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GTA V: Precisamos de mais versões?

Controvérsia ou hipocrisia?

Depois de na anterior geração termos conhecido diversas modas e tendências que por muita controvérsia que tenham gerado, acabaram por ficar e até vingar, podemos já ter a primeira para esta mais recente geração. Depois dos conteúdos adicionais, depois dos conteúdos episódicos, depois das micro-transações, e depois dos jogos digitais, temos aquela que provavelmente será a primeira moda para a PlayStation 4 e Xbox One: as remasterizações de produtos da anterior geração. Versões atualizadas de jogos que podem até ter menos de um ano e que depois de consagradas tentam agora ganhar mais dinheiro e até público com um facelift.

Depois de uma escassez de títulos e até de qualidade (a PlayStation 4 e a Xbox One têm recebido em grande parte jogos cross-gen e muitos deles com qualidade abaixo do esperado), depois de Tomb Raider: Definitive Edition ter conquistado mais atenção do que se poderia prever ao iniciar a controvérsia, o caminho poderá estar traçado para esta indústria que já cedo começa a receber versões melhoradas de "clássicos" da anterior geração. O caso de Grand Theft Auto V nasceu de uma maneira bem curiosa, nasceu quando lojas Portuguesas divulgaram ao mundo que poderiam receber pré-reservas pois iriam vender o jogo para plataformas ainda não confirmadas oficialmente.

"Relativamente à questão que nos colocou, gostaríamos de lhe indicar que temos a informação que as lojas Worten irão comercializar o jogo em questão."

Bom Dia. Assim que o jogo for oficializado para a PS4 e assim que as condições comerciais sejam negociadas com os nossos fornecedores, a reserva irá ser colocada no nosso site. Para já, apenas podemos garantir, que se o jogo for lançado para a PS4, teremos a sua reserva."

Foi desta forma que duas lojas Portuguesas catapultaram para a ribalta mundial e se tornaram sensação ao anunciar o lançamento em Junho de 2014 das versões PlayStation 4, Xbox One e PC de Grand Theft Auto V, considerado por muitos como um dos melhores jogos da anterior geração de consolas. A criação da Rockstar Games foi louvada pela crítica e pela comunidade de jogadores mas agora, após todo esse invejável sucesso, chega a possibilidade de o jogo ganhar novas versões com melhorias e atualizações, algo que não é inédito na série.

A grande questão aqui é tentar compreender porque é que gera tanta controvérsia esta ideia de GTA V chegar às novas consolas com melhorias pois não é nada inédito na própria Rockstar (GTA III chegou seis meses depois à Xbox e PC, GTA IV chegou oito meses depois ao PC). O problema poderá estar quando pensamos que esta nova geração já está a ganhar uma moda. Quando a Nintendo Wii U recebeu versões adaptadas e atualizadas de jogos que fizeram sucesso em outras plataformas, muitos dos jogadores provavelmente nem acreditariam que tal se iria tornar em prática mais comum, que os apelos por jogos inéditos e as críticas à reutilização de jogos já existentes para preencher o catálogo seria algo mais abrangente e não um comportamento específico à plataforma.

Se Tomb Raider for exemplo e se o motor RAGE conseguir surpreender mais uma vez, imaginem como ficará Lost Santos com qualidade técnica superior.

Cover image for YouTube videoGrand Theft Auto 5 Time-Lapse: World in Motion

Tomb Raider: Definitive Edition aproveitou a escassez de novidades em termos de jogos no período pós-lançamento para a Xbox One e PlayStation 4, oferecendo uma versão com melhorias visuais e ajustes menos de um ano depois do lançamento do original. Agora, ouvimos falar em tratamentos similares para jogos como The Last of Us e Metro mas é o caso específico de Grand Theft Auto V que suscita mais interesse. Será que a Rockstar já estava a planear estas novas versões? Será que o jogo ficou aquém do que poderia devido às limitações das consolas que o receberam? Será que a enorme quantidade de jogadores que já o jogaram estarão dispostos a pagar novamente para o voltar a jogar?

A mais recente edição de Tomb Raider faz-nos perceber que os "tempos mortos" nesta mais recente geração podem ser colmatados não apenas por indies mas também por remasterizações/atualizações de jogos da anterior geração de consolas. A relação preço vs. qualidade será mais do que nunca tida em conta mas o tempo entre lançamentos será outro ponto de destaque, um ponto que os relações públicas terão que ajudar a gerir. inFamous: Second Son mostra bem as potencialidades visuais que os jogos em mundo aberto podem ter quando feitos de raiz para uma consola de nova geração e será que GTAV em versão melhorada é a melhor forma de colmatar o tempo até chegar GTA6 ou quem sabe Red Dead Redemption 2?

