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Nintendo Switch: uma consola com um conceito fantástico

Mas estará a Nintendo a gerir o seu lançamento da melhor forma?

Passou já uma semana desde o anúncio revelação da Nintendo Switch. As reacções à nova consola da Nintendo, ao seu preço, alinhamento dos jogos de lançamento, preço dos acessórios e preço dos jogos, têm sido diversas ou mistas. O assunto tem sido praticamente dominante e todos os dias surgem novos detalhes, principalmente oriundos dos produtores e até responsáveis da editora em resposta às questões da imprensa. De um modo geral e nos media, a Switch foi bem recebida, especialmente pelo seu conceito híbrido, embora a Nintendo mantenha o conceito, em termos oficiais, de que a Switch é uma consola essencialmente doméstica, o que a aproxima muito mais de um modelo evolutivo na sequência da Wii U, com possibilidade de ser transportada para longe do televisor, podendo o seu utilizador continuar a experiência em qualquer lado.

No artigo que escrevi após ter jogado na Switch, em Londres, os jogos que farão parte do lançamento e que serão publicados nos meses seguintes, referi que a mesma é uma fantástica peça tecnológica. Na verdade, o conceito da nova consola da Nintendo é algo que há muito tempo se ansiava; uma experiência capaz de garantir uma transição suave e continuada entre jogar em casa e em qualquer lado, individualmente ou com outras pessoas, através de uma simplicidade aprazível e sem barreiras. O ponto da duração da bateria em jogos como Zelda Breath of the Wild, que não permitirá mais do que duas horas e meia, é um indicador revelador das limitações que ainda sentimos hoje, mesmo em 2017. Contudo, temos uma consola com um número muito significativo de jogos, grande parte deles com o selo da Nintendo, podendo ser desfrutados em qualquer lado. Não sendo uma consola exclusivamente portátil, a Nintendo Switch dá um grande passo nesse sentido e ainda que não seja uma consola poderosa em termos de especificações (um pouco melhor que a Wii U), compensa isso com o seu conceito, que a diferencia das demais e a deixa num espaço paralelo, não podendo contudo ignorar as outras consolas pois muitos dos seus potenciais utilizadores também jogam noutras plataformas.

Mas o conceito da Switch é a sua mais valia e pode por aí começar por conquistar as massas. Poder partilhar a experiência com mais pessoas no quadro dos jogos portáteis, dentro daquela variedade de jogos que está a ser contemplada, pelo menos com grandes jogos anunciados até ao Natal de 2017, cria a ideia de confiança com que a companhia de Quioto está a depositar neste novo projecto. No fundo, a Switch é uma incorporação de várias ideias que a Nintendo experimentou previamente, embora sem conseguir implementá-las de uma forma efectiva, bebendo até influências que outras fabricantes testaram. O produto é novo embora contemple ideias prévias, como os controlos por movimentos, o ecrã entre os Joy-Con, os acessórios que também podem funcionar como pequenos comandos sem fios.

Sobre isto as reacções foram amplamente positivas e tanto dos média como dos utilizadores o feedback é colossalmente favorável. Sobretudo há uma percepção de que grande parte da audiência e dos utilizadores estão dispostos a aceitar este afastamento mais progressivo da Nintendo perante as outras fabricantes de consolas, e a abraçar a nova máquina, pelo seu toque distintivo. Mas, como em tantas outras ocasiões de lançamento de uma nova consola Nintendo, o espectro de que a Nintendo está arrumada ou ultrapassada volta à baila. A questão é que no meio de tanto ruído, há que distinguir entre as críticas que espelham realmente preocupações entre os consumidores e o negativismo distante da razoabilidade.

É nos fóruns e entre as comunidades de utilizadores que mais tinta se gasta ou mais caracteres se produzem em "posts" que se sucedem uns aos outros num ritmo quase sacado a cano de metralhadora em pé de guerra. Convirá lembrar que a Nintendo fez mais uma vez uma conferência à sua maneira, útil e eficaz em muitos segmentos, também ela em moldes muito distintos das realizadas por outras editoras. Depois da revelação do preço da consola, aquilo que era aguardado por quase toda a gente, a Nintendo começou por mostrar a especialidade dos Joy-Con, apresentando-os com o 1 2 Switch, um jogo que tira proveito do "rumble" em HD para proporcionar uma série de jogos baseados em comandos por movimentos com mais precisão. Pode discutir-se o alcance deste projecto, mas foi por aqui que a Nintendo começou a polarizar alguma contestação. Contudo, o potencial de um jogo fácil de pegar, partilhar e ser jogado com outra pessoa é grande. 1 2 Switch não é bem um Wii Sports, distingue-se até, pelo que poderá gerar um efeito surpresa.

