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Lego Worlds - Análise

Até onde a vista alcança.

Um interessante editor de níveis que depressa pode causar cansaço e sensação de repetição, embora seja o jogo Lego com maior criatividade.

Foi em 2005 que a britânica Traveller's Tales (TT) produziu o primeiro videojogo com base na franquia Lego, então sob a distribuição da LucasArts. O jogo saiu para várias plataformas e tornou-se numa adaptação bem sucedida, levando a editora a lançar mais alguns títulos, pegando noutras sagas cinematográficas, como Indiana Jones. Foi um começo auspicioso deste estúdio britânico dentro desta colaboração, e uma conjugação que entre o cinema e os videojogos depressa se tornou exemplar. A adaptação por vezes livre e humorística de situações conhecidas dos filmes tornaram-se numa marca, ao mesmo tempo que a simplicidade nas mecânicas e uma jogabilidade descomprometida embora desafiante representaram princípios norteadores.

Desde 2011 que a TT colabora com a Warner Bros, lançando pelo menos um jogo novo todos os anos. Depois de uma ligação muito forte aos filmes e adaptações cinematográficas eis chegado aquele momento pelo qual muitos fãs ansiavam; a possibilidade de experimentar um jogo Lego no qual o objectivo é construir de forma desmesurada e livre, sem grandes constrangimentos. Esta é seguramente a maior derivação dos jogos lego desde há mais de dez anos, mas vai ao encontro daquilo que é a base das peças, a construção ao nosso critério.

Os Legos fazem parte das minhas memórias de tenra idade e com aquelas mágicas peças de plástico gastei eternidades a construir coisas para lá das instruções e dos desenhos nas capas. Era o que me dava mais gozo, imaginar algo e poder concretizar, mesmo quando o resultado se tornava divergente e um tanto afastado. Mas com algum engenho e peças certas não era muito difícil representarmos qualquer ideia que tivéssemos em mente. Lego Worlds é quase como uma infinita caixa de peças que temos à disposição, o típico "sandbox".

Podem voar em aviões e helicópteros mas a satisfação de viajar num dragão está garantida.

Até poderia ser considerado como uma grande evolução no género não tivesse saído já Minecraft, um dos jogos que consolidaram os mundos abertos, criados até ao infinito. É certo que na franquia Lego esta é a primeira grande jornada em mundo aberto, mas nesta altura não oferece grandes conceitos novos que não tenham já sido revisitados e percorridos. No entender da editora, o momento actual permitiu congregar tecnologia com produção, a oportunidade perfeita para lançar um jogo nestes moldes. Mas teria sido mais interessante ter recebido uma produção destas há uns anos atrás, quando o acesso aos mundos grandes ainda era fresco.

À semelhança dos jogos Lego baseados em licenças cinematográficas, também em Lego Worlds a simplicidade é dominante. Isso é interessante para quem queira uma experiência acessível para os mais pequenos. Por exemplo, o editor da nossa personagem (um astronauta que se despenha num mundo e se vê forçado a reparar a nave para se lançar no universo) é reduzido e em breves segundos temos uma personagem genérica, do tipo masculino ou feminino, criada ao nosso gosto.

Assim que chegamos ao primeiro planeta, o objectivo é imediatamente definido: encontrar barras de ouro. Estas são raras e estão distribuídas por imensos cenários que teremos de percorrer, cumprindo uma série de missões. Estas envolvem uma série de operações com base em aparelhos que servem diferentes finalidades de construção, entre as quais está o aparelho algo semelhante ao equipamento dos caça-fantasmas, que basicamente faz um scan a um objecto que é depois utilizado na construção de uma réplica. A partir daqui podemos executar uma grande variedade de tarefas, pois os mundos não só são diferentes como à medida que ganhamos mais habilidades e sistemas de interacção mais missões nos são solicitadas. Cumpridas essas missões não só ganhamos mais peças como acumulamos as tão procuradas barras de ouro.

Os sistemas de criação são simples e fáceis de utilizar.

