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Game of Thrones - Análise

Será que vale a pena visitar Westeros?

Hoje em dia quase toda gente conhecerá "Game of Thrones", a série televisiva inspirada em "A Song of Ice and Fire", a obra de fantasia escrita por George R. R. Martin que recentemente foi adaptada para televisão pela HBO. A série tornou-se um fenómeno de popularidade que invadiu o "mainstream", e claro, isto não poderia passar despercebido à ávida indústria dos videojogos, sempre pronta a seguir as tendências de consumo da televisão e principalmente do cinema.

A qualidade dos livros, e correspondentemente da série televisiva é fantástica, e retrata um mundo de fantasia riquíssimo, carregado de intrigas políticas, personagens imensamente complexas, magia, criaturas sobrenaturais, jogos de poder, enfim, é um dos melhores universos de fantasia que conheço, e nesse sentido, um videojogo desta franquia mereceria um interesse quase automático. O problema é que todos sabemos o que costuma acontecer quando um estúdio faz a adaptação de uma franquia conhecida para um videojogo.

Este título foca-se em duas zonas diferentes de Westeros, das quais os jogadores que conheçam a série terão já um background que lhes permitirá criar uma empatia quase imediata com as personagens. Esta é aliás, uma das vantagens de recriar um universo ou um cenário já familiar para os jogadores, é meio caminho andado para que percebamos as condições, para que nos importemos com o que se passa. Poupa imenso trabalho aos designers para desenvolverem empatia.

Tal como nos livros, a narrativa está dividida por capítulos, alternando entre duas personagens jogáveis, Mors e Alester. O jogo apresenta-se por Mors, um dedicado membro da Night's Watch e fiel protetor da muralha (wall) a norte do reino. A nossa fidelidade com os costumes e regras da Night's Watch é logo posta à prova ainda antes de o jogo nos permitir controlar a personagem, um bom sinal por ser um indício da liberdade moral que teremos nas nossas escolhas dali para a frente.

Forçado ao exílio por ter desobedecido a ordens superiores durante o conflito que culminou com a coroação de Robert Baratheon, Mors é agora surpreendido por uma carta escrita pela mão do rei (Hand of the King), a ordenar-lhe que proteja uma mulher nas terras a sul, e é aqui que começa a aventura para este velho e respeitado membro dos irmãos de preto.

Por sua vez, o segundo protagonista, Alester, apesar da uma vida complicada no exílio, é de origens nobres. Apresenta-se no momento que volta a casa (Riverspring), depois de 15 anos afastado. Sendo o filho mais velho, é o dono legítimo daquelas terras agora que o seu pai, o lorde local, falecera. No entanto, é o seu irmão bastardo Valaar quem reclama o poder para si e provoca um conflito interno carregado de intrigas e influências de fundo a que a série nos habituou.

O combate funciona de forma semelhante aos primeiros Knights of the Old Republic ou a Dragon Age: Origin's, mas é mais simplista e torna-se correspondentemente mais aborrecido. Não me interpretem mal, alguns segmentos do combate conseguem ser exigentes, bastante até. Mas o próprio sistema de progressão e a forma como o combate de desenrola, desde as habilidades até às animações, é robótico, entediante e com notória falta de profundidade.

Podemos por até três ações em "queue" (fila) e o herói executa-as sequencialmente, uma de cada vez. Eu até simpatizo com estes sistemas, mas apenas quando o combate é complexo o suficiente para justificar alguma estratégia para lá dos simples "stun - porrada - knockback - porrada no outro". Neste caso, julgo que um sistema livre funcionaria melhor. Até porque fiz de Mors um guerreiro sedento de sangue, que utiliza uma espada de duas mãos para cortar os inimigos aos pedaços.

A inteligência artificial dos inimigos é desconcertante, por vezes fazendo-me lembrar algumas cenas de ação típicas dos filmes, quando o herói se encontra cercado e os inimigos atacam estupidamente em sequência em vez de atacarem em conjunto. Ou um arqueiro que continua a armar o arco mesmo connosco a meio metro dele cravando-o de golpes com a espada.

"Uma história cheia de confrontos intrigantes que mostram que pelo menos a Cyanide conseguiu captar muito bem o tom do universo de Martin."

Mas felizmente Game of Thrones não vale pelo combate, o seu foco principal é mesmo a narrativa e a caracterização das personagens, que vamos moldando através das escolhas que temos nos diálogos. Vamos alternando entre Mors e Alester, numa história cheia de confrontos intrigantes que mostram que pelo menos a Cyanide conseguiu captar muito bem o tom do universo de Martin.

Um dos pontos positivos é o facto de os NPC's reagirem de forma diferente mediante a forma como os abordamos, mostrem-se agressivos por exemplo, e isso abrirá opções específicas para o resto das vezes que interagirem com determinada personagem, mostrem-se amáveis, e talvez ganhem o seu respeito.

Esteticamente Westeros está razoavelmente bem retratado, mas apesar dos ambientes aparentemente abertos, o jogo não promove a exploração. Isto é notório por não nos permitirem aventurar muito para lá do caminho determinado, mas principalmente pelo jogo não recompensar a curiosidade. Os espaços não precisam ser muito grande para que um jogo venda a ideia de exploração, tem sim, que nos recompensar por procurar cada canto do mapa.

O visual alterna entre algumas texturas interessantes e outras claramente datadas, chegando por vezes a parecer um jogo da geração anterior. As expressões faciais em particular por vezes caem (e de que maneira) no "Uncanny Valley", é verdade que é uma das coisas mais difíceis de animar, mas mereciam um maior cuidado, principalmente tendo em conta que o jogo retira frequentemente o controlo ao jogador para o desenvolvimento narrativo.

Game of Thrones falha em muitos dos campos fundamentais para um RPG, incluindo nos dois mais importantes na minha opinião, que são a gratificação e o sistema de progressão. Subir de nível é gratificante sim, mas o sistema de talentos é medíocre. E o equipamento nos vendedores é ridiculamente caro, obrigando a grind por dinheiro, para qual o jogo nem sequer tem estrutura.

O jogo consegue oferecer um conto bem construído de vingança e traição bem ao estilo da franquia, mas tecnicamente é pobre, com um sistema de combate que já teve os seus dias. É algo perturbador quando temos que fazer um esforço para continuar um jogo, vai contra o próprio propósito do jogo, sim Game of Thrones poderá agradar a alguns fãs mais apaixonados, eu gostei dele a espaços, mas analisando a experiência global, não é o meu estilo de RPG.

Creio sim, que uma licença com este peso, com todo este mundo de fantasia por trás, merecia mais. Os eventos são desligados da série que tem passado na televisão, e por isso qualquer jogador poderá desfrutar do jogo sem que este lhe estrague minimamente a história principal da série. Os fãs que gostam de consumir tudo que existe e um determinado produto pelo qual são entusiastas poderão encontrar aqui algo que eu, sinceramente, não vi.

5 / 10

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Game of Thrones

PS3, Xbox 360, PC

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Aníbal Gonçalves avatar

Aníbal Gonçalves

Redator

MMOs e RPG são com o Aníbal. Aliás existe um rumor na redação que a sua primeira casa é o World of Warcraft. Mas às vezes também o vemos a fazer uns exercícios. Não é mau de todo.

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