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Earthbound Beginnings - Wii U Virtual Console - Análise

Gostaram de Earthbound e querem saber como tudo começou?

Eurogamer.pt - Recomendado crachá
Apesar do arcaico sistema de combate, ainda é um bom clássico, com uma narrativa muito válida, repleta de bom humor e passagens únicas.

Entre outras, foi uma boa surpresa quando no decurso do Nintendo World Championships, o evento que permitiu à Nintendo abrir as hostilidades nesta E3, assistimos à revelação da versão ocidental de Mother, um popular jprg nipónico, lançado para a Famicom a 27 de Julho de 1989. O jogo chega 26 anos depois à Virtual Console da Wii U, localizado para inglês, e algum tempo depois da versão europeia de Earthbound (Super Famicom 1994), a sequela, jogo que contou com a programação e envolvimento profundo de Satoru Iwata, nessa época um programador ao serviço da Nintendo, facto que ditou uma aproximação muito grande a Itoi.

Com Earthbound Beginnings completa-se um ciclo. Finalmente os europeus podem usufruir destes dois peculiares, nostálgicos e bem-amados títulos de role play, totalmente localizados para inglês e disponibilizados pela Nintendo. Shigesato Itoi está visivelmente mais satisfeito. Com Earthbound Beginnings mais fãs e seguidores do seu trabalho podem hoje conhecer melhor a sua obra e sobretudo as origens de uma série tão popular no Japão. A que se deve isso? Desde logo à estrutura narrativa. Enquanto que na década de noventa o grosso dos jogos de role play de cariz nipónico tocava temas como a fantasia, guerras entre reinos e inúmeras ligações à religião, Mother separava-se de quase tudo isso, orgulhava-se da diferença e tinha por base uma história actual, um cenário contemporâneo, com um toque de irreverência e humor que muito poucos jogos arriscavam à época. O guião é todo escrito por Itoi.

Cover image for YouTube videoNintendo eShop - Earthbound Beginnings: A Message from Mr. Itoi

Tudo começa em Earthbound Beginnings, com a aventura de um icónico miúdo chamado Ness, 12 anos e oriundo de uma vila americana chamada Podunk. Depois de uma série de acontecimentos dramáticos, envolvendo situações com décadas, raptos e alienígenas, o protagonista parte para um extenso périplo em solo americano, passando por diferentes cidades, visitando pelo caminho espaços como um cemitério, um zoo, entre muitos outros. A seu tempo terá ao seu lado mais camaradas que o auxiliam em combate contra rufias, sujeitos que fliparam, serpentes e centopeias, humanos zombificados, morcegos que se anulam, etc. O desfile de personagens e inimigos é avassalador.

A tradução para inglês está mais uma vez muito bem conseguida.

Como ponto de partida, esta primeira jornada revela bem como Itoi conseguiu materializar muitas das ideias que tinha para o jogo, tomando a narrativa como ponto de partida. O tema contemporâneo e a ligação às criaturas alienígenas, levaram-no a explorar com sucesso muitas ideias, emprestando um tom cómico a situações com que um jovem da década de noventa se acostumava a lidar. Passando pela música até ao detalhe pormenorizado das cidades e espaços, caixas de diálogos e até alguma paródia ao género role play, depressa o autor fez destes elementos a base do sucesso e um jogo com personalidade.

Não obstante o atraso na versão inglesa, ainda hoje é um jogo que se joga bem. Claro que a plateia não é a mesma do final da década de oitenta e nem todos estarão dispostos a trabalhar bem o d-pad por forma a posicionarem-se devidamente antes de activarem a opção conversa a partir de uma caixa de opções. A forma de Earthbound Beginnings tem muitos anos e é um ponto ultrapassado. Já o conteúdo, quando explorado é tão bom como dantes. Vale a pena por isso fazer um esforço de adaptação às mecânicas, caso os jrpg's dos anos noventa não sejam a vossa praia. Aquele sistema de controlo da personagem é algo pesado, como se estivessem a controlar um tanque, e o sistema de quadros de opções, ligado a uma certa rigidez em termos de aquisição de experiência e subida de nível, com combates aleatórios não facilitam. Mas há naquela perspectiva isométrica e naquele grafismo onde tudo parece essencial (reduzido a um mínimo) para transmitir uma série de mensagens e muita matéria que nos sintoniza e nos leva a perceber melhor os contornos daquele mistério, desde o primeiro instante.

Não sendo um jogo particularmente difícil, não deixa de exigir um esforço por parte do jogador em manter a sua personagem num nível elevado. Para isso, o combate é essencial e como estes decorrem de forma aleatória, sem que o jogador veja os inimigos e evite o contacto, invariavelmente não sobreviverá por muito tempo nem irá longe se optar por não combater. O sistema de ataques por turnos obedece a um processo rígido e um pouco demorado, com um quadro que nos dá informações sobre a evolução do combate. Numa altura em que o 2D era rudimentar e as animações quase inexistentes (especialmente num jogo 8 bit), é como se o combate fosse um relato por escrito.

Cover image for YouTube videoNintendo eShop - Earthbound Beginnings for the Wii U Virtual Console

A navegação é tudo menos linear, o que é um ponto positivo, sobretudo por quem deseje explorar o mundo de Earthbound e descobrir passagens secretas. Claro que existem objectivos a cumprir, embora a "quest" seja toda uma e dependente da realização do que é solicitado à personagem num dado momento. É útil o acesso ao mapa mundo, com as principais cidades assinaladas. No entanto, nem todas as localizações importantes estão apontadas, pelo que terão de ler bem todas as indicações e seguir as informações facultadas por outras personagens.

Seguramente menos arrebatador e incisivo que Earthbound (a capacidade superior da Super Nintendo permitiu à equipa de Itoi trabalhar mais aspectos do jogo e conferir um grafismo mais apelativo), ainda assim é um título de grande validade, talvez a proposta mais hardcore dos últimos anos e numa altura em que verão é sinonimo de algum tempo livre, encontram neste jogo uma aventura da velha guarda, bastante inusual, irreverente, cheia de bom humor e quadros visuais únicos. Sem este jogo não haveria Earthbound e a primeira obra é sempre a mais difícil. Apesar do atraso superior a 25 anos, ainda vem a tempo de ancorar junto dos fãs dos velhos jrpg's, com personagens como Ness e Lucas, que ainda hoje continuam como lutadores em Super Smash Bros.

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Vítor Alexandre

Redator

Adepto de automóveis é assim por direito o nosso piloto de serviço. Mas o Vítor é outro que não falha um bom old school e é adepto ferrenho das novas produções criativas. Para além de que é corredor de Maratona. Mas não esquece os pastéis de Fão.

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