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Jogar em tablets e smartphones

Orgulho ou preconceito?

Hoje vou falar de preconceito.

Como acho que já não vale a pena tocar novamente nas tristes figuras do “psicólogo” Quintino Aires, vou tratar antes do preconceito que muitos jogadores têm em relação a jogar em tablets e smartphones.

Até há bem pouco tempo, jogar fora de casa era um passatempo exclusivo de crianças, dos mais acérrimos jogadores hardcore ou do pai de família que não conseguia largar o Tetris. Nos últimos anos o número de jogadores explodiu e tal deve-se a duas coisas por vezes pouco queridas dentro da comunidade hardcore: smartphones e tablets.

Quando ao nosso lado no autocarro vai uma senhora na casa dos 70 a jogar Angry Birds, sabemos bem que o nosso “clube secreto” deixou de o ser e que o nosso hobby se democratizou.

PlayStation é veneno - mas lançar uns pássaros faz bem ao espírito.

Toda a mudança implica uma alteração de mentalidade e, em relação ao assunto, a comunidade gamer divide-se. Uns adoram a ideia de ter as suas mães, pais ou avós a desfrutarem de jogos tal como eles mas outros olham para a oferta dos tablets e smartphones como “falsos jogos” e, em casos mais extremos, como o início do fim dos videojogos tal como os conhecemos.

Será que não podemos viver todos juntos em harmonia?

Vou contra-argumentar alguns dos preconceitos mais recorrentes.

Preconceito nº1

“Eu sou hardcore. Tablets e smartphones não têm nada para mim.”

Apesar de a esmagadora maioria dos títulos disponíveis para iOS e Android serem, de facto, dirigidos a um público casual, a oferta de experiências mais hardcore e completas não tem parado de crescer.

Grandes clássicos como Grand Theft Auto III e Vice City, Final Fantasy IV ou Max Payne podem ser jogados num telemóvel a caminho do trabalho. No iPad, Star Wars: Knights of the Old Republic, muito provavelmente o melhor jogo com a marca Star Wars no título, já pode ser apreciado em toda a glória que tinha na mais poderosa consola da geração passada graças a um port fantástico.

Jogadores ainda mais experimentados têm à sua espera a Enchanced Edition do clássico Baldur's Gate. Se procuram títulos mais recentes, podem pegar em XCOM: Enemy Unknown, considerado por muitas publicações o melhor jogo de 2013, agora também disponível para iOS.

Existem poucos jogos mais hardcore que XCOM: Enemy Unknown. Já o podem jogar no autocarro.

Outros títulos de relevo são Minecraft, Bastion, Ghost Trick: Phantom Detective, Phoenix Wright, Limbo, Joe Danger e The World Ends With You, o melhor rpg saído da Square Enix em muitos, muitos anos.

Se gostam das grandes franchises das consolas domésticas vão apreciar as versões portáteis de Deus Ex, Mirror's Edge, Assassin's Creed, Mass Effect e Dead Space.

A oferta não falta mas podemos apontar a esta lista o mesmo problema que encontramos na PlayStation Vita: a maioria dos jogos são ports ou versões móveis de títulos que podemos jogar em casa. Tal deve-se ao facto de a esmagadora maioria do público destes dispositivos ser casual e à própria natureza portátil da máquina.

No entanto, também encontram bons títulos totalmente originais como Infinity Blade, Chaos Rings, Superbrothers: Sword and Sworcery ou Real Racing, capazes de encher as medidas até ao mais hardcore dos jogadores.

Preconceito nº2

“Os comandos são terríveis.”

Quando os comandos são terríveis, seja em que plataforma for, a culpa é de quem os programou dessa forma. Muitos comandos são terríveis em plataformas móveis porque algumas empresas limitam-se a fazer ports de jogos que têm há longos anos no seu catálogo sem se darem ao trabalho de adaptar os comandos ao meio em que agora o jogo deve correr.

Sim, estou a falar da SEGA e da Capcom. O resultado final são, de facto, comandos que tentam emular controladores físicos no ecrã dos dispositivos em vez de desenvolverem uma forma de input que tenha em atenção a plataforma para a qual o jogo é desenvolvido.

Felizmente, maus comandos são uma excepção à regra. Tanto nos smartphones quanto nos tablets conseguimos encontrar facilmente experiências altamente jogáveis, precisas e imersivas e, tal como um RTS resulta melhor com um rato ou um jogo de plataformas com um comando, também alguns géneros jogam-se melhor em tablets e smartphones.

A lista é extensa: aventuras gráficas, puzzles, jogos de estratégia por turnos, jogos de tabuleiro e boa parte dos jogos arcade jogam-se melhor num tablet.

É num tablet onde se joga melhor o melhor jogo de 2013.

Preconceito nº3

“Os smartphones e os tablets estão a matar a indústria.”

Quem nunca leu esta?

É inegável que a indústria está a sofrer alterações e a adaptar-se aos jogos móveis mas daí a serem um sinal do apocalipse vai uma grande distância.

