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NES Remix - Análise

Tutti Frutti.

Enquanto software exclusivamente digital e disponível unicamente na loja virtual da Wii U, NES Remix foi uma das grandes surpresas proporcionadas pela Nintendo para a recta final do ano que passou, mas que ainda irá tomar de assalto o horário de acesso à consola dos utilizadores da Wii U. Num dia a Nintendo apanha os fãs de surpresa, anunciando NES Remix, no outro já está a actualizar a loja virtual com a inclusão do jogo. É raro isto acontecer, mas o certo é que isto aconteceu no último Nintendo Direct dedicado à Wii U. Cada vez acho que este método de comunicação é perfeito para uma companhia como a Nintendo, conhecida não só pelo fabrico de software muito particular mas também pela comunicação que mantém com a sua audiência e por esta capacidade de a surpreender.

Curiosamente, acompanhei o anuncio do NES Remix no "showroom" da Nintendo em Lisboa, num evento de final do ano. Mas no meio de algumas gargalhadas motivadas por esta remistura de clássicos da NES que oferece situações tão díspares e caricatas como Luigi a escalar as construções de andaimes em Donkey Kong, Donkey Kong jr. a progredir nos níveis do seu jogo em plena escuridão temporária e dar gás em Excitebike sob um forte apagão e unicamente com a luz da moto acesa, inquiri a quem se encontrava à minha volta se este não seria mais um jogo produzido pelos aluados que deram vida à série WarioWare.

As instruções sobre o desafio indicado para cada nível estão sempre assinaladas.

Não é o caso. Mas há aqui um grau de insanidade e nostalgia que não nos deixa indiferentes diante de uma proposta nestes moldes. Se a companhia tem tanta história, porque não aproveitar o seu potencial? Pelo menos na forma como o estúdio da Nintendo em Tóquio o faz, levando para o palco remisturas de jogos clássicos para a NES. A Nintendo abre assim uma proposta alternativa de teste aos clássicos sem levar o jogador a dedicar o mesmo esforço que teria de aplicar para completar jogos com mais de vinte anos. Composto por níveis curtos e compactos que abarcam as mesmas mecânicas dos clássicos com a afinação que conhecemos, apresenta, quanto mais não seja, esse grande mérito, de proporcionar aos jogadores que não se sentem tentados a pegar nos clássicos uma oportunidade para os conhecerem, sobretudo aquelas sequências, momentos e mecânicas que se encontram perpetuadas num qualquer manual sobre a história da Nintendo.

Não deixando de ser também mais um exercício de nostalgia e uma operação sobre terra batida, beneficia contudo de uma frescura adveniente da composição peculiar dos níveis, sustentados em pequenos e concretos desafios a serem concluídos ao fim de quatro segmentos sucessivos, bem como uma reformulação que em alguns níveis chega a transfigurá-los significativamente, sem deixar de salvaguardar o desafio. Contudo, há picos de dificuldade elevada e alguns desafios só se superam depois de muitas tentativas e erros, não fosse essa uma das linhas orientadoras das produções antigas, muito marcadas pelo espírito retro que obrigava os jogadores a desembolsarem umas quantas moedas para continuarem.

Neste desafio o foco de luz incide apenas sobre o protagonista.

Ao todo existem 16 jogos NES. Alguns mais conhecidos que outros. Muitos reconhecerão naturalmente Super Mario Bros., Donkey Kong, Excitebike, The Legend of Zelda, enquanto que os títulos Baseball, Ice Climber, Wrecking Crew ou Urban Champion poderão passar despercebidos, talvez porque não envelheceram tão bem no tempo, por assentarem sobre mecânicas que se revelaram algo difíceis de gerir. É certo que os jogos escolhidos fazem todos parte de uma lista de produções Nintendo criadas exclusivamente para a primeira consola doméstica da companhia. Criados, muitos deles, no final dos anos oitenta e princípio dos anos noventa, nem toda a audiência recente estará disponível a ganhar empatia com outros títulos que fogem das fronteiras de Super Mario ou Donkey Kong, talvez dos poucos desafios, que graças a uma mecânica apurada do salto, ainda são magníficos exemplos de títulos de plataformas bem sucedidos.

Em NES Remix há suficiente matéria nova, provocada por uma série de alterações e "twists" jocosos que emprestam outra latitude quando observamos de perto. Para cada um destes 16 jogos existem diversos níveis, sendo estes compostos por pequenos desafios que envolvem um momento específico do clássico. Estes desafios estão organizados de forma consecutiva e cumprem-se em curtos períodos de jogo, podendo ser cinco, dez ou vinte segundos. Nalgumas situações envolve mais tempo, embora a luta contra o relógio seja uma constante.

Terminando os diversos desafios com um bom tempo, é dada uma pontuação em forma de estrelas. Uma para os mais lentos e três, com direito a arco-íris, para os mais lestos. Se falharem um desafio perdem uma vida, o que significa gameover ao fim de algumas tentativas não concretizadas, situação que tenderá a ocorrer de forma frequente à medida que desbloqueiam mais níveis, seja por obterem um determinado número de estrelas que vos dá acesso a um conjunto de níveis Remix, seja por concluírem os níveis dos outros jogos, podendo passar para o nível seguinte.

Existem imensos selos para coleccionar.

Apesar do bom impacto causado inicialmente, NES Remix revela algumas inconsistências. O que inicialmente era algo de refrescante e interessante do ponto de vista das transfigurações, dá lugar, na passagem para a segunda metade do jogo, a muitos desafios árduos e níveis de outros jogos que não se projectam com tanta invenção como os semelhantes de Super Mario Bros. Mario Bros. é um dos jogos que espelha essa insatisfação, por ter um "timming" de salto muito limitado, e com pouco tempo para realizar certas acções, agudiza-se o processo de memorização. Numa tentativa de aliviar essa pressão, os produtores optaram por dar mais níveis a alguns jogos em detrimento de outros, o que alivia algum desse desgaste, mas não repara estes momentos de menor satisfação.

A inclusão de selos, como recompensa constante cada vez que ultrapassem a fasquia dos quinhentos pontos, serve de estímulo à colecção, havendo-os para todos os jogos e personagens, permitindo que os vossos escritos no Miiverse contenham assim mais algum significado ou paródia gráfica.

O grande mérito deste NES Remix está em servir uma série de clássicos da primeira consola da Nintendo com irreverência e alguma loucura, ainda que não se verifique um grau de manutenção da qualidade operada por essa transformação nalguns títulos que não envelheceram tão bem. Não podemos ignorar também o preço especial deste jogo. Por dez euros e com tanta oferta aqui disponível (aproximadamente 200 níveis), será talvez uma alternativa mais segura à aquisição de clássicos. Sendo um exercício de recordação e evocação do passado, NES Remix injecta umas boas surpresas e brinda o jogador com novos desafios e regras que nunca abrandam o ritmo. Uma colecção exclusivamente digital que abarca do melhor criado pela Nintendo para a NES.

8 / 10

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