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I Am Alive - Análise

Quanto tempo conseguiriam sobreviver num cenário pós apocalíptico?

Como reage o ser humano em situações extremas de desespero? Que ações pode alguém tomar quando se encontra perante a necessidade de lutar pela própria vida, recorrendo a sacrifícios e decisões que julgaria nunca ter de concretizar? Quando a lei não existe e o que vale é cada um por si, conseguiremos, apesar da extenuação física e da perda de clarividência, encontrar o discernimento mental para não abdicar dos valores morais e da ética até ao último fôlego? Por mais cliché e filmada que tenha sido o "plot" argumentativo de I Am Alive, não podemos ignorar que todos os dias nos chegam pelos jornais e pela televisão novos heróis através de quadrantes semelhantes. Pessoas que resistem para lá das aparentes últimas réstias de força. Os sobreviventes da queda das torres de Nova Iorque muitos dias depois do atentado, o piloto que amarou o avião no rio Hudson, os mineiros do Chile, os pescadores portugueses resgatados na costa atlântica.

O mundo está cheio de boas notícias, que mesmo sendo enfatizadas no momento da sua revelação, acabam por perder, muito depressa, o seu significado. I Am Alive vive desse confronto e proporciona uma experiência que encerra sobretudo uma luta pela sobrevivência e pela capacidade do ser humano em se superar, para lá de limites que julgava impossíveis de alcançar. O humanismo é central ao jogo. A nossa personagem é uma boa pessoa. Mas também somos confrontados com o reverso da medalha. Sobreviventes num quadro pós apocalíptico que pilham e matam sem qualquer parcimónia nem que seja para ganhar mais alguns dias de vida.

Por isso, I Am Alive não é só um jogo de exploração e sobrevivência. Esta produção revela-nos ainda uma faceta aterradora, como que saída de um filme para maiores de 18. Outros sobreviventes apenas querem aguentar mais algum tempo. Apontam uma arma se chegarem perto deles, mas só disparam em último caso e desde que não os incomodem nada mais parece afligi-los, mas outras pessoas atacam mordem e comem outras pessoas se for preciso. O jogo convida-nos a alterar esse cenário catastrófico, ceifando a vida dos que não fazem por a merecer, mas será mesmo nessas circunstâncias a atitude mais adequada, ou será talvez melhor mantermo-nos focados no objetivo mais próximo e prosseguirmos no encalço dos familiares sobreviventes?

Claro que o argumento de I Am Alive não acrescenta nada novo. Dezenas de filmes tocaram no cerne da questão, promovendo a ideia de que todos encontram um momento de superação e aqui isso não é exceção. Fazer o percurso para casa num cenário de autêntica destruição pode levar horas, quando antes se fazia em poucos minutos. Tudo é diferente. Não é uma folha de papel em branco que está diante de nós. É uma folha, escura, muito feia, mas sempre podemos retirar algum do pó que cobre os rostos de pessoas próximas. Até ao fim, o jogo é de uma permanente indefinição e mesmo que tenhamos de repetir algumas secções por diversas vezes devido à ausência de pontos de gravação intermédios, pelo caminho encontramos dados, informações e aproximações com outras pessoas que nos fazem ter esperança.

O jogador assume o papel de um protagonista que se vê mergulhado num cenário dantesco. Edifícios tombaram e a maioria deles são esqueletos devolutos com divisões sem paredes. Ferro retorcido ergue-se do meio de placas de betão quebradas. Sinal da violência de algo denominado pelas pessoas como "The Event" que reduziu a lixo uma cidade. Há pó, muito pó a formar um cinzento que turva a visão à distância. Estradas quebradas, aluimentos, poços, buracos, fachadas desmoronadas, comboios descarrilados, carros capotados, cortes nos esgotos, placas atravessadas, pessoas caídas e cobertas de pó, esqueletos. Lê-se "eu tenho sede", alguém tosse secamente, algumas fogueiras servem de aconchego a um par de resistentes. Chegar perto é um risco, como reagirão?

Primeiros 15 minutos de I Am Alive.

A caracterização da área atingida é avassaladora, mesmo se o grafismo se revela aquém do que podemos encontrar num Uncharted. Mas se este jogo da Naughty Dog é talvez o que de mais próximo podemos encontrar para um ambiente que é escalado, já noutros segmentos da jogabilidade, I Am Alive parece partilhar alguns pontos com séries como Resident Evil ou Silent Hill, nomeadamente na forma como abordamos os inimigos, sempre com incerteza, indefinição e pouquíssimos recursos de defesa. Apesar da visível limitação gráfica, os produtores conseguiram criar mais algumas dificuldades para o jogador, nomeadamente na perceção dos possíveis pontos de fuga e na possibilidade de os inimigos reagirem em momentos menos esperados, como que saindo do nevoeiro.

Contudo e apesar de serem dadas dicas sobre como seguir em frente, através de indicações do computador ou por via de pequenos segmentos cinematográficos que apontam para onde deve seguir o protagonista, ele está sempre só e disponível para explorar cada recanto. Deve fazê-lo se pretende sobreviver. Há recantos que não descobrimos se nos focarmos na saída, elevações e pontos onde podemos encontrar objetos úteis. Podemos então encontrar outros sobreviventes que solicitam a nossa ajuda e se lhes prestarmos auxílio por via de garrafas de água ou kits de saúde seremos agraciados com informações de grande utilidade.

Ao contrario de Nathan Drake que não faz grande esforço para escalar montanhas e edifícios exóticos, já o herói de I Am Alive perde energia e enfraquece enquanto estiver suspenso. No canto superior esquerdo, uma barra de energia divide-se em duas partes. Uma assinalada a branco que corresponde à resistência e uma outra, assinalada a vermelho, que significa vitalidade. A parte dedicada à vitalidade é atingida se forem alvejados, sofrerem ataques com ferros e outros objetos dos inimigos ou caírem de pontos altos. Para curar as feridas e golpes infligidos pelos adversários poderão recorrer a kits de saúde, aplicar "painkillers", comer e beber. O complicado deste sistema é que os objetos de regeneração são tão escassos que terão de ponderar muito bem se pretendem usar naquele momento alguma coisa para recuperar os índices de saúde ou aceitar avançar mais algum tempo enfraquecidos.