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PlayStation Now ou PlayStation No?

Tecnologia do séc. XXI com mentalidade do séc. XX.

Arrancou esta semana no mercado norte-americano a beta fechada(paga) do PlayStation Now, o serviço de streaming de vídeo jogos da Sony baseado no Gaikai, e já começaram os problemas.

Inicialmente destinado a colmatar a falta de retrocompatibilidade física da PlayStation 4, o PlayStation Now parece ter evoluído para chegar a todas as plataformas da Sony(incluindo televisores, tablets e smartphones) para deleite dos consumidores mais ricos e com menos cabeça.

Atualmente, a beta do PlayStation Now apresenta as seguintes modalidades de aluguer de jogos:

  • 4 horas de jogo: $2.99 - $4.99;
  • 7 dias de jogo: $5.99 - $7.99;
  • 30 dias de jogo: $7.99 - $14.99;
  • 90 dias de jogo: $14.99 - $29.99;
Os preços estão em dólares mas é de esperar que a conversão seja direta.

Antes de pegarmos nas forquilhas e nos archotes, convém esclarecer duas coisas:

  • estes preços não são finais;
  • não é a própria Sony quem fixa os preços mas sim as editoras;

Podia estar aqui a discutir a falta de ética por trás de pedir aos jogadores que paguem pelo “privilégio” de testar um serviço em fase beta(e, ao que parece, com claros problemas de ligação) mas vou apenas falar no atual conceito de aluguer que pode condenar uma boa ideia à obscuridade e dar uns valentes passos atrás no streaming de video jogos.

Um problema de conceito

Comecemos por constatar o óbvio: estes preços são um abuso e não fazem sentido nenhum.

Pagar entre 3 a 5 dólares por quatro horas de jogo é ridículo mas os problemas reais começam nos escalões mais altos, onde o tempo de utilização e o preço são mais elevados. Por exemplo, 90 dias de Guacamelee custam tanto quanto a versão completa do jogo no PSN e 90 dias de Final Fantasy XIII-2 custam o dobro da versão física do jogo em lojas online, seja novo ou usado.

Mais uma vez, é lamentável a atitude da Sony em não informar o consumidor que existem alternativas em que o jogo completo o fica por valor igual ou inferior ao seu aluguer. No caso da versão física ainda compreendo os argumentos(apesar do jogo em questão ter mais de dois anos...) mas acho indesculpável que o consumidor não seja informado que na loja da PSN, mesmo “ali ao lado”, o jogo completo custe o mesmo ou menos que o mero aluguer.

Pelo menos um aviso de que nem sequer compensa alugar o jogo durante 90 dias, não?

Ó Joel, mas que culpa tem a Sony que as editoras pratiquem estes preços elevados?!” O problema está no conceito escolhido pela Sony, que decidiu optar pelo aluguer individual, muito popular nos anos 80 e 90, em vez de oferecer um serviço de aluguer alargado mediante subscrição.

Noutras palavras, optou pelo defunto Blockbuster em vez do amado Netflix(por falar nele, já está na altura de chegar a Portugal, não?). O serviço de aluguer individual não se adapta aos video jogos. Sei-o bem porque, quando era miúdo, cheguei a alugar jogos durante uns dias ou uma semana e facilmente percebi que não era tempo suficiente para terminar o que quer que fosse. Ao contrário dos filmes e séries, um video jogo dificilmente se esgota num espaço de tempo entre 30 minutos e umas horas.

As experiências mais envolventes podem durar meses a fio.

Michael Pachter foi uma das vozes mais críticas do PlayStation Now, afirmando que o sistema simplesmente não funciona porque nenhuma editora vai alugar jogos com menos de dois anos no mercado sob pena de prejudicar as vendas dos mesmos. O famoso analista talvez esteja a ser demasiado pessimista; tanto o PlayStation+ quanto o Games for Gold têm demonstrado que é possível convencer as editoras a “oferecer” jogos relativamente recentes. Na minha opinião, a solução passa por encontrar uma solução intermédia.

Um mundo ideal

Se dependesse de mim, o PlayStation Now seria um serviço de subscrição mensal tipo Netflix pelo preço de não mais do que €20 por mês para títulos da PlayStation 1, 2 e 3, e €30 por mês para incluir também títulos da PlayStation 4. O preço pode parecer baixo para aceder a tantos títulos mas a realidade é que, feitas as contas, €30 durante 12 meses são €360 por ano, bem mais do que a média dos jogadores gastaria em jogos num ano e sem ter de pagar o que quer que seja a intermediários(leia-se, lojas de video jogos). É claro que isto implicaria um período de fidelização, de forma a descansar as editoras que temessem ver as suas vendas a descer a pique porque toda a gente passou a alugar em vez de comprar. O Netflix é exemplo de que se o serviço for acessível e suficientemente bom, os consumidores aderem em massa e as editoras são recompensadas por isso.

No que toca a streaming, o modelo vencedor do Netflix tem de ser o padrão. Aprender com os melhores não é vergonha nenhuma.

Espero, muito sinceramente, que a beta fechada e o arranque do serviço nos Estados Unidos sirva para abrir os olhos à Sony a tempo de o implementarem na Europa. Se o modelo atual não for descartado em favor de um mais acessível, o PlayStation Now vai certamente juntar-se à PSP Go e à PS Vita, nesse maravilhoso lugar que é o paraíso do potencial não aproveitado porque a ganância da Sony se colocou à frente dos interesses dos consumidores.

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Sobre o Autor
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Joel Monteiro

Contributor

Amante de design de videojogos nos poucos tempos livres. Escreve quinzenalmente na Eurogamer Portugal sobre a indústria e criatividade.
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