Se pensarmos que em termos de lançamentos sonantes, aqueles jogos AAA feitos para as massas, teremos um ritmo altamente lento após o lançamento de Watch Dogs em Maio, não será justo dar tempo ao tempo para a qualidade chegar? De 27 de Maio a 9 de Setembro teremos quase quatro meses com apenas dois lançamentos de alto perfil (The Evil Within e Murdered: Suspect Soul) nestes sistemas portanto será que o mercado não está ali tão inocente e despercebido mesmo à espera de ser aliciado com experiências já comprovadas com o bónus de melhorias?

Segundo informações oficiais, foram enviadas para as lojas mais de 30 milhões de unidades de Grand Theft Auto V em 2013, em três dias o jogo gerou receitas de mil milhões de dólares, portanto a Take-Two fica perante uma questão: como aguentar este momento, este ímpeto, e conseguir bons resultados para o próximo ano fiscal, que começa em Maio? Enquanto outras companhias como a EA ou a Activision vão desfrutar de um ano repleto de sequelas ou até novas propriedades intelectuais, a Take-Two arrisca-se a ficar a ver a caravana passar em 2014, sem beneficiar de lançamentos anuais.

Enquanto companhias como a Ubisoft dão o rótulo de loucura à ideia de deixar Assassin's Creed de lado nem que seja por um ano, a Take-Two não tem esse hábito e dificilmente lançaria GTA6 em 2014, então qual o caminho a seguir? Enquanto jogos como The Last of Us ou Tomb Raider muito provavelmente terão sequelas nestas duas novas consolas, temos aqui o transportar das séries de forma a estabelecer a mesma nas plataformas (eliminando aquela estranha sensação de começar uma série a meio), o que significará esta nova versão para a Rockstar acima do amealhar de mais dinheiro? Será a possibilidade de estabelecer um teste ao motor RAGE em novas plataformas? Testar novas técnicas de renderização ou até estruturas para serviços de rede? No caso de Tomb Raider a Crystal Dynamics diz ter sido decisão do estúdio e não da Square Enix, será que a Rockstar pode dizer o mesmo?

Evolve é o grande destaque da Take-Two para a recta final de 2014 mas até lá precisará de companhia para tentar aumentar as probabilidades e nada melhor que uma nova versão para GTA5, quer nas atuais consolas em que marcou presença como em novas plataformas. Se pensarmos no sucesso que GTA Online está a ter entre os fãs e em como tal se poderia expandir à PlayStation 4 e à Xbox One, sem mencionar o PC com os seus mods, estamos perante uma proposta mais do que aliciante. Especialmente para a Sony vender mais subscrições PlayStation Plus.

Arkham Knight é, nos dias de hoje, um claro contraste com o padrão, uma arrojada excepção à regra.

Em ultima instância, penso que é hora de nem sequer tentar a hipocrisia e aceitarmos as coisas como elas se tornaram. Não mais somos voz de protesto mas sim vítimas de nós próprios. A sensação atual é clara, acredito que a grande maioria dos Japoneses não quer versões remasterizadas de jogos recentes apenas pelo upgrade visual se isso não acarretar consigo fundamentais melhorias nas mecânicas de jogo. Jogar o mesmo produto sem oferecer uma sensação diferente na forma de jogar é algo que não têm por hábito apadrinhar. Yakuza: Restoration foi lançado como um produto cross-gen é certo para evitar falhar todo o público alvo na PS3 mas apadrinhando desde logo uma nova consola com o importante estatuto de lançamento, o cimentar das fundações futuras.

Ja no ocidente, podemos na perfeição enquadrar com o público a noção de jogar o mesmo exacto produto uma segunda vez somente pelo reforço tecnológico nos visuais. Daí se ouvir com tanta insistência falar em Crysis Trilogy, Mass Effect Trilogy, Tomb Raider: Definitive Editon e outros mais como Metro. Se formos justos, isto nada mais é do que um seguimento do pensamento, da filosofia desta anterior geração que os consumidores patrocinaram como o seu poder de compra.

Sejamos honestos, esta anterior geração de consolas foi feita com base na apreciação visual sobre a experiência de jogo, sobre a sua essência, a diversão estava nos gráficos, a imersão era medida consoante o poderio que os visuais ostentavam. Assim sendo, assim que as editoras incutiram essa filosofia nas massas, estas passaram a medir os seus jogos pelos visuais, daí o fenómeno tão recente dos jogadores do Youtube, digo eu. É preciso ver para qualificar é o lema atual e não mais o é preciso jogar para sentir.

