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Bloodborne - Análise

O melhor jogo da PS4.

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Bloodborne é o melhor jogo desta geração, até agora. Difícil, desafiante mas capaz de levar qualquer um ao êxtase e euforia.

A série Souls tem uma reputação assustadora. Quando na capa a mensagem com a qual nos deparamos é “Prepara-te para Morrer”, sabemos que nos aguarda uma viagem tortuosa cujo final está reservado apenas para os mais corajosos e persistentes. Não é surpreendente que muitos desistam no início. Estes são jogos que não perdoam erros e que rapidamente castigam por qualquer falha cometida. Ao início é agonizante, o primeiro boss parece impossível de derrotar e qualquer inimigo é capaz de nos causar sérios danos se não tivermos cuidado. Mas para aqueles dispostos a aguentar a tortura inicial, mais à frente há uma sensação de conquista e alegria inigualáveis. A cada boss ficamos mais fortes e aprendemos uma ou várias lições. É de facto muito parecido com o sadomasoquismo, há dor mas também há prazer.

Bloodborne não tem Souls no nome mas tudo o que foi dito em cima pode ser-lhe aplicado, afinal, este é um novo jogo da From Software e do director Hidetaka Miyazaki, que nos trouxe Demon's e Dark Souls. O novo jogo para a PlayStation 4 herda naturalmente diversos elementos e ideais dos jogos anteriores, mas não é idêntico. No cenário medieval ficaram os escudos, e no cenário gótico de Bloodborne entraram as armas de fogo. É uma mudança que nos diz logo que a filosofia dos combates mudou. Os jogos Souls encorajam a adoptar uma mentalidade defensiva, a ter o escudo sempre à frente para evitar sofrer danos. Bloodborne é diferente, é um jogo ofensivo em que arriscar compensa e a jogabilidade foi pensada nesse sentido.

O único escudo de Bloodborne é na verdade uma piada da From Software.

Não ter um escudo significa que estamos sempre expostos, mas por outro lado, temos um nível de agilidade que não tínhamos nos jogos Souls. Desde cedo temos que aprender a aproveitar a agilidade para evitar ataques adversários. Isto deve ser conjugado com a arma de fogo, que pouco dano causa aos inimigos, mas se disparada no momento certo, interrompendo um ataque a meio, o adversário fica atordoado e aberto a um ataque visceral que na maioria dos casos retira toda a vida. Na realidade a jogabilidade é simples. Este não é um jogo com combos espectaculares como God of War ou Bayonetta, mas o combate tem uma obscura profundidade que só começa a ser perceptível depois de várias horas de jogo.

Mais uma evidência de que Bloodborne é diferente de Dark Souls é a nova mecânica que permite recuperar vida após sofrer dano de um adversário. A janela de oportunidade é curta, não mais do que alguns segundos, mas pode recompensar enchendo de novo a vossa barra de vida à medida que vão desferindo golpes nas criaturas sobrenaturais que habitam este mundo macabro. Acima de tudo é preciso saber avaliar o risco até porque em Bloodborne tão depressa estamos bem como de repente morremos num ápice. É um jogo difícil até ao fim que não vos poupa nem dá descanso.

Quem jogou um dos Souls anteriores, já sabe o que esperar. Para os restantes fica o aviso: Bloodborne requer tempo, paciência e várias tentativas para chegar ao fim de uma área ou acabar com um boss. A dificuldade padrão é equiparável ao “muito difícil” de outros jogos, mas nunca é injusto apesar de por vezes deixar essa impressão nos momentos mais frustrantes, quando por exemplo um boss vos mata quando a sua barra de vida está quase no fim. Tal como os Souls, Bloodborne vive muito da sua dificuldade. Se fosse mais fácil, não teria nem metade da graça. Ao princípio é um jogo assustador que nos engole, trinca e cospe fora, mas é um desafio que pode ser ultrapassado. Não é impossível chegar ao fim. A ideia pode não agradar a todos, mas todos os jogos são feitos com um público específico em mente, alguns mais abrangentes do que outros. Bloodborne é um jogo para quem gosta de ser desafiado e sentir emoções fortes.

