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God of War Collection - Análise

Kratos no autocarro. Mas a que preço?

The God of War Collection para a PlayStation Vita reúne num só pacote dois dos melhores jogos que a geração 128-bits nos deu. Originalmente lançados em 2005 e 2007, God of War e God of War II foram dois momentos épicos e fascinantes que nos mostraram como os videojogos podiam ser singulares e deslumbrantes. Em 2009, tivemos a God of War Collection que juntava num só Blu-ray os dois jogos com um esforço de remasterização do Bluepoint Games no qual podíamos contar com visuais melhorados para alta definição, 720p, e gameplay refinada para 60fps constantes e firmes. Isto elevou o trabalho do Sony Santa Monica a um patamar que jamais havia conseguido alcançar, mesmo contando com todo o poderio que demonstrou nos lançamentos originais, pois permitia que Kratos brilhasse num tom espectacular.

Agora, em Maio de 2014, a PlayStation Vita recebe finalmente esta coleção e Kratos volta a uma portátil. Para uma consola lançada em 2012 na Europa e frequentemente contestada como uma plataforma sem grandes títulos apelativos, é estranho que somente agora God of War seja chamado para dar força à Vita, especialmente tratando-se de uma das séries de maior carisma da SCE mas mais vale tarde do que nunca. No entanto, a questão aqui é a que custo isto é feito, com que validade e qualidade o produto é apresentado? É certo que a PSP foi lançada em 2005 e somente em 2008 teve o seu primeiro God of War mas pelo menos teve uma aventura original. Será que passados quase 10 anos do lançamento do original e 5 anos da remasterização para a PS3, God of War Collection ainda tem apelo?

Confesso que sim, existe um certo apelo em jogar as aventuras de Kratos fora de casa mas ainda assim ficam algumas espinhas a arranhar a garganta. Coisa que desejaria a todo o custo que não fosse verdade. Por todas as suas falhas, muitas delas inerentes à plataforma que os receberam, os jogos God of War na PSP mostravam um portento tradicional na série mas adaptado de uma forma compreensível e justificável ao equipamento menos poderoso mas eram originais e envolventes. Ao passar ao lado de uma aventura original e ao focar-se numa coleção, a SCE arrisca perder metade do seu poder de apelo.

Já todos sabemos que as jornadas de Kratos são do mais espectacular e cinematográfico que existe no mundo dos videojogos, especialmente no campo dos jogos de ação na terceira pessoa. Cheias de traição e drama, violência e fúria, estas duas aventuras pelo mundo dos homens e dos deuses fascinam qualquer um mas agora em 2014, o apelo visual já não é mais o mesmo e será que o trabalho de conversão foi bem executado? Será que a Vita é uma boa casa para God of War? Será que existe trabalho de adaptação e esforço para que o produto encaixe ou temos uma mera conversão direta?

Kratos regressa às tuas mãos.

Não estou aqui para julgar a qualidade dos produtos em si, o trabalho do Sony Santa Monica é irrepreensível e só mesmo os mais devotos piquinhas poderiam encontrar defeitos entre todo um gigantesco mar de virtudes. O que aqui se pretende é descobrir como foi executada esta conversão e como se porta o produto numa nova plataforma. Especialmente quando tentamos esconder o sabor amargo de ainda não termos uma aventura God of War original feita de propósito para a PlayStation Vita. Afinal de contas para que queremos dois analógicos, ecrã tátil, painel traseiro tátil e ecrã OLED se não temos jogos feitos de raiz para a plataforma que a aproveitem ao máximo?

Primeiro vamos por partes. Assim que entram em contacto com a God of War Collection em formato portátil a sensação que ficam é que, e olhando para a versão caseira com cinco anos, foram feitas brutais contra-partidas e ajustes para garantir que a experiência funcionasse. Alguns elementos são destacados e realçados enquanto outros denegridos de forma a que tudo funcione para lembrar minimamente os produtos caseiros e para que a essência da série não se perca. Quer isto dizer que rapidamente percebemos que o foco foi colocado no gameplay e na resposta rápida dos comandos enquanto a fidelidade visual foi pelo cano abaixo.

