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Little Witch Academia: Chamber of Time - Análise - e se vivessemos o mesmo dia em loop?

O poder da magia e da amizade.

Uma matrícula em Little Witch Academia inaugura algumas surpresas entre trajectórias de continuidade. Ver a série e depois usufruir do jogo.

Todos os anos a Bandai Namco é capaz de refrescar o seu catálogo de videojogos, operando alterações de monta dentro do naipe de séries que detém, para lá da aposta nos originais. No decurso da última Level Up, a apresentação para a qual fomos convidados e tivemos a oportunidade de assistir e experimentar novidades em primeira mão, a diversidade de conteúdos e propostas (a publicar ao longo do ano) para as mais diversas plataformas ficou mais uma vez evidente. O ano começou muito bem com Dragon Ball FighterZ, um estonteante e caloroso jogo de luta que os fãs de Dragon Ball há tanto tempo aguardavam e passou depois por Ni No Kuni: Revenant Kingdom, notável aventura em formato role play. Com fortes ligações à animação japonesa e tendo outras séries ainda em desenvolvimento, uma das mais recentes chegadas ao mercado e que aqui vos trazemos é precisamente Little Witch Academia: Chamber of Time.

Trata-se de uma produção baseada no anime Little Witch Academia, que tal como muitas outras séries da Bandai Namco, captam muito bem o estilo artístico e os visuais das personagens que vemos no ecrã. Desta vez, o anime em questão é um exclusivo (para o nosso território) do Netflix e por isso a possibilidade de ser conhecido por alguns de vós é maior. Criado pelo Studio Trigger, narra as aventuras e peripécias de uma turma de personagens femininas numa academia de bruxas. Podemos vislumbrar aqui algumas aproximações a Harry Potter, no entanto há que dizer que são mundos bem distintos.

Mas é justamente a partir dos corredores de Luna Nova, por onde se estende a academia, que a produtora (A+ Games) criou este jogo que combina elementos de role play e acção (do tipo Guardian Heroes - Sega Saturn) com uma narrativa de pendor juvenil. O resultado é um jogo do tipo role play de acção e "beat' em up" que tem os seus altos e baixos e que muito embora não seja particularmente memorável como todo ou excedível nalgum dos seus elementos, consegue entreter e proporcionar bons momentos desde que estejam dispostos a surfar a sua onda e acompanhar um guião original.

Há toda uma colagem ao anime, nas personagens e na academia, mas o level design dos cenários é por vezes demasiado vago.

Lançado no final de 2017 para o Japão, o jogo chegou até nós quase num tempo recorde, considerando o género no qual se inscreve. A localização é boa e aqui há que valorizar o trabalho em manter a narrativa o mais fiel possível à série televisiva. O tema assenta sobre um inexplicável fenómeno chamado Seven Wonders. Sem conhecerem muito bem o que se trata mas assumindo proporções maiores em Luna Nova, Akko, a protagonista e uma aprendiz de bruxa que encontra em Shiny Chariot a sua maior inspiração, não sabe que está prestes a iniciar a maior aventura da sua vida. Ela e outras personagens, já que a história toca um punhado de outras aprendizes, entre as quais se destacam Sucy Manbavaran, a sarcástica do grupo e Lotte Jansson, finlandesa e que tem na extrema generosidade uma das suas melhores qualidades.

Uma ocasião, levadas pela curiosidade até um aposento da biblioteca, acabam por encontrar uma porta através da qual conseguem viajar no tempo. É aqui que acontece o "clique" para uma jornada que levará Akko e as suas compinchas até outros mundos e lugares, enfrentando monstros, criaturas mágicas e conhecer uma dimensão completamente diferente, sendo postas à prova em todos os ensinamentos e habilidades transmitidas em Luna Nova.

A realidade acaba por ser algo caricata em função de um acontecimento que leva o dia a entrar em formato "loop". Regressam sempre ao primeiro dia de férias desse longo verão. Mas rapidamente isto acaba por atrair as atenções, e o que começou por um segredo não acabou bem guardado e mais estudantes sentem-se atraídas por este estranho evento que as leva para uma dimensão totalmente diferente da realidade em Luna Nova. Mais personagens eventualmente aderem, até um total de sete, cada uma com as suas personalidades, habilidades e poderes especiais. No entanto, apenas três poderão participar nos níveis e enfrentar monstros nas "dungeons" e nas imensas "side quests" que acedem a partir da prestigiante escola.

A definição de uma boa estratégia é crucial a fim de levarem de vencida certos combates e chegarem ao fim da dungeon com vida.

