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Daytona 3 Championship USA - o regresso do papa moedas

Time extension! E ainda revisitámos o racer #(4)1 da Sega.

Desde a cessação de produção da Dreamcast e do recente declínio da cena arcade em termos mundiais que a Sega nunca esteve tão distante dos seus tempos gloriosos. É verdade que o mercado dos videojogos mudou e enquanto que há anos os jogadores gastavam moedas em espaços repletos de cabines aos pontapés por entre baforadas de tabaco numa profusão de cores e sons quase psicadélicos (no Japão, durante longos anos as arcades estavam associadas a pessoas quase marginais), hoje jogam exclusivamente nos smartphones, em sistemas portáteis, no computador e diante de televisores. Nem todos mas hoje são muito menos os que se dirigem a espaços onde é possível jogar novidades arcade, porque também as há e por ano são lançadas algumas dezenas de máquinas. As arcades ainda não acabaram e embora seja mais difícil encontrar um sítio onde jogar, especialmente no nosso país, o brilho, a cor e o imediatismo dos jogos arcade ainda constituem uma premissa valorosa. Ciente disso e em não abdicar de uma vez por todas de um mercado do qual foi líder, parece que a Sega está disposta a mudar o rumo da sua presente situação, precisamente ao ressuscitar uma das suas mais importantes franquias de sempre.

Com o anúncio de Daytona 3 Championship USA no passado dia 1, a Sega mostrou aquilo por que muitos dos seus fãs anseiam há imenso tempo; a revitalização dos seus mais importantes jogos. A Sega ainda é um colosso, por muito grandes que tenham sido as perdas em "staff" e criatividade, e a liquidação das famosas divisões AM2, responsáveis por grandes sucessos arcade. Mas a Sega ainda detém imensas propriedades intelectuais que podem a todo o momento renascer e encontrar uma nova dignidade diante dos fãs, desejosos por verem uma das mais importantes e criativas editoras de volta. Daytona 3 parece pouco nesta eventual recuperação, embora sinalize um regresso há muito aguardado, podendo até tornar-se fundamental.

A Sega está entusiasmada com o regresso de Daytona.

Paulatinamente, ainda que através de anúncios pontuais, surgem sinais que nos deixam mais optimistas. Depois de lançar KOF XIV, a SNK já demonstrou interesse em proporcionar novos jogos de emblemáticas séries como Garou: Mark of the Wolves. Harada (criador de Tekken) mostra-se disponível em retomar Samurai Shodown, esteja a SNK para isso voltada, enquanto que a M2 vai lançar na PS4 (por enquanto apenas no Japão), em breve, a remasterização de um dos clássicos "shmups" das arcadas; Battle Garegga Rev. 2016. A isto acresce o lançamento da NES Mini (os japoneses "went bananas") e um batalhão de clássicos SNK na Store da PlayStation. Num tempo marcado por "blockbusters" e produções triple A, a possibilidade de ver renascidas séries e jogos dos anos noventa e da década passada, só pode deixar qualquer jogador na expectativa do que por aí virá. Por cá o efeito de Daytona 3 será escasso, mas o sucesso da arcada poderá levar a Sega a reequacionar a sua estratégia de desenvolvimento, tanto para o mercado arcade como para as consolas.

Daytona USA - o papa moedas

Juntamente com Ridge Racer, da Namco, Daytona USA é um dos primeiros jogos desenvolvidos em três dimensões com um nível de concretização sem paralelo. O jogo foi lançado em 1993 para a então famosa placa propriedade da Sega, a Sega Model 2. Trata-se de um circuito capaz de gerar efeitos tridimensionais e poligonais de grande alcance. Nas mãos do então famoso estúdio AM2, responsável por alguns dos melhores e mais brilhantes jogos arcade de sempre, foi como que o rastilho para o primeiro "racer" da Sega que deixou todos os jogos anteriores colados ao asfalto após o sinal de partida. Uma equipa de produtores experimentados liderou o projecto de desenvolvimento de Daytona USA, tendo como director um dos aprendizes do mestre Yu Suzuki: Toshihiro Nagoshi.

Depois de uma viagem aos Estados Unidos que permitiu ao jovem japonês observar algumas corridas do famoso desporto Nascar, era premente fazer um novo jogo de corridas, em circuito, com todo o drama e velocidade estonteante das provas. A Sega aprovou a ideia, e sob a supervisão de Suzuki, a equipa de Nagoshi rapidamente adquiriu a licença da famosa prova Daytona International Speedway e começou a fabricar uma experiência nos habituais moldes arcade, composta por 3 circuitos de dificuldade variável.

