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Gravity Rush Remastered - Análise

A gravidade de mais um remaster.

Esta análise foi originalmente publicada a 14 de Dezembro de 2015, aquando do lançamento de Gravity Rush Remastered no Japão. Para assinalar o lançamento na Europa, voltamos a apresentar a análise.

Ao entrar no seu terceiro ano de vida, o peso dos Remasters na PlayStation 4 começa a ser encarado de forma diferente. Se até agora era um mal necessário, para compensar uma indústria que parecia ter sido apanhada desprevenida com o lançamento de novas consolas, ao entrar em 2016 começamos a sentir, mais do que nunca, que já chega de empatar tempo, está na hora de surpreender. Uma dessas surpresas será provavelmente Gravity Rush 2, um jogo desenhado de raiz para a PlayStation 4, com várias ideias concebidas sem as restrições do desenvolvimento para a PlayStation Vita, a casa onde a propriedade intelectual nasceu. É precisamente essa a razão de ser deste Gavity Rush Remastered, a de preparar para a sequela, todo um potencial público que provavelmente não teve contacto com este mundo.

Em Maio de 2012, altura do lançamento original na portátil da Sony, Gravity Rush foi um título divertido mas com algumas falhas. Um novo mundo encantador, que ganhava um novo enquadramento graças à plataforma na qual nasceu. Na verdade, qualquer adepto da Vita deve ter ficado um pouco desanimado por ver a portátil perder um dos seus principais, e poucos, exclusivos, mas tudo em bom nome da exposição. Gravity Rush jamais foi um jogo para vender consolas, jamais foi um daqueles jogos que deixaria qualquer um rendido. Sempre foi um jogo sobre espírito, sobre criatividade e sobre a capacidade de sonhar. A capacidade do Sony Japan sonhar. O responsável por este sonho é Keiichiro Toyama, um visionário, a julgar pelo seu currículo, sendo o mais deslumbrante perceber como o Japonês parece ter tanta habilidade para criar mundos repletos de atmosfera e personalidade. Mesmo quando a tecnologia não parece ter o poder para tal.

Gravity Rush Remastered é então a versão PlayStation 4 do original PS Vita e o jogo que vos vai preparar para a sequela. Especialmente se nunca jogaram o original pois este Remastered pouco, ou mesmo nada, oferece a quem quer repetir a dose. Quatro anos depois, o estúdio Bluepoint Games ficou a cargo do trabalho de conversão e além da inclusão dos três pacotes adicionais no disco base, apenas os retoques gráficos podem indicar algum tipo de novidade. Caso contrário, é o mesmo jogo.

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O maior valor de Gravity Rush não é propriamente a sua história, a dada altura até se torna confusa e sem respostas satisfatórias. O maior valor está mesmo na forma como os eventos são contados, num estilo banda desenhada Franco-Belga traçada por um Japonês. Algo assim mesmo peculiar. As personagens curiosas e envolventes ajudam-nos a ficar atentos mas as coisas podem mesmo ficar confusas e não teremos qualquer explicação. Esse maior valor, está na forma como nos relembra de um produto do estúdio Ghibli, tanto pelas personagens como pela forma como nos são apresentados os momentos fulcrais da narrativa. Parece ter sido a forma perfeita de Toyama expressar a sua visão.

Essa visão é a de uma rapariga que surge perdida no meio de uma cidade flutuante, sem quaisquer memórias, e com a companhia de um pequeno e misterioso gato preto. Sem saber muito bem como, Kat, o nome da rapariga e não do gato, consegue manipular a gravidade como desejar. Começa assim a sua jornada para salvar Heksville. Kat terá que enfrentar os misteriosos Nevi, usufruindo das suas habilidades singulares, para libertar zonas da cidade que se perderam para a escuridão. Pelo caminho, irá descobrir mais de si mas deixará o jogador meio perdido à procura de respostas. Gravity Rush é um jogo que claramente demonstra ter sido feito a pensar num equipamento menos poderoso e com as suas limitações. A história é apenas mais um dos elementos que expressa isso e na altura, surpreendeu precisamente por estar tão bem adaptada a uma portátil.

A graciosidade de Gravity Rush está na sua veia artística e no engenho do estúdio em dar vida à fantasia que vivia somente na mente de Toyama. Revisitar este mundo neste Remastered, deixa-nos perceber que, independente da plataforma, Gravity Rush usufrui de um conceito singular e que mesmo numa consola caseira consegue destacar-se. Grande parte do fascínio perante o lançamento original, foi perceber como um jogo destes poderia existir numa portátil, com que qualidade, e desfrutar da ousadia da Sony em não o lançar na PlayStation 3, onde seria mais seguro. A sua graciosidade esteve no lançamento na Vita, permitindo ao Sony Japan Studio privilegiar a criatividade artística como valor máximo, para contornar as limitações técnicas.

Gravity Rush foi um daqueles jogos que endeusava a PlayStation Vita e nos fazia sentir o seu poder. A ideia de ter nas mãos um jogo com aqueles moldes, com aqueles visuais, e com aquele gameplay, deixava-nos encantados com a portátil. Na conversão para uma consola caseira, Gravity Rush não perde o seu encanto mas em termos técnicos não escapa ao peso de quase 4 anos, que entretanto passaram desde o lançamento original. Enquanto a aventura de Kat e Dusty, o gato preto, é um incrível prazer de conhecer, especialmente como parece brincar com o conceito de imaginar, executar e consequentemente interferir com o que nos rodeia, tecnicamente poderá ser demasiado simples, mesmo respeitando o seu incrível estilo artístico.

