Ghostwire Tokyo mostra uma nova geração treinada pelo criador de Resident Evil
O legado de Mikami.
Numa altura em que a série Resident Evil voltou aos seus dias de graça e se comenta a possibilidade de chegar um Resident Evil 4 Remake, é impossível não pensar no nome de Shinji Mikami e no impacto que teve nesta indústria, especialmente para os que cresceram na década de 90. Mikami é o fundador do estúdio que está a trabalhar em Ghostwire Tokyo, a Tango Gameworks, e apesar de não estar entre os principais cargos do desenvolvimento, acompanha a equipa e está a formar o talento japonês que pegará na sua batuta e trabalhará para surpreender futuras gerações. É impossível não olhar para Ghostwire Tokyo e sentir que é na mesma um jogo Mikami, especialmente devido à sua excentricidade.
Shinji Mikami é especialmente conhecido por Resident Evil, série que estreou em 1996, seis anos após ter chegado à Capcom, mas está longe de ser representativa em pleno do seu espírito criativo sempre à procura de arriscar. Ao longo do seu percurso, Mikami jamais procurou fazer duas vezes o mesmo jogo e apostou sempre em algo diferente, não sendo comum assinar sequelas, apesar das séries que cria ganharem facilmente novos jogos. Basta um rápido olhar pelo trajeto de Mikami para perceber de imediato o seu impacto entre os que se apaixonaram pelas experiências excêntricas vindas do Japão.
Além do já referido Resident Evil, jogo que deu origem a um género e a uma série que ainda hoje desfruta de imensa popularidade, Mikami assinou jogos como Dino Crisis, PN 03, Vanquish e God Hand, sem esquecer o primeiro The Evil Within já no seu próprio estúdio. Pelo meio tem uma enorme quantidade de sucessos, incluindo Resident Evil 4, mas referi apenas as novas propriedades intelectuais que deu ao mundo e que mostram a diversidade de temáticas, géneros e estilos artísticos nos quais apostou. Mikami fala imensas línguas criativas e não apenas survival horror, como alguns podem pensar.
Isto traz-nos até Ghostwire Tokyo, que à semelhança de The Evil Within, trata-se de uma nova propriedade intelectual que procura ir além do que outros conseguiram ir, rompendo com moldes convencionais. No entanto, Ghostwire Tokyo ganha o contorno de um dos mais empolgantes jogos da carreira deste mestre japonês, uma vez que é um jogo no qual as suas ideias são misturadas com as do novo sangue que está a formar. É precisamente isso que o torna tal empolgante.
Neste jogo, que parece uma espécie de Doutor Estranho japonês, tens diversos dos condimentos típicos de Mikami, mas há aqui uma energia que certamente nasceu do novo talento que está a aprender com Mikami. Ghostwire Tokyo parece um jogo orientado para o futuro, sem se preocupar em homenagear clássicos, mas sim em nos trazer uma nova interpretação de elementos já vistos noutros jogos, mas envoltos em mecânicas próprias que pretendem injetar eletricidade no combate aos fantasmas. Durante a apresentação à porta fechada, apenas pensava que 'aqui está um jogo empolgante que estou ansioso para jogar e que parece fazer algo seu'.
A perspetiva na primeira pessoa é curiosamente algo que partilha com os recentes esforços da Capcom na série Resident Evil, algo que sugere um grande interesse dos japoneses por esta câmara como fonte de maior imersão no jogo. Neste caso da TangoGameworks também parece estar relacionado com a vontade de criar uma propriedade que já nasce com a capacidade de apelar a audiências mundiais. Uma cidade repleta de fantasmas, poderes místicos, espíritos bizarros que te atacam e constantes cenas de tensão até te poderiam direcionar para um survival horror, mas isso é apenas parte da génese de Ghostwire Tokyo, que se tornou em algo diferente, um jogo de ação e aventura com poderes místicos.
Estes poderes fazem mesmo a diferença e acredito que o seu uso e espetáculo visual são a principal justificação para a perspetiva na primeira pessoa. Um protagonista que procura pela sua irmã quando milhões desapareceram de Tóquio, a necessidade de permitir que um espírito poderoso entre no seu corpo para ganhar poderes e a cidade mergulhada num caos e mistério é uma premissa irresistível. A equipa parece ter-se focado bem no método Mikami, nada é o que parece, o vilão está envolto em mistério, movimentação entre locais para criar dinamismo na experiência e uma personagem para salvar como um dos principais incentivos.
Ghostwire Tokyo parece envergar tudo o que adoramos em Shinji Mikami, mas numa experiência que cheira a fresco. Quando vimos The Evil Within, ficamos com a clara sensação que Mikami parece pretender recuperar a glória para os jogos survival horror numa altura em que a série Resident Evil estava na amargura. Uma espécie de regresso às origens. Ghostwire Tokyo parece ser um olhar para o futuro, uma manifestação da sua mensagem para as futuras gerações na forma de um videojogo repleto de novas mecânicas e ideias. Será que este entusiasmo pré-lançamento será preenchido ao jogar o jogo? Teremos de esperar para ver, mas Ghostwire Tokyo já conseguiu o mérito de figurar como um dos mais interessantes jogos deste início de geração das novas consolas.