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Shin Megami Tensei 5 review - agressividade japonesa

JRPG para os mais duros.

Eurogamer.pt - Recomendado crachá
A Atlus apresenta uma experiência difícil, envolvente e que até trata o jogador com austeridade, mas demarca-se precisamente por isso.

É mais do que conhecida a dificuldade e a agressividade da série Shin Megami Tensei da Atlus, mas diria que este mais recente jogo consegue assumir-se na mesma como um título surpreendente. Shin Megami Tensei 5 mostra um equilíbrio impressionante entre integridade de identidade e concessão para se adaptar aos tempos atuais, mas é a forma como a sua essência transparece pelos seus poros que mais destaque merece e que acabará por conquistar os duros dos JRPGs. Especialmente porque as suas temáticas são muito mais trágicas e fatalistas do que a série Persona, à qual deu vida e para a qual perdeu protagonismo.

Existe um acontecimento real que separa o Japão do resto do mundo e que teve grande impacto não apenas a nível cultural, mas também a nível criativo no mundo do entretenimento. Desde Astro Boy nos anos 50, gerações de criadores exploram narrativas trágicas, futuristas e fatídicas, que canalizam o choque, pânico e terror de uma nação que assistiu a duas explosões nucleares e viveu o fim do mundo. SMT5 é um fascinante exemplar de como essa imposição criativa ainda perdura e não apenas nas suas temáticas, o seu próprio design também evidência uma certa ferocidade para com o jogador. O dizimar instantâneo de milhões de almas marcou várias gerações de criativos e ainda hoje esse trágico evento é sentido, seja através de pais, avós, tios ou amigos.

A Atlus revela isso ao apostar numa temática pós-apocalíptica envolta em mensagens de esperança para as gerações mais novas. Seja a nível micro ou macro, a companhia japonesa volta a sustentar a sua fantasia sobre alicerces reais e pertinentes. SMT5 foca-se num grupo de estudantes que lida com a incerteza de quem não consegue imaginar como qual será o seu papel num mundo inundado de corrupção, preconceito social e regras cumpridas apenas por quem não tem dinheiro para as atropelar. Este suporte num mundo "real" é a porta para uma realidade alternativa na qual Tóquio foi dizimada pela guerra entre Anjos e Demónios. Quando são transportados para essa realidade alternativa, o grupo de personagens principal terá de lutar para impedir que esta destruição massiva aconteça na sua realidade, que ainda está vários anos atrás dessa.

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Para impedir a devastação total da humanidade, os poucos humanos transportados para essa Tóquio alternativa terão de trabalhar com demónios e anjos para se tornarem fortes e cumprirem o seu propósito. Essa tarefa não é nada fácil e mesmo os veteranos dos JRPGs terão de ter cuidado com a agressividade desta experiência. Como referi, a série SMT sempre foi conhecida pela sua dificuldade e e ausência total de hand-holding, valores preservados neste novo jogo que valida o estatuto de Shin Megami Tensei como a série mais hardcore que poderás encontrar entre as produções japonesas no género.

Combates estratégicos, progressão austera

Em SMT5, vais vaguear pelo fim do mundo para combater demónios que até os podes convencer a juntarem-se à tua equipa. Com um sistema de combate por turnos, SMT5 foca-se na descoberta do elemento ao qual o adversário é fraco para o massacrar. A Atlus aposta nesta como a principal mecânica e construiu diversos elementos para dinamizar o sistema clássico. Por cada turno, podes atacar 4 vezes, mas se o golpe for crítico ou do elemento ao qual o adversário é fraco, podes atacar mais uma vez. O mesmo é válido contra ti. Isto leva-te a descobrir as fraquezas de cada inimigo e variar constantemente os demónios ativos na tua equipa de combate para gerir ataques e fraquezas. Claro que enquanto aprendes as fraquezas cometes erros e pagas caríssimo, mas depois a informação fica visível para a posteridade e ajuda imenso. Já agora, os bosses são impiedosos e em segundos podem destruir-te após aproveitar essas fraquezas.

Se quiseres, podes tentar conversar com o demónio e convencê-lo a juntar-se à tua equipa, mas eles exigem diversas coisas em troca, como HP, MP ou dinheiro, o que torna a negociação num momento a ser levado com seriedade. Será frequente falhar numa resposta a uma das inúmeras bizarras questões que te colocam e se isso acontecer, poderás perder demasiadas coisas em troca de nada. Além disso, para manter equilíbrio e dificuldade, a Atlus não te permite convidar um demónio de um nível superior ao teu. Até o podes convencer, mas ele diz-te para voltares mais tarde quando estiveres ao seu nível. Forçado a recrutar aliados constantemente, em negociações severas, com uma gestão estratégica constante (por vezes o mais banal dos confrontos pode destruir-te), a Atlus faz questão de tornar a experiência SMT5 ainda mais exigente através de diversos outros parâmetros.

