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Pokémon Sword & Shield Review - A série precisa de uma mega-evolução

A transição da Gamefreak para a Switch não é suave.

Apesar de novidades como a Wild Area e Dynamax, é muito limitado nos conteúdos, experiência e parte técnica. Podia ir mais longe.

Há mais de 20 anos que os fãs de Pokémon sonham com um jogo da série desenvolvido de raiz para uma consola caseira. Desde os seus primórdios que a série sempre esteve associada às portáteis da Nintendo, mas com a chegada da Nintendo Switch, uma consola tanto portátil como caseira (e diga-se com muitas mais capacidades do que a Nintendo 3DS) , esse sonho tão prolongado dos fãs parecia finalmente alcançável, quase palpável. Pokémon Let's Go Pikachu e Let's Go Eevee não foi a concretização desse sonho, com a promessa da GameFreak de que em 2019 haveria um novo RPG de Pokémon dedicado aos fãs de longa data. Esse RPG é Pokémon Sword & Shield. Um novo capítulo na saga principal com uma nova região, novos Pokémon, novas formas para Pokémon existentes e novidades na jogabilidade como o Dynamax.

Será este o jogo com que os fãs tanto sonharam? Lamento ser o portador de más notícias, mas não. A GameFreak pegou nesses sonhos e atirou-os do 22º andar da Carrot Tower (onde os seus escritórios estão sediados). Pokémon Sword & Shield segue a fórmula tradicional de Pokémon que já conheces: escolhes um starter, tens um rival, conquistas os oito crachás dos ginásios, ganhas a liga e capturas os Pokémon Lendários que aparecem na capa. Para quem já jogou qualquer outro jogo da saga, será uma experiência altamente familiar. Até agora este tem sido o modo operandi da GameFreak desde os primeiros jogos para o Gameboy lançados em 1996. Foram implementadas desde então inúmeras melhorias de qualidade de vida que tornam a experiência melhor, mas na sua essência, os jogos de Pokémon pouco mudaram.

A Wild Area, a primeira amostra de um Pokémon em mundo aberto?

A Wild Area é a novidade mais entusiasmante de Pokémon Sword & Shield. Não é de perto nem de longe comparável à experiência que tiveste em Breath of the Wild ou qualquer open world de renome nesta geração, mas pelo menos ajuda a desenjoar do resto do mapa, que continua a resumir-se a estradas / passeios apertados em que as oportunidades de exploração são escassas. A Wild Area é uma grande área aberta no centro do mapa de Galar. É nesta área que podes encontrar poderosos Pokémon que percorrem o overworld e participar nas Max Raid Battles. Há também um mini-jogo em que fazes corridas por tempo com a Rotom Bike, itens para apanhar e muitas árvores para apanhar berries.

Cover image for YouTube videoPokémon Sword e Pokémon Shield - Bem-vindos à região de Galar! (Nintendo Switch)

É um mundo aberto condensado e isto sente-se na navegação. Tanto está bom tempo numa zona da Wild Area como de repente estás a apanhar com tempestades de areia e de neve - as transições de bioma são muito bruscas. O que dá gosto de ver na Wild Area são os muitos Pokémons a sair da vegetação e a caminhar no mundo. Os tipos de Pokémon que aparecem mudam conforme a hora do dia e as condições meteorológicas, o que ajuda a transmitir a sensação de um mundo dinâmico. Apesar disto, a Wild Area está longe de ser perfeita e mostra as debilidades técnicas do jogo como um todo. Os problemas técnicos da Wild Área - pop-ups constantes de objectos e Pokémon, texturas fracas e esticadas, pouca densidade de vegetação e outros elementos para preencher o espaço - mostram que a Gamefreak está extremamente mal preparada para a transição da Nintendo 3DS para a Nintendo Switch.

"A Wild Area está longe de ser perfeita e mostra as debilidades técnicas do jogo como um todo"

Ainda assim, como protótipo de um jogo em mundo aberto de Pokémon, a Wild Area tem potencial. Futuramente, a Gamefreak deveria explorar melhor o conceito se estiver interessada em evoluir seriamente a série Pokémon (se os jogos da 3DS já demonstravam uma necessidade de evolução, este novo conjunto para a Nintendo Switch gritam por isso).

Dynamax e Max Raid Battles - O que é isso?

