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Anthem - Análise - Um mundo bonito, mas vazio

Esperava-se melhor da Bioware.

Um jogo de loot com um mundo bonito, mas vazio. Pobre em conteúdos, diversidade e com desempenho instável.

Já alguma vez entraste numa casa acabada de construir? Toda a forma da casa já está implementada, desde os pilares de apoio até às coisas mais simples como portas e janelas. A casa até reluz e brilha por fora, e assim que entras, até podes pensar que aquilo poderá vir a ser um bom sítio para morar, mas antes que isso possa acontecer, vais precisar de mobilar a casa com sofás, camas, os electrodomésticos da cozinha e todas as outras coisas necessárias para que possas viver lá confortavelmente. Anthem é basicamente uma casa acabada de construir. É bonita e reluzente por fora, mas por dentro não tem nada. É isto o que sinto depois de ter jogado 29 horas do novo jogo da Bioware, sendo que as últimas foram passadas a repetir constantemente os únicos três Strongholds existentes.

Desde que Anthem foi revelado na E3 2017 que sempre tive esperança na nova propriedade intelectual da Bioware, mas simultâneamente mantive uma dose de cepticismo. Sabia, por experiência em primeira mão, que os chamados "jogos vivos" não são fáceis de criar e de gerir, nem mesmo para um estúdio com tanta experiência como a Bioware, um nome forte na indústria dos videojogos imediatamente associado a ícones do género RPG como Mass Effect, Dragon Age, Star Wars: Knights of the Old Republic e Baldur's Gate. Não vou tentar fundamentar o que correu mal em Anthem. Pode ter sido falta de tempo e a pressão da EA para lançar o jogo neste ano fiscal, pode ter sido a inexperiência da Bioware em criar um jogo destes, ou talvez uma junção dos dois. O que é certo é que Anthem é um jogo que nos desilude, com pobreza de conteúdos e falta de imaginação nos mesmos.

Nas primeiras horas, quando ainda estamos a conhecer o jogo, Anthem causa uma impressão positiva com o seu mundo vertical. Há cascatas com centenas de metros, árvores gigantes em que podemos aterrar na cúpula e observar o cenário em redor, ruínas de civilizações anteriores, massas de água nas quais podemos mergulhar e diferentes tipos de fauna e flora. Sair da base, mergulhar com o Javelin (as armaduras de Anthem) no ar e activar os propulsores para começar a voar é uma sensação espantosa. Mas depois, a repetição começa a instalar-se. Num jogo em que o núcleo e o apelo é obter melhores equipamentos, haverá sempre uma inevitável repetição, até porque nenhum jogo é infinito em novidades. No entanto, no caso de Anthem, a sensação instala-se demasiado cedo e continua até ao final.

"O que é certo é que Anthem é um jogo que nos desilude, com pobreza de conteúdos e falta de imaginação nos mesmos"

O facto de que o endgame (as actividades depois de concluíres a história) se resumem a três Strongholds e a contractos lendários (que desbloqueias depois de chegares a nível 30) é preocupante. Os três Strongholds em questão, que são missões compridas com bosses únicos no final, são os mesmos que já tinhas concluído durante a progressão da história. Há mais missões em Anthem que podes aceitar das várias facções em Fort Tarsis, mas não consigo distinguir uma da outra, parecem todas iguais devido à repetição de objectivos e à pouca diversidade de adversários. Costumo dizer que o final da história é onde os jogos de loot começam, mas no caso de Anthem, não consigo dizer o mesmo. A história foi o que tornou o jogo tolerável e minimamente interessante. Assim que a história acaba, resta apenas repetir os mesmos strongholds infinitamente em dificuldades mais elevadas na esperança de receber equipamentos lendários e masterwork (os mais raros).

Cover image for YouTube videoANTHEM - A PRIMEIRA HORA - LEGENDADO PT-BR

Mas será que a falta de conteúdos a repetitivdade impede a diversão? Não totalmente. Como um jogo desenhado para para ser jogado em grupos de quatro, Anthem tem momentos satisfatórios. Fazer as habilidades das diferentes classes de Javelin - Storm, Interceptor, Ranger e Colossus - é entusiasmante, mesmo quando o fazes pela milésima vez, se bem que o jogo nunca te explica como funciona esta mecânica tão importante para os níveis de dificuldade mais elevados. Na companhia de amigos, é um jogo melhor, mas isto é uma verdade absoluta para qualquer jogo cooperativo. Com estranhos a experiência não é má depois de teres concluído a história, no entanto, antes disso, vais apanhar missões que já estão a meio e jogadores a apressarem-se para o próximo objectivo, provocando até ecrãs de loadings adicionais (coisa abundante em Anthem) para ti, visto que o jogo só te dá 20 segundos para chegares à próxima área.

