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Mad Max - Análise

A estrada aborrecida.

Mad Max é um desperdício. Tem um mundo cheio de potencial, mas torna-se rapidamente numa rotina aborrecida.

Se por um lado o filme mais recente de Mad Max consegue mostrar convincentemente um mundo pós-apocalíptico com tiranos malucos, o jogo falha em converter essa imagem para um formato jogável. Embora o jogo não seja uma adaptação direta, é impossível não comparar os dois, já que partilham o mesmo mundo. A Gas Town, que não chegamos a ver no filme mas à qual é feita referência, é um dos locais que podemos visitar, e Scabrous Scrotus, um dos filhos endoidecidos de Immortan Joe, é a grande ameaça que teremos de enfrentar. Portanto, os dois estão ligados, e como o jogo chegou mais tarde, para os fãs de Mad Max funcionará como um prolongamento do que viram no cinema.

Mad Max foi produzido pela Avanlanche Studios, o estúdio de Just Cause. Sabemos de antemão que este é um estúdio que sabe criar jogos em mundo aberto capaz de oferecer grande diversão, no entanto, fica a impressão que decidiu jogar em demasia pelo seguro. Quando olhámos para a televisão não existem dúvidas que este é um jogo de Mad Max, há um grande deserto à nossa frente e temos um carro altamente modificado do nosso lado, mas enquanto estamos a jogar, a premissa não é tão boa quanto parece. Apesar de haver bons momentos, como os combates entre carros, na sua maioria o jogo é uma versão aborrecida de Mad Max.

Nas primeiras horas, quando ainda tudo é novidade, não dá para perceber, mas à medida que aumentamos o tempo investido, fica claro que caímos numa rotina. Por detrás do título de Mad Max, esconde-se um jogo de colecionáveis. Existe um mapa sobrecarregado de objetivos adicionais para completar, mas quantidade não é sinónimo de variedade e a maioria deles resume-se ao mesmo. É uma fórmula que serve para prolongar a longevidade, mas a meio já estava aborrecido pois não havia nada de realmente novo para fazer. Na realidade, todos os jogos acabam por cair sempre em alguma rotina, mas Mad Max chega a este ponto demasiado cedo.

Cover image for YouTube videoMad Max - 4 minutes Gameplay Trailer - 1080p

No início do jogo Max perde o seu icónico Interceptor e vê-se obrigado a construir um novo carro, apelidado de Magnum Opus. São muitas as melhorias que podemos equipar no nosso veículo, mas primeiro precisamos de ter sucata suficiente. A economia de Mad Max anda em torno da sucata, e até mesmo as melhorias para Max estão dependentes dela. A sucata é abundante, sendo comum encontrá-la nos vários pontos assinalados no mapa, mas as quantidades que encontrámos são pequenas. Mais tarde ou mais cedo, terão que fazer grinding de sucata pois algumas missões da história exigem que tenham certas melhorias equipadas no carro.

Mad Max é sobretudo um jogo de ação, mas há traços do género da sobrevivência. Para ganhar vida, Max precisa de beber água ou de comer. A água é escassa mas pode ser guardada num cantil. A comida tem que ser consumida no momento e nunca é apetitosa, variando entre ração de cão e morcões. Além disso, as munições para a caçadeira também são raras de encontrar e armas como bastões ou ferros duram pouco tempo. Mais ainda, precisam de gasolina paro o carro. A única forma de aumentar as nossas probabilidades de sobrevivência é melhorar as habilidades de Max e instalar melhorias no seu carro.

No início o Magnum Opus não tem mais do que o um arpão, que pode ser usado de várias formas, como para arrancar portas, as rodas ou mesmo os condutores dos outros veículos, mas é possível instalar pára-choques monstruosos para danificar os outros veículos, colocar arame farpado nas jantes, deitar chamas pelas laterais ou colocar espigos de metal em zonas estratégicas para impedir que os lunáticos subam para cima do carro em andamento. De realçar que qualquer alteração que façam ao carro influência as suas estatísticas de velocidade, aceleração e manuseio. Infelizmente, os combates entre carros característicos de Mad Max recebem pouca atenção ao longo da história e são empurrados para os objetivos secundários.

Em vez de dar primazia a sequências de ação espectaculares entre veículos, tal como aconteceu no filme, Mad Max prefere perder tempo a apresentar personagens imediatamente esquecíeis com diálogos desinteressantes. De igual modo, o jogo está mais interessado em colocar-vos em situações de combate corpo-a-corpo. O sistema de combate não é mau, mecanicamente lembra Assassin's Creed e Batman Arkham, nos quais podem contra-atacar se carregarem atempadamente no botão indicado, mas para um jogo inserido no universo de Mad Max, esperava algo mais visceral e sujo. Enquanto luta, Max aplica técnicas de submissão, golpes de wrestling e defende-se como se tivesse aprendido Karaté. É uma mistura estranha que parece fora do sítio. Apenas quando Max se enerva, o que está dependente de uma barra, é que o combate se torna mais bruto e enquadrado neste universo.