Bloodborne é um teste a todas as vossas qualidades de jogador. É um desafio de superação, que exige que melhorem as vossas capacidades constantemente. Se chegarem ao fim pelo menos uma vez, vão reparar que na segunda jornada já não é tão difícil, isto porque vocês melhoraram imenso. Já conhecem melhor a jogabilidade, já têm um estilo de jogo definido e sabem qual o comportamento dos inimigos e bosses, sendo mais fácil escapar ao perigo. Quando finalmente chegarem ao fim, há uma sensação de alívio reconfortante, como quando acordamos de um pesadelo e ficamos relaxados pois não era real. Mas em Bloodborne é pesadelo, é real, e fomos capazes de sobreviver a todos os seus terrores. Também sentimos orgulho, pois sabemos que nem todos serão capazes de chegar ao fim, alguns certamente ficarão pelo meio.

Pode parecer ridículo, mas chegar ao fim de um jogo Souls já se tornou numa das coisas da lista de "coisas a fazer enquanto jogador", isto porque não há nada igual nem tão intenso nos videojogos. Como já devem ter percebido, se leram até aqui, adorei Bloodborne. O que é curioso, é que não gostei de Dark Souls. Ainda no dia antes de começar a jogar Bloodborne voltei a Lordran para me preparar psicologicamente. Não aguentei mais do que uma hora a jogar, não pela dificuldade, mas porque me senti aborrecido e sem motivação para continuar. O que mudou então de Dark Souls para Bloodborne para esta reacção completamente oposta? Para começar, à partida senti logo (desde que vi o jogo pela primeira vez na E3 2014) empatia pelo mundo criado pela From Software, o estilo de jogo e as criaturas horríveis. Na verdade, Bloodborne não é apenas um RPG de ação, é também um jogo de terror melhor que muitos outros jogos que se especializam na parte do terror.

"Bloodborne lima os aspectos menos apelativos Dark Souls, o que faz dele um jogo mais agradável e a dificuldade elevada mais tolerante."

A filosofia Souls de largar o jogador no mundo praticamente sem lhe dizer ou explicar nada ainda continua com uma presença forte em Bloodborne, mas desta vez há claramente uma maior aposta na história. O que está a acontecer em Yharnam ainda é complicado de perceber e requer bastante atenção às falas dos NPCs assim como à cidade e áreas adjacentes expressivas, mas esta diferença cria uma maior aproximação entre o jogador e o mundo para não se sentir tão desamparado, sem saber bem o que anda ali a fazer. Para ser honesto, parece-me que Bloodborne lima os aspectos menos apelativos Dark Souls, o que faz dele um jogo mais agradável e a dificuldade elevada mais tolerante.

Em Dark Souls a única forma de guardar progresso e não regressar para uma área anterior quando morríamos era chegar à próxima "bonfire". O princípio mantém-se em Bloodborne, mas em vez de "bonfires" temos lanternas. Contudo, Yharnam está construída de tal forma que desbloqueamos vários atalhos. Deste modo, depois de desbloqueados os atalhos, não demora muito até chegar ao sítio onde morreram. A nova estrutura torna a perda de progresso mais tolerável e não se perde tantas horas como nos Souls anteriores. Ainda assim, quando morrem perdem todos os Echos (que servem para subir de nível) que têm naquele momento. Para recuperar os Echos, terão que voltar ao local onde perderam a vida e recuperá-los. Ao contrário de Dark Souls, nem sempre os Echos estão no chão, em Bloodborne às vezes os inimigos apoderam-se dos nossos Echos e temos que eliminá-los para recuperar o que é nosso. Se morrerem novamente sem os apanhar, não há forma de recuperá-los.

Yharnam tem paisagens lindíssimas.

