nosso percurso. A sua movimentação assemelha-se quase à de uma barata tonta, e essa imprevisibilidade de comportamento é que nos causa mais alguma dificuldade, embora justa. A única queixa que podemos apontar é a limitação da movimentação de Link na diagonal poder causar algum desconforto e à falta de armas de ataque à distancia, enfrentar diretamente os inimigos pode ser particularmente doloroso, especialmente se tiverem poucos corações. É por isto que este é um jogo bastante exigente. Muitos morrerão várias vezes antes de conseguirem derrotar um primeiro boss. Sem dicas e sem sugestões, sentimos que avançamos a nossas expensas, mas não é isso que também torna uma aventura mais autêntica e realista? Sinais dos tempos, seguramente. De qualquer modo e consoante as preferências por um sistema mais ou menos auxiliador, The Legend of Zelda possui um notável nível de design, e para a época este jogo representou uma impressionante injeção de criatividade que serviu de influência a outras produções. Felizmente e para a versão 3DS, os produtores deram-nos a possibilidade de gravar o jogo a qualquer altura, o que é pelo menos um mínimo exigível quando entramos nas "dungeons".

Outra coisa a reter é a limitação dos objetos. Não podendo desbaratar à toa as poucas munições ou bombas que possuímos sem causar qualquer efeito ou variação na área de jogo, há uma utilização quase estratégica e ponderada dos bens que possuímos, reservada para momentos decisivos como acontece com as batalhas contra os bosses. Nestes duelos a imprevisibilidade é grande e existem várias vias para atacar o nosso inimigo. A tensão que daqui resulta pode afetar o desfecho da batalha e o mais engraçado é que ao tentar vencer a batalha é como se os anos nunca tivessem passado e nunca nos tenhamos separado realmente desta obra triangular.

Sim, frustrante por vezes, haverá quem passe por dificuldades ao lidar com o lado mais agressivo desta obra. Há, no entanto, uma expressão criativa tão forte em Zelda, que depressa nos leva a confundir esta com as subsequentes aventuras; na riqueza das dungeons, variedade dos combates e no desconforto que deve ser sempre ponto seguro de uma aventura. Agora os tempos são outros e, neste passo acelerado, The Legend of Zelda terá perdido algum do fascínio que era evidente no fim da década de oitenta, embora mantenha intacto um genuíno e verdadeiro desafio apontado aos puristas. Aos outros fica o aviso se quiserem navegar ao sabor das suas duras condições.

7 / 10

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