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Cheguei tarde à febre Pokémon

Fenómeno com mais de vinte anos. Não há muitos assim.

O lançamento de Pokémon GO para os "smartphones" no verão passado causou uma gigantesca febre de proporções mundiais. De um dia para o outro não se falava noutra coisa. Entre conhecedores, fãs e leigos, o contágio propagou-se a um ritmo verdadeiramente avassalador, varrendo quase tudo à frente. Dias a fio os monstros de bolso tornaram-se em tema de conversa, à mesa, no balcão do café, em qualquer lado. Isto mostra como o valor de franquias da Nintendo é desmesurado quando colocadas à disposição num vulgar "smartphone". O eco proporcionado por Pokémon GO foi de tal modo ressonante que se tornou numa das apps mais descarregadas. Até nos telejornais foram apresentadas peças sobre o fenómeno e porque razão levou pequenos e graúdos a cirandar pelas cidades à cata dos bichos em formato realidade aumentada. Como tende a acontecer sempre que algo capta a atenção das massas, colhendo os media generalistas quase de surpresa, o lado perverso ganhou algum um peso, especialmente por aqueles que olham com pessimismo (tantas vezes infundado) sobre os videojogos, renovando argumentos tontos e servindo-se de vídeos exagerados difundidos pela net. Hoje, o aplicativo ainda continua a ocupar destaque entre os mais descarregados, num momento em que a febre baixou significativamente.

Com o fim do verão, também o calor de Pokémon Go abrandou, mas nem por isso a história se arruma na gaveta e fecha para balanço. Há dias a Nintendo lançou na 3DS as últimas versões de Pokémon: Sun e Moon. Conforme se esperava, continuam a vender aos milhões. É uma mina de ouro que parece não esmorecer, apesar dos anos, das sucessivas edições e de uma fórmula que não foge do mesmo conceito: apanhá-los todos. Ainda que digam que aqui e acolá vendeu um niquinho a menos que anteriores versões, dias depois a situação reequilibra-se, e a ocupação dos lugares cimeiros dos tops é como que natural. Tudo volta a ser grande, como dantes. A eleição da 3DS como plataforma para acolher Moon e Sun é a mais sensata, atendendo aos milhões de portáteis vendidas. Depois de 4 anos, e sabendo-se que o testemunho da Wii passou para a Switch, a 3DS é a coqueluche da Nintendo para este final de ano.

Mas, o que distingue realmente a série Pokémon de outros jogos role play? Porquê este entusiasmo em torno dos monstros de bolso? Porque vendeu assim tanto e continua a singrar no mercado? Estas e outras questões poderão encontrar resposta e tornar tema de assunto a partir do próximo dia 9 de Dezembro, por ocasião do evento Comic Con 2016, em Leça da Palmeira, Matosinhos. Numa iniciativa inédita e de aplaudir, a Nintendo em Portugal conseguiu trazer para uma conferência de imprensa os principais obreiros da série: Junichi Masuda e Shigeru Ohmori. Média e fãs poderão assim conhecer de perto duas figuras proeminentes no universo Pokémon, perspectivando-se por isso uma boa oportunidade para apurar o conhecimento sobre o impacto desta popularíssima franquia.

Em 1997, um ano após o lançamento dos jogos Pokémon no mercado japonês estreou no mesmo país a série animada.

Não duvido que este evento seja um dos mais concorridos e seguramente fará escorrer muita tinta e divulgação nos dias seguintes. A série é uma das que atinge grande impacto em termos noticiosos. Além disso, a Nintendo concentrou este ano as atenções na Comic Con, que como se sabe, continua de pedra e cal em Leça (Matosinhos), respondendo a um grande anseio do público do norte, que já mostrou em edições anteriores não faltar à chamada, respondendo em massa. Que me lembre, nunca a Nintendo trouxe a Portugal para uma conferência, produtores tão relevantes. Operando maioritariamente em Lisboa e arredores, esta transição para a área VIP da Exponor será seguramente um dos momentos altos e será lembrada em anos futuros. Só queremos que mais iniciativas como esta aconteçam não de vez em quando ou fortuitamente mas com regularidade e com outros protagonistas.