Fury Road também não prima propriamente pela história, mas ao menos, entretém enquanto o filme está a rodar no ecrã. O jogo de Mad Max não faz uma coisa nem outra. É mau na história e não muito melhor no que toca a entreter. Quanto muito, a história serve como um pretexto para nos levar a conhecer o mapa e encontrar novos sítios para estacionar o nosso carro e servir de base de operações. Estes locais podem ser melhorados recorrendo a vários projetos de construção que nos dão vantagens, como ficar com o cantil cheio de água sempre que visitamos ou com o depósito do carro abastecido, o problema é que estes projectos são sinónimo de ter que andar pelo mapa a encontrar mais colecionáveis, como se o jogo não tivesse já o suficiente disto.

É um desperdício e uma situação bizarra. A Avanlanche Studios conseguiu criar um mapa vasto com cenários lindíssimos que deliciam os fãs de Mad Max, mas depois esqueceu-se do resto. Pelo mundo encontramos grandes estruturas esquecidas e enferrujadas, bem como alguns sítios escondidos para explorar. Cada fotografia do horizonte dava um fundo de ecrã, o que torna ainda mais doloroso que o resto do jogo não vá de encontro às expectativas. Não é que o jogo seja mau, simplesmente deixa a desejar porque é fácil visualizar como poderia ter ido mais longe.

Um exemplo são as rotas de veículos assinaladas a vermelho no mapa. Se seguirmos o caminho assinalado vamos eventualmente encontrar um grande grupo de carros. Se derrotarmos o carro principal, que é sempre mais robusto e resistente que os restantes, ganhamos uma decoração para o capô do nosso carro. Pôr um fim nestes grupos de veículos é apenas um objetivo secundário, mas são dos melhores momentos do jogo, focando-se naquilo que o jogo faz bem: combates entre veículos. As lutas na estrada não são apenas espetaculares, são difíceis. O nosso carro não é invencível e pode explodir se sofrer dano. O carro pode ser arranjado, mas se perderem a escolta de vista, todos os carros que destruíram voltam a aparecer. De igual modo, as corridas foram deixadas para segundo plano, aparecendo apenas uma vez na história.

"A Avanlanche Studios conseguiu criar um mapa vasto com cenários lindíssimos que deliciam os fãs de Mad Max, mas depois esqueceu-se do resto."

No mundo de Mad Max também vão encontrar grandes fortalezas, as quais podem invadir para estabelecer campos aliados. Estes campos vão depois fornecer uma quantidade regular de sucata, por isso, quantas mais fortalezas invadirem melhor. Inicialmente, conquistar estas fortalezas é divertido, mas até isto se torna numa rotina em que repetimos os mesmos passos. As fortalezas têm uma série de defesas, como snipers, lança-chamas à entrada e torres que disparam bombas, mas é possível ignorar tudo isto encontrando a entrada secreta que existe sempre em algum lado. Depois resta lutar contra dezenas de inimigos e por vezes, no final, derrotar um boss. Todas as fortalezas também têm sucata para encontrar e emblemas do Scrotus para destruir. Pelo menos, o jogo diz-nos sempre o que nos falta descobrir em todos os locais que visitamos.

Há coisas positivas a destacar. As tempestades da Wasteland estão soberbas e os carros aleatórios inimigos que vão aparecendo ajudam a dar alguma vida a este mundo aberto. A liberdade nos combates entre carros também é de louvar: podemos explodir com os tanques de combustível ou desmantelar os carros peça-a-peça com o arpão. Os traços dos jogos de sobrevivência são interessantes, mas lá para o fim tornam-se irrelevantes pois Max já estará bastante evoluído. Há de facto boas ideias / conceitos em Mad Max, mas ou não recebem a devida atenção ou não foram implementadas em pleno.

Apesar das suas falhas, Mad Max ainda é um jogo que poderá agradar aos fãs da personagem. Não há dúvidas que merece o título que carrega, o seu erro é focar-se no pior que tem para oferecer. Há demasiada ênfase na parte dos colecionáveis e a parte da sobrevivência torna-se mais adiante quase irrelevante. Depois, os combates físicos com uma mecânica nada original recebem mais atenção que as lutas entre carros, que é precisamente o que distingue Mad Max de outros jogos em mundo aberto. Apostar em adaptações diretas dos filmes para jogos raramente dá bons resultados, mas este é um caso em que gostávamos que o jogo fosse mais parecido com o filme. Se estão à espera de sequências de ação épicas, não é isso que vão encontrar aqui. Isto torna-se ainda mais estranho sabendo que este é um jogo do mesmo estúdio de Just Cause.

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Mad Max

PS4, Xbox One, PS3, PC

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Jorge Loureiro avatar

Jorge Loureiro

Editor

É o editor do Eurogamer Portugal e supervisiona todos os conteúdos publicados diariamente, mas faz um pouco de tudo, desde notícias, análises a vídeos para o nosso canal do Youtube. Gosta de experimentar todo o tipo de jogos, mas prefere acção, mundos abertos e jogos online com longa longevidade.

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