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Phoenix Wright: Ace Attorney - Spirit of Justice - Análise

Está aberta a audiência.

Eurogamer.pt - Recomendado crachá
Spirit of Justice é como um novo livro de um autor que nos é favorito. Único em casos de drama e mistério, continua a ser um prazer.

Desde o lançamento do original para a GBA há quinze anos que a série Phoenix Wright: Ace Attorney praticamente não conhece a palavra descanso. Entre edições centrais e "spin-offs" a Capcom editou de lá para cá um total de 10 jogos, o que dá quase um novo jogo por ano. Na verdade, há uma razão para isso e ela reside na imensa popularidade que a série goza em termos mundiais, em especial no Japão, de onde provém. São poucos os jogos que nos levam a experimentar as incidências e a vida nos tribunais, com o humor transbordante e o drama que a equipa de guionistas tão bem consegue em Phoenix Wright. Se a isso acrescentarmos o tom de novela, isto é uma história concisa, alicerçada em vários capítulos e casos que temos a oportunidade de desmontar diante do magistrado e do procurador público, temos várias dezenas de horas por cada jogo até que uma sucessão de eventos esteja concluída.

Não deixa de ser assinalável de resto como sendo uma série que apresenta um processo de inovação algo moderado, nem por isso entra em declínio. Talvez a manutenção da sua identidade seja o contributo mais valioso. A série é o que é. Actualmente, poucos jogos tocam e exploram com sucesso este conceito. Pelo menos com a eficácia que os japoneses da Capcom conseguem esgrimir. Podemos pensar noutros casos de sucesso na televisão e livros como Perry Mason ou Poirrot. Nos videojogos esse espaço é claramente de Phoenix Wright, o advogado de defesa ou defensor público que dá (literalmente) a sua vida pelos inocentes injustamente acusados, que tantas vezes desconhecem as razões ou motivos pelos quais são levados a julgamento. O fosso que já cavou perante outros jogos é intransponível.

Temos aqui um problema.

Não obstante acusar algum desgaste (cada novo episódio/jogo não altera sobremaneira a fórmula do anterior) na manutenção do conceito, é curioso constatar como cada nova entrada nos deixa na expectativa e com vontade de mergulhar a fundo à semelhança de quem lê um novo livro de um seu autor favorito (o estilo não muda facilmente e continuamos a gostar de ler o autor) ou compra um "comic" de uma série que lê há anos. Mais casos para resolver, a incerteza sobre o que acontecerá desta vez a "Nick" (a sua assistente Maya Fey trata-o por Nick), o próprio ambiente, tudo se conjuga numa série de elementos e novas peripécias que nos despertam para mais um périplo judicial. Claro que há muito texto e diálogos mas isso faz parte da identidade da série e da construção narrativa, sempre em lume brando até atingir o momento alto na desmontagem das contradições das testemunhas em tribunal, quando o calor do drama é mais evidente.

Spirit of Justice não foge ao drama e enredo nebuloso que mais uma vez atinge o nosso protagonista de indumentária azul. Desta vez o advogado viaja até aos Himalaias, ao encontro da sua antiga assistente Maya Fey, envolvida numa espécie de treino espiritual. O reino de Khura'in possui as suas tradições ancestrais e cultos que levarão Nick a encontrar dificuldades de adaptação, especialmente no pobre e arcaico sistema judicial daquele território que não contempla a existência de advogados de defesa por serem considerados almas negras (mentirosos como os acusados). Aceitando dar a sua vida pela defesa de Ahlbi, uma espécie de guia local que é injustamente acusado por profanar um local sagrado e assassinar um guarda desse espaço, o advogado tem assim o primeiro caso. As dificuldades são óbvias: um magistrado que dita sentenças culpando o acusado sem quaisquer provas a não ser por intermédio de relatos e um procurador (sustenta a acusação ao magistrado) que vem de outros duelos anteriores. Tudo se conjuga para uma espécie de abismo mas aceitando o mais difícil, paulatinamente o nosso herói começa a desmontar as inconsistências das teses apresentadas pela acusação e a reverter a delicada situação em que se encontra, até chegar à verdade dos factos, tornando-a óbvia e provada perante o magistrado.