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Em 1992, a Sega tinha lançado Virtua Racing, uma produção de Yu Suzuki que se destacou pelos gráficos 3D, mas quando foi possível testemunhar pela primeira vez o grafismo de Daytona USA, não era mais possível estabelecer um paralelo. Daytona USA não é só brilhante em efeitos tridimensionais, mas também apresentou uma riqueza em detalhe e pormenores abundantes dentro e fora da pista, sem comparação com Virtua Racing. Das texturas, ao detalhe dos carros, era como se as corridas atingissem um novo nível no quadro do realismo. Tudo isto amparado por uma fluidez incrível, incapaz de descolar dos 60 fps. A placa Sega Model 2 estava a fazer danos em toda a concorrência dentro do sector arcade e nem um PC de ponta e muito menos as consolas da época chegavam sequer perto de tão grande produção. Mas o jogo é também um dos melhores exemplos de design e arte. Daytona USA exibe ainda hoje, passados 23 anos, um aspecto gráfico incrível, sendo daqueles jogos arcade que resistem de forma implacável ao teste do tempo.

Percebe-se facilmente a razão pela qual este jogo se tornou numa das máquinas mais solicitadas da Sega e porque tanto rendeu aos cofres da produtora japonesa. Daytona USA transformou-se num autêntico papa moedas e nem as posteriores conversões domésticas produzidas para a Sega Saturn e Dreamcast captaram a essência do original, nunca chegando perto em termos técnicos. Era possível jogar Daytona USA na Saturn (e aqui o vosso escriba lançou-se a fundo neste clássico em 1996, depois do grande Sega Rally), mas quando comparado com a cabine, literalmente o jogo mudava de figura e assumia uma jogabilidade sem paralelo.

Como racer 3D, só Ridge Racer ficava ao nível do grafismo proporcionado por Daytona USA. Foi uma entrada tremenda, primeiro no Japão, em 1993 e no ano seguinte no ocidente. Um ano depois a Sega lança o port Sega Saturn.

Só em 2011 as consolas receberam uma conversão fiel e que se pode qualificar de "arcade perfect". O jogo Daytona USA ainda pode ser adquirido a partir da Store da PlayStation para a PS3 ou através do Xbox Live para a Xbox 360 (é dos poucos jogos baseados em licenças que a Sega ainda não deixou cair). Recheado de novas opções, incluindo a inédita e hilariante opção Karaoke, é uma espécie de ponto obrigatório de passagem por todos os amantes do "racing". Delicioso graficamente, replica com segurança os atributos da versão arcade, especialmente ao nível da sensação de velocidade, sem o mínimo abrandamento mesmo quando se juntam imensos veículos numa curva ou progridem a alta velocidade numa recta.

"Juntamente com Ridge Racer, da Namco, Daytona USA é um dos primeiros jogos desenvolvidos em três dimensões com um nível de concretização sem paralelo"

Daytona USA demarcou-se também através da sua incrível banda sonora e comunicações por voz do "team hornet", através de incentivos ao longo da corrida, consoante a nossa prestação. A conjugação musical e sonora é arrebatadora e temas como Let's Go Away ou Sky High, todos criados e interpretados pelo mítico Takenobu Mitsuyoshi, ficaram na memória de quem conduziu pela vertiginosa Three-Seven Speedway, pela monstruosa Dinosaur Canyon e pela delicada Sea-Side Street Galaxy, a bordo do famoso Hornet 41 (o número da sorte de Nagoshi), muito provavelmente o carro mais marcante de uma era.

O sucesso de Daytona USA levou a Sega a redesenhar a cabine e a melhorar pontualmente o jogo, numa nova versão arcade editada em 2010 e denominada Sega Racing Classic. Mas em 1998 e utilizando uma placa ainda mais poderosa que a Model 2, Nagoshi e a AM2 voltaram à carga para uma sequela não menos impressionante, marcada por percursos ainda mais incríveis, recheados de coisas a acontecer, como é marca dos jogos arcade com aqueles parques temáticos. Impressionante pela fluidez e jogabilidade, Daytona US2 2 correu na Sega Model 3 como mel e incrementou as qualidades do original, ao mesmo tempo que os carros ficaram mais arredondados, aerodinâmicos e todo o ambiente recebeu uma dose notável de texturas que elevou o jogo à categoria das mais sólidas experiências arcade. Infelizmente não é fácil encontrar uma destas cabines, porque facilmente perceberiam porque não saiu minimamente beliscado no teste do tempo.

Battle On the Edge trouxe carros mais vistosos e arredondados, ambientes mais luminosos e nova carga competitiva. A Sega model 3 serviu outros jogos como Sega Rally 2.

