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Quem venceu esta geração?

At: Com a PlayStation 3. Era suposto haver só um vencedor mas as coisas não são assim tão simples.

Já faltam poucos dias para chegarem ao mercado a PlayStation 4 e a Xbox One(embora esta não venha para cá tão cedo).

Há praticamente 8 anos atrás, com o lançamento da Xbox 360, começava a geração mais longa e atípica de sempre. Entre outros, ficam para a história a massificação da internet, os gráficos de alta-definição, a explosão dos jogos independentes e a transformação das nossas máquinas de jogos em centros multimédia.

Na hora da "despedida" da actual geração de consolas, torna-se difícil escolher um verdadeiro vencedor. Tudo depende do critério que utilizarmos:

  • quem vendeu mais consolas? A Nintendo.
  • quem fez mais dinheiro? A Microsoft.
  • quem teve o maior número de exclusivos? A Sony.
Ok, ganharam todas!

Foi uma luta renhida e, no final, parece que acabaram todas mais ou menos empatadas mas, olhando para o estado da indústria em Novembro de 2005 e para onde ela se encontra hoje em dia, vemos que muita coisa mudou na posição dos 3 fabricantes de consolas.

Afinal de contas, quem venceu realmente esta geração?

Nintendo

Goste-se ou não, a Nintendo Wii foi a consola mais vendida da actual geração e este é um bom critério de definição de um vencedor.

Animação de festas para uns, colector de pó para outros, a verdade é que os números da Wii reflectem bem o seu sucesso: mais de 100M de consolas vendidas em todo o mundo e 5 títulos no top 10 dos jogos mais vendidos da história. Foi muito, muito dinheiro aquele que entrou nos cofres da Nintendo graças a esta pequenina máquina incapaz de ter jogos em HD e com dezenas de utensílios de plástico para o comando.

A Wii merece estes números, sobretudo, pela coragem que a Nintendo teve. Se bem se recordam, foi a chacota da indústria quando foi apresentada: era pouco mais que uma GameCube com um comando por movimentos que pretendia fazer frente a duas consolas com gráficos HD e planos de 10 anos. Ninguém acreditava no seu sucesso.

7 anos volvidos, foi a Nintendo quem ficou a rir. A sua incrível visão estratégica compensou e conseguiu meter a jogar dezenas de milhões de pessoas que nunca tinham tocado num jogo na vida. Muitos parabéns, Nintendo.

Quando foi a última vez que jogaram Wii Sports com a vossa avó?

Durante muito tempo foi praticamente impossível entrar numa loja para comprar uma Wii, tal era a procura. Embora a sua oferta de títulos de elevada qualidade tenha resfriado bastante nos últimos anos, a máquina da Nintendo ainda conta com alguns dos melhores títulos da actual geração, incluindo dois dos três melhores cotados jogos de todos os tempos no Gamerankings: Super Mario Galaxy e a sua sequela.

Se por preconceito ou indisponibilidade financeira deixaram escapar a Wii, aproveitem agora para o fazer. A máquina está barata e nenhuma colecção está completa sem a grande vencedora desta geração de consolas.

Microsoft

O que a Microsoft conseguiu fazer foi um pequeno milagre.

Quando a Microsoft se aventurou no difícil mercado das consolas, poucos foram aqueles(e eu incluo-me nesse grupo) que acreditavam que o gigante dos sistemas operativos teria alguma hipótese de durar mais do que um par de anos.

A Xbox original contou com alguns títulos de peso e um serviço online inovador para a altura mas foi completamente decimada pela PlayStation 2 e deu um prejuízo enorme à Microsoft. Decidida a não baixar os braços e com fé na sua visão do futuro do mercado de video jogos, a Microsoft não baixou os braços e respondeu com a Xbox 360 um ano antes da Sony colocar no mercado a sua consola.

O que se passou a seguir foi um misto de esforço e alguma sorte: reconheço à Microsoft mérito pelo trabalho desenvolvido na criação e promoção da sua consola mas acho que também teve a sorte de a Sony ter entrado com demasiada arrogância nesta geração.

O momento histórico em que o recorde de champanhe servido em Seattle foi batido.

O preço astronómico da PlayStation 3, os poucos jogos de relevo e a tecnologia que ninguém queria assombraram os seus primeiros anos de vida foram o suficiente para a Xbox 360 se consolidar no primeiro lugar das consolas HD e fazer o impensável: conquistar os mercados norte-americano e britânicos e dar uma dentada valente no Europeu, anteriormente conhecido como Sonylândia.