Logo, se esta anterior geração viveu às custas dos endeusamentos gráficos e quando se tornou tão habitual falar em anti-aliasing e self-shadowing, não será agora inevitável que tentem espremer mais dinheiro ao oferecer essa capacidade gráfica anteriormente impossível em equipamento com mais de 7 anos?

À excepção dos exclusivos de cada consola, foi prometido aos jogadores que nas suas consolas iriam ter a experiência suprema, varrendo para debaixo do tapete a noção que no PC era possível ter essa verdadeira experiência gráfica superior acompanhada de performance à altura. E se agora for possível trazer para as consolas essas superiores versões PC e tirar mais dinheiro a quem estiver disposto a dar? Afinal de contas, os gráficos, que são o ponto alto, estão melhores e a performance excede os níveis anteriores.

É dos poucos que merece ser lançado novamente com todas as melhorias possíveis.

Quando pensamos que GTAV custou perto de €200 milhões para ser desenvolvido ao longo de cinco anos e que a Take-Two conseguiu gerar receitas na ordem de mil milhões de euros no lançamento, poderá tornar-se compreensível o porquê de existirem mais três versões do jogo. Sabemos que existe uma infinidade de PCs espalhados pelo mundo, mais de 6 milhões de consolas PlayStation 4 já nas mãos de jogadores em todo o mundo, e perto de 4 milhões de consolas Xbox One já despachadas das lojas. São muitos potenciais jogadores que podem ou não ter já Grand Theft Auto V. Se pensarmos que a grande maioria dos AAA do final de 2013 foram os AAA da PS4 e XO nos seus lançamentos, temos desde logo implícito um comportamento que deixa aberta e torna válida a chegada de mais jogos recentes a estas máquinas. Aliás, se recuarmos às anteriores gerações de consolas, esta foi a única com tão forte presença de jogos cross-gen.

A resposta final estará nas mãos dos jogadores, que vão votar com a sua compra. Se as versões PlayStation 4, Xbox One e PC se fizerem acompanhar de conteúdos extra para a história, de um reforçado modo online que já faz a delícia de milhões de fãs e se tiver as devidas melhorias na performance visual e técnica, então não existe concorrente mais válido que GTA5 para receber uma Complete/Definitive Edition. Se ao longo destes cerca de 5 meses de atual geração já vimos que são os jogos da anterior que colmatam as debilidades nos seus catálogos (a PlayStation 4 foi lançada na Europa com apenas 3 exclusivos da própria Sony) então porque é que não continuamos a tendência?

A criticar o "erro" tal deveria ter sido feito no lançamento quando tivemos pouca quantidade e de qualidade discutível. Esta geração começou com a anterior a levá-la ao colo portanto será justo que por enquanto tal continue. Para matar os meses vazios, os perto de quatro meses de Verão sem sequelas sonantes ou AAAs para as massas, serão os jogos que já venderam milhões que tentarão aliciar novamente os mesmos milhões e outros mais se possível. Adicionalmente se pensarmos que um lançamento de tão alto perfil quanto foi Tomb Raider não se tornou rentável com vendas de 3.4 milhões de unidades e que precisaria de vendas na ordem das 5-6 milhões de unidades para se tornar rentável, algo que conseguiu no final de 2013, percebemos que a relação entre despesas de desenvolvimento e popularidade nem sempre é o que as editoras desejam e o público compreende. A versão Definitive certamente ajudou a aumentar as receitas de forma relativamente fácil e meros dois meses depois do lançamento, o jogo já foi alvo de uma promoção de dois dias no qual custou o equivalente a €21 na PlayStation Store EUA, Xbox Live e PC.

Para quem são os jogos? Essa é uma resposta que cada um terá que dizer. Temos a indicação que Grand Theft Auto V será vendido nas novas consolas, que se juntam ao tradicional lançamento tardio no PC habitual na série, portanto estamos novamente perante um dilema na indústria. Tal como há sete anos atrás com a compra de mapas adicionais ou a espera por atualizações para corrigir gravosos erros nas versões de lançamento, estamos perante um momento que irá decidir o futuro da indústria e está na hora de separar os merecedores dos oportunistas.

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Bruno Galvão

Redator

O Bruno tem um gosto requintado. Para ele os videojogos são mais que um entretenimento e gosta de discutir sobre formas e arte. Para além disso consome tudo que seja Japonês, principalmente JRPG. Nós só agradecemos.

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