A imaginação destas mentes Japonesas, originou um mundo no qual Kat consegue manipular a gravidade e voar pelos céus, desferir um pontapé gravitacional, caminhar pelas paredes dos edifícios, desferir golpes especiais, como uma investida furiosa em estilo tornado, criar um campo gravitacional para recolher e atirar objectos, juntamente com toda uma série de acções contextualizadas com os seus poderes singulares. Pensadas em prol de um gameplay específico. Ao longo de 20 missões, Kat irá desbravar os quatro distritos de Heksville, salvando três deles que estavam desaparecidos, e conhecendo um novo plano de realidade onde habitam os Nevi. Estas criaturas misteriosas são os inimigos de Kat, que amedrontam a população e precisam de ser atacados em pontos específicos.

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Gravity Rush Remastered apresenta-nos um gameplay que é fácil de assimilar e muito simples, o que não evita um dos seus maiores problemas, a falta de maior profundidade no jogo. O reduzido número de movimentos que temos ao dispor para atacar, a sensação que repetimos as mesmas tarefas vezes sem conta enfraquece a experiência. Esta fica ainda mais fragilizada com a câmara, que ocasionalmente parece ter o único propósito de irritar o jogador. É aconselhado desligarem desde logo a sensibilidade do DualShock 4 para não interferir inadvertidamente com o movimento da câmara, poderá ser mesmo irritante. O gameplay simples significa que rapidamente dominam o jogo, mas também significa que rapidamente conhecem tudo o que há para conhecer. Ficando a história como principal motivação.

Desde logo se torna aparente que o jogo foi feito a pensar na portátil da Sony, algo que tanto o beneficiou na altura. O mapa de jogo é pequeno, as tarefas adicionais escassas, e não fosse o estilo visual apelativo poderia até perder muita da sua graça. Esta versão Remastered apresenta melhorias em termos gráficos e corre de forma fluída mas não disfarça as origens humildes da produção, que já conta com quase quatro anos em cima. Surpreende ocasionalmente, em grande parte devido ao estilo gráfico adoptado pelo jogo, e permite desfrutar da experiência Gravity Rush na perfeição. Precisamente o que se pede a um Remaster.

Os quatro distritos, onde passamos o tempo caso não queiramos entrar numa missão de história, são pequenos e rapidamente percorremos todos eles. Alguns diálogos com NPCs ajudam a conhecer mais do mundo e existem desafios opcionais que puxam mesmo pela nossa habilidade na manipulação da gravidade. Momentos em que a boa prestação da câmara mais necessária é e mais vezes falha. No entanto, o esquema de controlo é fácil de aprender e dominar, rapidamente se sentem à vontade a usar o DualShock 4. Tudo é muito simples e poderá residir aí um dos seus potenciais problemas.

A sensação que o jogo prolonga artificialmente a longevidade continua a existir mas se já jogaram o original vão passear pelo jogo. Aquele contexto de uma experiência portátil, que é jogada em sessões curtas, já não existe mas ainda é palpável e afecta toda a estrutura do jogo. Gravity Rush Remastered é um produto tão, ou mais, específico quanto o foi em 2012 na Vita. É fácil sentir que o gameplay poderia ter sido aprofundado mas ao mesmo tempo é tão divertido viajar por este mundo para conhecer as aventuras e desventuras de Kat. Mesmo que por vezes falte vida e interactividade a Heksville. Pequeno número de inimigos e um mundo pequeno, são coisas que se vão sentir ainda mais na consola caseira.

Nesta conversão para a PlayStation 4, nada foi feito para melhorar a postura da câmara do jogo, algo que poderá mesmo deixar-vos à beira de um ataque de nervos. Felizmente existe um botão para a reposicionar mas não se porta como deveria. Gravity Rush Remastered sofre mais com o peso da simplicidade da experiência original. Por isso mesmo, a sensação de repetição é maior e os combates podem tornar-se rapidamente banais. Não sentem a momento algum a falta do ecrã táctil, sinal positivo, mas sentem que o jogo foi feito para a Vita. Este Remastered é, acima de tudo, uma forma boa de relembrar tudo o que é Gravity Rush.

Um jogo dotado de incrível singularidade e nascido de uma criatividade imensa cujo foco nesses elementos teve superioridade sobre o gameplay, que pela sua natureza teria que ser simples. Controlar a gravidade permite desfrutar de situações únicas mas facilmente vemos todas estas mecânicas a evoluir. Algo que se pede para a sequela. Ainda assim é deslumbrante conhecer este mundo e estes personagens, tão ricos em potencial. Passei cerca de 15 horas onde adorei reviver muitas destas situações mas deixaria de lado alguns dos elementos de maior embaraço, como a câmara.

Gravity Rush Remastered serve para retirar à PlayStation Vita aquela que era, provavelmente, a sua maior pérola. De qualquer das formas, é um jogo que continua peculiar e singular seja em que plataforma for. O gameplay e estrutura de missões simples, feitos a pensar numa portátil, ao lado de um sistema de câmara maldoso, conseguem ser tolerados graças à essência artística e criatividade deste mundo onde Kat é apenas uma das muitas interessantes partes. Não é tudo o que podia ser mas quando derem por ela, a força gravitacional que exerce sobre vocês não vos deixará sair deste mundo. Pelo menos não até terminarem.

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Bruno Galvão

Redator

O Bruno tem um gosto requintado. Para ele os videojogos são mais que um entretenimento e gosta de discutir sobre formas e arte. Para além disso consome tudo que seja Japonês, principalmente JRPG. Nós só agradecemos.
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