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Ghost Trick: Phantom Detective

Mensagens do mundo dos fantasmas.

Por outro lado, alguns objectos são mais importantes que outros, mas nem sempre se faz a escolha mais eficaz. Por vezes há tempo para observar o efeito da manipulação de um objecto e verificar se o mesmo serve a finalidade. Outras vezes percebe-se que a opção tomada conduz irremediavelmente ao pior desfecho, pelo que a única opção passa por voltar ao princípio do problema e resolver tudo de novo. Esta será uma conjugação que naturalmente sobe de dificuldade nos capítulos da recta final do jogo. Nestas sequências será forçoso, para se alcançar o objectivo, ponderar os problemas de uma forma lateral, observando o ambiente (recorrendo ao pad ou usando a stylus ), no mundo real, tanto que nalguns capítulos existe um fraccionamento de tarefas em distintos cenários, pelo que só completando uma secção se acede à seguinte.

Se os primeiros capítulos foram criteriosamente concebidos de modo a permitir ao jogador uma imediata aclimatação e acomodação às regras originais de Ghost Trick, já a partir do décimo capítulo a dificuldade sobe consideravelmente e não raras surgem situações em que se descobre que a solução estava afinal tão perto, como exigia um raciocínio mais abstracto e fora do contexto situacional. Felizmente, é uma dificuldade com que se pode conviver. O jogo concede a oportunidade para voltar ao princípio e, quando alterado o destino de uma personagem, será possível, para a hipótese de se inviabilizar o resultado final, voltar a um ponto intermédio e continuar dali, como se tratasse de um "checkpoint".

Língua afiada.

Cedo, Sissel também aprende que pode percorrer os cenários através das linhas telefónicas, afinal bons condutores de espíritos. Mas isto só é possível quando está fora dos problemas a resolver em quatro minutos. Isso leva-o a conhecer novas áreas de investigação, acedendo a novas personagens, oportunidades para mais informação e novos problemas para resolver. No canto superior esquerdo do ecrã táctil é possível gravar a progressão. De resto, pode-se dizer que a utilização do ecrã superior torna-se mínima. Normalmente serve para apontar os objectos que Sissel está a controlar enquanto espírito, deixando claro se os mesmos são manipuláveis ou não.

O grosso da acção decorre no ecrã táctil, com todas as vinhetas de diálogos, sendo a "stylus" a ferramenta imprescindível para a resolução das tarefas. Apaixonante em Ghost Trick é o estilo animé que pinta o quadro visual da obra. Lembram-se de Comix Zone? Ghost Trick lembra um pouco esse saudoso cartucho da Mega Drive, já que o nosso protagonista parece deambular num quadro animado, mais vivo que Phoenix Wright. A boa diferença para Ace Attourney é que os cenários estão bem mais detalhados e as personagens movimentam-se, mais peças teatrais, onde até os pequenos objectos manipuláveis ganham vida e desencadeiam os incidentes. É espantoso ver as reacções das personagens aos truques de Sissel e como as acções provocadas pelo jogador encontram diferentes desfechos, com pontos de exclamação e sinais de surpresa.

Por outro lado, fascina a intervenção das personagens. São inúmeras (na tabela das opções pode-se consultar um conjunto de informações), com muito para contar e envolvidas numa trama que amarra pelo tom humorístico à boa maneira nipónica, sem perder o fio e o indicador dos contos policiais. Desde o cão herói Missile, passando por um inspector excêntrico chamado Cabanela, detectives demasiado vagarosos, até aos guardas prisionais que constroem castelos de cartas, dançam maluquices em alturas de pânico e anotam em postais os mais simples recados, é impossível não ficar rendido perante o rol de maravilhas que é a lista de personagens. Todas oferecem sinais peculiares, traços característicos, paródias. É certo que há bastante texto a percorrer, mas receber as informações que as personagens se prestam a dar e ainda com o humor típico, eis uma combinação explosiva.

O tempo está a contar.

A banda sonora é igualmente tocante e imprescindível. Partilha boa eficácia pelo dramatismo de algumas cenas e humor noutras; encaixa como uma mão na luva certa ao longo dos quadros visuais. Existe cuidado no fio narrativo, atenção nos diálogos, estando reservadas muitas surpresas e reviravoltas até ao final. Nada que não seja de esperar num bom policial. Porém e atento o particular estilo da obra, há um ímpeto que acompanha desde os instantes inaugurais. Por vezes Sissel consegue ficar mais perto de saber o que se passou horas antes, mais eis que nessa altura, novas questões ganham forma.

Centrado num argumento com final fechado, o jogador não tem alternativas para seguir senão um corredor de indicações. Uma vez descoberto o final, o valor para uma segunda ronda fica limitado. Contudo, o jogo oferece mais de quinze capítulos para percorrer e muitas horas pela frente. Se os primeiros puzzles podem ser resolvidos em pouco tempo, perto do décimo capítulos torna-se necessário pensar e interpretar com ginástica mental muitos dos desafios. Algumas dicas poderão facilitar a tarefa, o ponto de gravação intermédio afasta a maçada de começar do ponto zero e o processo de tentativa e erro acaba por entregar a resposta ao jogador. Contudo, é muito eficaz a sensação de partir para um novo puzzle e resolvê-lo. Até ao final o jogo cria motivos mais que suficientes para segurar a atenção.

Ghost Trick: Phantom Detective é um poço de originalidade, um jogo inventivo e dado a excentricidades. Ao mesmo tempo foi uma deliciosa oportunidade de Shu Takumi se desvincular de Ace Attourney e experimentar novos riscos. Correu-lhe bem. Como aventura e jogo de puzzles, Ghost Trick é peça obrigatória no roteiro DS e a afirmação de como se pode desenvolver para a portátil com estilo e imaginação.

9 / 10

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