Desde que o Game Boy foi lançado que a Nintendo sempre dominou o mercado dos jogos portáteis e nunca teve concorrência à altura. Apenas a PSP deu alguma luta mas a sua taxa de pirataria era tão elevada que só mesmo a Sony lucrou com ela.

Desde que smartphones e, mais tarde, tablets surgiram que a Nintendo tem perdido quota de mercado para eles. Percentualmente, deixou de deter 70% do mercado para passar a mandar em apenas um terço. Pode parecer um sinal catastrófico mas isto é a consequência do aumento gigantesco do número de jogadores em iOS e Android, nada tendo que ver com uma “fuga” dos hardcore para essas plataformas.

Na realidade, a Nintendo nunca vendeu tantas portáteis como hoje em dia.

A DS é a consola mais vendida de sempre mas com a concorrência por parte da Sony praticamente inexistente e um catálogo de exclusivos capaz de fazer inveja à PlayStation 2, a 3DS está com um ritmo de vendas esmagador. E ainda vem aí o primeiro Pokémon em 3D.

Embora todos os sinais indiquem que a Vita venha a ser a última portátil da Sony, a indústria dos jogos portáteis encontra-se de boa saúde.

Isto demonstra que não é por haver muita gente a jogar em smartphones que as empresas estão a deixar de investir numa consola dedicada.

Podemos argumentar que o investimento na Vita é, francamente, escasso mas isso deve-se exclusivamente ao plano de negócio duvidoso que a Sony sempre teve para a consola e que colocou a empresa a correr atrás do prejuízo.

Jogos grátis ou a €0.99 não têm feito com que as pessoas deixem de comprar experiências mais “ricas” por €50. Basta olharmos para as boas vendas de Animal Crossing, Luigi's Mansion ou do mais recente Fire Emblem. E, mais uma vez, ainda não foi lançado Pokémon que, certamente, só venderá menos que GTA V e Call of Duty este ano.

Preconceito nº4

“Se o jogo é grátis de certeza que é uma porcaria.”

Este preconceito não é exclusivo dos jogos em tablets e smartphones mas decidi mencioná-lo uma vez que o modelo F2P financiado por micro transações é bastante comum nestas plataformas.

Habituem-se a isto.

Os F2P chegaram para ficar e têm de ser encarados como um modelo tão legítimo quanto dar €60 ao balcão de uma loja. O facto do jogo ser grátis não implica, de todo, que não tenha qualidade. Basta olharmos para casos de sucesso como Team Fortress 2 ou Planetside 2, jogos F2P que vivem de micro transações, recebem atualizações constantes e movem milhões de jogadores.

Ausência de preço não significa ausência de qualidade.

Também nas plataformas móveis encontramos bons jogos F2P onde, na maioria das vezes, as transacções servem apenas para desbloquear elementos do jogo em menos tempo. Paguem €1 para desbloquear uma nova roupa no Jetpack Joyride ou joguem durante meia hora até terem moedas suficientes para o fazerem.

A escolha é vossa.

E antes de gritarem que estão a ser explorados, lembrem-se de que o jogo não vos custou nada.

Os F2P ainda são uma novidade nas consolas e é natural alguma desconfiança por parte dos jogadores mas com a chegada das novas consolas e com cada vez mais franchises famosos a adotar este modelo de negócio(Dead or Alive, Tekken, Killer Instinct), a percepção dos jogadores sobre os F2P irá mudar.

Preconceito nº5

“Os tablets e smartphones NUNCA irão chegar aos calcanhares das consolas.”

Este é um preconceito que não faz qualquer sentido uma vez que isto implicaria uma estagnação completa do desenvolvimento e venda de smartphones.

Já existem smartphones mais poderosos que uma PlayStation Vita. Dentro de dois anos, terão mais poder de processamento gráfico do que uma qualquer consola da atual geração e antes da próxima geração terminar, é bem provável que já tenhamos smartphones e tablets mais poderosos que uma PlayStation 4 ou XBox One.

As coisas mudaram muito desde os tempos do Snake no Nokia 3310.

É incrível a velocidade a que a tecnologia evolui quando existe gente disposta a pagar €500-€700 todos os anos por um upgrade ao telemóvel.

Se apenas vemos consolas do mesmo preço serem lançadas a cada 5-6 anos, é apenas uma questão de tempo até que smartphones e tablets as alcancem tecnologicamente.

Se quiserem ter um cheirinho do que vem aí, deem uma espreitadela à última novidade da Nvidia.

Concluindo...

Smartphones e tablets nunca irão substituir consolas, portáteis ou domésticas, no topo da lista de preferências dos jogadores mais hardcore mas não os rotulem como meras máquinas de Bejewled e Angry Birds.

Por causa das suas limitações - tamanho do ecrã e qualidade do som -, podemos esperar que as experiências mais imersivas continuem a sair nas consolas domésticas e no PC mas os seus catálogos estão repletos de boas surpresas, muitas delas impossíveis de encontrar noutro lado qualquer, que valem bem o tempo e os €2 ou €3 até do mais hardcore dos jogadores.

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