Olhando para God of War custa a acreditar que estamos perante qualquer esforço mínimo que seja de remasterização, a sensação é que temos mesmo o produto original a correr num emulador qualquer sem melhorias. Uma conversão direta do original PlayStation 2 e não um esforço para adaptar o jogo para a alta definição. Claro que está milhas acima do que a PlayStation 2 conseguiu oferecer mas não temos o impacto desejado. Frequentemente os modelos dos personagens até se tornam insuportáveis e os cenários não ostentam o brilho merecido.

O mesmo se pode dizer de God of War 2 que por toda a sua imponência fica um pouco mais fraco por causa da qualidade visual que teima em ser altamente inconsistente. A constante troca de níveis de qualidade nos modelos dos personagens e cenários, a constante presença de cutscenes com excessiva compressão e os óbvios ajustes para a resolução da Vita não permitem que os jogos ofereçam consistência visual. Isto é a minha maior pena pois quando funcionam como devem ser, acontece em vários momentos, os jogos surpreendem a nível visual e existe aquela necessidade de relembrar que estamos numa portátil a correr jogos que não foram feitos a pensar nela.

Quando a qualidade visual é menor sentimos mesmo o seu peso mas quando esta se aguenta ficamos impressionados e agradados, pena ser num ritmo tão inconsistente. Isto é um claro contraste com toda a experiência de jogo que foi o principal alvo na adaptação para a portátil. O importante compromisso em manter uma excelente relação entre jogador e jogo, conseguida através de controlos eficazes e precisos é alcançada de bela forma.

Os gráficos podem tremer mas o gameplay não.

Ambos os jogos refletem atempadamente e de forma precisa os controlos que o jogador ordena e é especialmente satisfatório verificar que o jogo corre como deveria. Aqui temos um produto igual ao da PS3 e uma lembrança de tudo o que os consagrou na altura dos seus lançamentos originais. A forma como Kratos se move, a forma como o gameplay conquista profundidade e categoria são enaltecidos nos dois jogos para a Vita. Controlar Kratos na Vita é tão bom quanto se dizer que se sente em casa e sem falhas. É mesmo assim tão bom.

Claro que não deixa de ser espantoso o quão bem os jogos encaixam na Vita em termos da forma como os controlamos. Encaixam na perfeição na portátil da Sony e até foram feitas tentativas de implementar os controlos táteis na experiência. Quase meros adereços decorativos é certo mas ainda assim sentimos ser oportuno termos que tocar no painel traseiro para abrir arcas ou portas e é notório que os controlos táteis foram pensados para introdução não intrusiva, existem onde fazem sentido sem interferirem com a experiência base do jogo. Não interferem com o ritmo pujante.

Alternar entre ataques, desviar de golpes dos adversários no momento certo ou proteger das investidas mais ferozes, a Vita permite que God of War brilhe com toda a justiça que merece. Controlamos o jogo tal como no DualShock 3 e a ausência de dois botões laterais é compensada de forma que não compromete. Mesmo na hora dos famosos QTEs a plataforma não falha e permite que exista uma boa relação entre controlos e jogador para que este não sinta quaisquer atrasos nos mesmos e saia satisfeito da experiência.

É aconselhado o uso de headphones durante as sessões de jogo pois todos sabemos o quão importante é a componente sonora para os dois jogos. Tão poderosa e competente quanto os restantes elementos, a banda sonora e os diálogos dos jogos são responsáveis por alguns dos momentos mais memoráveis que iremos encontrar, ou revisitar, aqui. Memorável é, infelizmente, palavra que já não se pode atribuir a esta Collection pois consegue agradar mas de forma alguma é obrigatória.

Outrora, a God of War Collection foi um produto fascinante e obrigatório para todos os que compraram uma PlayStation 3. Foi momento para revisitar dois estrondosos clássicos que ofereciam do melhor que o seu género tinha a oferecer, mesmo já numa geração acima da sua. Por um preço aceitável, esta coleção na Vita consegue ser uma boa curiosidade mas pouco mais do que isso. Se Kratos vos fascina e não o querem largar nem fora de casa, se existe falta de escolha nos vossos gostos para a Vita talvez seja válida esta Collection mas de resto não a encarem como incontornável, antes como curiosa.

7 / 10

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