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Monument Valley - Análise

Se M.C. Escher criasse um jogo, este seria o resultado.

Certamente que todos já ouviram alguma vez a expressão "é uma questão de perspectiva". O seu significado não é oculto, quer dizer que para compreendermos determinado assunto ou resolvermos um problema, devemos assumir ou ter uma perspectiva apropriada ao que está a ser abordado. Não há espelho maior desta expressão do que Monument Valley, um jogo de puzzles lançado há cerca duas semanas para os dispositivos iOS inspirado na arte de M.C. Escher, que marcou pela sua "realidade impossível", ou de outro modo, por retratar situações que de acordo com as leis de governam o nosso mundo, não era possíveis.

Monument Valley utiliza esta ideologia para criar puzzles com uma resolução que não pode ser alcançada se pensarmos pelas normas padrão. Temos que pensar como, assumindo a perspectiva correta, o puzzle pode ser resolvido. Isto é feito ao interagir directamente com peças movíveis do puzzle, que assume sempre a forma de uma estrutura arquitectónica, umas mais convencionais outras nem por isso. Ao tocar e movimentar nestas peças, percebemos que, apesar da impressão inicial contrária, podemos ligá-las a outras peças para traçar um caminho.

Traçar um caminho é sempre a finalidade em mente nos puzzles de Monument Valley. Não é explicado claramente porquê, mas temos que ajudar Ida, uma princesa vestida de branco, a alcançar o seu objectivo. No início do puzzle, Ida encontra-se sempre no ponto A e tem que viajar ao ponto B. Ao jogador cabe ajustar a estrutura para que a personagem se possa deslocar. Os puzzles mais complexos estão divididos por várias fases, em que temos de deslocar Ida de um lado para o outro enquanto ao mesmo tempo alteramos a perspectiva ao movimentar as partes da estrutura.

A experiência é altamente gratificante e o nível de envolvência é elevado logo desde o início devido ao estado perto da perfeição que Monument Valley. Não quero passar a ideia de que o jogo é perfeito, mas há que dar mérito ao estúdio UsTwo por aprimorar a sua criação a este ponto. Na jogabilidade não existem falhas, os controlos respondem muitíssimo bem e de forma imediata. Para rodar as peças do puzzle basta colocar o dedo sobre elas e deslizar para a direcção desejada. Deslocar Ida é igualmente fácil, tudo o que têm de fazer é tocar no ponto para onde querem que se mova e esperar que ela percorra o caminho.

Quem são aqueles criaturas pretas?

Monument Valley é um caso de beleza simples. É intuitivo e um convite para quem gosta de resolver quebra-cabeças. O único ponto negativo a apontar é a sua curta duração. Com apenas dez capítulos, que são desbloqueados por ordem, não vão precisar de muito tempo para chegar ao fim. Alguns capítulos têm mais que um puzzle, e embora no final a experiência pareça completa, podia haver níveis extras mais desafiantes ou então versões modificadas mais difíceis dos puzzles que encontramos ao longo dos capítulos.

Enquanto jogamos sentimos que há uma história a ser contada, mas Monument Valley não conta a sua história como os outros jogos. Em vez de texto ou diálogo entre personagens (estes elementos existem no jogo, mas em poucas quantidades), prefere mostrar e deixar que o jogador interprete o que está a acontecer. A interpretação no final poderá ser subjectiva, a parte significativa é que cada um terá assim uma ideia diferente da aventura de Ida.

Afinal para aonde Ida vai? Qual é o seu objectivo? Quais são as suas motivações? O que são aqueles corvos com pernas que às vezes bloqueiam o seu caminho? O que a espera no final da viagem? O que são estas estruturas estranha que desafiam a realidade? São perguntas que surgem durante o jogo e cuja resposta não pode ser dada com exactidão, é para reflectir cada um com base no que lhe recolheu da experiência.

A parte que mais impressiona é o desenho das estruturas que integram os puzzles. O material parece retirado de um sonho, roçando o surrealismo e os confins da imaginação. A forma das estruturas e as cores usadas estão num equilíbrio perfeito que revela uma espantosa beleza mas que emana mistério em conjunto com Ida, personagem que tem um desenho também enigmático.

Monument Valley pode ser equiparado a outras experiências nos videojogos que promovem mais o seu lado artístico, nomeadamente as criações da thatgamecompany, e como tal, é facilmente recomendável para quem apreciou Flower e Journey. É um daqueles casos curiosos em que o jogo se torna mais num objecto de apreciação do que um meio de entretenimento, despertando um estado de contemplação no interior humano.

8 / 10

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Monument Valley

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Sobre o Autor
Jorge Loureiro avatar

Jorge Loureiro

Editor

É o editor do Eurogamer Portugal e supervisiona todos os conteúdos publicados diariamente, mas faz um pouco de tudo, desde notícias, análises a vídeos para o nosso canal do Youtube. Gosta de experimentar todo o tipo de jogos, mas prefere acção, mundos abertos e jogos online com longa longevidade.
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