O evento terminou com uma sequência mais previsível, uma projecção significativa de The Legend of Zelda: Breath of the Wild e a certeza de que vai chegar a tempo do lançamento da Switch. A Nintendo fechou um evento que começou pela confirmação daquilo que muitos queriam ver anunciado: o preço e os jogos. Embora sejam apenas cinco os jogos disponíveis no lançamento, acredito que sejam suficientes e cheguem, pela qualidade e tipo de experiências que proporcionam. O regresso de Bomberman é algo fantástico. Marca o regresso da Konami e de muitos produtores que trabalharam nos originais produzidos pela Hudson Soft., o 1 2 Switch tem imenso potencial, o Zelda é o jogo exclusivo que muitos querem jogar e ainda sobram novas edições de Skylanders e Just Dance, num compromisso com as "third party" através de dois títulos consagrados.

O ponto a partir do qual a Nintendo começa a demonstrar um regresso à velha escola e à política do prestígio sobre uma aproximação aos consumidores, no fundo em gerir todos os aspectos ligados a um sistema que se espera venha a suprir as falhas da pouco rentável Wii U, é a definição do preço, aquilo que os utilizadores terão que desembolsar para acederem ao seu produto. E a dúvida instalou-se de imediato entre os europeus, os primeiros visados. Fixado o preço nos Estados Unidos para 299 dólares, esperava-se que na Europa os retalhistas acompanhassem a conversão (não tem que ser necessariamente directa), mas na base dos 299 euros. O valor anunciado por alguns dos maiores retalhistas como sendo próximo dos 329 euros, 30 euros acima da barreira psicológica, depressa motivou reacções pouco abonatórias.

Se ter de pagar um pouco mais por uma consola que muitas pessoas estavam disponíveis a desembolsar, dentro da expectativa, para ter como primeira ou segunda consola ainda pode passar, é menos compreensível que um comando Pro com cabo USB possa custar 75 euros e que um suporte de carga para dois Joy-Con venha a pesar mais 30 euros na carteira. Mais: que um conjunto de comandos Joy-Con chegue aos 85 euros. Para uma consola pensada para as famílias, como se viu no recente vídeo que mostra o acompanhamento que os pais podem fazer sobre a actividade dos filhos quando estão a jogar, com mais do que duas pessoas interessadas em jogar, a factura de um sistema com um ou dois jogos e mais dois comandos depressa galga valores superiores a um salário mínimo. É verdade que Portugal é um país periférico na Europa, afastado do centro, um mercado cuja dimensão menor o torna secundário, mas estes valores mantêm-se igualmente noutros países, como Reino Unido, França ou Alemanha, e as reacções dos consumidores têm sido idênticas no sentido de todos acabarem por pagar um pouco mais, galgando a barreira psicológica.

Historicamente, a Nintendo sempre lançou as suas consolas e acessórios dentro de uma política de preços algo nivelados por cima e parece que nada irá mudar com a Switch. A Wii é talvez o caso da consola Nintendo doméstica mais acessível, custando 250 euros, isto em 2006, mas era também pouco mais evoluída que uma GameCube e por isso dentro de custos de produção moderados. No entanto, um comando (Wii remote) podia chegar aos 60 euros, preço pelo qual ainda hoje são comercializados, assim como a Wii U continua no mercado com um preço na ordem dos 300 euros. Passando à Switch, a Nintendo parece uma vez mais disposta a seguir a definição dos preços por uma cartilha conservadora, quando se esperava uma prossecução mais em conta para as famílias, de modo a que todos pudessem aceder mais facilmente aos seus produtos.

Compreende-se que fabricar uma Switch seja mais custoso que uma Wii, mas a determinação tão inflexível dos preços, sobretudo dos acessórios, pode ser um obstáculo algo delicado de lidar, formando uma percepção negativa junto dos consumidores moderados. A isto acresce o preço pelos jogos, um assunto que ficou ilustrado esta semana de forma particular, quando a Konami optou por cortar para 49 euros o jogo Bomberman depois de o ter apresentado como um produto com preço de venda de retalho estimado em 59 euros. A Konami teve em conta as reacções dos consumidores e deu um sinal de ajuste na direcção certa. Alguns retalhistas reduziram entretanto o valor de 1 2 Switch, para um preço um pouco mais em conta, para um título que apesar do seu potencial, não parece tão forte em conteúdos como outros, nomeadamente Zelda, com um valor de pré-venda nos 70 euros.

