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Será a E3 2015 um ponto intermédio?

Gerir o entusiasmo e pensar no futuro.

Desde os meus dez anos, quando li pela primeira vez uma entrevista de Hideo Kojima numa revista espanhola especializada cujo nome já nem lembro, que sonhei em rumar pessoalmente à E3. Qualquer pessoa que goste de videojogos sabe a sua importância. Sabe a importância desse maravilhoso imaginário que nos invade a mente quando pensamos em encontrar míticas figuras que nos deram tantas horas de diversão, conteúdo para reflexão e também momentos de pura emoção. Sabemos que são humanos tal como tu e eu mas ao mesmo tempo pensamos que são feitos de um outro material, de uma outra fibra. São as "nossas" estrelas de cinema, por assim dizer.

Neste momento estou sentado a bordo de um avião a caminho da E3 2015 e começo a sentir já aquele nervoso miúdo que se transforma em euforia avassaladora quando as portas do Los Angeles Convention Center se abrem. Este é o principal local e momento em que as principais figuras cujos nomes aparecem nas notícias/análises nos sites/revistas, nas capas dos jogos que compram ou até no próprio ecrã lá de casa, se juntam num só local para mostrar em que andam a trabalhar.

Bruno e Vítor, os enviados especiais Eurogamer Portugal a Los Angeles.

Antes de mais preciso referir que esta não será a minha primeira E3 em presença em Los Angeles. Por felicidade desta minha posição, anteriormente fui capaz de em 2011 presenciar múltiplos anúncios, como o da Wii U na que foi a última conferência da Nintendo a partir da cidade para o mundo, de correr quilómetros de um lado para o outro à procura dos stands para jogar um pouco e passar dias a saber menos que o resto do mundo.

Essa viagem não me permitiu conhecer Kojima mas permitiu-me conhecer Katsuhiro Harada de Tekken e Eiji Aonuma de The Legend of Zelda. Duas lendas da indústria que me fascinaram pela forma como vivem os seus produtos. Um é todo ele excêntrico e um poço de diversão para com os seus fãs, o outro um exemplo de humildade pronto a surpreender tudo e todos. Este ano sei que terei a oportunidade de conhecer mais figuras incríveis e a E3 é precisamente isso, a oportunidade dos comuns mortais interagirem com as lendas. Especialmente quando me recordo de Atsushi Inaba ao meu lado com todo o estilo que mais parecia uma entidade divina. Mas temos muitas surpresas que ainda não posso revelar neste artigo.

Numa altura em que uma linha de texto de uma só pessoa poderá deitar abaixo meses de esforço por parte de vários grupos de trabalho ou campanhas de marketing mundiais, a E3 é um espaço altamente importante para unir os dois lados da indústria que trabalham em prol do mais importante: os jogadores. Afinal de contas temos todos uma comum: somos jogadores. A caminho da E3 penso nas expectativas do que vai surgir e vejo que a indústria já está a mudar, os dois anos anteriores de acesa guerra de anúncios de consolas entre Sony e Microsoft catapultaram-me para níveis de adrenalina raramente vistos e agora estamos numa fase de gestão e transição.

"A E3 continua a ser uma fábrica de sonhos, uma janela para as editoras persuadirem e convencerem os jogadores de que os seus produtos estão bem encaminhados para justificarem o dinheiro."

Sony ocupa mais um ano o lado norte do LACC.

A E3 continua a ser uma fábrica de sonhos, uma janela para as editoras persuadirem e convencerem os jogadores de que os seus produtos estão bem encaminhados para justificarem o dinheiro. Para convencer os consumidores que as suas plataformas são as mais indicadas para satisfazerem as suas necessidades na hora de consumir entretenimento. Quando são atacadas por um mundo tecnológico em constante evolução e alteração, é preciso ir mais longe e as batalhas de sempre poderão ter que ficar esquecidas. Poderá até acontecer que rivais de outrora se tornem mais amigos do que poderiam pensar.

Então como se gere uma fábrica de sonhos em transição? Como se convence os jornalistas a marcarem presença e a justificar os valores necessários? Como se pede ao mundo para estar atento, até perder horas de sono, para que este palco se torne num verdadeiro teatro de maravilhas? Como gerir essa quase obrigatoriedade de encantar o mundo quando estamos como que anestesiados com séries anuais mesmo quando os consumidores dizem estar mais atentos?

Cada vez mais a palavra crise faz parte desta indústria mas como se encaixa na mesma frase sonho e crise? A E3 está aqui para isso, para nos fazer acreditar que a nossa carteira será capaz de sustentar todos os apetecíveis lançamentos que vão decorrer no resto do ano. Para nos convencer que aquela demonstração tem qualidade suficiente para merecer o nosso voto e mais tarde comprar o jogo. A E3 é o palco das ilusões, se preferirem ao invés de sonhos, e o encanto está precisamente aí, em sermos iludidos.

Vou para a E3 com uma mão cheia de desejos e um pé nervoso que não descansa e teima em acreditar que este momento não é o mais indicado para que o evento continue igual a si mesmo. Como referi, depois de dois estrondosos anos, as editoras estão agora a gerir os timings para os seus anúncios e a Gamescom 2015 está a roubar muito a esta E3 2015. Basta de politicamente correcto, basta de contenção, está na hora de voltar a iludir e a colocar lá no céu as expectativas.

