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Final Fantasy já não é para mim

O problema não és tu, sou eu.

Um novo Final Fantasy para uma nova geração

Final Fantasy XIII não é o pior jogo da geração passada mas é o mais desapontante. Quando entrou em desenvolvimento, a falta de Sakaguchi na Square Enix já se tinha tornado crítica e isso reflectiu-se no produto final. O jogo não tem nenhum dos elementos que tornaram intemporais os títulos anteriores:

  • As personagens são fracas e sub-desenvolvidas, apesar da Lightning ser “super popular” no Japão porque ganhou um concurso nos fóruns da Square...
  • A história é terrível e começa no segundo acto, fazendo com que os jogadores não percebam o que se passa nem se importem com as motivações das personagens;
  • A narrativa é feita, em boa parte, através de texto no menu, sendo um grande passo atrás nos desenvolvimentos feitos nos últimos anos por jogos como Half-Life 2, Bioshock ou Mass Effect;
  • O jogo é, literalmente, um enorme corredor, nas primeiras 30 horas;
  • Só controlamos uma personagem em combate e existe mesmo um botão que torna o combate automático;
  • A estratégia resume-se a um sistema de mudanças de job em que temos de confiar na IA das outras personagens;
  • O vilão do jogo é o menos carismático da série e raramente aparece;
  • Não existem cidades para visitar;
  • A única side-quest que existe não é mais do que uma Arena (como havia nos anteriores) com o trabalho de nos termos que movimentar no mapa para combater;
  • Só existe um mini-jogo. Envolve Chocobos e esgota-se, no máximo, em meia hora;
A escrita da “saga” de Lightning está cheia de pérolas imperceptíveis como esta.

O próprio produtor do jogo reconheceu alguns destes problemas. Quem joga Final Fantasy há anos sabe que a série costumava ser precisamente o contrário de tudo o que consta desta lista mas, curiosamente, os jogadores mais novos que dizem nunca ter jogado nada antes na série, gostaram do jogo.

Motomu Toriyama, o actual director da série, apontou Call of Duty como uma influência no desenvolvimento do jogo. O ressurgimento de popularidade na série Transformers também é visível em Final Fantasy XIII, sendo os habituais Summons robôs que se transformam em veículos. Final Fantasy XIII-2 também continuou a tentar imitar os “miúdos populares” em vez de desenvolver uma personalidade própria. Passou a ter árvores de diálogo à Mass Effect e um mini-jogo semelhante a Pokémon, ambos irrelevantes para a experiência. Não tenho nada contra nenhuma das séries que mencionei mas parece-me ser mais uma tentativa frustrada do já clássico “apelar a novo público para expandir a base de fãs”. É um cenário recorrente nesta indústria nos últimos anos que só demonstra desespero e que acaba sempre por alienar os fãs mais antigos.

Final Fantasy decidiu seguir este caminho, para muita pena minha e de outros fãs mais antigos, mas parece resultar bem entre o público que cresceu com Call of Duty, Transformers ou Twilight. O estilo está muito acima da substância, a história deu lugar aos gráficos e há muito pouco para fazer assim que o jogo termina. A nova geração não quer perder tempo a derrotar Weapons ou a criar Chocobos. Quer combates rápidos e escrita sem sentido.

Um dos summons em Final Fantasy XIII. Ai se o Michael Bay o apanha...

Infelizmente, para a Square Enix, esta base de novos jogadores é muito mais pequena do que aquela que nós éramos.

Em que estado se encontra Final Fantasy?

Não muito bem, para dizer a verdade.

Actualmente, a Square Enix propôs-se lançar títulos com mais frequência, querendo aproximar Final Fantasy de Call of Duty e Assassin's Creed, e a qualidade é quem mais tem sofrido com isso. O tempo de desenvolvimento dos novos jogos consegue até mesmo bater o daquelas séries que muitos consideram estar num ponto de exaustão. O desenvolvimento de um novo Assassin's Creed demora cerca de 2 anos e o de Call of Duty foi alargado a 3. Enquanto isso, o tempo de desenvolvimento de novos Final Fantasy baixou para uns meros 18 meses. Como está na cara, não é tempo suficiente para garantir qualidade.

Apesar da fraca recepção dos fãs, Final Fantasy XIII teve direito a duas sequelas. A primeira propunha-se a resolver os muitos problemas apontados ao título original mas a história acabou por sofrer com isso. O jogo é uma enorme salgalhada e vendeu uma fracção do título original mas, mesmo assim, a Square Enix propôs-se a lançar mais uma sequela. Lightning Returns saiu há menos de uma semana e é o jogo pior recebido da história da série, tanto crítica como comercialmente. A qualidade do jogo é tão duvidosa que o famoso YouTuber Jesse Cox viu-se obrigado a quebrar a sua promessa de terminar todos os jogos que começa nos seus vídeos “Let's Play”. Para colmatar a quebra nas vendas, a Square Enix encheu estes títulos de DLC, uma estratégia completamente absurda e que não dá frutos alguns.

A Square Enix continua a esforçar-se demasiado para apelar a novo público.

Outro grande golpe na marca foi Final Fantasy: All The Bravest, para iOS, um “jogo” que se aproveita da nostalgia dos fãs da série para lhes sacar o máximo de dinheiro possível.

Uma palavra Final

Não é fácil ver assistirmos àquilo em que a nossa série favorita se tornou. É daquelas coisas que achamos que só acontecem aos outros mas agora compreendo a revolta de muitos fãs de Sonic, Resident Evil ou Devil May Cry. Nem consigo imaginar o que sentirá Hironobu Sakaguchi.

Uma das frases que mais me marcaram no último livro que li foi “Believe it or not- it takes a lot of love to hate you like this” e é algo que, neste momento, sinto em relação a Final Fantasy. Tenho óbvias esperanças para Final Fantasy XV dado que o jogo está com óptimo aspecto (embora não se parece nada com Final Fantasy) mas já não ponho as mãos no fogo pela série. Já me queimei o suficiente com Final Fantasy XIII.

A Square Enix precisa urgentemente de ler “A galinha dos ovos de ouro” de La Fontaine e perceber a moral daquela história.

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