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Nintendo rende-se ao mobile. E agora?

Acordo anunciado com a DeNA oferecerá uma ponte entre os jogos tradicionais e o mercado móvel.

O dia 17 de Março de 2015 entrou para a história da Nintendo. Pela primeira vez a gigante de Quioto irá desenvolver jogos exclusivos para os "smartphones", disponibilizando produções suas para outros dispositivos e não apenas para as suas plataformas, consolas portáteis e domésticas, como aconteceu durante mais de trinta anos.

Após o lançamento da Nintendo 3DS, em 2011, a Nintendo não podia mais ignorar o mercado "mobile" constituído pelos dispositivos móveis de acesso à rede, com ecrãs sujeitos ao toque, e de uma dimensão incomparável à concorrência que a Nintendo DS enfrentou em 2004. As dificuldades em conquistar mercado na fase inicial da 3DS levaram muitos accionistas da companhia a pedirem a entrada da empresa no negócio "mobile". A pressão acentuou-se nos últimos anos.

No Japão o mercado "mobile" está em franco crescimento, não obstante a boa performance dos recentes modelos das plataformas 3DS e até da PlayStation Vita, confirmando que as consolas portáteis, naquele país, continuam a ser uma forma de entretenimento viável e passível de grandes proveitos. O que significa que a coexistência entre dispositivos moveis e aparelhos dedicados não termina como ainda parece dar margem de progressão, se atendermos aos próximos lançamentos.

Isao Moriyasu (CEO da DeNA) e Satoru Iwata (Nintendo) anunciam a parceria.

A grande novidade do dia de hoje é que a Nintendo anunciou a formação de uma aliança com a operadora japonesa de serviços móveis DeNA, uma das maiores operadoras no Japão. Em termos formais o negócio envolveu a aquisição mútua de uma percentagem de acções (a Nintendo comprou 10% da DeNA e esta comprou 1,24% das acções da Nintendo), consolidando a parceria a médio e longo prazo. Com esta aliança, Nintendo e a DeNA acordaram também no desenvolvimento de um novo modelo de adesão ao serviço. Percebe-se agora porque há poucos meses a Nintendo anunciou a o fim do serviço Club Nintendo a partir de Setembro próximo. No seu lugar deverá nascer um serviço mais abrangente, capaz de englobar os novos subscritores, oriundos dos dispositivos móveis. O serviço irá interligar diferentes plataformas: pc, smartphones, tablets, 3DS e Wii U.

Com esta aliança a Nintendo pretende desenvolver "software" exclusivo para diferentes sistemas móveis, mantendo a mesma qualidade de produção dos jogos fabricados para as suas consolas. A companhia espera também que a DeNA possa proporcionar à Nintendo as condições adequadas de entrada no mercado, atendendo à necessidade de garantir servidores e uma adaptação dos jogos ao funcionamento dos dispositivos, nomeadamente a ausência de botões tradicionais nos comandos das consolas.

"A combinação é boa: a Nintendo tem a matéria, a DeNA tem a estrutura"

Na conferência que teve lugar (esta madrugada por cá) em Tóquio, Iwata exprimiu uma convicção bem diferente daquela que admitia até há bem pouco tempo, quando recusava diante dos seus accionistas a entrada da Nintendo no mercado "mobile", embora em Janeiro de 2014 tivesse dito que não descartava a ideia de fazer jogos para telemóveis, no futuro. Para ele, há dois pontos cruciais que levaram a companhia a dar este passo em frente: a maximização das personagens e franquias da Nintendo e do seu real valor em termos de mercado, das quais tiraram partido ao longo dos anos nas suas plataformas dedicadas, mas essencialmente os desenvolvimentos da internet, dos media e das mudanças no estilo de vida das pessoas. Iwata vem de encontro à realidade, demonstrando compreensão pela mudança, na forma como as pessoas desenvolveram novas afinidades com os aparelhos, aproveitando a oportunidade mas também o imenso pecúlio da companhia para investir a sério. É uma mudança agressiva mas reveladora de uma percepção séria do ambiente que reina à volta das companhias e dos desafios que as fabricantes de consolas enfrentam. No fundo a Nintendo vai passar a emitir uma nova comunicação, uma estratégia diferente para um público específico; para os jogadores do mercado "mobile". A combinação é boa: a Nintendo tem a matéria, a DeNA tem a estrutura.

A concentração dos IP's da Nintendo na DeNA é vista com a finalidade de proporcionar um crescimento para ambas as companhias.

