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Crash Bandicoot 4: It's About Time review - No momento certo

A Toys for Bob triunfa com uma sequela de grande qualidade.

Eurogamer.pt - Recomendado crachá
Fiel aos clássicos originais, recorre a um gameplay familiar, combinado com novas mecânicas e segmentos diabólicos. Um vício.

Assim que vi Crash Bandicoot 4: It's About Time, pensei de imediato que o nome além de incrivelmente engenhoso (referência à narrativa e gameplay do jogo em si), é um nome muito oportuno. A propriedade Crash Bandicoot passou muito tempo congelada e perdida, envolta em saudosismo e ameaçada perante o limbo. A recente trilogia de remakes da Vicarious Visions e o remake de Crash Team Racing da Beenox injetaram uma incrível e muito encorajadora energia na propriedade, o que permitiu à Activision envergar confiança suficiente para pedir à Toys for Bob (responsável por Spyro Reignited Trilogy) trabalhar numa verdadeira sequela para Warped (lançado originalmente em 1998).

O que mais poderá surpreender em It's About Time é o quanto se sente verdadeiramente como um Crash Bandicoot 4, não apenas no nome que enverga, mas na sua essência, método, abordagem ao design e estética. A Toys for Bob parece ter abordado o projeto com total foco na trilogia original, esquecendo tudo o resto que veio depois de CTR, imaginando um jogo que poderia ter sido lançado em 1999 ou 2000, como se a Naughty Dog nunca tivesse desistido do marsupial, que a dada altura foi uma das faces mais familiares da PlayStation.

Depois de Crash Bandicoot, Cortex Strikes Back e Warped, cujos remakes comprovaram o quão bem resistem ao teste do tempo, tens agora Crash Bandicoot 4: It's About Time como uma proposta que merece figurar ao lado dos clássicos. A Activision parece empenhada em manter em alta o nome desta série e este jogo tem imensos méritos que vão conquistar os fãs da série. O maior mérito de todos diria que é a sensação de estar perante um jogo lançado nos anos 90, fiel aos originais, mas com argumentos próprios, na forma de mecânicas que não seriam possíveis na altura e ainda com uma estética visual detalhada.

A alma de um jogo dos anos 90

Esta sensação que Crash Bandicoot 4 é um jogo ao estilo clássico é o melhor que poderia esperar de uma sequela para a trilogia original, especialmente porque não inventa, respeita o legado e tenta capturar a essência que permitiu a esses jogos figurar no panteão da indústria. Sim, existem novas mecânicas e algumas claras marcas de atualização da propriedade em si, mas no seu coração estás perante um jogo que parece vir dos anos 90 e recebeu uma atualização gráfica para se destacar em 2020, apesar da situação da resolução na PS4 Pro (versão que jogamos) ser estranha. Os ecrãs de loading e os elementos do menu são altamente nítidos, mas o gameplay em si não partilha dessa mesma nitidez e parece correr numa resolução muito mais baixa. É um pouco bizarro e incomodativo, mas vais-te habituando.

Cover image for YouTube videoCrash Bandicoot™ 4: It’s About Time – Gameplay Launch Trailer

Crash Bandicoot 4 é um jogo cujo design é altamente familiar ao dos 3 primeiros jogos da série, os grandes clássicos que ainda hoje são relembrados com carinho e a inspiração para esta nova entrada. A Toys for Bob apresenta-te assim um jogo de plataformas, com forte foco na sensação de profundidade, constante troca de perspetiva e secções onde o teu timing deve ser minucioso para não teres de repetir checkpoints vezes sem conta. Crash Bandicoot 4 mostra a implementação de um modo pensado para a audiência moderna como o seu padrão, com diversas ajudas, mas também apresenta um clássico. Na interpretação moderna, podes morrer quantas vezes quiseres e não terás de reiniciar o nível, apenas o checkpoint, além disso, se perderes demasiadas vezes numa secção, o jogo implementa um novo checkpoint mais perto e até te dá proteção se estiveres a perder mesmo muitas vezes. O modo clássico dá-te um número fixo de vidas e força-te a repetir o nível do início se perderes todas.

