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Far Cry: New Dawn - Análise - De novo tem pouco

De volta a Hope County, num cenário diferente.

Mantém a fórmula da série num ambiente pós-apocalíptico, mas não consegue impressionar e injectar novidades suficientes.

Com o lançamento de Far Cry 5 no ano anterior, ninguém esperava que a série retornasse tão cedo, mas a Ubisoft sacou da cartola Far Cry: New Dawn que, por um lado pode ser tido em conta como um jogo novo, e por outro, é uma expansão do jogo que lhe antecedeu. Podemos dizer que é um novo jogo porque Far Cry: New Dawn é independente de Far Cry 5 e nem sequer precisas de ter o anterior para jogar. Além disso, New Dawn é uma continuação dos eventos de Far Cry 5, se bem que acontece muitos anos depois, num Hope County devastado e completamente reclamado pela mãe natureza.

Todavia, quando se fala num "novo jogo", é um fardo pesado e New Dawn não tem estofo para aguentar com ele. Existe evidentemente material reciclado do jogo anterior e, apesar da camada nova de pintura que o mundo levou para parecer novidade, existe um "loop" na forma como a exploração do mundo está construída que tornam New Dawn numa proposta menos apelativa do que inicialmente parecia. Claro que, se não jogaste Far Cry 5, não vais sentir tanto as reminiscências da mesma experiência, mas mesmo assim, New Dawn mostra que está na altura de rever a fórmula da série.

Um mundo pós-apocalíptico...

Sendo uma sequela de Far Cry 5, é impossível falar detalhadamente de New Dawn sem mencionar o final do jogo anterior. Se tens intenções de jogar Far Cry 5 e não queres que nenhuma surpresa seja estragada, aconselho-te a parar de ler aqui. O mundo de New Dawn é a resultante das bombas atómicas detonadas no final do jogo anterior. A maioria da humanidade morreu com a explosão e aqueles que sobreviveram tiveram que buscar refúgio no sub-solo, passando anos sem ver a luz do sol. Tudo parecia correr bem quando, anos depois, puderam finalmente sair do refúgio e passar a viver no solo, construindo uma pequena comunidade sustentável, mas depois apareceram as irmãs gémeas Mickey e Lou.

A série Far Cry sempre teve vilões visualmente marcantes e as gémeas não são excepção. Com elaboradas tranças pintadas de louro e sempre vestidas com roupa de motocross, as irmãs gémeas não mostram piedade perante ninguém, uma característica que lhes permite reinar no mundo sem regras de New Dawn. Operando como sangue-sugas, a dupla apodera-se da comunidade de sobreviventes de Hope County. A ti cabe-te o papel de proteger e nutrir este pequeno pedaço de céu, lutando para colocar um fim ao reinado de terror de Mickey e Lou.

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Neste mundo que salta à vista pelas cores berrantes, em particular o cor-de-rosa do logótipo de New Dawn, o teu principal inimigo é o grupo "Highway Men". Pensa neles como uma espécie de lunáticos como os de Mad Max: Fury Road, mas adaptados ao mundo de Far Cry. Estão sempre vestidos com roupas de motocross e os seus soldados de elite estão sempre com capacetes na cabeça, ou seja, vais precisar de lhes acertar várias vezes para remover o capacete para depois poderes finalizá-los com um tiro na cabeça.

... mas com uma fórmula repetitiva e datada

O principal problema de New Dawn é a apresentação do mundo e a sua construção. Há vários locais de interesse que vais descobrindo ao explorar o mapa, mas a maioria não tem nada de realmente interessante, funcionando meramente como um local para recolheres recursos para o crafting de armas, veículos e outros itens. Fora estes locais, tens os chamados Outposts, locais patrulhados pelos Highway men que tens de conquistar para receberes Ethanol, o equivalente a ouro neste novo mundo. O Ethanol serve sobretudo para evoluíres as várias divisões da tua comunidade como armas, veículos, enfermaria, expedições, cartografia e explosivos.

A economia de amealhar mais Ethanol para continuares a evoluir a tua comunidade e desbloqueares coisas melhores, como armas e veículos de Elite, é reciclar os Outposts. Isto implica conquistar um Outpost e depois abandoná-lo, permitindo que os inimigos o capturem outra vez. Podes repetir isto várias vezes até o Outpost ficar com três estrelas marcadas, o que significa que os inimigos que vais encontrar lá são os mais resistentes do jogo. Para progredires na história, vais ter que necessariamente evoluir as diferentes facetas da comunidade, o que implica andar a abandonar e a conquistar novamente Outposts que já conheces.

"Há vários locais de interesse que vais descobrindo ao explorar o mapa, mas a maioria não tem nada de realmente interessante, funcionando meramente como um local para recolheres recursos para o crafting"

Terminada a história, o Uplay indica que passei quase 11 horas a defender Hope County, mas sem o "grinding" obrigatório para progredires na história, a duração seria menor. O problema nem está tanto em prolongar artificialmente a história, mas antes na forma aborrecida e forçada que encontramos em New Dawn. Enquanto outros jogos em mundo aberto conseguem conjugar a história com a jogabilidade e os sistemas que compõe o jogo, Far Cry New Dawn faz isto de uma forma desajeitada. A primeira coisa que senti foi que o jogo era artificial, nunca me sentindo envolvido. Há algumas missões da história que oferecem alguma diversão, mas no geral, foi uma experiência desinteressante.

Modo cooperativo uma mais valia

Pelo menos, há que dar mérito à Ubisoft por tornar Far Cry New Dawn numa experiência cooperativa do princípio ao fim. Existem na actualidade muitos jogos com multijogador competitivo, mas experiências cooperativas não são assim tantas. O único senão é que apenas o host da sessão é que vai ter o seu progresso salvo. Se não fores o host, o teu progresso ficará exactamente como o deixaste da última vez. Se não vais jogar em cooperativo, podes sempre pedir a ajuda de um dos companheiros controlados pela inteligência artificial, mas devo avisar-te que pouco ajudam. A IA tem comportamentos erráticos e estúpidos e, neste caso, vale tanto para os nossos companheiros como para os adversários.

As actividades que compõe o mundo de Far Cry New Dawn, para além das missões da história e dos Outposts, são caças ao tesouro (que são pequenos quebra-cabeças), missões secundárias (que me pareceram as mais divertidas e diferentes das restantes) e as expedições, missões em que tens de invadir locais altamente patrulhados e fugir com mala antes que os inimigos te detectem. Seja como uma expansão standalone ou como um novo jogo, Far Cry New Dawn tem conteúdos numa quantidade significativa, no entanto, não afasta a sensação de que estás sempre a fazer o mesmo e que os conteúdos podiam ser melhores. Não consigo deixar de sentir que New Dawn é um produto feito apenas para aproveitar os recursos de Far Cry 5. Não é um jogo mau, mas os seus méritos são poucos.

É preciso um verdadeiro amanhecer para Far Cry

Apesar da Ubisoft até ter sido simpática e colocado um preço menor em Far Cry New Dawn, é um jogo em mundo aberto com praticamente nenhuma novidade. Já vimos tudo isto anteriormente na série Far Cry e nenhum dos conteúdos é particularmente excepcional. A história não é muito longa, não é criada empatia com nenhuma das personagens (e aproveito para sublinhar que expressões faciais não ajudam, parecem robôs) e ao fim de 11 horas não sentimos que extraímos grande diversão ou valor desta entrega da Ubisoft. Quando uma série dura há tanto tempo como Far Cry, inevitavelmente surge a necessidade de ser reinventada. Esse momento chegou.

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