A Sony tem nas suas mãos uma saca com produtos falhados e outros abaixo do desejado: nomeadamente a Vita TV e a Vita em si, tem um PlayStation Now descaradamente fraco, tem uma consola recente com a fama de viver à custa de conversões da PlayStation 3 e indies, precisando rapidamente de mais killer apps para acompanhar Bloodborne. Precisa de melhorar os seus serviços, de anunciar uma segunda metade de 2015 avassaladora que poderá contar sem a ajuda de Uncharted 4 e precisa recuperar as suas grandes séries.

Existem diversos exclusivos da Namco Bandai, Tecmo Koei, Square Enix e Capcom que nos mostram claramente que a Sony conseguiu com a PlayStation 4 fazer as pazes com os principais estúdios. No entanto, precisa de ir além do que tem feito e do que fez na PS3. A postura da companhia para colmatar a ausência de exclusivos internos de peso está a passar por uma parceria com outras editoras/estúdios para receber conteúdos exclusivos de forma a parecer que só nas suas consolas temos a experiência completa. Recompensa de certa forma mas onde estão séries como Jak?

Cover image for YouTube videoRatchet & Clank (PS4) - E3 Demo Gameplay

A Sony é única no que diz respeito à criação de exclusivos que conseguem cativar as massas, mesmo que depois as vendas não sejam o reflexo do entusiasmo gerado nos sites especializados, e tem-se esforçado para recuperar os dez anos de inabalável prestígio com as suas duas primeiras consolas. Ainda assim, a Sony é a companhia que mais me deixa confuso. Consegue apresentar propriedades intelectuais fascinantes mas teima em não recuperar outras que podiam facilmente gerar lucro e interesse. Ratchet and Clank estão de volta mas seria mesmo necessário roubar à Vita o seu Tearaway quando poderia recuperar WipEout, Getaway, Legend of Dragoon ou Syphon Filter, por exemplo.

Os anos em que qualquer fã escreveria um melhor guião para a E3 do que as próprias editoras precisa terminar e 2015 terá que ser o ano que nos mostre isso. Principalmente importante para a Microsoft que ouviu os fãs de mudou as políticas da sua Xbox One. Depois de um desastroso 2013, a Microsoft mostrou postura para alterar onde necessário e deu-nos um grande leque de exclusivos, Sunset Overdrive é um jogo altamente divertido e Forza Horizon 2 uma delícia, para uma consola que é vista como fraca apenas por não ter as especificações da rival mesmo quando tem exclusivos que divertem à brava.

Em 2014 a Microsoft voltou à sua forma anterior, à forma que a consagrou com a Xbox 360 mesmo debaixo de constante fogo por erros que corrigiu. Ocasionalmente até parece que a companhia seguiu em frente com as medidas anti-consumidor. Apresentou exclusivos acordados com grandes estúdios, Scalebound YEAH!, mostrou incondicional apoio a algumas das suas principais séries (Forza 6 e Halo 5) mas ainda assim continua a permitir que a Rare fique distante dos produtos que maior sucesso lhe deram.

Queremos ver mais de Scalebound.

Gears of War está a chegar, o estatuto de impulsionadora dos indies foi estranhamente perdido para uma astuta Sony e existem todos os receios que possam cair em erros do passado. No entanto, o foco nos videojogos parece estar lá e será interessante ver como a Microsoft está a pensar promover a sua Xbox One. Corte no preço? Exclusivos de arromba? Algo precisa ser feito e temos que ser emocionados pois a Sony arrisca conquistar ainda mais terreno.

Terreno esse que foi sabiamente recuperado nesta guerra entre consolas e acredito que a Sony estará em Los Angeles pronta para continuar igual a si mesma. A PlayStation 4 é uma máquina fascinante que me deixa a pensar que nunca antes houve melhor altura para os videojogos agora é preciso aproveitar o seu poder. Novas propriedades intelectuais, mais exclusivos fruto de acordos com as principais editoras e a vontade de provar aos fãs que não vive com os deméritos dos outros mas sim das suas façanhas.

Depois temos a Nintendo. A gigante Japonesa, samurai da era moderna, parece empenhada em mostrar todo seu respeito pelos tradicionais costumes na anciã arte de criar videojogos. A diversão é o principal foco e juntar uma família num só entretenimento é uma especialidade sua. Depois de incríveis surpresas como Bayonetta 2, Xenoblade Chronicles X, Hyrule Warriors ou Splatoon, a Nintendo está com uma performance invejável.

A Wii U pode ter fraquejado mas a Nintendo 3DS não e a conversão de títulos caseiros como Hyrule Warriors mostra que a Nintendo sabe rentabilizar os seus esforços. Conhecida por valorizar os seus produtos e espaçar lançamentos de forma a que não comam vendas uns aos outros, a Nintendo mostra uma capacidade de produção criativa interna sem rival. Agora, mostra ainda melhorias na relação com estúdios externos e a procura de títulos mais arrojados fora da sua zona de conforto.

Seja qual for a vossa consola, seja qual for a vossa editora predilecta, seja qual for a vossa série que jamais dispensam, ou seja lá qual for o vosso comando favorito, o que se pede este ano é que a E3 seja a guerra que todos estamos habituados a ver. Não espero que sejam apresentadas novas consolas e surja toda a emoção especial desses momentos mas espero que sejam apresentados jogos que nos façam vibrar de emoção.

Está na hora da luta, está na hora da E3. Como se fosse um autêntico coliseu romano num espectáculo bárbaro, lutem para meu bel-prazer. Estou pronto.

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Bruno Galvão

Redator

O Bruno tem um gosto requintado. Para ele os videojogos são mais que um entretenimento e gosta de discutir sobre formas e arte. Para além disso consome tudo que seja Japonês, principalmente JRPG. Nós só agradecemos.

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