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A trajetória da Overlord, estúdio brasileiro por trás de Tiny Little Bastards

O jogo será lançado em 2020.

A democratização das lojas virtuais permitiu que diversos jogos independentes alcançassem conquistas que antes não eram imaginadas. A corrida do ouro começou por volta de 2011-2012, principalmente quando o documentário Indie Game - The Movie dominou os tópicos na internet. No longa, acompanhamos o início, andamento e ascensão de jogos de grande importância para a indústria indie. Dos mencionados no filme, FEZ, Super Meat Boy e Braid foram os que mais ganharam destaque.

Indie Game: The Movie e os "vovôs" da cena independente inspiraram a criação da Overlord

Enquanto isso no Brasil, especificamente no Rio de Janeiro, um grupo de jovens cursando a faculdade cruzavam interesses criativos em conversas cotidianas sobre campanhas narrativas (storytelling), ícones da cultura pop e protótipos de RPG Maker. João Requião, fundador da desenvolvedora, teve a iniciativa de elevar toda aquela carga cultural das conversas, perpetuando assim, ideias e desejos por meio de jogos eletrônicos. Inicialmente, todos os amigos abraçaram o conceito, mas somente um permaneceu no time - Yan Magalhães, atual co-proprietário. Surgiu assim a Overlord Game Studio.

Teste da versão alpha de Tiny Little Bastards

Mesmo estudando em áreas acadêmicas que não lhe davam expertise em produção de jogos, eles toparam o desafio e passaram a estudar sobre aquele mercado em crescimento. João então, se matriculou novamente na universidade, mas desta vez para cursar ciências da computação, ganhando desta maneira a aptidão necessária para fazer do projeto algo tangível; enquanto isso, Yan fixou-se na área de level design.

"Antes mesmo de terminar a faculdade de história, aprendi a programar sozinho. Iniciei outro curso enquanto estava terminando minha primeira formação para aprender mais sobre a área", revela João."

Até este momento não havia nada concreto, mas depois desse período, eles reuniram alguns elementos de protótipos de jogos que vinham sendo produzidos como testes em suas próprias casas. Deste jeito, ganhava vida o primeiro produto do estúdio. Com investimento inicial próprio, eles alugaram um espaço, encontraram voluntários não remunerados e passaram a desenvolver o que seria Tiny Little Bastards. Com uma verba quase inexistente, o destino deles era incerto, mas destemido.

A cooperativa RING e a resolução de problemas

O caso da Overlord não foi isolado. Entre o ano de 2011-2015 surgiram diversos núcleos de desenvolvimento no Brasil. Visando concentrar forças para enfrentar as dificuldades em comum, eles formaram um coletivo local de desenvolvimento independente nomeado RING. Reunidos, eles enfrentam em conjunto toda sorte de problema, seja judicial, técnico e até mesmo questões de marketing.

Diferente de países europeus e norte americanos, não é comum ver programas de incentivo à cultura voltado a jogos eletrônicos no Brasil, sejam de iniciativa estatal ou privada. Em terras brasileiras, eles ainda são vistos como banalidade, estimulantes para violência e passatempos que não edificam, mesmo que esta mentalidade esteja sendo combatida pouco a pouco. Um caso famoso aconteceu em 2019, onde o atual vice presidente do Brasil Hamilton Mourão culpou os jogos de ação pelo triste massacre de Suzano. A saber, dois jovens entraram encapuzados na escola Raul Brasil, no Rio de Janeiro, assassinaram brutalmente 10 adolescentes e, logo depois, cometeram suicídio. Por aqui, não é raro ver a própria mídia fazendo campanhas contra o entretenimento interativo.

Hamilton Mourão, atual vice-presidente do Brasil

Pelo país, existem algumas raras iniciativas de investimentos, principalmente em regiões metropolitanas; partes delas visa o empreendedorismo, como uma incubadora de novas ideias. O Startup Rio, por exemplo, é um programa do governo do Rio de Janeiro que visa possibilitar a entrada de novas concepções de mercado através de valor monetário, independente do segmento. Foi assim que a Overlord Game Studios conseguiu a maior parte de seus investimentos. Com o plano de ação aprovado pelo programa, eles conseguiram verba para continuar alugando o espaço de trabalho, aprimorar equipamentos, contratar funcionários e oferecer salários aos que, até então, realizavam serviços voluntários na empresa. "Sem a Startup Rio provavelmente nós teríamos morrido", revela João Requião.