Em termos práticos, que jogos serão lançados no mercado "mobile"? Iwata optou por um tom generalizador: potencialmente todas as franquias da companhia poderão ser encaminhadas para um dispositivo móvel. Não haverá restrições. O ponto mais importante nesta oferta passa pela entrega de jogos num estado que permitirá ao consumidor adquirir sucessivamente novos conteúdos. Os jogos completos como os conhecemos para as portáteis (Iwata designa de premium) não serão fornecidos da mesma maneira nestes dispositivos. A estratégia passa por oferecer um conteúdo barato e simultaneamente ponto de partida. Não é um jogo completo, mas que poderá caminhar para uma dimensão similar ao modelo premium se o jogador pagar por isso. É inevitável a entrada no sistema das micro-transacções, algo que a companhia sempre recusou determinantemente nas suas consolas ao longo de anos e muito provavelmente continuará a manter nos jogos para consolas dedicadas.

"A Nintendo avança na direcção que muitos accionistas pediam há não muito tempo"

Um ponto que Iwata deixou reforçado no anuncio desta aliança é o empenho da Nintendo em continuar a produzir experiências exclusivas para as suas plataformas, com o mesmo empenho e a paixão demonstrados em trinta anos de software exclusivo das suas plataformas. Compreende-se a estratégia de Iwata. Penetrar no mercado "mobile" para dar a conhecer às pessoas que utilizam frequentemente esses dispositivos, a oferta da companhia. Daí a decisão em produzir "software" exclusivo para os aparelhos móveis, não prejudicando os conteúdos completos e com a qualidade que habitualmente a Nintendo produz para as suas plataformas. Serão produtos diferentes, ficando por saber até que ponto a empresa não irá tirar proveito não apenas do poder das suas personagens mas dos jogos clássicos, os mesmos que muitos jogam nestes aparelhos a partir de emuladores.

O novo sistema de subscrição criado pela Nintendo irá agregar as diferentes plataformas da Nintendo e os dispositivos móveis.

Prova inequívoca da dedicação e compromisso da Nintendo em prosseguir o seu entusiasmo pelos videojogos foi anunciada por Iwata quando referiu uma nova plataforma em desenvolvimento, exclusiva para jogos, com o nome de código NX. Iwata foi omisso em detalhes sobre o aparelho, salientando apenas que as informações sobre a consola serão publicadas no próximo ano, desfazendo suposições de um lançamento a breve prazo. Aliás, destas declarações muito pouco pode se pode retirar, se a NX se perfila como uma sucessora da Wii U, da 3DS, podendo até abrir um terceiro pilar na oferta de plataformas. É verdade que a Wii U está quase a meio caminho do seu previsível ciclo de vida e muitos jogos estão previstos para a plataforma. A 3DS recebeu há pouco mais de um mês uma nova versão em todos os aspectos melhorada, pelo que uma nova portátil em breve não parece plausível. De todo o modo, as informações são escassas e sabendo-se como a Nintendo é boa na conservação de embargos, só no campo das conjecturas e suposições é possível navegar.

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Do ponto de vista da DeNA, a aliança com a Nintendo constitui uma oportunidade para trazer propriedades intelectuais sólidas a um mercado de grande voracidade. A competição é intensa, agressiva e todos os dias chegam imensas novidades, dispersando imediatamente as atenções pelos mais diversos jogos. Atrair os IP's da Nintendo poderá reflectir-se, num factor diferenciador, susceptível de concentração e capaz de reforçar ainda mais o valor proporcionado pelo serviço. Isao Moriyasu, presidente e CEO da DeNA tem confiança nisso.

Hoje, Nintendo e DeNA deram um grande passo, tomando a indústria de surpresa. Ambas as companhias pretendem melhorar a sua posição com esta aliança. A Nintendo ganha um aliado de peso na entrada para o mercado mobile e a DeNA terá à sua disposição uma série de propriedades intelectuais de reconhecido e enorme valor à escala global. Fazendo valer numa operação estratégica conjunta diferentes valências, as duas companhias terão um enorme desafio à sua frente. A Nintendo irá seguramente redefinir o conceito para as suas plataformas, sem afectar o seu compromisso no empenho e paixão pela criação de novas experiências, como Iwata salientou. O pontapé de saída está dado e de hoje em diante, mesmo com a ausência de informações sobre o novo aparelho da Nintendo, o foco está apontado à estratégia montada pelas duas companhias. A Nintendo avança na direcção que muitos accionistas pediam há não muito tempo e Iwata surpreende com o anúncio, visando uma base maior do negócio da empresa e o seu fortalecimento para o futuro. Curiosamente, neste momento as acções da Nintendo estão em alta. Os seus accionistas estão mais tranquilos.

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