É a esta mestria que nos associamos, vibrando com o êxito do herói graças ao sistema de apresentação de provas e inquirição do acusado e testemunhas. Se até aqui os sistemas são do conhecimento de qualquer fã, a originalidade nestes casos, em particular do primeiro decorre de um novo sistema baseado em revelações dos últimos instantes de vida do assassinado por intermédio de uma misteriosa personagem (uma medium chamada Divination Séance) que acaba por se envolver de forma dramática. Através dela acedemos a um processo um pouco mais complexo de dominar nos instantes iniciais e que requer a interacção com outros elementos (baseados nos sentidos). Mas ao fim de algumas tentativas depressa nos adaptamos.

Siga.

Enquanto Phoenix Wright arrisca a sua vida nos Himalaias e se prepara para um encontro com Maya Fey (que forma uma espécie de regresso aos velhos tempos), no outro lado do globo, na ficcional LA, Appolo Justice e Athena Cykes ocupam-se dos processos em curso no escritório do famoso advogado, segurando casos mais tradicionais embora repletos de mistério e novos desafios. Este périplo e constante trânsito entre diferentes personagens e zonas do globo forma uma espécie de reunião de antigas personagens com a novidade dos casos nos Himalaias e da trama que nos levará à primavera de uma revolução em curso. É uma boa conjugação e uma narrativa que flui um tanto melhor que Dual Destinies.

Desta vez o advogado viaja até aos Himalaias, ao encontro da sua antiga assistente Maya Fey, envolvida numa espécie de treino espiritual. O reino de Khura'in possui as suas tradições ancestrais e cultos que levarão Nick a encontrar dificuldades de adaptação, especialmente no pobre e arcaico sistema judicial daquele território que não contempla a existência de advogados de defesa por serem considerados almas negras (mentirosos como os acusados)

A nova mecânica.

Contudo, não deixa de exibir certas falhas que vêm de trás. Alguns diálogos e secções de investigação tendem a prolongar-se demasiado. Percebo que haja uma tentativa para, através de lume brando, edificar a base através da qual o momento dramático adquire mais intensidade, mas a abreviatura de algumas secções não seria má opção nem prejudicaria o desenvolvimento da história. O melhor reside nos confrontos e inquirições dos acusados e testemunhas, por intermédio de sistemas que regressam como a bracelete de Apollo ou a Mood Matrix de Athena Cykes. Depois de dominados revelam-se bastante simples e avançamos mais depressa para as inconsistências, tentando derrubar os argumentos das testemunhas e encontrar as contradições mais facilmente. Mas tenham atenção aos erros, falhar mais do que uma vez é suficiente para o juiz proferir a sentença que vos seja desfavorável e causar assim o fim do jogo. Felizmente podem sempre recomeçar a partir da última secção de inquirição.

Como é apanágio da série voltamos a encontrar um argumento bem escrito, repleto de humor e caricaturas das personagens marcantes, especialmente quando se atingem limites, como naquele momento em que o juiz ordena a pena de morte do advogado defensor se recair um veredicto de culpa sobre o acusado. Mas nem só sobre Nick se concentram as incidências. O périplo narrativo é extenso e abrange outras personagens e situações embora tenha um núcleo grande naquele estranho território.

Ver no Youtube

Apesar das mexidas operadas em Spirit of Justice, estamos diante de um jogo que encerra sobretudo uma linha de continuidade. À excepção de uma nova mecânica de inquirição, mais alguns elementos novos na investigação e um novo arco narrativo, quase tudo é uma importação dos jogos anteriores, especialmente de Dual Destinies. Mas este novo jogo é melhor e reunindo mais personagens, novos casos e eventos, assegura um melhor resultado global, voltando mais uma vez ao encontro daquilo que os fãs esperam. Estes sabem o que espera por eles enquanto que os principiantes terão de pensar num jogo algo pesado em texto e diálogos, mas pensando sempre que essa é a base similar à de um romance policial ou de um filme baseado no drama. Pode levar o seu tempo a levantar, mas depois torna-se memorável. Spirit Justice presta justiça à série e pode ser visto como uma digna opção tenham ou não falhado Dual Destinies.

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