Rock in Rio e videojogos: uma combinação inevitável?
Estivemos no Parque da Bela Vista para ver o que o evento de 2022 tem para oferecer.
Actualização a 01/07/2022: Adicionamos uma quote da Nintendo, que nos chegou por email depois do artigo ter sido publicado.
O que é que um festival de música tem a ver com videojogos? À primeira vista nada, mas há muito que o Rock In Rio deixou de ser exclusivamente um festival de concertos, integrando a cada edição novas experiências, parceiros e apelando a um público vasto. A pandemia veio atrasar esta edição do Rock In Rio, mas a integração dos videojogos no evento já estava a ser preparada desde 2019, que foi quando se realizou a Worten Game City by Rock In Rio. Foi um evento à parte, que ocupou a Cordoaria Nacional de 31 a 2 de Junho e serviu para a organização testar as águas. Bobinando para 2022, os videojogos passaram a fazer parte integral do Rock In Rio, com um espaço próprio no Parque da Bela Vista.
Os dados mais recentes indicam que em 2022 existem 3.09 mil milhões de pessoas que jogam alguma coisa, pode ser no smartphone, no tablet, numa consola, ou num PC. E a tendência é para aumentar! Sabendo que a população mundial ronda actualmente os 7.9 mil milhões, significa que mais de um terço da população mundial tem experiência com videojogos. Já nem faz sentido questionar se os videojogos são mainstream. É difícil encontrar alguém da minha faixa etária (30) que não jogue algum tipo de coisa, e sim, Candy Crush, Tetris, e afins também contam como videojogos. Perante esta realidade, ver a organização do Rock in Rio a adoptar os videojogos não é surpreendente.
O que há na Game Square do Rock in Rio?
Para chegares à Game Square, partindo do portão principal, tens que subir em direcção à zona da Galp, passando o Super Bock Digital Stage, em direcção à roda gigante do Pisca Pisca. Antes de chegares à roda gigante, à direita encontra-se a Game Square. A Worten é quem mais investiu nesta área, contando com palco próprio e um programa que começa de tarde e só termina à noite. A animação nesta zona é constante, com convidados que vão desde streamers do Twitch como Garciap, Morais HD, jogadores de eSports como Ricardo "Fox" Pacheco, e caras bem conhecidas como RicFazeres.
Um das iniciativas mais divertidas é o MarioKart BOOM, uma competição em que duas pessoas do público são chamadas para o palco para se colocarem em dois karts. É lhes dado um comando a cada um, para jogar num ecrã à frente do kart. O desafio é lidar com a falta de visibilidade e trepidações. Atrás do kart (real) existem dois minions vestidos de verde, sempre a abanar o assento, e cada jogador tem dois power-ups que pode invocar a qualquer momento: uma bomba de pó colorido e uma tarte recheada de chantili que é atirada / esfregada na cara do adversário. O vencedor ganha 50 euros para gastar na loja da Worten no Rock In Rio e, no final do dia, quem tiver feito o melhor tempo ganha uma Nintendo Switch.
Das fabricantes de consolas, tanto a Microsoft como a Nintendo marcaram presença. À direita do palco, numas casas coloridas, havia consolas Xbox para experimentar Halo Infinite, Forza Horizon 5 e Microsoft Flight Simulator. Da parte da Nintendo, podia-se jogar Mario Strikers: Battle League e Nintendo Switch Sports. Esta área era completada por várias estações para jogar LEGO Star Wars: The Skywalker Saga, o título mais recente da série. O retro gaming também faz parte do evento, numa área separada (à esquerda do palco), com flippers, cabines de arcada e consolas de décadas anteriores.
A Riot Games tem um labirinto de Valorant
Para promover o lançamento de Pearl, o mapa de Valorant inspirado em Portugal, a Riot Games criou uma diversão para o Rock In Rio Lisboa em forma de labirinto. O difícil não é chegar ao fim do labirinto, é encontrar quatro figurinhas estampadas nas paredes o mais rápido possível. Cada figura tem um código associado, que deve ser digitado num smartphone entregue pelos assistentes da diversão. O prémio por participar é uma bandana de Valorant, mas quem fizer o tempo mais rápido do evento, receberá em casa uma figura de Jett que custa 180 dólares (ps: o meu tempo foi de 63 segundos).