O Dynamax é a nova gimmick que a Gamefreak criou para Pokémon Sword & Shield, sendo comparável de certa forma às Mega Evoluções e Z-Moves (ambas estas mecânicas não estão presentes nestes novos jogos). Com o Dynamax os Pokémon conseguem aumentar imenso de tamanho, assumindo efectivamente proporções gigantescas. Esta transformação tem, como seria de esperar, regras. Em cada combate apenas um Pokémon pode fazer Dynamax e este estado só dura três turnos, voltando depois às suas dimensões normais. Além disso, o Dynamax só é possível em sítios específicos da região de Galar, onde um tipo de energia é particularmente forte. Os ginásios estão construídos em cima destes sítios, por isso só nesses combates é que tens a oportunidade de fazer Dynamax aos teus Pokémon.

Desde Pokémon X & Y que a Gamefreak tem tentando introduzir novidades na jogabilidade de Pokémon. Primeiro vieram as Mega-Evoluções, depois os Z-Moves. Até agora, essas novidades não passaram de apêndices, tanto é que foram descartados nestes novos jogos. Embora não me pareça que o Dynamax venha para ficar, gosto da espectacularidade que dá às batalhas. Ter dois Pokémon gigantes a enfrentarem-se é um momento nunca antes visto na série Pokémon. Como estes momentos só acontecem nas batalhas dos ginásios e nas Max Raid Battles, o Dynamax não é banalizado ao longo do jogo e consegue manter-se especial. O único senão é que os ataques dos Pokémon quando estão em forma Dynamax são pouco variados. Depois, há erros de lógica, como os treinadores ficarem à frente (e não atrás) quando dois Pokémon gigantes estão a combater - os ataques têm uma área de explosão enorme e os treinadores certamente morreriam.

Há Pokémon raros que conseguem fazer Gigantamax em vez de Dynamax, alterando a sua aparência física. Nesta imagem podes ver a versão Gigantamax de Drednaw.

As Max Raid Battles estão associadas ao Dynamax. As Max Raid Battles são encontradas na Wild Area nuns esconderijos simbolizados por um feixe de luz cor-de-rosa visível de longe. Quando estes feixes de luz estão a ser emitidos, significa que há um Pokémon poderoso naquele esconderijo. Para o enfrentares e capturar, tens que participar numa Max Raid Battle. São lutas contra Pokémon Dynamax em que podes convidar até quatro amigos para se juntarem a ti e combaterem juntos. Essencialmente, são uma adaptação das Raid Battles de Pokémon Go. Nestes combates, os Pokémon variam de poder. Antes de iniciares a Max Raid Battle, tens um ecrã de informações em que vês as estrelas associadas àquele Pokémon (quantas mais estrelas, mais poderoso é) e onde podes escolher o teu Pokémon para combater (só podes usar um nestes casos).

"Ter dois Pokémon gigantes a enfrentarem-se é um momento nunca antes visto na série Pokémon"

Falta referir que com a introdução do Dynamax, cada Pokémon tem agora um nível de Dynamax associado. Os Pokémon capturados nas Max Raid Battles têm sempre um nível maior do que os Pokémon capturados nas outras áreas, no entanto, é possível aumentar o nível de Dynamax através dos Dynamax Candies que ganhas sempre que terminas uma Max Raid Battle.

Pokémon no overworld, um bom compromisso

Em Pokémon Sword & Shield os Pokémon aparecem de duas formas. A forma mais evidente é no overworld, ou seja, aparem no mundo do jogo, mesmo à tua frente, sem se esconderem na relva. Contudo, para manter o efeito surpresa de encontrar os Pokémon, a Gamefreak também manteve o método antigo. Ao percorreres a vegetação, vais ver ocasionalmente movimento entre as ervas. Se fores de encontro a esse sítio, vai aparecer-te um Pokémon. Em quase todas as áreas há Pokémon que não aparecem no overworld, obrigando-te a recorrer ao método antigo. É um excelente compromisso entre os jogos tradicionais e o método introduzido por Pokémon Go, permitindo que o mundo seja mais vibrante e animado. O problema, que já foi referido, são os pop-ups de Pokémon - acontece mais na Wild Area, mas não deixam de ser um problema no resto do mapa.

O Pokémon Camp é uma aproximação aos momentos de ternura com os Pokémon que sempre viste no desenho animado.

