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Ratchet and Clank e uma ambição digna da Pixar

Dupla galáctica mostra o valor do termo "jogo Insomniac".

Não é à toa que o Insomniac Games conquistou uma espécie de estatuto singular que lhe valeu o rótulo de 'Pixar dos videojogos'. Este estúdio Norte Americano imprime aos seus jogos uma electrizante combinação de factores que rapidamente se tornaram característicos. O reboot do Ratchet and Clank original, que foi feito para acompanhar o filme inspirado nesse mesmo jogo, é a mais recente prova de todo o empenho e ambição de um estúdio sem medo de ostentar os traços do seu ser. Começando com Spyro, passando por Ratchet and Clank e indo até Resistance, o Insomniac deu a cada consola da Sony, uma poderosa propriedade intelectual que conseguiu cativar imensos jogadores. Até na Xbox One, com Sunset Overdrive, o Insomniac deu a esta geração um dos seus mais divertidos títulos. Para a PlayStation 4, o estúdio decidiu recuperar a primeira aventura da dupla galáctica e passados 14 anos, apresenta uma versão que quase pode ser descrita como um 'best of' de tudo o que já conseguiram desde 2002.

Apesar do Insomniac Games não conseguir decidir qual nasceu primeiro, na verdade afirma que surgiram ao mesmo tempo, este novo jogo chega como suporte de um filme animado que contará precisamente a origem desta dupla. A incursão pelo mundo cinematográfico, num estilo no qual a Pixar é cabeça de série, nasceu da ideia de contar no grande ecrã, a entusiasmante origem do Lombax e do pequeno robô que o acompanha. História tão bem humorada e vibrante tinha demasiado potencial para se cingir somente à indústria dos videojogos. Para aproveitar a boleia, decidiram recriar novamente o jogo mas agora à imagem do filme. Isto resulta num novo videojogo que beneficia de toda a renovada imaginação perante os eventos do jogo, mas com todos os benefícios da tecnologia mais moderna. Não estamos perante um remaster, muito longe disso, é um reimaginar de todos os eventos que vimos no original mas com uma alta dose de familiaridade. Uma espécie de remake mas daqueles glorificados.

Como referido, filme irá contar os eventos do primeiro jogo, mas adaptados para um guião à mercê das exigências, também à criatividade, de Hollywood. O estúdio não cedeu o controlo total sobre a produção e teve sempre uma palavra sobre o que podia ou não ser feito na adaptação, mas ainda assim existiu troca de ideias e muitas coisas que temos no filme, e consequentemente no jogo, vieram por parte da equipa dedicada à película. O inverso também aconteceu. Imaginado como um filme animado, a primeira viagem inter-planetária destes dois improváveis heróis em formato videojogo acaba por sair reforçada com um enredo cujo planeamento é mais rico, com situações e diálogos ainda mais cómicos e muito estilo.

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É desde logo aparente que o jogo combina o novo com o antigo, em formato renovado, para voltar a agarrar os jogadores. Será mesmo necessário pensarem neste jogo como um reboot, um reinício pois vão ver muitas coisas que vos são familiares, mas ao mesmo tempo terão pela frente coisas que foram introduzidas pelo filme. Novos personagens, novos vilões, alterações a planetas e ainda uma linha de eventos mais coesa e firme, fruto de uma equipa habituada a juntar peças para formar um mecanismo muito maior. Logo no início do jogo, o irreverente humor da série é apresentado em toda a sua glória.

Qwark está preso e vai começar a contar a história do original, à sua maneira. O jogador assume controlo de Ratchet e, graças a uma combinação de gameplay actualizado, gráficos espantosos, e um guião cinematográfico, consegue desfrutar de uma experiência tão superior à do original que se torna num caso sensacional de como readaptar um título. Enquanto os momentos iniciais com Ratchet nos ajudam a relembrar os controlos, já de si intuitivos, os primeiros instantes com Clank são totalmente inéditos, fruto do filme, e quando a dupla se encontra pela primeira vez, temos então o devido foco em tudo o que o estúdio pretende.

O jogo está na mesma estruturado por planetas, nos quais teremos objectivos principais e tarefas secundárias, tendo o jogador total liberdade para qual deles quer viajar. Algumas secções podem estar bloqueadas à mercê de uma engenhoca e nesta demonstração, com cerca de uma hora, foi possível conhecer 5 planetas. Todos eles existentes no original e apesar dos mais dedicados fãs da série reconhecerem facilmente os locais, o novo tratamento visual irá desafiar o seu conhecimento do jogo.

Ainda assim, este Ratchet and Clank não é fundamentalmente um jogo diferente. É um jogo que apesar de quase enganar o jogador e sugerir que é tudo novo, não deixa na mesma de envergar uma aura familiar que nos faz sentir confortáveis. A fórmula é a mesma, as mecânicas são as mesmas, mas beneficiadas por 14 anos de aprimoramento, e com introduções que apenas foram feitas na era PlayStation 3 da série. Entre elas o jacto visto em Into the Nexus, o mais recente jogo da série que foi lançado em 2013. É uma oportunidade única, poder utilizar tudo o que aprenderem e regressar à origem e contar tudo mais uma vez.