Toshihiro Nagoshi e a Sega AM2 ainda viveram a sua epopeia por mais algum tempo, antes de focar a sua atenção e veia criativa em torno de Yakuza, a série que lhe consome a dedicação por render largo aos cofres da Sega. Depois de êxitos como Scud Race e Daytona USA 2, a Sega encetou uma colaboração com as rivais Namco a Nintendo tendo em vista uma inédita placa tri-force da qual nasceu o memorável F-Zero AX (jogo arcade) e a versão doméstica F-Zero GX (Nintendo GameCube). Após esse período é o que se sabe: as arcades foram perdendo preponderância porque as pessoas passaram a jogar mais nas consolas, com excepção de alguns jogos de luta como Virtua Fighter 5 e Street Fighter IV. A Sega começou então a cortar nos custos, desde logo num somatório de pessoal a encontrar a porta de saída da empresa, partindo em direcção a outras paragens (muitas pessoas qualificadas foram embora, entre as quais o veterano Yu Suzuki), bem como a proceder à unificação de estúdios, pondo um fim no lendário estúdio AM2, continuando no entanto a ser conhecido e representado ainda hoje dentro da Sega como o estúdio da palmeira no logo, embora com outra composição e designação.

Daytona 3 Championship USA - poderá devolver aos fãs o legado do "racer" líder da Sega?

A lenda está de volta, com uma terceira evolução a caminho, da qual pudemos já observar algumas sequências da demonstração facultada pela Sega para o evento IAAPA, uma espécie de E3 das arcadas (dedicada a máquinas de entretenimento e sistemas de diversão) que decorre nos Estados Unidos, na cidade de Orlando. É aliás em países como os Estados Unidos, Inglaterra e mesmo Japão, que ainda há espaço para acolher arcadas e gerar lucros. Uma cabine tende a custar entre 7 a 9 mil dólares, mas quem decida investir numa máquina arcade nova pode facilmente obter o dinheiro investido e não em muito tempo colher lucro. Um pouco pelos território norte-americano abriram 50 novos espaços, enquanto que outros expandiram a sua área.

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"Hoje os lançamentos cingem-se a 25 ou 30 máquinas por ano e é um pau"

O mercado está diferente. Longe vão os anos oitenta, quando se lançavam mais de 200 novas arcades por ano. Hoje os lançamentos cingem-se a 25 ou 30 máquinas por ano e é um pau. Não é possível comparar com os lançamentos previstos para as consolas, que num cálculo por alto e razoável correspondem a 2 ou 3 meses de lançamentos. Em grande parte isso ajuda a explicar a decisão da Sega em produzir Daytona 3 somente para as arcades, à semelhança de Daytona 2, entre muitos outros que até hoje nunca entraram para as contas do mercado das consolas. Seria uma boa oportunidade aproveitar o momento para um "arcade perfect" de Daytona 2 nas consolas da actual geração? Não seria um "port" capaz de sair caro à Sega, resta saber se o mercado estaria disposto a receber um racer arcade que naturalmente teria de compreender mais opções para caber em formato consola.

Os botões de escolha da perspectiva são similares aos botões instalados nas cabines originais.

Não é conhecido por enquanto o estúdio a cargo do desenvolvimento de Daytona 3. Algumas fontes sugerem que a Sega terá contratado muitos dos produtores que trabalharam no jogo original, inclusivé o mítico produtor da banda sonora. Sobre o envolvimento de Toshihiro Nagoshi, nada se sabe. Do que é conhecido e facultado pela Sega, haverá três novas pistas a juntar às clássicas, remasterizadas para a era moderna. Haverá novos carros e novos modos de jogo. Os monitores LED de 47 polegadas estão ligados até um máximo de oito, o que permitirá acesos despiques. A pensar nisso a Sega criou um mostrador que deixa acompanhar a progressão dos jogadores durante a corrida em directo pelos espectadores, uma "marquee" de 27 polegadas: seja um acidente, ultrapassagem ou simplesmente a manutenção da liderança.

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Daytona USA 3 promete reacender o interesse pelos jogos de corridas arcade. Resta saber se passados 23 anos, um título tão emblemático ainda consegue transformar e retribuir o destaque merecido à cena arcade. Pela demonstração facultada aos visitantes do IAAPA, a Sega parece determinada em voltar às gloriosas corridas, com aquele DNA que se perpetuou em 20 anos de grandes êxitos e fenómenos. Daytona USA vive nas memórias de quem competiu nas cabines e nos titulares das diferentes versões para as consolas que amiudadas vezes limpam o escape do seu precioso software. Mais uma vez, o calor voltará a aquecer o asfalto de Daytona. Os pilotos ligarão novamente os motores, que posicionados numa grelha em andamento na volta lançada, discutirão a dianteira da corrida a estonteantes velocidades, evitando os adversários em pião, as aproximações aos muros e o corte cirúrgico da barreira "time extension". Então, os melhores voltarão a inscrever o seu nome nos três espaços.

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Vítor Alexandre

Redator

Adepto de automóveis é assim por direito o nosso piloto de serviço. Mas o Vítor é outro que não falha um bom old school e é adepto ferrenho das novas produções criativas. Para além de que é corredor de Maratona. Mas não esquece os pastéis de Fão.
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