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The Last Tinker: City of Colors - Análise

Cidade segregada por cores.

A estética é importante nos videojogos, entre outras coisas, porque é o primeiro elemento que comunica connosco. Digamos que é a estética que marca o tom, o ponto de partida. É, entre outras coisas, responsável pelo nosso estado de espírito para a aventura.

E a estética vai muito para lá das cores, desenho dos níveis ou sequer fidelidade gráfica. Ela envolve coisas como os sons, as formas, e como tudo se encaixa ou não de forma harmoniosa. Assim, o que pensar quando nos dão um mundo de cores vibrantes e contrastantes, que parece inspirado numa mistura de Tearaway com Broken Age e onde o protagonista é nada mais nada menos que um macaco?

O controlo mostra-nos que tem pouca relação com estes jogos, e se assemelha mais a clássicos de plataformas como Banjo-Kazooie ou Super Mario 64. Kuro é o nosso herói, e cedo percebemos também que o exagero e contraste nas cores não é um pormenor. Aliás, a cor ajuda à definição do próprio mundo de jogo e desafios que nos aguardam.

Achei interessante o conceito inicial, de um mundo onde as cores unidas formavam um todo coerente, e que de repente se vê confrontado pela perda de cor e segregação das criaturas em várias tonalidades. Em Tinkerworld o verde não se dá com o azul, e ninguém gosta da arrogância do vermelho. Sem piadas sobre futebol por favor.

O jogo aborda um conjunto de boas ideias, mas falta-lhe personalidade, exactamente por nunca se conseguir focar em nenhuma. Não existe uma mecânica central que defina a diversão em The Last Tinker. Utiliza vários tipos de segmentos clássicos dos jogos de plataformas, puzzles, sessões de “escort” ou combate, por vezes com alguma liberdade, e outras absolutamente “on-rails”.

O controlo de Kuro também não é o mais natural, e isto nota-se especialmente durante o combate, aborrecido e automatizado. Tudo que fazemos é repetir incansavelmente o pressionar do mesmo botão para atacar, com a ocasional altura onde nos desviamos de uma investida adversária, ao jeito do combate que ficou celebrizado na série Batman Arkham.

Mais para a frente no jogo ganhamos acesso a mais truques, mas a base do combate permanece inalterada. Os desafios são em noventa porcento das vezes fáceis de descortinar, e raramente envolvem uma execução perfeita. As plataformas por exemplo requerem apenas o pressionar de um botão, e o jogo conduz Kuro pela direcção certa, o único desafio destes momentos é um julgar de temporização aqui e ali.

"Para um jogador mais experiente, The Last Tinker: City of Colors torna-se rapidamente enfadonho."

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Também não existe praticamente penalização nenhuma, não há vidas ou outro sistema que condicione as tentativas, e o checkpoint é sempre praticamente imediato. Digamos que apesar de não ser um jogo desenhado especificamente para crianças, faz um esforço por se manter amigável dos 8 aos 80.

Para um jogador mais experiente, que já tenha experimentado um pouco de tudo e que por isso seja capaz de identificar imediatamente o que um determinado segmento propõe, The Last Tinker: City of Colors torna-se rapidamente enfadonho, e mantém-se pouco gratificante ao longo da aventura.

Voltando à tal harmonia estética que comecei por falar, este é talvez o lado onde a pequena equipa de produção da Mimimi Productions parece ter demonstrado melhor a sua visão. Os ambientes desenhados à mão são vibrantes de cor e luz, enquanto as personagens simples se assemelham a bonecos feitos de vários tipos de trapos.

No capítulo sonoro nota-se a limitação de orçamento que um projecto desta natureza tem, mas ao mesmo tempo o esforço que fizeram para que combinasse com o todo. As músicas variam entre o médio e o medíocre, mas os sons que substituem as vozes são do mais infantil e irritante, até porque vêm sempre acompanhados de janelas de texto, que de mérito têm a simplicidade do seu conteúdo.

A aventura de Kuro não é muito longa, cerca de seis horas com alguns coleccionáveis irrelevantes à mistura, a dificuldade não é algo que entre na equação, até porque podemos completar o jogo por “força bruta”, ou seja, tentando infinitas vezes o mesmo segmento até ao sucesso.

A premissa de The Last Tinker é simples de perceber, a sua simplicidade torna-o perfeito para o público mais jovem, mas ao mesmo tempo, contém em si simbolismos que podem agradar a uma audiência adulta.

No campo de gameplay utiliza praticamente a mesma filosofia, para a primeira audiência escolheu enveredar pela simplicidade, quase automatização dos controlos, e para não aborrecer em demasia o grupo de jogadores mais experientes, oferece variedade de modo a tornar o jogo sempre interessante.

No geral, City of Colors é uma viagem agradável, está longe da qualidade das inspirações que referi no início, como Banjo-Kazooie, mas tendo em conta o tamanho da equipa de produção, que até então era dedicada aos jogos móveis, é meritório salientar as conquistas do jogo, principalmente pela sua beleza e diversidade estética.

6 / 10

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