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A licença da Platinum Games para brilhar ao nível hardcore

A originalidade é um risco que poucas editoras querem assumir.

Através da instalação definitiva do formato digital na geração anterior de consolas, os jogos em formato físico confrontaram-se com a maior ameaça à sua existência. Para as editoras, isso significou a redução de alguns custos, especialmente no fabrico de manuais. As instruções passaram a integrar o jogo numa secção a partir do quadro de opções, quando necessário. Para os retalhistas, os jogos em formato digital conduziram a uma apertada mudança no negócio. As promoções e vagas de saldos nas lojas online tornaram-se de tal modo frequentes, impossibilitando qualquer margem de negociação ao mesmo nível. Perderam os retalhistas, sobretudo os pequenos retalhistas independentes, hoje em muito menor número do que há uma ou duas décadas, quando o negócio do jogo em caixa era rentável e duradouro.

Hoje, poucos meses e nalguns casos apenas em semanas, dependendo da performance do jogo, as lojas online reduzem os preços com a facilidade de um mágico em sacar coelhos da cartola. Às vezes parece tão óbvio esperar um pouco até conseguir aquele jogo a um preço mais simpático. E no entanto, ao adquirirmos por via online, sujeitámo-nos à disponibilidade do jogo enquanto permanecerem as licenças e os servidores estiverem ligados. Presume-se que para sempre, o que nos deixa apagar um jogo por falta de espaço no disco para o título mais recente e voltar a descarregá-lo meses ou anos depois, com a mesma tranquilidade. Os servidores são amigos.

Mas e se uma licença com a editora não é renovada? Se a aquisição do jogo é anterior à expiração do uso da licença, não haverá problema. Poderão descarregar as vezes que quiserem. Uma vez removido um jogo da loja online, resta o formato físico, para o caso de existir. Vem isto a propósito da recente remoção de alguns jogos produzidos pela Platinum Games, uma produtora japonesa fundada por membros do Clover Studio, um antigo braço da Capcom dedicado à produção de jogos originais e que viu fugir do mercado algumas das suas produções.

Acção non stop, múltiplas transformações e constante apetrechamento das personagens em Transformers: Devastation.

Desde Madworld, Bayonetta e o sempre esquecido Infinite Space, que a Platinum demonstrou a habilidade em produzir experiências de acção hardcore, jogos extravagantes e inconfundíveis no seu estilo, arte e mecânicas. Não sabíamos é que tão depressa se tornaria numa das produtoras a ver escapar por entre os dedos a validade de algumas licenças. Transformers: Devastation e Teenage Mutant Ninja Turtles: Mutants in Manhattan poderão não ser os mais brilhantes exercícios da sua criatividade e do seu esforço em atingir o supremo nível de um Bayonetta, mas recuperaram uma imagem algo diluída em tempos recentes, graças à Activision. Sem a renovação do acordo que ligava a Activision às editoras de ambas as séries, os jogos acabaram removidos das lojas online e para o retalho não foram enviadas mais unidades.

Se não conseguiram nenhum destes dois jogos e pretendem jogá-los, não desanimem porque não sendo raridades ainda não atingiram o grau de culto nostálgico. Em parte por serem jogos recentes, mas sobretudo por ficarem abaixo do padrão de qualidade esperado por uma Platinum Games. Eu comprei o Devastation, via online, numa promoção de final de ano, em 2015, poucos meses depois do lançamento. Não sendo brilhante, depressa chegou ao trono dos meus jogos favoritos Transformers. A sensação de que o jogo seguinte, na série, não será tão bom só reforça a qualidade da produção da Platinum.

Recentemente fiz o mesmo exercício às tartarugas ninja, mas comprei a caixa em promoção, das poucas que os retalhistas procuram escoar. Tinha lido na diagonal algumas análises, sendo ponto comum o falhanço de um dos pressupostos maiores, a experiência cooperativa. Dei por mim a passar mais de meio jogo sem necessidade de me conectar online (poucos serão os que ainda se ligam à procura de camaradas para partilhar uma pizza enquanto abrem fogo sobre alguns dos maiores "bosses" das ninjas), entregue a uma onda de solidariedade nos golpes e na estratégia.

Regresso às raízes arcade das tartarugas ninja em Mutants in Manhattan, agora com o fulgor artístico, visual e mecânico da Platinum.

Pese embora as fragilidades (não é tão sofisticado ou evoluído como um Vanquish), a magia Platinum está intacta, a mesma de Anarchy Reigns. A acção é transbordante, podemos melhorar os nossos poderes e habilidades e saio de cada nível como se o tivesse jogado numa arcade em plenos anos noventa. A Platinum cria um estilo inconfundível nos seus jogos, mas nós é que deixamos de estar acostumados às suas experiências e às combinações constantes de movimentos. A Platinum esforça-se por nos dar mais Play e menos Role, querem que joguemos cada título seu como se fosse o último.

Possivelmente, a Platinum acostumou-se à nossa menor adaptação ao género arcade e agora os seus projectos não florescem tão depressa. Haverá um Bayonetta 3, a jogar em fonte segura, mas pouco há ainda de concreto no que toca a outras produções. NieR: Automata trouxe o melhor da produtora japonesa, mas gostava de os ver regressar ao estilo Vanquish ou Metal Gear Rising Revengeance. Melhor do que isso, só produções inteiramente originais, suportadas pelas grandes editoras e sem licenças com final à vista, para que no final, daqui por décadas, outros possam experimentar alguns dos jogos mais incríveis e originais.

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Sobre o Autor
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Vítor Alexandre

Redator

Adepto de automóveis é assim por direito o nosso piloto de serviço. Mas o Vítor é outro que não falha um bom old school e é adepto ferrenho das novas produções criativas. Para além de que é corredor de Maratona. Mas não esquece os pastéis de Fão.

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