A realidade que vivemos traduz uma aproximação maior ao consumidor. A não ser a Apple, poucas empresas são capazes de definir uma fasquia muito elevada pelos seus produtos e ao mesmo tempo garantir uma quota de mercado dominante ou próxima disso. Guiando-se por uma política de gestão de preços algo em colisão com os consumidores e com os destinatários a que as consolas e os jogos se dirigem, pode a Nintendo criar uma dificuldade que não será fácil de contornar. A Switch chegará ao mercado pronta para ligar ao televisor ou experimentada longe dele, mas sem jogo. Inclui dois Joy-Con e um grip (sem carregador) para os acomodar em forma de comando tradicional, mas se quiserem jogar alguma coisa terão que comprar um dos cinco jogos anunciados. Supondo que uma família decide comprar a consola com dois jogos, sem ponderar um investimento nos acessórios, depressa o valor sobe para 450 euros, nada longe de um salário mínimo. Não é fácil para uma pessoa de idade escolar convencer os pais a desembolsarem essa quantia, tendo os pais jogado NES ou Super Nintendo e percebam que a Switch possa efectuar o clique.

A isto acresce um outro ponto que tem proporcionado igualmente ruído; a criação de um serviço online pago com o qual será possível jogar em rede através de um aplicativo descarregado para o telemóvel. A subscrição do serviço enquadra-se na lógica de outros serviços existentes, mas não tendo a Nintendo libertado informações concretas sobre valores, que tipo de oferta será dada e como irá operar, muitos consumidores permanecem na incerteza sobre alguns dos jogos que tiram proveito quase exclusivo da ligação à rede, como Splatoon 2. Resta saber se neste capítulo a Nintendo vai optar por puxar novamente pelo modelo tradicional ou adoptar uma política mais amigável do utilizador. Para já sabe-se que o serviço só começa em Outubro mas não teria sido má decisão definir desde já muitos dos seus termos, clarificando a mensagem.

Neste momento é quase impossível apurar a prestação da Switch para os tempos seguintes ao lançamento. O tempo dirá se a gestão levada a cabo pela Nintendo, a pouco mais de um mês da chegada ao mercado, se revela como a melhor e mais acertada e se corresponderá às suas expectativas. Neste primeiro ano é o catálogo de jogos da Nintendo que depressa se destaca entre o software em produção para a consola. Existem editoras "third party" a desenvolver jogos específicos para a consola, mas sobre estes ainda não há muitos dados concretos a não ser que estão em produção, dando ideia que muitas "third party" preferem esperar para decidir depois.

A Nintendo espera conseguir uma base sólida e um parque de consolas abundantes nos primeiros meses, a partida para um ano forte. Por enquanto todos os cenários estão em aberto, mas a Nintendo não está só no sector dos videojogos. Mesmo com um produto diferente, são os jogadores e consumidores que votam e há sempre que contar com o peso (forte) das outras editoras, dos novos jogos "third party" e, claro, das outras fabricantes de consolas. A Nintendo tem os seus argumentos, a sua linha de fortes exclusivos e uma audiência muito fiel que marcará presença em Março, mas terá que ser clara na mensagem, sólida na produção e amigável na hora de chegar ao consumidor para chegar ao grande público. O sucesso ou não da Switch não depende só do software e do conceito diferenciador da consola. Existem outras variantes, mas o consumidor espera de uma companhia que tem a maior história e tradição nesta indústria uma abordagem mais próxima e flexível. A Volkswagen começou a produzir o Carocha em 1938, um carro muito diferente dos demais, acessível e fácil de produzir; um carro pensado para o povo. A Switch pode bem ser a consola para o povo, para os mais pequenos e grandes, para pais e filhos, até porque a síntese do software da Nintendo é transversal a qualquer idade. São jogos acessíveis e gratificantes. Gerir o lançamento da Switch a pensar na grande audiência, mais do que nos grandes adeptos, equivalerá a mais de meio caminho andado para o sucesso.

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Vítor Alexandre

Redator

Adepto de automóveis é assim por direito o nosso piloto de serviço. Mas o Vítor é outro que não falha um bom old school e é adepto ferrenho das novas produções criativas. Para além de que é corredor de Maratona. Mas não esquece os pastéis de Fão.

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