Mostra que a Toys for Bob foi ponderada na hora de atualizar a fórmula da Naughty Dog e que apesar de se encostar à familiaridade, não teve medo em mostrar que adora os clássicos e que sabe como os modernizar. Esta funcionalidade permite que o jogo seja recomendável para todo o tipo de jogadores, de todas as idades, mas não invalida que Crash Bandicoot 4 apresente níveis diabólicos. Ao longo destas jornadas temporais para derrotar os planos de diversos vilões da série, passarás por diversos locais e terás de percorrer secções aos saltos com timing perfeito, demonstrar uma boa gestão da sensação de profundidade e até seguir em carris pelo meio de baías repletas de barcos piratas naufragados. Tudo a relembrar o estilo clássico, mas com ideias novas e frescas que glorificam o conceito de um jogo difícil.

Difícil, metódico e ritmado

Crash 4 revela um equilíbrio saudável entre legado e novidades pois de um lado tens o gameplay clássico e tradicional com as plataformas, onde terás de saltar e acertar na sensação de profundidade, do outro tens novos elementos como novos personagens ou as máscaras. Já falarei disso, mas agora quero abordar o quão difícil, metódico e ritmado é este Crash 4, de uma forma que mostra como a Toys for Bob adora a trilogia original e soube onde investir as suas forças para criar uma sequela à altura.

A experiência Crash Bandicoot apostou na perspetiva 3D para tornar mais difíceis as secções de plataformas vistas através das costas dos personagens, com ocasionais momentos em perspetiva lateral para uma dinâmica diferente. Apesar dos níveis vibrarem com cenários espetaculares, ricos em detalhe e com uma rica sensação de camadas entre locais, a filosofia mantém-se. Mesmo com o maior dinamismo de uma troca mais frequente de câmara, segmentos on-rails a lembrar Ratchet and Clank ou perspetivas mais cinematográficas que glorificam o esforço nos ambientes quase estilo Pixar, Crash 4 mantém-se fiel aos originais e isso significa um gameplay exigente e ritmos perfeitos. Caso contrário, repetirás exaustivamente checkpoints porque não tens ritmo ou reflexos suficientes para te movimentar pelos obstáculos.

Cover image for YouTube video

"Existe um saudável misto entre familiar e novidade, através do qual o design clássico é o suporte para novas mecânicas divertidas."

Mesmo pedindo tanto de emprestado ao trabalho da Naughty Dog (corridas com o urso na neve, mota de água ou numa pequena e adorável criatura no meio de uma selva pré-histórica, por exemplo), Crash 4 mostra que é possível recriar uma experiência de outra era, modernizá-la e contextualizá-la para novas gerações e ainda criar algo vibrante, energético, divertido, viciante e que tem o seu mérito próprio.

As máscaras, mais personagens jogáveis e a era moderna

Onde Crash Bandicoot 4: It's About Time se diferencia dos clássicos originais da PS1 é na nova faceta do gameplay, na forma de máscaras que te conferem poderes especiais e com secções específicas que vão desafiar os teus reflexos. Ao longo da jornada, Crash e Coco descobrem outros personagens, como Tawna, Cortex e Dingodile com os quais podes jogar nos seus níveis específicos. Cada um tem habilidades e movimentos específicos, com níveis pensados especialmente para eles e são uma das principais novidades de Crash 4, mas as máscaras são uma das mais intrigantes funcionalidades deste gameplay que a Toys for Bob preparou.

Se os níveis com Dingodile, Tawna ou Cortex estão moldados para os seus movimentos e gadgets, as máscaras transformam secções inteiras dos níveis principais, jogados com Coco e Crash. É através destas máscaras que notarás a atualização desse gameplay familiar e juntamente com os níveis dos outros personagens, uma ramificação dessa fórmula bem conhecida. Uma máscara que pára o tempo, inverte a gravidade, materializa ou desmaterializa elementos do cenário e uma outra que permite a Crash/Coco rodopiar incessantemente e saltar para chegar mais longe são aquelas que encontras aqui, uma espéice de novos poderes especiais. Como seria de esperar, mudam o gameplay e vão desafiar os teus reflexos. Todas elas acrescentam algo ao formato Crash clássico e algumas delas patrocinam momentos de atirar o comando pelo ar.