Outra coisa que a GameFreak tentou fazer várias vezes nos jogos da 3DS foi criar um laço de amizade entre o treinador e os Pokémon através do Pokémon Amie e outras funcionalidades. Em Pokémon Sword & Shield isso convergiu no Pokémon Camp. Esta é uma funcionalidade que podes activar sempre que quiseres, permitindo-te montar uma tenda e interagir com os teus Pokémon todos em simultâneo, atirando uma bola e falando com eles. A grande diferença no Pokémon Camp é que não estás a dedicar exclusivamente a tua atenção a um Pokémon de cada vez, o que é óptimo e parece mais natural (semelhante as cenas que tens no anime de Pokémon). No Pokémon Camp também podes descobrir e experimentar as muitas receitas de Caril que podes fazer com os berries, o que também aumenta o teu laço de amizade com os teus Pokémon - se o fizeres, vão surpreender-te nos combates, desviando-se mais vezes de ataques e sobrevivendo a golpes que em ocasiões normais os derrubariam.

Pokédex limitada - já não podes apanhá-los a todos!

Apesar da Gamefreak introduzir ideias engraçadas em Pokémon Sword & Shield - como a Wild Area e Dynamaxing - os novos jogos para a Nintendo Switch são uma regressão em termos de conteúdos comparativamente a jogos anteriores. A National Dex foi removida, o que significa que não podes apanhá-los a todos, que sempre foi o lema da série Pokémon. O embargo desta review não me permite dizer o número total de Pokémon que podes capturar nem a quantidade de novos Pokémon introduzidos, mas há muitos, mesmo muitos, que ficaram de fora. É uma decisão incompreensível e difícil de justificar. Se nos jogos da Nintendo 3DS havia National Dex, porque não mantê-la nos jogos da Nintendo Switch? Certamente que o problema não é limitação de hardware. Como se a redução da Pokédex não fosse já uma alienação para os fãs, a GameFreak também fez um grande corte na quantidade de ataques (e outros tipos de movimentos) existentes, mais uma decisão que não é fácil de engolir.

Mas estes estão longe de ser os únicos inconvenientes dos novos jogos de Pokémon. A experiência é tão fácil e o hand-holding tão constante que se torna irritante. Os teus Pokémon estão constantemente a ser curados por NPCs que intervêm. No mapa do jogo tens sempre assinalado o sítio para onde tens que ir a seguir, retirando qualquer necessidade de raciocínio ou esforço mental. Todos os teus Pokémon ganham experiência no final de um combate resultando eventualmente numa vantagem significativa de nível comparativamente a todos os adversários que vais encontrar no jogo. Os treinadores de ginásio continuam a ter apenas três ou quatro Pokémon, enquanto tu podes ter seis. Percebo perfeitamente que a Gamefreak queira criar um jogo para todas as idades, mas a existência de um modo de dificuldade mais elevado não entra em conflito com essa faceta. Neste momento, a Gamefreak está surda ou a ignorar propositadamente os fãs que imploram por uma experiência de Pokémon mais desafiante (eu incluído).

A reciclagem e as limitações técnicas

A limitação na Pokédex até seria aceitável se a Gamefreak tivesse criado de raiz todos os assets para Pokémon Sword & Shield. Todavia, não foi isso que verificamos. Há, de facto, conteúdos reaproveitados dos jogos da 3DS, seja nos modelos dos Pokémon, seja nas animações. As animações, em particular, estão completamente ultrapassadas para um jogo da Nintendo Switch. Seria de esperar que um ataque como o Double Kick fosse um pontapé duplo, no entanto, este ataque resume-se a um saltinho do vosso Pokémon (sem sair do sítio e sem mexer os pés) e a um símbolo de um pontapé que aparece no Pokémon adversário. Na sua grande maioria, as animações dos ataques físicos (isto é, em que há supostamente contacto corpo-a-corpo) precisam de ser renovadas. Há animações, principalmente de novos ataques, que sobressaem pela positiva, mas isto é a excepção e não a regra.

"É evidente que a série Pokémon precisa de uma renovação a nível de tecnologia para evoluir"

É evidente que a série Pokémon precisa de uma renovação a nível de tecnologia para evoluir. A transição da Nintendo 3DS para a Nintendo Switch mostra claramente isso. Numa série em que cada novo jogo vende vários milhões de unidades, é impossível que a desculpa sejam limitações de orçamento. Se estes jogos fossem para a Nintendo 3DS, seriam impressionantes. Na Nintendo Switch, uma consola em que os padrões de qualidade são naturalmente mais elevados, destacam-se pela negativa. Caminhando já para o seu terceiro aniversário, a Nintendo Switch já provou que é capaz de mais do que isto.