Os Frascos de Sangue são outra novidade de Bloodborne em relação a Dark Souls. Os Fracos são basicamente as poções para ganhar vida. Em Dark Souls estávamos limitados a 5 ou 10 (dependendo se tivessem Humanity ou não), aqui podemos ter até 20 Frascos, no entanto, quando chegamos às Lanternas para guardar o progresso, o stock não é reposto como nas "bonfires" de Dark Souls. Ou seja, se utilizarem todos os frascos, a única forma de ganhar mais é apanhá-los dos inimigos, o que nem sempre acontece. A única forma de contornar isto é "farmar" Frascos de Sangue ou jogar muito, mesmo muito, e evitar gastar Fracos ao máximo. O problema de "farmar" é que quebra o ritmo do jogo. Dei por mim várias vezes a ter de parar de lutar contra um boss porque precisava de mais Frascos de Sangue pois já tinha esgotado os que tinha. Felizmente, a área inicial é excelente para "farmar" e em cerca de 10 minutos é possível encher o stock novamente.

"Apesar da menor quantidade de armas, estamos perante um caso em que menos é mais."

Por outro lado, a quantidade de armas disponíveis em Bloodborne é menor do que Dark Souls, mas as armas deste novo jogo têm mais personalidade e são realmente únicas. Todas as armas têm dois modos distintos de uso, para alternar basta carregar no L1. O alternar entre modos funciona inclusive a meio de um combo, mas acima de tudo, serve para ter uma melhor abordagem às situações. A maior parte das armas têm um modo para curto alcance e outro para médio/longe alcance, um indício de que é importante trocar entre modos consoante os inimigos. Apesar da menor quantidade de armas, estamos perante um caso em que menos é mais. Muitas das armas em Dark Souls eram inúteis, em Bloodborne cada arma é relevante e distinta das restantes. De qualquer modo, ainda há mais do que liberdade suficiente para optar por estilos de jogar alternativos. Em Bloodborne não existem classes, mas há armas que tiram melhor partido dos atributos da vossa personagem do que outras, um factor de que devem levar em conta.

Apesar de haver várias diferenças comparativamente aos jogos Souls, os veteranos desta série vão sentir-se imediatamente em casa pois a sensação da jogabilidade é muito parecida. Os combates são uma dança entre evitar os ataques adversários e atacar no momento certo e voltar a colocar uma distância segura entre o nosso alvo. Para quem está a assistir parece fácil, mas é um processo que requer experiência e algumas horas de assimilação. Um jogo como este obriga-nos a mudar a mentalidade de jogar e dá relevância à morte em vez de a tornar banal.

O que surpreende mais de Bloodborne é que embora tenha despejado grande parte das minhas horas livres no jogo na semana passada, sinto que só descobri a ponta do icebergue. Não há dúvidas que este é um jogo à moda antiga, com imenso para explorar e segredos para descobrir. Não fossem os conteúdos da história já vastos os suficientes, ainda temos os Chalice Dungeons, que são níveis adicionais com bosses próprios que podem ser acedidos no hub central. Há boas razões para explorar estes Dungeons, pois podem desbloquear novas armaduras e armas, e se quiserem ser surpreendidos, podem até criar níveis aleatórios e depois partilhá-los com amigos através de um código. Tal como o resto do jogo, é possível chamar a qualquer momento um ou mais amigos para vos ajudar, mas o sistema é pouco complicado de perceber já que não é tão fácil como carregar num botão chamado "co-op". Para jogar em cooperativo numa dungeon, têm que partilhar um código com um amigo, que depois tem que entrar na Dungeon desse código. Só depois do vosso amigo entrar na Dungeon é que podem usar o sino de invocação para pedir ajuda. Fica também o aviso de que o jogador que invocar ajuda será o único a fazer progressos na Dungeon e a receber loot. Quando regressar para o seu mundo, o jogador invocado não terá feito qualquer progresso naquela Dungeon. O mesmo vale para o modo cooperativo na história, só há um jogador (aquele que invoca) que faz progressos. Para aqueles que querem testar as suas habilidades contra outros jogadores, existe um modo PvP tal como Dark Souls em que invadimos o mundo de outro jogador.

