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Máquina do tempo: O que estava a jogar em Agosto de 1996 - Athlete Kings

Martelar até à vitória.

Antes da chegada do sensacional WorldWide Soccer 97, a emoção desportiva na SEGA Saturn era feita ao ritmo do martelar incessante dos bravos botões do comando. Certamente se questionavam se tinham feito algum mal ao dono. Essa emoção tinha origem em Athlete Kings da própria SEGA e o seu fascínio foi de tal forma gigantesco que durante mais de 10 anos teve influência sobre a forma como os mais diversos estúdios e companhias abordavam a recriação de eventos desportivos fora do futebol nos videojogos. Numa altura em que os salões de jogos, as arcadas, prosperavam e viciavam quem lá ousasse entrar, era fascinante ver como algumas dessas majestosas experiências estavam a ser transportadas para serem acedidas em casa.

Enquanto alguns iam aos céus com o mais recente King of Fighters, outros iam desbravando caminho no género de luta em 3D com Virtua Fighter. Pessoalmente não ousava falhar uma máquina de Tekken ou Battle Arena Toshinden. Isto até surgir Time Crisis e até o curioso Virtual On. Alguns já devem estar a perguntar como me posso sequer ter esquecido de mencionar Daytona USA, Virtua Cop ou Crazy Taxy. Está feito. Numa altura em que ficava completamente embasbacado em como era possível ter na televisão lá de casa os jogos "iguais" ao que via nas arcadas, era simplesmente arrebatador descobrir novas experiências como esta.

"Cada personagem tinha um leque específico de atributos que o tornavam mais indicado para uma ou outra modalidade e isto incutia na experiência de jogo uma profundidade e até criava uma empatia entre o jogador e as personagens."

Athlete Kings foi o primeiro, foi uma pérola, um pioneiro e um bravo que por toda a sua singularidade ficou marcado e que não mais outro conseguiu ser propriamente igual. No Verão de 1996, a SEGA Saturn deu-nos este jogo e se agora até tremo de medo em pensar em todo aquele martelar incessante de botões, na altura aquilo era o que tinha mais estilo, era o mais divertido, era o que reunia grupos de amigos em frente à televisão. FIFA era uma delícia diferente, PES (ou ISS se quiserem) ainda estava a dois anos de "arrebentar", portanto o desporto era vivido assim.

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Athlete Kings criava logo um enorme impacto no jogador pelos seus visuais, mais propriamente pelas suas personagens. Ao invés de procurar um tom mais real e credível, este produto apresentava um estilo visual em jeito de banda desenhada, quase cómico, e tudo isso vai desde os personagens em si até à sua interpretação dos próprios desportos a que nos dá acesso. Com oito personagens disponíveis, todas elas dos países mais sonantes e mais vitoriosos nestas andanças, todos eles eram estereótipos dotados de personagens bem ao encontro do que se poderia esperar quando se cria um produto com tamanha ironia presente.

Estes personagens tinham como objetivo fugir às figuras mais sérias e pouco risonhas que predominavam nestes desportos dando um tom mais "leve" a toda a experiência e dizendo ao consumidor que estas modalidades podem ser divertidas. Bem dentro do espírito arcade, cómico e irónico a que a SEGA habituou os seus fãs e manteve em firme estado durante largos anos. No entanto, cada personagem tinha um leque específico de atributos que o tornavam mais indicado para uma ou outra modalidade e isto incutia na experiência de jogo uma profundidade e até criava uma empatia entre o jogador e as personagens. A cada nova sessão de jogo íamos ficando mais afeiçoados a um ou a outro.

Isto poderia ser devido ao ser aspeto mais cómico ou mais sério, pelos seus comentários, ou até pela forma como corriam e executavam certos movimentos. A verdade é que o jogador ia ficando adepto de um personagem e em casos de rivalidade o mais provável é tal estar ligado à sua capacidade para bater os desafios. Seja como for, os atletas aqui presentes eram únicos e conferiam enorme carisma e personalidade a todo o pacote. Eram os jogos olímpicos made in Japan.

Os visuais coloridos, cheios de efeitos especiais em alguns movimentos também não deixavam que o jogo tivesse uma ponta de seriedade e facilmente deixava o jogador a rir de determinados momentos que via. Certamente algo em tom bem diferente do que ia vendo na televisão na altura, e até agora. Por outro lado, o jogo era exigente e pedia empenho e dedicação apesar de na verdade ter um contra balanço incrível tendo em conta o facto que era extremamente fácil e acessível de se conhecer. O jogador apenas tinha que pressionar incessantemente os botões indicados para cada modalidade em especifico e quem pressionasse mais rapidamente ou com "mais força" sairia vencedor, em princípio.

Esta foi a forma que a SEGA encontrou para transportar para as salas de casa em todo o mundo uma sensação o mais aproximada o possível dos movimentos e dos esforços que os atletas sentiam e faziam na vida real. Provavelmente viria acompanhado de 300 periféricos caso fosse lançado hoje mas na altura martelar botões o mais rápido possível era como se sentiam os jogos olímpicos nas consolas.

"Apesar de soar arcaico e doloroso, pelo menos o segundo era ao fim de algumas horas, tudo isto era extremamente prazeroso e criava ferrenhas competições entre o pessoal que se reunia em frente à TV. "

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Apesar de soar arcaico e doloroso, pelo menos o segundo era ao fim de algumas horas, tudo isto era extremamente prazeroso e criava ferrenhas competições entre o pessoal que se reunia em frente à TV. Martelar os botões para vencer uma das dez provas presentes no jogo, como referido inspiradas em modalidades dos Jogos Olímpicos, criava também uma competição fora do jogo em si. Fosse para confirmar quem tinha mais força nos braços e dedos, para atestar se era uma questão de velocidade ou força, se era preciso destreza, o certo é que o jogo fascinou como nenhum outro na altura.

Salto em Altura, Salto em Comprimento, 100 metros barreiras, Lançamento do Disco e mais outras 6 modalidades dentro do mesmo estilo era o que o jogo oferecia e tudo isto incutia até um princípio de ritmo no jogador. Quando nos era pedido para variar o martelar com variações ou paragens, o jogador sentir que a profundidade da jogabilidade crescia e sentia variedade. Claro que passado algum tempo algumas foram ficando mais populares do que outras.

Passados todos estes anos, Athlete Kings pode não ser uma das figuras de proa para os nostálgicos da SEGA Saturn mas aqui por estes lados foi uma incrível paixão. Numa altura em que comprar um jogo era um exercício cuja consequente reflexão quase poderia ser comparada a quem está a pensar em casar, um jogo era comprado para durar largos meses, perto de um ano ou mais. As manhas passavam por emprestar jogos na escola já que ainda não estava bem instalado o conceito de lojas de vendas de usados mas Athlete Kings era o jogo que todos queriam ter.

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Sobre o Autor
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Bruno Galvão

Redator

O Bruno tem um gosto requintado. Para ele os videojogos são mais que um entretenimento e gosta de discutir sobre formas e arte. Para além disso consome tudo que seja Japonês, principalmente JRPG. Nós só agradecemos.

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