Em alguns momentos verdadeiramente espetaculares, terás de parar o tempo e saltar entre plataformas de gelo para chegar ao destino, mas com obstáculos pelo meio e uma janela de tempo pequena, o pânico instala-se e a possibilidade de errar aumenta. É esta mistura de adrenalina, stress, reflexos e agilidade que permitem a Crash 4 envergar aquela sensação gloriosa de triunfo após um bom ritmo nos dedos para completar uma secção. A máscara que materializa itens também origina bons momentos pois a meio dos saltos terás de pressionar no botão de habilidade especial e materializar outros elementos do cenário para progredir.

Cover image for YouTube videoCrash Bandicoot™ 4: It’s About Time – Narrated Gameplay Trailer

"Enquanto fã de Crash Bandicoot, é bom ver que este jogo se preocupa em ser divertido, mesmo que isso signifique não inventar a roda."

É graças a estes elementos que jogar Crash 4 me soube tão bem. Incerto sobre a capacidade de um novo jogo na série feito em 2020 e fiel às origens, fiquei mais do que contente quando dei por mim viciado no jogo. Sim, existem aqueles momentos em que o teu timing tem de ser extremamente rigoroso e as máscaras ajudam a reforçar a sensação que algumas secções são banais e outras infernais, mas no geral, Crash 4 é uma experiência que adorei jogar. Além disso, tens ainda os níveis N.Verted, que além de inverter os cenários também mudam as cores e aplica filtros, tens as Flashback Tapes com mais níveis surreais e ainda modos multi-jogador.

Além da possibilidade de jogar em modo "passa o comando" no checkpoint ou quando perdes, Crash 4 apresenta o modo Bandicoot Battle, no qual até 4 jogadores podem competir localmente para ver quem termina o nível mais depressa ou "Crate a Combo", onde os jogadores competem para ver quem apanha mais caixas. São pequenos acréscimos que reforçam o apelo de Crash 4 para a família e a médio prazo, após a campanha. Onde diria que a Toys for Bob poderia ter feito mais é nas boss fights. Competentes, mas demasiado simples e nenhuma delas memorável ou particularmente difícil.

Um jogo engenhosamente congelado no tempo

Crash Bandicoot 4: It's About Time chega realmente no momento certo e enquanto fã de longa data desta série, cuja paixão pela série saiu revigorada após os 4 recentes remakes, estou rendido ao que a Toys for Bob realizou. Este é um jogo que parecia estar congelado no tempo desde 1999 e foi tirado do gelo para ser apresentado em 2020 como um jogo que preserva a sua identidade. É precisamente isto que permite a Crash Bandicoot vincar a sua singularidade e se por um lado é altamente familiar, é precisamente esse respeito pelo legado conciliado com uma grande estética visual que faz deste Crash Bandicoot 4 um jogo altamente recomendável para os fãs.

Prós: Contras:
  • Segue a fórmula da trilogia original e conquistará quem pedia um jogo feito ao estilo clássico
  • As máscaras dão-te poderes especiais como parar o tempo e isto resulta em segmentos difíceis mas muito divertidos
  • Cenários coloridos, inundados de detalhes e com glorioso efeito de profundidade
  • Diversos personagens jogáveis e alguns deles com mecânicas próprias e diferentes.
  • Cutscenes repletas de humor
  • Inúmeras homenagens à trilogia original com níveis que emulam alguns dos melhores momentos
  • Momentos insanamente difíceis que vão testar reflexos e paciências.
  • Algo de estranho se passa com a resolução e o jogo é menos nítido do que devia ser na PS4 Pro
  • Alguns picos de dificuldade
  • Nenhuma boss fight particularmente assinalável

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Crash Bandicoot 4: It’s About Time

PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series X/S, PC, Nintendo Switch

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Bruno Galvão

Redator

O Bruno tem um gosto requintado. Para ele os videojogos são mais que um entretenimento e gosta de discutir sobre formas e arte. Para além disso consome tudo que seja Japonês, principalmente JRPG. Nós só agradecemos.

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