"Como um jogo desenhado para para ser jogado em grupos de quatro, Anthem tem momentos satisfatórios"

A jogabilidade está bem trabalhada e, para um estúdio que não tinha experiência em criar jogos de tiros (o Mass Effect tinha essa faceta, mas não era um jogo de tiros puro e duro), manejar e disparar as armas dá uma sensação de satisfação e de segurança. O jogador sente-se em pleno controlo do que está a acontecer, o que é excelente. A movimentação dos Javelins no ar está muito melhor em comparação com a demo e a sensação de voar quase livremente (existe um limite vertical!) pelo mundo é imbatível. Até o design sonoro ajuda a transmitir a sensação de que estamos a controlar um exoesqueleto, com sons mecânicos e hidráulicos a serem emitidos a cada passo dado. Há, contudo, algo particularmente irritante: certos inimigos podem deixar a tua personagem estática, completamente vulnerável a ataques de grandes grupos de inimigos. Para um jogo em que a jogabilidade foi desenhada para te dar uma grande liberdade de movimento, a existência disto (e fica pior nas dificuldades mais elevadas) é uma antítese.

Podes personalizar as cores e materiais do teu Javelin, mas para adquirires novos Vinyls precisas de gastar uma moeda que pode ser adquirida in-game ou com dinheiro real.

Por outro lado, para um jogo de loot, há uma enorme falta de personalidade nas armas. Há pouca variedade no design das armas e no seu comportamento. As armas masterwork têm poderosos perks e estatísticas que as colocam acima das restantes, mas tirando isto, não são armas radicalmente diferentes das restantes. A única diferença visual é um skin colorida, mas dá para perceber que o modelo das armas masterwork são exactamente iguais às armas mais fracas. Portanto, para um jogo baseado em melhorar a tua personagem, ganhar loot poderoso não é assim tão entusiasmante. Portanto, se juntarmos isto ao facto de que apenas tens três strongholds para repetir, percebes como Anthem se pode tornar rapidamente num jogo aborrecido e que não te apresenta fortes argumentos para continuares a jogar depois de terminares a história.

A história está longe de estar ao mesmo nível do que a Bioware apresentou no passado, mas dá um propósito ao mundo de Anthem e apresenta personagens que foram crescendo ao longo da narrativa mas, que depois de chegares ao final, desaparecem completamente. Por vezes, parece que o jogo tinha uma direcção e que a meio do desenvolvimento foi transformado numa coisa diferente do seu propósito original. É umapossível explicação para as decisões bizarras como a perspectiva na primeira pessoa no Fort Tarsis, os confusos menus para iniciar uma missão, a existência de loadings quando estás no mundo aberto e passas para zonas interiores, a ausência de conversa por texto, e os aborrecidos objectivos de facções que nos pedem para repetir dezenas de vezes um certo tipo de actividade, que parecem um penso-rápido para aumentar facilmente a longevidade sem a necessidade de criar novos conteúdos.

Anthem precisava de mais missões com bosses distintos. As Strongholds são o melhor conteúdo do jogo, mas só existem três.

Há ainda a questão do desempenho horrível e da falta de estabilidade, mesmo depois das primeiras actualizações. A não ser que tenhas um PC monstruoso com o hardware mais potente e mais recente, não esperes jogar consistentemente a 60 fps. Uma prova da má optimização é que mesmo reduzindo a qualidade dos gráficos, a instabilidade do desempenho mantém-se. O rácio dos fotogramas oscila constantemente entre 40 e 50, caindo nos momentos de maior acção para a casa dos 30. A taxa de actualização dos servidores também parece ser baixa e ao longo da nossa experiência houve atrasos a registar o dano e os nossos movimentos, havendo casos em que nos desviamos para trás de um obstáculo mas ainda sofremos o dano do tiro. Depois temos os loadings, que num disco HDD são tão grandes que tens tempo de ir à cozinha e tirar um café.

De um estúdio como a Bioware, esperava-se melhor. Anthem é um jogo que, infelizmente, repete a história de Destiny e The Division: é um jogo com poucos conteúdos, falta de diversidade e que demasiado cedo se encosta a um loop aborrecido se quisermos melhorar a nossa personagem. Há falta de mais actividades que não sejam simplesmente defender uma área. Não há nada comparável a uma raid. Depois de concluíres a história, não podes sequer repetir essas missões. O mundo é bonito e a jogabilidade apelativa, mas isso não chega. No futuro, Anthem poderá vir a ser um jogo muito melhor, mas ainda tem um longo caminho a percorrer. É um jogo inacabado, lançado numa actualidade em que existem melhores propostas.


Confere todos os nossos guias sobre Anthem:

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Anthem

PS4, Xbox One, PC

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Sobre o Autor
Jorge Loureiro avatar

Jorge Loureiro

Editor

É o editor do Eurogamer Portugal e supervisiona todos os conteúdos publicados diariamente, mas faz um pouco de tudo, desde notícias, análises a vídeos para o nosso canal do Youtube. Gosta de experimentar todo o tipo de jogos, mas prefere acção, mundos abertos e jogos online com longa longevidade.

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