De um ponto de vista meramente artístico, a região de Galar é bonita! A Gamefreak tem bons artistas e até gosto bastante da direcção de design dos vários Pokémon (obviamente que isto será sempre subjectivo), mas não há dúvidas que num videojogo a arte sobressai mais quando há boa tecnologia para a suportar. Em Pokémon Sword & Shield somos constantemente distraídos por aliasing (o efeito serrilhado), pop-ups, demasiadas texturas de baixa resolução e pequenas quebras de framerate (não são constantes, mas acontecem).

A história e o que há para fazer depois do final

Não tenho muito para dizer sobre a história de Pokémon Sword & Shield. É uma história leviana com os mesmos temas de sempre: treinadores de Pokémon que querem tornar-se os melhores do mundo. O teu rival, Hop, vai tornando-se cada vez mais irritante. É uma personagem meramente desenhada para derrotares constantemente e te sentires superior, com pouquíssimo desenvolvimento ao longo da narrativa. Já Bede, outro dos teus rivais, é uma personagem muito mais interessante e que causa mais impacto sempre que aparece, crescendo cada vez mais à medida que a história desenrola. Neste jogo não há propriamente nenhuma equipa de vilões. Existe a Team Yell, que são um grupo de fãs da Marnie, um treinadora que também quer tornar-se campeã de Galar. As acções da Team Yell são mais engraçadas do que propriamente maldosas.

Cover image for YouTube videoPokémon Sword & Shield - Team Yell, Bede and Marnie trailer

Para terminares a história, vais demorar entre 22 a 25 horas. Depois dos créditos rolarem, a história continua mais um pouco, durante cerca de 1 hora. No que toca a post game, mais uma vez o embargo impede-me de revelar concretamente o que há para fazer, mas não é muito (a quantidade de coisas para fazer é semelhante ao post game de Pokémon X & Y, por exemplo). Quem esperava muitos conteúdos para fazer depois da conclusão da história vai ficar desiludido. Ainda não foi desta que a Gamefreak fez algo semelhante a Pokémon Gold & Silver, em que havia um mapa inteiro para explorar depois do final.

Pokémon Sword & Shield Review - É Pokémon e basta?

A franquia Pokémon tem um charme e apelo inerente, não é à toa que a marca Pokémon é, entre outras marcas de media como Star Wars e o Universo Cinemático da Marvel, a mais rentável de sempre, com receitas estimadas de $95 mil milhões desde 1996 (dos quais $17 mil milhões vieram dos videojogos). Com uma marca tão poderosa no nome, torna-se cada vez mais difícil de entender, na pele de alguém que joga Pokémon desde sempre, que os jogos sejam tão pouco ambiciosos e tenham perdido a capacidade de surpreender e inovar. É perfeitamente possível manter os valores fundamentais da experiência Pokémon e de expandir o conceito do jogo, mas a Gamefreak parece demasiado presa ao passado. Mais do que isso, está neste momento em conflito com os fãs, cortando coisas da experiência Pokémon que nunca ninguém pediu para serem cortadas. Em última instância, Pokémon Sword & Shield ainda são capazes de oferecer momentos agradáveis aos fãs da série, mas a experiência está muito longe daquilo que podia ser.

Prós: Contras:
  • O Dynamax e Gigantamax tornam as batalhas mais épicas e espectaculares
  • Design arrojado nos novos Pokémon
  • A Wild Area tem potencial para o futuro
  • Ver os Pokémon à vista desarmada torna o mundo mais vivo
  • O Pokémon Camp é uma forma engraçada e fácil de melhorar a relação com os Pokémon
  • A Wild Area é rudimentar
  • Tecnicamente é muito fraco
  • Corte na Pokédex e quantidade de ataques
  • Demasiado fácil, falta-lhe um modo mais desafiante
  • Muito agarrado à fórmula tradicional

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Jorge Loureiro avatar

Jorge Loureiro

Editor

É o editor do Eurogamer Portugal e supervisiona todos os conteúdos publicados diariamente, mas faz um pouco de tudo, desde notícias, análises a vídeos para o nosso canal do Youtube. Gosta de experimentar todo o tipo de jogos, mas prefere acção, mundos abertos e jogos online com longa longevidade.

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