Se clicares num link e fizeres uma compra, poderemos receber uma pequena comissão. Lê a nossa política editorial.

SteamWorld Dig - Análise

Mineiro a vapor.

Quando vi o curto trailer de SteamWorld Dig durante uma recente Nintendo Direct, fiquei com a impressão de que aquele jogo prestes a ser lançado para a eShop não era apenas mais um título digital com base em plataformas e a servir-se de elementos dos westerns a título de design. Dylan's Rolling Western: The Last Ranger foi um pouco desapontante nesse aspecto. Desta vez, com SteamWorld Dig, o resultado é bem mais satisfatório e entusiasmante, porque temos neste jogo muitas influências de Spelunky, Metroid e Castlevania, mas mais do que isso; o conceito e mecânicas revelam-se bem forjadas e originais, criando um desafio surpreendente seguro e coeso.

Além disso, a Image & Form foi capaz de dar uma grande identidade ao seu jogo à custa do magnífico design. A representação de elementos típicos dos westerns está lá (na música, no aspecto das personagens como cowboys, seu sotaque), e o design do jogo remete-nos para essa distante época do faroeste, com efeitos e pequenos detalhes, bem destacados dentro da perspectiva 2D, o que ajuda a tornar aquela descida (quase ao centro da terra), por túneis e cavernas, qualquer coisa de realmente fascinante. Em boa parte, trata-se de uma demanda solitária, embora não tenhamos que esperar muito tempo até que Rusty - a personagem principal - veja reforçados os seus poderes e movimentos, ao ponto de se tornar num misto de explorador e mineiro, relegando com isso e para um plano secundário, as propriedades sociais tecidas à superfície.

O mapa sempre aberto no segundo mapa torna-se essencial.

Este é essencialmente um jogo centrado na exploração mineira, acção e com uma estrutura típica de um puzzle, num cenário que se modela a gosto. O jogador é Rusty, um estranho robô movido a vapor que herdou uma mina do seu tio, na localidade Tumbleton, onde residem alguns habitantes e proprietários de lojas que fazem ali negócio precisamente à custa das riquezas oriundas da mina, pois se assim não fosse, não havia sucata que resistisse. Caberá então a Rusty, penetrar nas profundezas da mina e escavar o máximo possível, obtendo pedras preciosas, com as quais lucra ao fim do dia. Com isso, fará level up ao seu estado e verá melhorados os seus atributos, podendo escavar mais fundo.

O objectivo do jogo é penetrar na mina e escavar, escavar, escavar; recolhendo tesouros e vencendo inimigos como lagartas e outros seres metálicos que surgem no caminho. No começo do jogo, a picareta é o nosso único instrumento. Simples e limitado, mas altamente valioso. Com ela conseguimos perfurar o solo. Este é constituído por porções mais ou menos rochosas. Contudo, certas porções (apresentadas em forma de quadrados) revelam uma textura mais argilosa e outras até mais arenosa, pelo que estas últimas ainda se quebram mais facilmente. Já os blocos com mais pedra exigem esforço suplementar do nosso mineiro.

A física deste processo de escavação está muito bem conseguida. Os efeitos sonoros convencem pelo grau de realismo, e à medida que vamos batendo na rocha ou na superfície mais argilosa, podemos observar a formação de imensas rugas e fissuras, antes da rocha se reduzir a pó. Não tarda até que tenhamos percursos abertos na horizontal e vertical. Mas convém travar a animosidade inicial de quebrar tudo o que seja possível, é que Rusty não é capaz de permanecer por muito tempo no interior da mina sem luz. No seu tronco está instalada uma espécie de forno que cria uma zona circular envolvente luminosa, essencial para revelar zonas do solo onde há tesouros (como diamantes e outras pedras preciosas, cuja raridade é maior à medida que penetramos a fundo no solo), mas também adversários e inimigos mais resistentes. Essa claridade, porém, dura apenas alguns minutos, pelo que temos de regressar à superfície de modo a abastecer o fogo. A única forma de o fazer é através de saltos e deslizes entre duas paredes próximas (um pouco ao estilo de Super Mario nos jogos 3D). Mais à frente poderão evitar parte do problema, comprando um teleport e usando um mecanismo de salto (operado a vapor) que vos atira para superfícies distantes e vos põe na superfície em menos de um segundo. De modo a corrigir pequenas falhas (enquanto não dispõem do equipamento que vos lança para as plataformas distantes) podem sempre comprar escadas, cuja sobreposição permite alcançar pontos elevados. Ah, e tenham atenção às quedas. Cair de muito alto é prejudicial.

SteamWorld Dig possui um evidente charme gráfico, especialmente no que toca aos fundos.