O número de demónios que podes recrutar é limitado, terás de efetuar fusões de alma entre eles para obter outros mais poderosos (sempre com a condicionante dos níveis em mente), o dinheiro que ganhas é limitado e a XP amealhada no final de combates ainda mais. Executar missões secundárias é obrigatório para ajudar a subir de nível e na verdade nem são opcionais, é a forma mais rápida de subir de nível e tornam-se assim obrigatórias. No entanto, toda esta gestão destes elementos estratégicos torna SMT5 num jogo fenomenal. Se a austeridade da experiência, através da gestão dos diversos parâmetros para aumentar o grinding e a dificuldade dos combates, pode afastar alguns, outros vão regozijar com algo deste estilo.

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O equilíbrio é uma arte

A experiência SMT5 na sua dificuldade normal (podes optar pela dificuldade fácil para acompanhar a história) é um grande trunfo da Atlus na era moderna. Num momento em que muitas companhias preferem banalizar e simplificar as mecânicas dos JRPGs para aumentar o apelo e consequentemente a audiência, a Atlus decidiu que Shin Megami Tensei permaneceria igual a si mesma. No entanto, foram introduzidas mecânicas que atualizam a fórmula e a tornam mais tolerável para muitos que nem sequer conhecem este nome e querem algo mais difícil do que a grande maioria dos jogos do género. Sim, o grinding pode ser forte e a EXP que ganhas é pouquíssima, o que testa a tua paciência quando queres subir de nível rapidamente e tentar novamente o boss, no entanto, tens imensos pequenos toques que me deixaram rendido a SMT5.

Os gráficos podem ser descritos como demasiado simples, mesmo na Nintendo Switch a qualidade visual de SMT5 não é nada que vás querer destacar aos teus amigos, mas a agilidade do personagem, o sistema de viagem rápida e a gestão dos demónios revelam que a Atlus trabalhou imenso para tornar estes passos mais amigáveis. Existe um equilíbrio e sentirás que foi bem conseguido. Podes viajar entre diversos pontos de viagem rápida, mas somente quando estás num desses pontos, apesar de existir uma mecânica que te permite voltar instantaneamente ao mais recente onde estiveste, a XP nos combates é lastimável, mas as missões secundárias dão imensa, se um inimigo executar um ataque geral e conseguir um crítico ou fraqueza estás praticamente morto num turno, mas se executares bem os ataques podes conseguir o mesmo. Posso ainda referir que se não tiveres um aliado capaz de te curar, apenas poderás recuperar a HP e MP nos pontos específicos, algo pelo qual tens de pagar. A Atlus ambicionou dificuldade, mas equilibrou e dá-te tudo o que precisas para conseguir contrariar a extrema animosidade da experiência.

Frequentemente fiquei com a sensação que SMT5 é um jogo que odeia o jogador e o seu maior propósito é deixá-lo em fúria, mas na esmagadora maioria do tempo senti que é um JRPG que te desafia muito acima do que a média de jogos do estilo faz e que apenas exige que sejas astuto. Constantemente atento, sempre a gerir os passos, muitas vezes gravava passados meros minutos apenas para não cometer um erro e perder o progresso. É uma experiência de risco elevado, na qual é frequente morrer e a sensação mais horrível é a de perder progresso porque um encontro casual nos limpou miseravelmente. No entanto, foi isto que me capturou em SMT5, o que me apaixonou e o faz tornar-se num dos meus jogos do ano. A sensação de jogar algo difícil e exigente, mas que merece todo o meu respeito. Quando ficas eufórico com progresso que na grande maioria dos outros jogos do género é banal, é porque algo de positivo está a ser alcançado.

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Um JRPG que prima pela sua dificuldade

Shin Megami Tensei 5 diferencia-se precisamente pela forma como brilha o estratégico sistema de combates e como a experiência geral está ajustada para jamais conseguires banalizá-la. O desafio é constante e nunca consegues ficar mais forte do que aquilo que a Atlus pretende para essa fase do jogo onde te encontras. Isto exige habilidade e astúcia na gestão dos demónios, nas fusões, dinheiro e claro, durante os combates para lidar bem com os elementos dos adversários e proteger as tuas possíveis falhas. Esse delicado equilíbrio alcançado pela Atlus, o de te apresentar um enorme desafio, mas dar-te tudo o que precisas para triunfar, é o que merece ser valorizado. O grinding pode ser forte, a sensação de progressão lenta, mas quando consegues triunfar perante um boss após horas a tentar subir de nível, sentirás uma boa sensação de triunfo como já não parecia ser possível nestes tempos que correm.

Prós: Contras:
  • Experiência difícil que exige a tua atenção
  • Enredo interessante e com momentos bem conseguidos
  • Sistema de combate repleto de estratégia
  • A banda sonora tem temas de grande qualidade
  • Imensas mecânicas profundas de suporte, como fusão de almas
  • Qualidade visual razoável
  • Alguns loadings mais demorados
  • O grinding pode tornar demasiado lenta a sensação de progressão

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Shin Megami Tensei Switch

Nintendo Switch

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Bruno Galvão

Redator

O Bruno tem um gosto requintado. Para ele os videojogos são mais que um entretenimento e gosta de discutir sobre formas e arte. Para além disso consome tudo que seja Japonês, principalmente JRPG. Nós só agradecemos.
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