"Embora tenha despejado grande parte das minhas horas livres no jogo na semana passada, sinto que só descobri a ponta do icebergue"

Apesar deste sistema cooperativo obtuso, e de alguns problemas técnicos a nível da framerate e dos loadings (que tanto ajudam para relaxar como para aumentar a frustração), Bloodborne é o melhor jogo que surgiu até agora nesta geração de consolas. É um jogo grandioso, cheio de qualidades, que nos faz vibrar. Derrotar um boss é o mesmo que ver a nossa equipa favorita a marcar um golo na final da liga dos campeões, é uma euforia e pode provocar reações como desatar aos berros de alegria. Bloodborne é tão intenso que quando a barra de vida começa a chegar ao fim, o ritmo cardíaco aumenta e faz-nos ficar ofegantes. Do princípio ao fim esta é a experiência que vão obter. Claro que há também momentos de frustração, em que insultamos os bosses e lutamos para não partir o comando. É um misto de sensações e de extremos que tornam esta viagem memorável. Enquanto há jogos nos quais chegamos ao fim e praticamente nos esquecemos do que aconteceu pelo meio, em Bloodborne vão lembrar-se de quase todos os momentos.

A maravilha de Bloodborne é que quanto mais jogamos, mais evidente se torna o quão bem pensado o jogo está. Tudo está ligado de alguma forma e quando ficamos a conhecer bem as suas mecânicas e sistemas, torna-se apaixonante. Mas para conhecerem esta sua faceta, têm que lhe dar uma oportunidade. Não podem desistir na primeira hora nem no primeiro boss. Se resistirem ao teste inicial, será progressivamente mais difícil largar Bloodborne, que se desenrola como o desabrochar de uma flor, ficando cada vez mais esplêndido.

Não só é um jogo extremamente bem feito, como também tem elevados valores de produção. A nível gráfico é um colosso que surpreende pela quantidade surreal de detalhe e objectos sempre presentes nas várias áreas, o que é mais impressionante para um jogo com uma estrutura em mundo aberto. Cada vista da cidade de Yharnam dava um fundo de ecrã, ainda mais para quem gosta de ambientes e cenários góticos. Os detalhes são complementados por efeitos fantásticos como o jorrar de sangue dos inimigos, que jaz no chão, nas paredes e no fato da vossa personagem. Quanto mais criaturas chacinarem, mais manchados de sangue vão ficar. A banda sonora é igualmente fantástica, intensificando os momentos, seja para tornar mais sinistras as áreas assustadoras ou mais intensos os confrontos com os bosses. Mas não é só a banda sonora que melhora a experiência, os efeitos sonoros complementam a atmosfera, seja os berros estridentes dos bosses, o barulho das armas dos inimigos a arrastar pelo chão e a respiração de criaturas que estão perto de nós mas não sabemos bem onde. É assustador.

É impossível chegar ao fim de Bloodborne e não considerá-lo um título essencial na prateleira de quem aprecia videojogos. A From Software e Hidetaka Miyazaki excederam-se e criaram um jogo fabuloso que merece todos os elogios que lhe têm sido feitos. Bloodborne é um dos jogos mais desafiantes e gratificantes que podem encontrar nas lojas que depois de jogado faz tudo o resto parecer banal. Sem margem de dúvida que este é o melhor jogo que surgiu agora para a PlayStation 4 e corrente geração de consolas, estabelecendo um novo padrão de qualidade.

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Jorge Loureiro

Editor

É o editor do Eurogamer Portugal e supervisiona todos os conteúdos publicados diariamente, mas faz um pouco de tudo, desde notícias, análises a vídeos para o nosso canal do Youtube. Gosta de experimentar todo o tipo de jogos, mas prefere acção, mundos abertos e jogos online com longa longevidade.

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