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Last of Us: Left Behind - Análise

Mudam-se os papéis, mantêm-se as vontades.

Não é comum ter que analisar um pedaço de conteúdo adicional (DLC), ainda por cima quando se trata de uma experiência tão marcante como foi para mim The Last Us o ano passado. Existe um pano de fundo emocional, um ponto de partida, não sou mais uma folha em branco por assim dizer. Também é preferível ser assim, tratando-se de um título destes, tão focado na componente narrativa.

Permitam-me começar por dizer que Left Behind acabou por ser uma surpresa, por ser muito diferente do que esperava à partida. Está dividido em dois momentos alternantes, e com dois objectivos muito diferentes, isto é algo difícil de discernir de imediato, mas vão perceber quando o jogarem, um dos lados explora, o outro oferece contexto, ao mesmo tempo que marca uma posição, tem algo a dizer.

Sobre o segundo vou ser o mais ambíguo possível, simplesmente porque como jogadores, merecem que vos seja dado todo o espaço para imaginar, absorver, e tentar encaixar alguns dos eventos que Ellie atravessa. Sim, ela que desta vez é claramente a estrela principal, e ainda bem, sempre a achei muito superior a Joel e uma das personagens femininas mais profundas que um videojogo me apresentou.

Escrevi que ela era uma importante demonstração de desenvolvimento humano em condições adversas em The Last of Us, lembram-se da diferença entre a Ellie quando conhece Joel e a Ellie no final do jogo? Pois, desta vez a a Naughty Dog decidiu ir ainda mais longe, e mostrar-nos dois lados ainda mais contrastantes da protagonista. A corajosa e lutadora, e a criança que cresce num mundo com o qual podemos apenas sonhar.

No primeiro momento é quando temos um pouco mais de The Last of Us, nada vou revelar sobre o que motiva a ação, mas tempos mais infectados para nos ocupar, mais ambientes para explorar, e claro, mais humanos que de humanidade já não conservam praticamente nada. As opções de combate de Ellie são mais limitadas do que eram as de Joel, afinal, ele é um brutamontes e ela apenas uma miúda, mas que com uma pistola, uma faca e um arco e flecha, se aproxima de uma mini Lara Croft.

Continua a ser uma “aventura” algo linear é certo, mas esse é o estilo da Naughty Dog, e algo que eles fazem muitíssimo bem, sempre numa alternância quase perfeita entre relaxamento e tensão, que desta vez é ampliada pela fragilidade que sentimos ao vestir a pele de Ellie, claramente em desvantagem perante as forças externas. Já tinha referido isto na análise ao jogo principal, o segredo deste tipo de ambientes não está na quantidade de monstros e cores negras à nossa volta, mas na perceptível desigualdade de forças em relação ao meio.

Quanto ao segundo momento, este foi certamente onde os escritores da Naughty Dog se divertiram mais, ao brindar-nos com as infinitas possibilidades da imaginação de uma criança, independentemente das suas condições. Esta parte serve de prólogo ao jogo principal, e foca-se na relação de Ellie com a sua melhor amiga Riley, quando as duas escapam do apertado controlo militar de um mundo virado do avesso.

A liberdade de retractar a relação de duas crianças foi o que permitiu a Left Behind brilhar, por serem elas os seres mais despidos de preconceitos, e que ao mesmo tempo, nos lembram o quão natural, quão humano pode ser o carinho, a partilha, o amor. Vão aprender muito sobre Ellie nestes momentos, explorar lugares mágicos, e quem sabe, olhar para dentro no processo.

"Ao mesmo tempo que desenvolve uma das personagens, enriquece-a dando contexto a tudo que fizemos até então."

Cover image for YouTube videoGameplay de The Last of Us Left Behind

Tecnicamente está na linha do jogo original, é incrível a quantidade de detalhe que existe nos cenários, as expressões faciais continuam do melhor que a geração teve para oferecer, mas o que mais me impressiona, continua a ser a forma como as personagens utilizam a linguagem corporal de forma contextualizada, combinando-a com os diálogos e ampliando imenso a credibilidade das cenas.

O compositor Gustavo Santaolalla é mais uma vez o responsável pela banda-sonora, com um nível de qualidade elevado que acompanha sempre o ritmo da ação e nos convida a entrar na disposição emocional do momento. Consegue ser stressante nos momentos em que ouvimos ligeiros “clicks” nas redondezas, e ao mesmo tempo a batida da música começa a aumentar de intensidade.

Left Behind é um óptimo exemplo do que é um bom DLC, não tem um preço abusivo, não parece ter sido amputado da história principal para poder ser vendido mais tarde, e ao mesmo tempo que desenvolve uma das personagens, enriquece-a dando contexto a tudo que fizemos até então. Nunca fui um opositor ao conceito de “conteúdo adicional”, até porque nunca tive nada contra expansões ou “patches” para os jogos que adorei no passado, desde que estes sejam honestos e tenham algo a acrescentar.

Claro que foi inevitável saber a pouco, no total foram cerca de três horas que passaram a voar, mas que me fizeram terminar com um sorriso na cara a ver os créditos a rolar. Se tivesse que resumir a experiência sem dizer nada de concreto sobre os eventos, diria que metade me soube a mais do mesmo, e a outra metade me fez gostar ainda mais de Ellie, foi também esta metade que abanou as minhas "fundações", e que me faz recomendá-lo sem pestanejar.

10 / 10

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The Last of Us

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Aníbal Gonçalves

Redator

MMOs e RPG são com o Aníbal. Aliás existe um rumor na redação que a sua primeira casa é o World of Warcraft. Mas às vezes também o vemos a fazer uns exercícios. Não é mau de todo.

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