O evento é também uma excelente oportunidade para conhecer as recentes edições da série, assim como revisitar eventualmente o passado e obter uma perspectiva sobre como se conjugam as versões Sun e Moon com Pokémon GO. Apesar de todo o sucesso em vendas e penetração no mercado que a série atinge, é curioso como esta é talvez a única série da Nintendo (das mais populares) que nunca mexeu comigo. Sou sincero e digo-vos que nunca joguei um Pokémon, nem sequer descarreguei o aplicativo êxito deste verão, Mesmo que quisesse também não podia porque ainda não me converti ao uso dos "smartphones". Continuo a servir-me de um Nokia (pena não me permitir jogar o Snake); cabe quase imperceptível no bolso e não deixa de me pôr em contacto com o mundo. Mas isso são contas do "forno privado", como diria mister Jesus. Certo é que apesar das minhas tentativas para jogar Pokémon, e refiro-me aos clássicos, nunca consegui ligar-me à série, embora saiba bem do seu conceito e do que se trata em termos gerais.

Aqui há um par de anos comprei através de um site online de vendas uma edição para o Game Boy. O Pokémon Blue, da primeira vaga, completo e em perfeitas condições. Algumas pessoas diziam-me que devia começar por jogar a versão Yellow, mas tenho bem presente que o vendedor dispunha apenas do Red e Blue, o que redundou numa margem de escolha limitada. Fui para o Blue depois de trocar uns mails que constituíram quase uma descrição básica dos elementos do jogo e sobre o que teria a fazer assim que o jogo me chegasse às mãos. Ainda antes de o receber fiquei com a ideia de estar a negociar com um "expert" e veterano da série, mas mais surpreendido fiquei após me chegar o jogo, quando descobri que o contador de horas passadas a jogar entrava nas 199 horas e 50 minutos. Incrível como um jogo aparentemente tão simples e básico consegue gerar tanto assombrosa adesão.

O save do anterior proprietário ainda está no cartucho do meu Pokémon Blue. 199 horas e 50 minutos.

É como se fosse superior à nossa vontade, impassível de qualquer tentativa de gestão ou controlo. Curiosamente e após deambular um pouco pelo mundo, naquele 8 bit granulado e monocromático, a riscar um pouco da superfície de Pokémon Blue, não fui capaz de gravar o novo save e eliminar o anterior. Com isso estaria a eliminar a história daquela aventura, prolongada no tempo, proporcionando prazer (julgo) ao seu anterior proprietário. Sinto que ao apagar o ficheiro (bem sei que um dia a pilha deixará de dar energia e tudo voltará ao zero, mas que o seja assim), estaria a criar um novo testemunho que nunca chegaria ao nível do anterior. Já me disseram que devia experimentar um Pokémon para a Nintendo DS ou mesmo um dos mais recentes lançados na 3DS, mais amigável e menos "hardcore".

Mas eu queria descobrir a série desde o começo. Jogar uma das versões da primeira fornada. Voltar às origens, às bases, tentar perceber porque a partir de metade da década de noventa as vendas do Game Boy Color atingiram números incríveis muito por força deste fenómeno, atropelando tudo à volta e como todas as tentativas de produção similar não resultaram. Queria mergulhar na série e nem me importava de perder umas horas só para ficar por dentro e ir de encontro ao âmago que os fãs evocam num registo extraordinário. A verdade é que apesar das tentativas, talvez por não ter chegado a tempo ou descoberto os seus méritos em tempo útil, continuo à margem de um dos maiores fenómenos de que há memoria na história dos videojogos. Não é por ser do contra ou por não me sentir tentado por descobrir a recente vaga. Nada disso, tanto que nada tenho a opor. Aliás, o que é que se pode opor a um jogo cujo conceito é algo fundador em matéria de colecção e captura de uma imensidão de monstros? Pokémon é dos primeiros jogos a inculcar a ideia de coleccionismo. Um mérito que ninguém assaca daqueles produtores que souberam criar um conceito deveras apelativo. Não dar descanso enquanto não os tiver a todos é uma das premissas mais fortes. Tenho é a sensação de ter chegado tarde, fora do tempo, de estar distante desse turbilhão de ligações que nos deixa em sintonia com um jogo quando acertamos na frequência e a corrente começa a passar. Percebemos então que é tanto aquele jogo. Nesta série, a ausência de contacto com os primeiros jogos da série ditou um afastamento que é quase irrecuperável. Fico-me pela constatação dos lançamentos e estrondosos números de vendas. Pokémon está em todo o lado. Não sei se alguma vez se repetirá um fenómeno desta dimensão e isso diz-nos imenso sobre a relevância da série.

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Vítor Alexandre

Redator

Adepto de automóveis é assim por direito o nosso piloto de serviço. Mas o Vítor é outro que não falha um bom old school e é adepto ferrenho das novas produções criativas. Para além de que é corredor de Maratona. Mas não esquece os pastéis de Fão.
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