Para começar, não está mal
Não vamos tapar o sol com a peneira. O alinhamento de videojogos do Rock In Rio Lisboa não é aliciante para quem acompanha fervorosamente a indústria, como é o caso da maioria dos nossos leitores. Todos os jogos disponíveis na Game Square do Rock In Rio já foram lançados (alguns até são do ano passado), mas não podemos ter as mesmas expectativas que um evento de videojogos dedicado, não faz sentido. Os videojogos no Rock in Rio são um extra, um complemento às restantes actividades e que, perante o panorama actual, faz sentido. Os videojogos são lúdicos e o propósito de ir ao Rock In Rio é passar um bom bocado, seja a ouvir concertos ou a fazer outras coisas. Para as editoras de videojogos e fabricantes de consolas, é uma oportunidade para apresentarem os seus produtos a um público que habitualmente é mais difícil de atingir.
"Os videojogos são lúdicos e o propósito de ir ao Rock In Rio é passar um bom bocado, seja a ouvir concertos ou a fazer outras coisas"
A recepção do público à inclusão dos videojogos foi altamente positiva. Conversamos com várias pessoas a circular pela Game Square. Nem todas eram jogadores, como é o caso de José, que passou pela zona para ver, admitindo que não costuma jogar, mas confessa que foi "uma boa experiência". Outros, como Valmiro, um confesso fã de Assassin's Creed, disse-me que veio ao Rock In Rio Lisboa de propósito para ver o que a zona gaming tinha para oferecer. Sílvia, que em casa joga "muito League e muito Sonic", disse que veio ao Rock in Rio pelo "Rock in Rio", mas acabou por dizer "gosto do gaming e dos concertos, gosto de tudo". No caso de Hugo, acompanhado pela namorada (ele gamer, ela só assiste), foi a primeira vez que visitou o evento e sobre a presença dos videojogos disse que "vejo que tem um bocado de tudo aqui dentro e é mais uma coisa a acrescentar, acho que é interessante".
O que dizem as editoras de videojogos sobre o evento?
A Upload Distribution, responsável pelos jogos da LEGO e Warner Games em Portugal, disse-nos que estão satisfeitos em "estar presentes no Rock In Rio 2022 com o recém lançado LEGO Star Wars: The Skywalker Saga".
"Um jogo para miúdos e graúdos e que assenta que nem uma luva na filosofia do festival e da Game Square. Basta entrar e ver como agrada aos que por ali passam e que podem desfrutar dos nove episódios da série brilhantemente e divertidamente desempenhados por personagens Lego," concluiu um representante da companhia.
A Nintendo disse que "gosta de ter uma presença consistente nos principais eventos nacionais e o Rock in Rio é de particular interesse porque permite levar a Nintendo Switch a um público constituído em grande parte por famílias, casais e grupos de amigos."
"É um evento particularmente interessante uma vez que a Nintendo Switch é uma consola com algo para oferecer a todo o tipo de pessoas e gostos, e este tipo de eventos permite que as pessoas descubram a nossa consola de forma divertida," foi dito na declaração que recebemos.
O evento também contou com a Xbox. Contactámos a representante da editora em Portugal a pedir declarações sobre a sua presença e objectivos pretendidos, mas não nos foi enviada uma declaração para o artigo.
Até quando dura o Rock in Rio Lisboa 2022?
As portas do Rock In RIo voltaram a abrir-se este fim-de-semana, de 25 a 26 de Junho. Ainda que a presença dos videojogos seja um extra comparativamente a tudo o resto, a edição de 2022 mostra que é um evento em evolução, sem medo de explorar novas áreas, e com consciência de que o público não está parado no tempo. Não fiquem surpresos se na próxima edição do Rock In Rio Lisboa os videojogos voltarem com mais força.