Quando não estão em actividade, estas peculiares estudantes conversam entre si e procuram explicações para aquele estranho fenómeno. Não estejam por isso à espera de uma sucessão de eventos rápidos e de todo um jogo voltado unicamente para a acção. O progresso é lento, muito gradual e como que revestido por muitas pausas que na verdade podem dissuadir muitos utilizadores, sobretudo se não forem muito fãs de "chit-chat". Muitas conversas são quase secundárias e o peso no diálogo é por vezes avassalador, mas faz parte da estrutura do jogo, assumindo uma composição central, em sequências de exploração.

Todavia, nem sempre se verifica a melhor gestão deste esquema. Por vezes, para obterem determinado feitiço terão que cumprir algumas condições, como conversar com um npc numa determinada hora do dia, o que pode ser mais demorado do que julgam. Situações como esta ocorrem com frequência e tornam a progressão um pouco mais demorada. Muitos diálogos são demasiado longos e compridos, produzindo um efeito de vagarosa passagem do tempo. Isto conjugado com a realização de objectivos a determinada hora do dia, esperando que o tempo passe, pode revelar-se um pouco exasperante.

A academia é grande e organizada por múltiplos aposentos e pisos, mas nem sempre é fácil apurar o exacto ponto onde nos encontramos. Só depois de pausarmos a acção é que ficamos com uma ideia, através de um mapa, do ponto onde nos situamos, o que numa fase inicial, enquanto ainda nos encontramos a memorizar todo o espaço, pode causar equívocos e deambulações desnecessárias.

Passando à acção, justamente através desse portal, cabe ao jogador definir a líder das três bruxas e quais os feitiços a usar. A margem de escolha é grande e abrange diversos poderes, alguns profundamente devastadores e indicados somente para combates árduos em segmentos mais problemáticos. De resto, a acção desenvolve-se de acordo com o tradicional jogo de acção em perspectiva 2D (as personagens e cenários estão modelados em três dimensões). São muitas as coordenadas do típico "beat' em up", com botões para ataques corporais directos (forte e fraco) e técnica salto.

A diversidade de personagens tem vantagens: mais feitiços e diferentes conjugações de poderes.

Os segmentos são muito lineares, mas vale a pena explorar todas as áreas, especialmente as zonas secretas, à procura de tesouros e poções mágicas. Os confrontos com os "bosses" concentram as estratégias e reclamam um bom sistema de defesa e contra-ataque. São normalmente criaturas gigantescas, quase divinais mas um tanto dotadas de traços peculiares e algo cómicas. Enquanto atacam com uma das personagens as restantes são controladas pelo computador, reagindo em consonância. Alguns efeitos dos feitiços são devastadores, produzindo caos e bons efeitos visuais que revelam uma óptima arte, que passa ainda pelos menus e quadros de opções.

Desde o primeiro dia de publicação no território europeu que se encontra disponível um "patch" que introduz dois modos multiplayer. O primeiro é uma espécie de modo horda no qual três jogadores unem forças para combater níveis sucessivos numa mesma "dungeon". A segunda opção permite a constituição de duas equipas formadas por três elementos, em imediata oposição até ser proclamado um vencedor, depois de atingidas certas condições.

Comparado com outros "beat'em ups", Chamber of Time não é tão coeso na soma das suas componentes nem chega a exceder-se nalguma das suas estruturas. No entanto, até para quem não conhece o anime, é uma proposta bastante aceitável e divertida desde que possam conviver com as suas limitações. Não oferece a narrativa de um Persona 5, nem o design de um Guardian Heroes e de alguns jogos arcade da época, mas consegue, apesar dos condicionamentos, destacar-se pela capacidade de nos mover pela curiosidade e desfecho em torno daquelas aspirantes a bruxas. É um jogo que nos dá uma boa dose de comédia, nos embrulha em situações insólitas - cómicas - promovendo encontros interessantes. A Bandai Namco sabe que não é com Chamber of Time que mostra o seu melhor cartão de visita, mas ainda bem que jogos como este são apoiados e chegam ao mercado. Haverá quem encontre neste jogo alguns méritos, podendo passar um bom bocado, o que não é nada mau.

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Vítor Alexandre

Redator

Adepto de automóveis é assim por direito o nosso piloto de serviço. Mas o Vítor é outro que não falha um bom old school e é adepto ferrenho das novas produções criativas. Para além de que é corredor de Maratona. Mas não esquece os pastéis de Fão.

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