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Hitman: Paris - Análise

Agente Episódico.

O formato episódico não estraga um gameplay único e característico. Ainda assim, o seu design precisa desafiar mais.

Hitman - Paris é o primeiro episódio de uma série de sete que chegam a ritmo mensal. Sapienza será o próximo episódio, previsto para a Abril, e teremos a sua análise quando for lançado.

A última vez que ajudamos o Agente 47 a cumprir uma missão foi em 2012, na anterior geração de consolas. Desde essa vibrante e cinematográfica aventura, bem recebida pela imprensa e pelos fãs, surgiu uma nova geração de consolas e uma tendência cada vez mais presente: o lançamento de jogos por episódios cujo desenvolvimento é beneficiado com o feedback da comunidade aficionada da propriedade. Foi precisamente isso que o estúdio IO Interactive decidiu fazer. Voluntariamente ou não isso não sabemos, especialmente depois da controvérsia com o excesso de remasterizações e aparente receio das grandes editoras, como a Square Enix, em se comprometer perante títulos AAA de alto perfil, com elevados custos de desenvolvimento.

O que conta é que depois de alguma confusão em torno do modelo de negócio, e de uma beta que deixou algumas dúvidas quanto à utilização das mecânicas tradicionais de Hitman, temos finalmente o jogo disponível nas lojas digitais. As dúvidas a que me refiro na beta estão relacionadas com a sensação de falsa ilusão perante a experiência. Aquela ideia que tudo é uma elaborada ilusão que o jogador terá que seguir as regras caso contrário irá derrubar a experiência livre e aberta que fica prometida. Algo para o qual se torna essencial um bom design de níveis e uma inteligência artificial cumpridora.

Nesta fase introdutória, Hitman coloca todo o ênfase no nível de Paris, já que os outros dois níveis são exactamente os mesmos que jogaram na beta. Na sede da ICA, vamos entrar no iate ou na base militar, em ambientes de simulação, para conhecermos os alicerces do gameplay e como o IO Interactive recuperou o design dos primeiros jogos, contrariando a linearidade de Absolution. Aqui temos mapas de belo tamanho, que podemos explorar livremente, sempre respeitando as regras deste mundo de assassinatos. A capital Francesa é então o evento principal da estreia de Hitman e nada melhor do que um desfile envolto numa imensa festa para iniciar com pompa e circunstância.

"Hitman chega em formato episódico mas isso não retira mérito à qualidade do gameplay, apenas força maior visibilidade a elementos mais frágeis que de outra forma passariam despercebidos."

Ver no Youtube

Depois de passarem as duas missões na ICA, a primeira é um tutorial praticamente conduzido pela mão e a segunda é uma amostra do verdadeiro potencial de Hitman, o jogador poderá aceder ao luxuoso desfile da Sanguine e colocar em marcha a história do Agente 47. Relembrando os bons filmes de espionagem dos anos 90, o IO Interactive imaginou e elaborou um enorme mapa aberto que o jogador poderá explorar livremente. A estrutura de Hitman é simples. Quando o jogador inicia a missão, recebe um conjunto de oportunidades que terá que descobrir como explorar. Seja escutando conversas ou roubando roubas a figuras específicas, o jogador decide como quer abordar estes locais e eliminar o alvo.

Claro que existe o risco de facilmente banalizarmos a experiência, o IO Interactive faz com que o Agente 47 tombe rapidamente quando acertado por balas mas ainda podem gozar com o jogo e fazer com que isso demore. Mas ninguém quer estragar a experiência assim pois não? Existem diversas oportunidades que podemos seguir e que mudam o comportamento dos personagens alvo e que alteram os nossos destinos pelo enorme palácio. Por todo o lado existem pessoas que não desconfiam de Agente 47 mas existem algumas que conhecem bem os empregados ou os membros de algum grupo e ficam intrigados com a nossa presença-

É no manusear das ferramentas que o jogo coloca ao nosso dispor e na tentativa de alcançar as oportunidades de assassinato que a experiência Hitman é glorificada. Vaguear pelo porão para encontrar uma receita especial para um cocktail mortífero, aceder a áreas reservadas com uma roupa de estilista, seja de que forma for, o jogador terá imensas janelas abertas para percorrer o palácio sem dar nas vistas. A magia de Hitman está aqui. Nesta espécie de quebra-cabeças em que se torna cada uma das oportunidades, que o jogador terá que resolver passo a passo.

Enquanto o jogador está preocupado em localizar os acessos, os caminhos e os locais que possibilidade as oportunidades que nos aproximam cada vez mais do alvo, estamos a criar rotas na cabeça, a ponderar possíveis ameaças e, basicamente, a encarnar o Agente 47. Para tornar ainda mais próspera a sua proposta, o IO inseriu diversas possibilidade de eliminar os alvos e rotas de fuga. Quando o jogador está inserido naquela espécie de jogo do gato e do rato, Hitman consegue mesmo prender o jogador.