Mas nem tudo foi um mar de rosas. A pressa em chegar ao mercado antes dos seus concorrentes trouxe consigo o infame RROD. Embora não tenha sido um dos afectados, estima-se que 54.2% dos compradores de uma Xbox 360 nos seus primeiros anos de vida não tenham tido a mesma sorte. Números demasiado altos para um produto que é suposto durar uma geração inteira e que reflectem bem o desespero de se ser o primeiro a chegar ao mercado.

"Convém referir que os últimos anos têm sido desesperantes para os adeptos mais hardcore da Microsoft, com a empresa a concentrar-se no Kinect e a negligenciar os exclusivos AAA."

Tirando este grave acidente de percurso inicial, a Microsoft fez um trabalho para lá de excelente com a sua consola. Os exclusivos abundavam nos primeiros anos de vida da Xbox 360 e o Xbox Live tem evoluído para níveis impensáveis na geração anterior. Ainda acho vergonhoso ser cobrada uma taxa de admissão anual para jogar online mas com a Sony a enveredar pelo mesmo caminho, parece que as alternativas para jogarmos sem pagar se vão reduzir ao PC e à Wii U.

Convém referir que os últimos anos têm sido desesperantes para os adeptos mais hardcore da Microsoft, com a empresa a concentrar-se no Kinect e a negligenciar os exclusivos AAA. Embora continuem a sair, têm-se reduzido a um par de jogos por ano e nunca novas IPs. Neste aspecto, os detentores da consola da Sony têm estado muito melhor servidos, com AAAs de peso como The Last of Us, God of War: Ascencion, Sly Cooper: Thieves in Time ou Beyond: Two Souls lançados ainda no decorrer do "último ano de vida" da PlayStation 3.

Casal a desfrutar dos grandes exclusivos Xbox 360 dos últimos anos.

PlayStation

Inicialmente, e como os leitores mais madrugadores repararam, a PlayStation 3 não figurava na minha lista de vencedores. Não se tratou de esquecimento ou de ser mais ou menos fã de uma ou outra marca, mas de olhar, friamente, para o lugar que a Sony ocupava quando esta geração começou e para onde agora se encontra.

A Sony dominou o mercado durante duas gerações seguidas.

Quando a actual geração arrancou, a PlayStation 2 era a consola melhor sucedida de todos os tempos, com 140 milhões de unidades vendidas em todo o mundo, um número que a sua sucessora jamais alcançará.

Coincidência ou não, sempre achei que a Sony se aproveitou da (suposta) lealdade dos seus consumidores para tentar vender uma consola a €599 e empurrar um novo formato físico com isso. O plano era fazer com o Blu-ray o que tinham feito com o DVD mas os preços das drives eram astronómicos e a velocidade da internet já satisfazia as necessidades cinéfilas dos consumidores. Além do preço elevado da consola, o marketing foi péssimo, não tinha retro compatibilidade com a PlayStation 2, o YLOD era um déjà-vu do RROD da Xbox 360 e a qualidade dos exclusivos da consola era duvidosa, para sermos generoso.

Pérolas como Lair e Haze, mais um Halo killer, atormentaram os primeiros anos de vida da PlayStation 3.

A Sony estava um caos e isto acabou por lhe custar um mercado que era deles desde que se estrearam nisto dos video jogos. Acho que não há volta a dar à questão: esta geração foi uma enorme derrota para a Sony. Expôs as suas fragilidades e mostrou-nos que os gigantes também caem.

Não quero com isto dizer que, ao longo destes 7 anos de PlayStation 3 a empresa não tenha tido os seus méritos. Acho que, tirando aqueles que a comparam no lançamento(nesse caso, lamento), poucos são os detentores de uma PlayStation 3 com razões de queixa da consola.

Obras primas como Uncharted 2 e 3, Killzone 2, inFamous, Metal Gear Solid 4, Little Big Planet, Valkyria Chronicles, Journey, Heavy Rain ou The Last of Us só podem ser jogadas na PlayStation 3 e são alguns dos melhores jogos de sempre.

A Sony conseguiu deu a volta por cima a partir do momento em que mudou a sua atitude(“It only does everything”) e anunciou a PlayStation 3 Slim. A consola passou a ser acessível, começaram a sair exclusivos capazes de vender hardware e foi anunciado o PlayStation Plus, um serviço cujo livro de reclamações se encontra a ganhar pó.