O original foi o esquema base que catapultou a propriedade para se tornar numa série, aprimorada e afinada em termos de mecânicas de jogo ao longo dos anos. Sendo essa espécie de 'best of' da série, significa que temos aqui o sistema de melhoria de armas que não estava no original, temos diversas armas que apenas foram introduzidas na era PS3, e temos ainda novas armas que foram pensadas para o novo jogo. O gameplay continua o mesmo, (a fórmula simples e intuitiva de explorar os cenários enquanto destruímos caixas com parafusos, enfrentando criaturas estranhas com uma enorme chave de fendas e armas espectaculares como só o Insomniac consegue imaginar) mas alguns locais ganham uma nova escala graças à PlayStation 4.

Os ajustes no gameplay que reforçam todos os valores Insomniac (armas loucas, cenários coloridos e diálogos carregados de humor), fazem com que este Ratchet and Clank seja um jogo imediato. Um jogo no qual, após meros segundos estão a dominar os controlos. É propositado não porque é preciso ceder perante o filme e simplificar a experiência, simplesmente porque sempre foi assim. Rápido, dinâmico e entusiasmante, Ratchet and Clank sempre apresentou jogos de ritmo elevado com a capacidade de desafiar o jogador com alguns quebra-cabeças. Aliás, o agradável ritmo dos jogos sempre foram um dos factores que me cativaram jogo após jogo.

Quando em 2014 tive a oportunidade de regressar aos originais, com a Collection para a PS Vita, senti que algumas mecânicas e especialmente os controlos , e a câmara, podiam tornar a experiência menos gratificante, pelo menos quando comparada com aquela que ficou na memória. Neste novo Ratchet and Clank, o estúdio melhorou todos estes elementos e aprimorou a experiência para não existir qualquer sensação de embaraço. A primeira viagem até Metropolis podia tornar-se aborrecida com alguns pedidos que nos eram feitos mas, tal como em todos os planetas, o gameplay foi remodelado e modificado para se tornar mais fluido e gratificante.

Quase todos os segmentos do jogo o foram, tanto para melhorar sobre o que foi feito como para tornar mais fluído e intuitivo para todo o tipo de jogadores. Enquanto os veteranos vão adorar as alterações e aplaudir o ritmo da experiência, os novatos vão sentir que tudo foi feito para actualizar a série para os padrões actuais.

Uma das novidades são as cartas que podemos coleccionar. Enquanto vai jogando, o jogador recolhe cartas e assim que conseguir um determinado número de um certo tipo, poderá desbloquear melhorias ou novas armas. É mais um elemento introduzido pelo estúdio que irá permitir um maior envolvimento com a exploração dos cenários. Além dos Parafusos Dourados e das árvores de melhorias para as armas, também estas armas introduzem mais incentivo para o jogador.

"Ideal para os adolescentes que cresceram com a dupla e que até podem agora partilhar com os filhos a magia desta dupla."

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Um dos aspectos mais impressionantes de Ratchet and Clank na PlayStation 4 é a qualidade dos seus gráficos. Mesmo nesta versão de demonstração, o jogo ostenta uma qualidade visual que deixará qualquer um rendido. Os belos efeitos de iluminação, motion blur, campo de profundidade e qualidade de texturas, ajudam a dar um aspecto impressionante ao jogo e corre com bela fluidez. Parte do respeito conquistado pela série está na qualidade gráfica que cada novo jogo consegue entregar e o Insomniac subiu novamente a parada. Qualquer fã da série sabe que o tom Pixar que emana de Ratchet and Clank está no espírito dos diálogos ou do enredo, mas também na qualidade visual. Esta primeira jornada na PlayStation 4 parece acertar em todos os pontos e fiquei completamente rendido. Ansioso para voltar a esta galáxia e conhecer ainda mais planetas.

Nesta versão, Ratchet and Clank já se encontra totalmente legendado e falado em Português de Portugal, algo que será altamente oportuno para quem tem crianças em casa. Para quem acompanha a série à 14 anos, será um prazer incrível poder partilhar com os mais novos, que nasceram no entretanto, esta aventura, sem quaisquer restrições em termos de língua. Mais um bom exemplo por parte da Sony.

Se até agora o Insomniac Games era referido como o mais perto que temos da Pixar nos videojogos, este novo R&C parece decidido em cimentar essa imagem. Além de altamente lisonjeador, é um termo que reflecte bem o tipo de experiência que esta série procura oferecer. Do que me foi possível jogar e assistir, a entrada de Ratchet and Clank na nova geração de consolas será repleta de entusiasmo e diversão. Resta esperar para descobrir se a familiaridade será um factor benéfico ou uma jogada demasiado pelo seguro que tornará o título menos arrojado. No entanto, cientes da necessidade de servir como catapulta para o filme, é promovido como um jogo familiar, com o intuito de oferecer o original como seria caso feito nos dias de hoje.

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