O problema de Hitman estará provavelmente neste seu formato episódico, em que o jogador não termina um nível e passa para o próximo. Aqui, o incentivo é repetir diversas vezes o mesmo nível, cumprindo contractos diferentes, desbloqueando novas oportunidades ou simplesmente tentando executar os inúmeros desafios que nos são apresentados. Tendo em conta o formato episódico, o estúdio inundou cada mapa com imensas alternativas que deveriam manter o jogador activo, na verdade apenas revelam alternativas para o mesmo local e rapidamente se tornam cansativas.

Mesmo a missão "Os 6 de Sarajevo", exclusiva dos jogadores PlayStation 4, decorre no mesmo mapa de Paris e pode ser terminada em 5 minutos, quando já sabemos como agir ou se não nos preocuparmos em perder pontuação final e ridicularizar a inteligência artificial, algo fácil. Executar o alvo com um certo fato, ludibriá-lo para um determinado local, seguir uma oportunidade específica, eliminar um alvo aleatório que tradicionalmente passaria completamente despercebido (que motivo teríamos para eliminar um cozinheiro?), é assim que Hitman tenta manter o jogador entretido enquanto não chega o próximo episódio.

"O gameplay característico ganha maior profundidade com a nova geração mas depois de desvendado o mistério, dificilmente vão voltar a sentir-se motivados."

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O que se pede a Hitman e mais especificamente ao IO Interactive, é um design de níveis mais arrojado e desafiante, com uma inteligência artificial mais castigadora para que não seja preciso inundar os níveis com uma quantidade incrível de guardas para que o jogador se sinta forçado a agir com cuidado. Por outro lado, a quantidade enorme de desafios ou oportunidades alternativas, apenas servem para espremer ao máximo um mapa que inevitavelmente irá perder parte do seu encanto quanto mais jogamos.

É certo que seria criminoso jogar uma só vez neste mapa que reserva algumas surpresas mas na verdade não são assim tantas. Povoar o jogo com alvos alternativos como criados ou NPCs aleatórios não serve tanto quanto pensado. É um equilíbrio frágil que se torna ingrato pois na primeira vez sentimos mesmo o peso do desafio mas nas próximas vezes já sentimos que a diversão deu lugar à sensação de cumprir uma tarefa.

Visualmente, Hitman consegue resultados mistos: alguns elementos dos cenários e alguns personagens consegue impressionar mas outros são mais básicos. Pegando no mapa de Paris, claramente o principal deste arranque, existe locais magníficos com ornamentos, fontes, quadros, secretárias, e todo o tipo de itens que dão imensa vida a este mundo virtual. No entanto, existem outros locais e algumas partes dos cenários, como a vegetação, árvores e edifícios ao fundo, que ostentam uma qualidade gráfica claramente inferior. Isto cria um jogo de tom variável e oscilante que infelizmente não se revela tão consistente e firme quanto desejado.

Retira pouco ao mérito da experiência Hitman, que se foca na investigação de locais, descoberta de oportunidades e preparação do fulcral momento do assassinato, ainda assim não disfarça a falta de consistência neste requisito técnico. Quando é tão importante sentirmos o envolvimento visual para nos transportar-mos para outro mundo, algumas texturas de menor resolução e alguns personagens com menor detalhe acabam por se tornar em pequenos senãos quando temos um número tão grande de NPCs no ecrã e tantas possibilidades.

Hitman poderá sofrer perante a perspectiva das massas com o lançamento digital e episódico mas ainda assim, o IO Interactive conseguiu transportar com belo efeito para a nova geração a experiência Hitman. Mais furtivo, mais engenhoso e mais hábil do que nunca, este novo Hitman faz com que o jogador se sinta mesmo num mundo envolvente e desafiante. Pena que assim que terminamos a missão, o grande número de tarefas ou desafios opcionais não consegui muito para evitar a sensação que falta aqui mais conteúdos com real peso.

Assim que terminam as 3 missões principais deste primeiro episódio de Hitman é que chegam os verdadeiros problemas. Por muitos desafios que o IO Interactive nos atire e por muito que se esforce para manter a comunidade activa, serão meras tarefas adicionais nos mesmos três mapas e algumas delas podem ser completadas num curto espaço de tempo. Sem dúvida que é fascinante ter um mini mundo aberto que nos permite uma enorme quantidade de abordagens e acções, no entanto, será fácil a qualquer um imaginar melhores desafios que tomem melhor proveito deste gameplay repleto de potencial.

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