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Octodad: Dadliest Catch - Análise

É uma enorme salsalhada.

Muita desta atual geração, estreada em Novembro de 2013, está a ser carregada às costas pelos jogos independentes, enquanto jogos feitos de raiz teimam em não chegar e enquanto não temos a mais do que já previsível enxurrada de remasterizações. Isto significa que depois da conquista de visibilidade e cumprida a revolução, temos agora um olhar diferente sobre os indies. Até há bem pouco tempo os indies eram vistos como produtos gloriosos que ramificavam o que a indústria apresentava, iam onde os AAA tão preocupados com os calendários e orçamentos não poderiam ir. Agora, já são eles próprios figuras de proa em atualizações aos serviços digitais e alvos de estrondosas promoções.

Por outro lado, enquanto a sua diversidade aumenta e continua a crescer, a qualidade pode não estar a acompanhar e a forma fácil com que os indies iam até agora sendo apresentados pode deixar que a sua maior valia se torne no seu maior inimigo. Depois da revolução estamos a um passo da saturação se não existir uma adequada triagem. Desde Fevereiro de 2013, com a revelação da PlayStation 4 ao mundo, que os indies têm sido altamente destacados e todas as semanas, desde o lançamento da plataforma, que um jogo produzido por um estúdio independente é lançado com grande destaque pela Sony. Octodad: Dadliest Catch foi um dos destaques da Sony para mostrar o seu espantoso empenho aos indies e esta semana chega finalmente à mais recente consola da Sony.

Octodad é, tal como praticamente qualquer indie um jogo com capaz de ser singular. Um produto que à partida se demonstra como verdadeiramente diferente e com capacidade para ser muito mais do que aquilo que é. A questão é mesmo saber se consegue ou se não vai mais além do que isso, de uma mera presunção que poderia ser mais. Aqui temos o que parece ser uma sitcom que caso me dessem a hipótese de escolha, preferia assistir do que jogador. Não que o jogo em si seja terrivelmente mau, não o é, simplesmente não é tão bom quanto acredita que é.

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Um aterrorizado polvo tenta passar por humano enquanto vai levando uma vida "comum" entre os seus filhos e mulheres, tentando escapar sempre às mais do que óbvias peripécias possíveis. Desenvolvido pelo Young Horses, pequeno estúdio composto por apenas 9 pessoas, Octodad foca-se mesmo na vertente humorística e esta engloba todos os seus aspectos, desde a gameplay até às situações de jogo e ao argumento. Tudo desenhado para deixar o jogador a sorrir. No entanto, a experiência é altamente simples e sem qualquer tipo de dificuldade ou desafio sequer, o que não me dá vontade de rir.

A sua mulher de nada desconfia, os seus filhos amam o seu carinhoso e dedicado pai mas este polvo sabe que o seu disfarce está por um fio. Será aqui que o jogador terá que entrar e atuar para o ajudar a cumprir as mais banais das tarefas ao longo desta árdua jornada, que engloba entre outros uma ida ao Aquário. Onde todos os trabalhadores conseguem desde logo avistar um peixe esteja ele onde estiver. Este chefe de família terá que, com a ajuda do jogador, cumprir as tarefas que lhe vão sendo pedidas e entre elas estão aparar a relva do jardim, encontrar a maçã preferida numa ida às compras ou até dar o pequeno almoço à sua filha logo de manhã.

O conceito é tão simples quanto este: um polvo envolto numa caricata situação na qual o humor do enredo combina com a realização de tarefas mundanas e desinteressantes. Onde estas tentam conquistar interesse é através da gameplay pois não será muito fácil para um polvo, por muitos tentáculos que tenha de sobra, colocar café numa máquina para depois beber sem que a sua família se aperceba que nem sequer sabe falar. Certo que existem aqui questões quase até filosóficas se estaremos nós, jogadores, já tão viciados nos mesmos produtos que nem sabemos apreciar algo simples e mais leve mas talvez a questão seja mesmo debater a qualidade e validade desse leve produto.

Cada um dos quatro tentáculos do polvo é controlado separadamente com a ajuda dos analógicos e dos botões traseiros do DualShock 4 mas sinceramente, ao invés de incutir uma sensação de alguém trapalhão e desajeitado numa situação de vida ou de morte com alto tom bem humorado, Octodad acaba por ser stressante e irritante até, muito ao contrário do que desejaria ser. É fácil perceber que no seu coração o jogo pretende ser divertido e cómico, conferindo uma sensação o mais aproximada possível de um polvo na pele de um homem para que o jogador ria a todo o momento mas algo aqui falha e não sentimos a desejada relação com o produto.

É precisa alguma cautela na hora de encarar Octodad e uma predisposição específica para que consigam suportar esta experiência. Algumas tarefas básicas tornam-se em atos quase heróicos e apesar de tal ser propositado, ou o jogador se apaixona pelo conceito específico ou fica altamente irritado. Além do mais, esta estranha gameplay surge aliada a uma vertente gráfica que em nada diz ao jogador que o está a jogar numa PlayStation 4. Numa altura em que tanto se defendem as capacidades técnicas das consolas de nova geração, Octodad nada faz pela PlayStation 4 e nem sequer pelo Dualshock 4.

Octodad pode até nem sequer valer a pena, excepto quando encarado como uma mera curiosidade, pois por muito divertido ou stressante que possa ser, acaba demasiado cedo para acreditar. Chegar ao final poderá motivar alguns ataques de desespero mas caso se deixem levar pelo humor e caso sintam uma boa relação com o personagem então podem mesmo conseguir alguma diversão, apenas para descobrirem que o jogo pode ser terminado em cerca de duas horas. O pior de tudo é que não ficam muitas situações para relembrar e só mesmo o tom desmazelado deste polvo nos poderá fazer rir.

Acredito que o estúdio se divertiu muito a realizar o jogo mas também parece ter-se esquecido de que o jogador também se deveria divertir. Octodad enquanto série episódica seria muito mais divertido do que num videojogo. Para uma geração de jogadores tão focada em subir nas tabelas de pontuações ou em obter aquele tiro na cabeça que elevará o ego, conceito tão mundano misturado com comédia pode não ser tão fácil de aceitar mas o certo é que Octodad poderia e deveria ser muito melhor do que é.

Octodad: Dadliest Catch é um caso de vai ou racha. Muitos vão ficar apaixonados com a experiência diferente que apresenta e com toda a patetice do protagonista enquanto outros simplesmente vão sentir que estão a perder o seu tempo. A diversidade que os indies ostentam aliada aos preços mais baixos tornam estas experiências num alvo fácil da atenção do jogador mas jamais senti que Octodad era um produto que valesse a pena. Ocasionalmente deixa o jogador intrigado mas na maior parte do tempo parece não ter qualquer interesse e o esquema de controlo precisa de algum tempo, muito mais do que aquele que o jogo demora a terminar.

5 / 10

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In this article

Octodad: Dadliest Catch

PS4, Xbox One, PlayStation Vita, Nintendo Wii U, PC, Mac

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Sobre o Autor
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Bruno Galvão

Redator

O Bruno tem um gosto requintado. Para ele os videojogos são mais que um entretenimento e gosta de discutir sobre formas e arte. Para além disso consome tudo que seja Japonês, principalmente JRPG. Nós só agradecemos.
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