Esta geração parece ter servido de lição à Sony(embora a PSP Go e a PS Vita não me permitam meter as mãos no fogo pela empresa) e a PlayStation 4 está com a atitude necessária para a empresa japonesa reclamar o trono que um dia já foi seu.

Nós

Pode parecer foleiro e populista dizer isto mas, no final, os grandes vencedores desta geração fomos nós, jogadores. Não me refiro às horas de entretenimento de enorme qualidade que tivemos ao longo destes 8 anos nem ao facto de a indústria estar a amadurecer e as produções de grande qualidade serem mais abundantes do que nunca. Falo do poder que a internet nos deu esta geração e de o termos utilizado, juntamente com a nossa carteira e bom senso.

Nunca antes, enquanto jogadores e consumidores, fomos vítimas de tantos abusos por parte da indústria dos video jogos. Através do DLC, a internet deu às editoras os meios necessários para investirem contra as nossas carteiras de diversas formas. Felizmente, também nos deu a nós, jogadores, um meio de propagar a nossa voz de forma a combater os diversos ataques de que temos sido alvo.

O bom DLC existe mas dá trabalho e muitas editoras não estão para aí viradas.

No meu último artigo falei sobre a Capcom, a empresa que, provavelmente, mais excessos cometeu com recurso ao DLC mas a verdade é que poucas foram as editoras que não tentaram sacar-nos o último centavo que trazemos na carteira. Ficam aqui alguns dos casos mais "caricatos":

  • A banda-sonora ou jogo remasterizado da praxe deixaram de fazer parte dos incentivos de pré-encomenda. Buh! Agora temos acesso a items in-game como nova roupa ou uma nova arma, algo com que sempre sonhamos, certo?
  • Em 2006, a Bethesda achou que €2.50 por armadura para o cavalo em Oblivion era uma boa ideia. E 2013 a Square Enix e a Capcom continuam a fazer o mesmo.
  • A Ubisoft deixou propositadamente de fora do disco o final de Prince of Persia e alguns capítulos chave de Assassins' Creed II. Será que os estudos de mercado encomendados pela empresa dizem que quem joga pela história tem maior poder de compra do que os restantes jogadores?
  • A defunta THQ criou as famosas passes online para punir todos aqueles que tivessem a indecência de comprar os seus jogos usados. Os jogadores não gostaram e a moda parece ter chegado ao fim.
  • Final Fantasy XIII-2 teve novo conteúdo lançado todas as semanas, todo ele tão irrelevante quanto o trabalho de escritor passou a ser durante esta geração na Square Enix;
  • A Rockstar introduziu em L.A.Noire o conceito de Season Pass, pedindo-nos para pagar adiantadamente por conteúdo futuro no qual nunca pusemos a vista em cima. Não é desconfiar da Rockstar mas no melhor pano cai a nódoa e o conteúdo extra da L.A. Noire nem sequer foi assim tão bom.
  • A Capcom...bem, já todos sabemos do que a Capcom foi(é?) capaz e da enorme porcaria que estes autênticos pioneiros do DLC têm feito.

Mas não foi só em relação a conteúdo adicional que nos protestamos. Foi por nossa causa que a BioWare mudou o final de Mass Effect ou suspendeu a série Dragon Age. Foi por nossa causa que a Square Enix se viu obrigada a criar um comité de qualidade para Final Fantasy. Foi por nossa causa que a Microsoft foi obrigada a voltar atrás com a sua visão assustadora da Xbox One

Se não fossemos nós, o futuro seria online. Exclusivamente online.

E quando não protestamos online, protestamos com a nossa carteira. Quando ficamos fartos de AAA que redundam em sequelas onde fazemos a mesma coisa todos os anos compramos jogos Indie e tornamos milionários da noite para o dia pequenos developers amadores. Quando Pro Evolution Soccer estagnou, compramos FIFA. Quando a Sony quis aproveitar a sua base de 140 milhões de fãs uma PlayStation 3 por €599, demos à Microsoft a oportunidade de a combater, obrigando a Sony a baixar o preço para se manter no jogo.

Nesta geração mostramos que quem manda nesta indústria somos nós e que ditamos o quê e quem é que pode triunfar ou ficar pelo caminho.

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Sobre o Autor
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Joel Monteiro

Contributor

Amante de design de videojogos nos poucos tempos livres. Escreve quinzenalmente na Eurogamer Portugal sobre a indústria e criatividade.

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