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Cotton Reboot! - Review - Salvar o mundo

Por um punhado de rebuçados

Eurogamer.pt - Recomendado crachá
Remake que preserva e adiciona variantes ao original, melhorando a experiência de um cut'em up divertido e desafiante.

É sabido que a Sega Saturn não foi um fenómeno de vendas a nível mundial. Da mesma geração, a PlayStation conseguiu nessa avaliação um desempenho superior, sobretudo no capítulo dos jogos 3D. Mas houve um mercado no qual a Sega conduziu a Saturn a uma respeitosa posição. No Japão, muitos jogos 2D, especialmente as conversões e reedições de sucessos arcade, foram editados na Saturn, ao ponto de ser eleita por grande parte das editoras como a consola a certa. Durante a segunda metade dos anos noventa, muitos jogos 2D foram editados no mercado japonês e por lá permaneceram exclusivos durante anos.

O catálogo da Saturn para o Japão, para lá das múltiplas versões da consola, é quase um mar de preciosidades. Para coleccionadores é como um grande lago, no qual nos perdemos. Quando era mais fácil importar, deparei-me com uma quantidade abissal de jogos 2D, em especial os shoot'em ups. De Battle Garegga, a Radiant Silvergun, só para citar alguns dos jogos mais procurados e hoje transformados em pequenas fortunas, a lista é enorme, embora não ultrapasse a mítica PC Engine. Em poucos anos a Saturn transformou-se num autêntico viveiro de shmups. Tesouros em forma de shooters germinavam como cogumelos. Havia depois uma bateria de acessórios, os arcade stick, muitos produzidos pela Sega e que possibilitavam o aproveitamento desses mesmos jogos, na forma mais conveniente. No fundo a Saturn emulava no conforto do lar uma arcada e por isso foi bem acolhida pelos japoneses.

No meio de tanta oferta de shmups, a minha curiosidade deteve-se sobre um jogo chamado Cotton 2: Magical Night of Dreams. O jogo detém aquela apresentação tipicamente nipónica, conjugando um grafismo "cute" com um design do tipo shmup 2D. Mal sabia então que Cotton é o nome da pequena bruxa que com a sua vassoura navega por territórios assolados, à procura da derradeira guloseima. No Japão, a série Cotton é uma produção da Success que contou com várias editoras. Conheceu uma versão ocidental do original Fantastic Night Dreams para a Neo Geo Pocket em 2000, editada pela SNK. Mas praticamente permanece até hoje como exclusiva para o Japão. Com Cotton Reboot, um remake do original para o computador X68000 (Sharp), superior à congénere arcade, desenvolvido pela Beep e editado pela ININ Games, os ocidentais podem finalmente experimentar duas versões, o original e o seu remake, com novos modos de jogo, mecânicas e uma banda sonora melhorada. É talvez um dos melhores cut'em ups que já joguei, um título coeso nos seus elementos. Lançado no Japão no princípio de 2021, esta semana chega à Switch e PlayStation 4, para o ocidente.

O ecrã 16:9 permite mais elementos no ecrã e adapta-se bem ao formato scroll horizontal.

Fantástico mundo onírico

Com o subtítulo Fantastic Night Dreams, o original é o ponto de partida para um subgénero de aventuras em formato scroll horizontal. E embora a versão do computador Sharp X68000, aqui facultada, seja um jogo de 1993 e por isso um pouco mais vetusto, exibe algumas qualidades que justificam a visita. A temática é uma conjugação de fantasia com o mundo onírico, da liberdade no embalo dos braços de Morfeu, das criaturas flutuantes, da lua em fundo, das florestas e castelos sob uma magia negra, eventualmente uma lua na qual as criaturas se erguem das campas dos cemitérios e lançam a sua cabeça na direcção da protagonista. Ao longo dos seus sete níveis há uma extensa diversão e diversidade, um voo rasante, a escapada nocturna sobre os telhados e os inúmeros perigos que ameaçam a partir do solo.

Nata de Cotton é um nome pouco comum para uma bruxa, especialmente se adora comer rebuçados e mais ainda entrar numa aventura por um punhado deles, mas ganhou estatuto de série graças ao corte de cabelo, que com a sua cor vermelho-rosa e indumentária azul, depressa ganhou estatuto de ícone. Num mundo de aeronaves e máquinas de combate, uma pequena bruxa a cruzar os céus, transporta um pouco de Parodius (célebre série da Konami) mas é sobretudo a confirmação de um arranque auspicioso da Success.

Cotton é acompanhada nesta aventura por uma fada chamada Silk. É ela que a leva a entrar em cena, oferecendo os rebuçados (willows) como recompensa, já que de outra forma Cotton não teria interesse em salvar o mundo dos senhores das trevas. As duas formam uma parelha de sucesso. Cotton tem a sua vassoura para efectuar disparos, enquanto que Silk lança bombas, de forma automática. No formato original, Fantastic Night Dreams é um jogo interessante e bastante apelativo. A melhoria dos disparos ocorre através de um sistema algo similar a um role play. Os inimigos abatidos deixam uma espécie de cristais quando perecem, que depois podem ser alvejados a fim de receberem cores distintas. Recuperando os cristais, o poder de fogo melhora e ao mesmo tempo ficam disponíveis mais magias, consoante a cor do cristal no momento em que este é recuperado. Há por isso uma componente estratégica e de role play na jogabilidade, embora seja relativamente simples. A dificuldade está em lidar com os poderosos chefes de fim de nível, o que torna muito mais difícil manter a cadência de disparos.

