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Ni No Kuni: Wrath of the White Witch - Antevisão

Poderão a Level-5 e a Studio Ghibli criar o mais belo jrpg de sempre?

Eu pensei que, com Xenoblade para a Nintendo Wii, estávamos conversados em matéria do melhor jrpg dos últimos anos. Ora, acontece que a Level-5, em conjunto com o Ghibli Studios, quer provar-me que esse tema ainda não está encerrado, e que o lançamento de Ni No Kuni para a PS3 no ocidente vai-me obrigar a reformular o juízo. Depois de ter já desfrutado umas boas - e belas - horas com Ni No Kuni, tenho de concluir que esse ponto ficou em aberto. Quando se pensava que do Japão não chegaria até à Europa um outro jogo com a magnitude e densidade de um Xenoblade, marcado por tradição e renovação, a verdade é que Ni No Kuni vai chegar cá no começo do próximo ano, com disposição para arrecadar o cetro. E tem argumentos para isso.

Ainda ficou bastante por descobrir em termos de “gameplay”, pois falta-nos uma versão final que nos dá sempre mais polimento por comparação com uma edição para antevisão que tem sempre alguns bugs e se encontra limitada em capítulos. Mas se há algo que imediatamente extravasa qualquer fronteira é a excelência dos visuais. Ni No Kuni é um jogo belo e admirável do ponto de vista artístico. Não é para espantar, quando percebemos que a conjugar esforços para Ni No Kuni estão dois estúdios que representam, com sucesso, a animação e a produção de jogos de role play. O Ghibli Studio não é indiferente para os fãs de Hayao Miyazaki, que conhecem a sua invulgar capacidade e talento para desenhar e contar histórias que combinam o Japão rural com um notável sentido de fantasia, de uma forma afetiva e emocional, bem demonstrada em filmes como Spirited Away, Grave of the Fireflies, Howl's Moving Castle, My Neighbour Totoro, Porco Rosso, Whisper of the Heart e tantos, tantos outros, cujos princípios foram transmitidos aos departamentos encarregues para as novas produções.

Por outro lado, reconhece-se competência à Level-5. Dos seus estúdios saíram jogos de role play do tipo nipónico como Rogue Galaxy, Dragon Quest VIII, sendo percetível, em muitos deles, um visual animado por via da técnica cel shade. Além disso, esta editora ainda tem a seu cargo séries de renome como Professor Layton e Inazuma Eleven. Fica assim reunida uma espécie de dream team e um sonho tornado realidade para muitos amantes destes jogos. Como resultado da parceria, acaba por existir um prolongamento e uma correlação muito forte de ideias, uma vez que a Level-5 consegue dar corpo, dentro do jogo, às animações criadas pelo Ghibli. Se me permitem uma analogia com o futebol atual, isto é como ter o Messi e o Iniesta a jogarem juntos.

Bastam uns minutos com Ni No Kuni para identificarmos a autoria das cenas animadas. Se isso lhe dá uma identidade muito forte, pondo-o em sintonia com muitos filmes saídos do famoso estúdio, não é menos relevante, ainda sob o ponto de vista artístico, o suporte dado pela Level-5. A construção das personagens, mundos e da narrativa flui com enorme elegância, causando bons sentimentos para quem vê e interage. De tal modo que é quase impercetível descobrir onde acaba a animação e onde começa o jogo. O controlo da personagem, mergulhada naquele mundo fantástico, quase nos dá conta de uma interação dentro do filme.

Nós iremos seguir a história de um pequeno rapaz, chamado Oliver, que vai entrar num mundo paralelo ao nosso, a fim de arruinar os planos de uma bruxa e, por consequência, recuperar a mãe. É o mote para uma aventura longa que traz consigo conceitos como a morte e a separação, bastante recorrentes em guiões escritos por japoneses. Conceitos que acabam contudo por se cruzar com o companheirismo e com a amizade. Oliver pode ter perdido a mãe, cujo coração fraco não resistiu a um pequeno susto que o próprio Oliver lhe causou. Mas a sua ausência foi compensada com a entrada em cena de Drippy, um estranho peluche com uma lanterna presa ao nariz, que ganhou vida à custa de Oliver e que será sua companhia na transição para o mundo paralelo. Esse mundo, explica Drippy a Oliver, é Ni No Kuni. É uma realidade que coexiste com o mundo de Oliver, e onde cada habitante é uma alma gémea do mundo de Oliver

Nesta jornada, a personagem principal irá ter à sua disposição um livro de feitiços imprescindíveis para a sua aventura. Para os mais variados efeitos, a sua utilidade é relevante sobretudo no campo da batalha, ainda que seja útil noutros momentos da aventura. Uma vez chegado a Ni No Kuni, Oliver apercebe-se de como tudo é diferente da sua cidade, Motorville. Há criaturas espalhadas pelos prados e zonas adjacentes às urbes que irá visitar. É por aqui que começam os primeiros confrontos, mas também a real perceção da dimensão muito ampla de Ni No Kuni.