O interior da mina oferece imensas hipóteses de exploração, com a vantagem de sermos nós a escolher que caminho queremos abrir. Vemos tesouros que podemos recolher, inimigos sedimentados em rochas, mas que depressa despertam para a vida assim que partimos a pedra. Porém, encontramos também vestígios de uma antiga civilização, nomeadamente orbs azuis, de grande raridade e claridade, que podemos utilizar para melhorar os nossos atributos essenciais, mas também antros onde existem estruturas eléctricas de onde se propaga uma luz azul, que nos fornecem novos poderes, nomeadamente uma broca pneumática e um salto a vapor. Porém, estes equipamentos só funcionam se tivermos o reservatório de água atestado. Na mina existem pequenos tanques naturais de água, onde podemos abastecer assim que o nosso depósito estiver vazio.

É a partir daqui que o jogo pula em termos de possibilidades. O perfurador pneumático permite estalar facilmente rochas duras, previamente inquebráveis através da picareta, e o salto dá acesso a plataformas superiores, cuja utilização é especialmente necessária nas cavernas onde existem plataformas superiores distantes. Nestes espaços, temos que encontrar certas alavancas que permitem abrir portas metálicas. Para lá dessas portas escondem-se mais segredos e "upgrades de equipamento".Os puzzles entram em força.

Ao fim de pouco mais de três horas de jogo, temos mais do que uma mina para explorar e estamos já na posse de plenos poderes da personagem. Felizmente, podemos sempre comprar acessórios úteis como um saco maior para recolha de tesouros, lanternas que podemos colocar em zonas escuras (para a eventualidade de ficarmos sem fogo), pontos que fazem teletransporte para a superfície sem que tenhamos de subir vários pisos, entre uma lista que se vai enchendo de coisas boas.

Por um punhado de dólares o Cranky optimiza o salto a vapor.

No meio de tantos túneis, não é difícil ficar perdido. Contudo, um indicador avermelhado aponta para o sítio que devemos escavar. Não que isto ponha a aventura sobre carris, mas sempre dá uma dica para onde devemos ir. No meio de tantos puzzles e possibilidades de escavação, está longe de ser uma aventura guiada, especialmente para quem pretender completar o jogo a 100%.

Dos três mapas disponíveis, é a partir do segundo que vamos encontrando mais dificuldade. Como surgem novos inimigos, zombies que transportam dinamite e armadillos mais poderosos e resistentes, ficamos com a vida em risco. E depois ainda há os barris de pólvora que ao mínimo toque rebentam, causando a deslocação de grandes pedras rochosas, pondo mais um obstáculo à progressão, a juntar aos espinhos letais e ácidos perigosos. Por cada vida perdida, há um custo, mais precisamente metade do valor que temos disponível no momento fatal. Se tivermos 200 dólares, temos de contribuir para uma reparação no valor de 100, sempre metade, o que obriga a fortes cautelas durante a exploração.

Torna-se por isso relevante subir à superfície, fazer level up a partir dos tesouros obtidos (pois em caso de morte, os tesouros permanecem assinalados no mapa no ponto onde perderam a vida) e trocar o dinheiro disponível por valiosos items, antes que algum imprevisto suceda e nos leve metade do que temos amealhado. Com este sistema de custo por reparação, não é tanto o level up que se perde irremediavelmente, mas o acesso a benefícios como utensílios extra, obtidos na Crancky Shop.

Com os novos mapas chegam também mais lojas, onde podem adquirir "upgrades" ao vosso equipamento, tornando o processo de exploração mais cómodo. Um dos melhoramentos é o mecanismo que provoca menor consumo de água da broca perfuradora. No final, já depois de terem completado a história, fica ainda uma boa porção da mina por explorar. Se quiserem alcançar todos os tesouros e pedras preciosas disponíveis, terão ainda mais algum tempo de jogo pela frente, apesar do prazer maior residir no modo história, cuja duração depende da chegada rápida aos objectivos, embora seja possível completá-la em menos de oito horas, o que é bastante bom para um jogo desta dimensão.

SteamWorld Dig conquistou a minha atenção no trailer da Nintendo Direct. Admito que muitos não tenham estado atentos a esse pequeno tempo de antena. Talvez por isso, a maior falha do jogo é mesmo a ausência de publicidade desta pequena gema digital que a Image & Form modelou com todo o cuidado, o que pode levar muita gente eventualmente interessada a passar ao lado. Sendo agora uma confirmação, a eShop tem na sua extensa lista de títulos digitais, mais um jogo que vale pelo magnífico sentido de exploração, plataformas, acção e puzzles, enquanto revela ligações a clássicos como Metroid ou Castlevania, embora com mecânicas exclusivas e surpreendemente bem afinadas. O preço? 8,99 euros.

8 / 10

Sign in and unlock a world of features

Get access to commenting, newsletters, and more!

Descobre como realizamos as nossas análises, lendo a nossa política de análises.

In this article

SteamWorld Dig

PS4, Xbox One, PlayStation Vita, Nintendo Wii U, PC, Mac, Nintendo 3DS, Nintendo Switch

Related topics
Sobre o Autor
Vítor Alexandre avatar

Vítor Alexandre

Redator

Adepto de automóveis é assim por direito o nosso piloto de serviço. Mas o Vítor é outro que não falha um bom old school e é adepto ferrenho das novas produções criativas. Para além de que é corredor de Maratona. Mas não esquece os pastéis de Fão.

Comentários