O clássico do Sharp X68000 mantém intactas as qualidades artísticas.

Se a versão original é suficiente para nos levar a descobrir o jogo e esta pequena intrépida protagonista, a versão "arranged" ou "remake" consegue impressionar através do seu ecrã alargado 16:9, que não só assenta bem num jogo de formato scroll do tipo horizontal, como ainda projecta o grafismo melhorado e as personagens redesenhadas. Na verdade, esta versão arranged foi toda ela reconfigurada, é um jogo nos moldes do original mas amplificado, não só no design e na apresentação gráfica. Há melhorias nas mecânicas que tornam a jogabilidade ainda mais interessante.

Um remake em ponto de rebuçado

Nos remakes muitas vezes perguntamo-nos até que ponto é preservada a fidelidade da obra original e começam os arranjos dos novos produtores em deixarem também um pouco da sua marca. Cumpre referir que a produção da Beep, neste Fantastic Night Dreams "arranged", é muito fiel ao original. Os fundos oferecem mais caracterização, há mais elementos no cenário e alguns toques pessoas, sobretudo ao nível das personagens que tornam o jogo ligeiramente diferente do original. Uma parte da arte é preservada mas há sobretudo um reforço gráfico e artístico. Nisto é normal que os fãs possam dividir-se, podendo muito bem haver quem prefira o esforço da obra original. No entanto, isto não impede a versão arranged de possuir os seus méritos e de se demarcar pela positiva.

Desde logo pela necessária fluidez da acção, conservada mesmo quando há uma concorrência de projécteis e adversários no ecrã. Nesse aspecto, o jogo está impecável, o que conjugado com uma banda sonora empolgante, proporciona uma navegação ao longo de sete mundos altamente divertida e desafiante. Não há limite de créditos. Podemos jogar em modo loop como quem mete mais uma moeda, embora o desafiante seja terminar o jogo com um só crédito.

São precisas magias e bombas para vencer 7 temíveis bosses.

Aos comandos da vassoura, apontamos Cotton os inimigos, disparando para que depois de desfeitos libertem os cristais. O fluxo de disparos é agora maior e sobe de nível assim que elevamos o contador. Uma particularidade desta versão é que ao atingirmos os cristais para que estes mudem de cor e melhorem os poderes mágicos que podem ser usados em alternativa, os disparos bifurcam-se, saindo do cristal por duas linhas, o que cria amplia as chances de anular os adversários. Porém, estes chegam em vagas maiores e por vezes a acção torna-se caótica. O divertido está em apanhar os cristais. Como referi, as cores associam-se a diferentes poderes. Dos poderes mágicos ao fluxo que sai pela vassoura. É possível melhorar a EXP e fazer subir de nível as magias. À medida que avançamos, juntam-se outras fadas a Silk, elas que funcionam como parceiras de combate, libertando bombas. Os poderes mágicos são avassaladores e as bombas também. Quando um cristal é atingido ao limite, transforma-se numa tonalidade escura, e oferece o máximo de pontos quando recolhido.

No final, este Reboot tem quase a dimensão e o aspecto de um novo jogo, fiel ao original mas em grande parte revê mecânicas, progride na forma de pontuação, colecção de magias e bombas. É quase um novo jogo e por isso a sensibilidade face ao original também é diferente. Este com mais pausas e um ritmo de progressão moderado. É por isso normal que a versão "arranged" possa causar de início alguma confusão em termos de adaptação ao esquema de pontuação, talvez mais perto de um cut'em hell que um cut'em up, na versão X68000. Não sendo tudo, há um modo dedicado exclusivamente à pontuação, um score attack no qual competimos num mesmo nível em dois ou cinco minutos, com as tabelas de liderança indicadas para os mais persistentes.

Cover image for YouTube videoCotton Reboot! - Official Trailer

Cotton Reboot é uma óptima experiência, tanto na versão clássica como na versão "arranged". Há uma evolução do mesmo jogo, ao ponto de o diferenciar e até tornar mais claras as preferências. Não se pode dizer que seja um jogo propriamente longo. A longevidade é escassa, mesmo depois de terminadas as duas versões, não é o modo score attack que prende por muito mais tempo. Talvez concluir o jogo com um par de créditos seja a forma de extrair ao máximo o equilíbrio que há entre o desafio proposto e as mecânicas oferecidas. De todo o modo é mais uma óptima estreia da série no ocidente, na sua versão clássica mas também numa composição melhorada e ajustada às propriedades das novas consolas.

Prós: Contras:
  • Direcção artística do original Sharp X68000
  • Melhoramentos gráficos da versão arranged
  • Banda sonora
  • Ajustes nas mecânicas
  • Tabelas de liderança online
  • Modo score attack
  • Acção na versão arranged por vezes demasiado caótica
  • Não oferece grande longevidade

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Sobre o Autor
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Vítor Alexandre

Redator

Adepto de automóveis é assim por direito o nosso piloto de serviço. Mas o Vítor é outro que não falha um bom old school e é adepto ferrenho das novas produções criativas. Para além de que é corredor de Maratona. Mas não esquece os pastéis de Fão.

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