Mas enquanto que os primeiros mundos se mostram algo básicos e simples, depressa passamos para territórios e cenários algo mais complexos, com outras temáticas associadas. É grande o número de territórios, até porque as suas dimensões são variáveis, pelo que terão muito que explorar e viajar. Além disso, a produtora recorreu à tecnologia "procedural" o que significa que encontram sempre algo diferente. Apesar de muitas áreas estarem inicialmente bloqueadas e impedirem a vossa nave de aterrar noutros mundos, só quando possuírem um certo número de barras douradas é que poderão viajar até mais longe.

É interessante o processo de interacção. Podemos não só criar construções e mexer com as bases, "escavando", mas também nos é dada a possibilidade de transformar uma área, criar coisas gigantescas, casas, edifícios de alguma complexidade arquitectónica e assim dar cumprimento às solicitações dos npc's. O acesso às ferramentas é imediato e prático, embora o mesmo não suceda inteiramente no que diz respeito ao manuseamento. Detecta-se algum "lag" por vezes, até no caso da selecção de opções parece existir um certo arrastamento, que depois se reflecte na utilização desses sistemas de criação. Uma vez que muitos deles dependem da pontaria que fazemos sobre os objectos, a precisão nem sempre é a melhor, o que por vezes gera dificuldades quando queremos tocar em objectos específicos.

A gestão da perspectiva na terceira pessoa, em conjugação com o manuseamento dos sistemas requer alguma prática ao longo das primeiras horas de jogo. Depois, é só deixar a imaginação ditar as construções. A interacção é muito simples, sem grandes "tutoriais" e com uma prática imediata, que é a opção ideal para um jogo desta dimensão. Como dissemos, é interessante descobrir as possibilidades de exploração e o proveito que podemos retirar daqueles mundos.

Existem tesouros para descobrir no fundo do oceano.

Mas também oferece um ponto contrastante, é que a amplitude do que nos é dado a criar torna-se tão grande que nos sentimos como um superdotado, aplicando a mesma fórmula uma e mais outra vez, mudando apenas o que podemos fazer com as coisas e incrementar o número de peças à disposição. A vertente criativa paira constantemente, mas tal é a abertura de opções que o desafio como que se desequilibra. Na melhor das hipóteses podemos ir ao detalhe, aos pormenores e à dedicação suprema, ao ponto de criarmos cidades e coisas ao mais ínfimo detalhe. Mas isso também depende da paciência e entrega de cada um. Poderão gastar horas a construir uma cidade e arrasá-la num acto divertido apenas em breves segundos.

A sensação que deixa é de um grande editor, que nos deixa fazer literalmente o que nos der na real gana. Podemos simplesmente parar de avançar entre mundos e assentar arraiais num deles, criando algo majestoso ou futurista. A máquina de ferramentas é suficientemente aberta quando acedemos à sua dimensão completa, o que requer ainda muitas horas de jogo. Podem partilhar esta aventura em ecrã dividido ou com outro jogador por via online.

No que respeita ao plano técnico, a execução está longe de ser perfeita, persistindo algumas dificuldades, para lá das elencadas em torno da câmara e do manuseamento dos sistemas de criação, algumas quebras de rácio de fotogramas e tempos de carregamento um pouco demorados. A recente actualização não melhorou muito a performance do jogo, o que deixa no ar a possibilidade de nova correcção.

Lego Worlds é uma expansão da franquia Lego previsível e aceitável. Depois de anos a fio ligada a filmes e licenças cinematográficas, eis finalmente um editor de mundos lego. Não é o mais completo programa de criação, nem a sua execução é exemplar face a outras produções algo próximas, mas sempre contempla uma solução interessante se estão interessados em libertar a vossa veia criativa, mais do que percorrer um trajecto como sucede nos jogos baseados nos filmes. Se é desse modo que preferem desfrutar da franquia Lego nos videojogos, talvez Lego Worlds seja um título que podem prescindir enquanto aguardam pela próxima adaptação.

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Lego Worlds

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Vítor Alexandre

Redator

Adepto de automóveis é assim por direito o nosso piloto de serviço. Mas o Vítor é outro que não falha um bom old school e é adepto ferrenho das novas produções criativas. Para além de que é corredor de Maratona. Mas não esquece os pastéis de Fão.

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