Este mundo paralelo é colossal. Dividido por diversos territórios, abarca zonas verdejantes, montanhas cobertas de neve e desertos secos, entre muitas outras paragens. Nestas vastas zonas encontramos cidades e urbanizações que iremos explorar. Uma dessas secções é-nos mostrada logo no segundo capítulo do jogo, quando Oliver entra numa floresta escura para conversar com uma ancestral árvore que lhe dará mais alguns capítulos do livro e poderes especiais.

A Level-5 reclama ter sido a criadora da narrativa. A existência do mundo paralelo era uma ideia prestes a ser concretizada, ainda antes das duas produtoras terem chegado a acordo. No entanto, é indiscutível que muito do trabalho estético manifestado em cidades e personagens, contou com a indicação da Ghibli. As cenas animadas mostram a típica grandiosidade das cidades, cheias de mecanismos típicos da era steam punk, cuja representação é visível nalguns filmes, nomeadamente em Howl's Moving Castle ou Spirited Away. Até num castelo vamos descobrir que o monarca é um pachorrento e felpudo gato gordo. Não podia ser mais Ghibli.

O trabalho da Level-5 verifica-se sobretudo na construção do jogo. O recurso à técnica cel shade, em tons mais leves, possibilita que os cenários estejam mais coloridos e cheios de pormenores, dando um bom seguimento às animações. Há sempre efeitos a reter, objetos que se movem, mecanismos em ativação que geram entusiasmo visual. Para os combates a Level-5 desenvolveu um misto de ataques por turnos combinados com ataques em tempo real. Os combates “random” desapareceram, mas podemos ser perseguidos por criaturas que nos atacam assim que descobrem a nossa presença. Entrando para uma arena, no confronto podemos utilizar magias, ataques diretos e até convocar parceiros de combate. Estes são familiares que resultam de um processo de criação original. Tê-los-emos sempre à disposição, num quadro de opções, sendo relevante dar-lhes alimento e aumentar os laços afetivos. Conseguirão ter mais poder de ataque e revelar-se úteis em batalhas épicas.

Ni No Kuni fica também marcado por um grande volume de side quests, cuja originalidade se manifesta na existência de um cartão, no qual está marcado um percurso de objetivos a cumprir desde o começo até à meta. À nossa disposição está um mapa com indicações sobre o próximo ponto a visitar. Correndo o risco de facilitar certas quests, podemos desligar essa opção e pesquisar por nossa conta o ponto de saída do cenário.

É impossível descrever Ni No Kuni sem comentar a banda sonora. A cargo de um dos mais prestigiados compositores da Ghibli, as composições de Joe Hisaishi proporcionam outro valor. Maioritariamente músicas orquestrais (orquestra filarmónica de Tóquio), acrescentam um prolongamento fantástico à dimensão visual e exprimem muito bem o sentido desta aventura.

O guião possui algumas particularidades relevantes, entre as quais se encontra o sotaque de Drippy. Na versão japonesa, os produtores foram buscar o sotaque dos habitantes de Osaka, cujo ponto de equivalência nos ocidentais se manifesta na versão inglesa através do sotaque escocês. À semelhança do sucedido em jogos como Professor Layton ou Inazuma Eleven, a localização para o inglês está bastante boa, mas ainda assim continuo a preferir as vozes em japonês. Na versão final será possível escolher qual a língua do jogo, o que será ótimo para quem prefere escutar as vozes das personagens na língua original.

Muito há para dizer sobre Ni No Kuni, sobre a sua beleza e invulgar toque artístico para um jogo de role play. Como nos aproximamos a passos largos da versão final, deixamos para breve todas as conclusões. Se ainda restavam dúvidas, elas desapareceram com esta versão “preview”, que ainda nos deixou certos de que a parceria estabelecida entre a Ghibli e a Level-5 para Ni No Kuni, está a fazer deste jogo uma referencia intemporal do género. Capaz de tocar no lado emocional de qualquer pessoa e de chegar ao fã ferrenho de jrpg's, a aventura de Oliver vai começar por cá em Janeiro, com distribuição a cargo da Namco Bandai, exclusivamente para a PS3.

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Ni no Kuni: Wrath of the White Witch

PS3, Nintendo Switch

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Vítor Alexandre

Redator

Adepto de automóveis é assim por direito o nosso piloto de serviço. Mas o Vítor é outro que não falha um bom old school e é adepto ferrenho das novas produções criativas. Para além de que é corredor de Maratona. Mas não esquece os pastéis de Fão.
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