Os produtores passaram por outro grande desafio. Durante a produção de seu primeiro projeto, que encontrava-se em estágio avançado de desenvolvimento, rompeu-se um grande problema na gestão interna da equipe. O ocorrido fez com que o grupo perdesse quase metade do conteúdo que havia sido produzido. Resumidamente, uma parte essencial do jogo, que estava praticamente concluída, precisou ser refeita do 0. Com a situação vigente, eles acabaram adiando o lançamento por tempo indefinido. "O jogo estava muito avançado. Estávamos em pré-venda. Foi um impacto muito forte, tivemos que dar um passo para trás, lidar com a situação [da melhor maneira]", revela João com muito pesar.

Tiny Little Bastards, o resultado do esforço da Overlord

As duras adversidades não pararam a equipe. Com desafios vencidos, o estúdio, que conta hoje com sete funcionários, conquistou novamente o estágio avançado de produção do seu primeiro projeto oficial. Tiny Little Bastards se apresenta como um título de plataforma 2D no melhor estilo metroidvania, unindo traços cartunizados, movimentação ágil e situações engraçadas. Muito voltado ao humor non-sense, a lore dele foi construída a partir dos vikings, mas com o passar do tempo, eles decidiram não "engessar" o conteúdo exclusivamente na cultura nórdica. "Buscamos referências em Guia do Mochileiro das Galáxias e Alice no País das Maravilhas. Os personagens fazem coisas totalmente sem lógica que pra eles fazem total sentido, mas para nós não. A ideia é envolver o jogador [naquele universo esquisito]", diz o designer Marco Bitencourt.

Curiosidade: O trecho "We are your overlords" da música Immigrant Song, composta por Led Zeppelin, inspirou o nome do estúdio

Quando se trata de jogabilidade, Tiny Little Bastards é fluído, proporcionando um combate extremamente dinâmico. O ritmo é acelerado, desde o início o pulo é duplo, há vários tipos de armas e os combos velozes alternam entre habilidades e ataques que fazem do jogo uma experiência única. Tudo é tão frenético que os desenvolvedores observaram que estavam entregando facilmente muito poder ao jogador. "O combate estava muito solto, muito fácil, digamos assim. Então começamos a buscar outros jogos que trabalhavam com o sistema de estamina. Isso iria punir de alguma forma o jogador que estivesse apelando", admite Yan Magalhães. A maior referência da medida foi certamente The Legend of Zelda: Breath of the Wild. Para quem não lembra do sistema, qualquer ação que exige algum esforço em especial, como por exemplo a corrida, retira um pouco do vigor do personagem, representado por um círculo. Ao utilizar repetidamente certas ações, o vigor se acaba, forçando o jogador a aguardar para se recompor.

Sistema de estamina limita o jogador, mas não de uma maneira negativa

Uma campanha bem sucedida da Overlord no Catarse, site de financiamento coletivo brasileiro, permitiu que eles adicionassem novas mecânicas no jogo. Revelado exclusivamente para nós, um novo sistema de crafting está por vir - nomeado de brewing (misturas). Ivar, o protagonista da série, conseguirá materiais e sumos durante suas aventuras para testar novos sabores de bebidas. Eles serão essenciais porque darão novas habilidades ao viking, expandindo o leque de possibilidades e caminhos a serem explorados. O sistema lembra levemente o processo fabricação de poções, a famosa alquimia de The Witcher III: Wild Hunt. Os desenvolvedores explicaram que o brewing também influenciará diretamente na narrativa do jogo.

O brewing concederá novas habilidades e permitirá conhecer caminhos inexplorados

Para ser ainda mais assertivo, a equipe levou a versão pré alpha de Tiny Little Bastards a diversos eventos ao redor do mundo. Um dos principais foi a PAX South, em San Antonio - Estados Unidos. Muito feedback foi coletado por lá e, com eles, o refinamento. Nós também testamos e afirmamos que tudo é bem cativante, prometendo ser um dos maiores lançamentos independentes do Brasil no ano. Apesar do desenvolvimento estar indo bem, ainda é muito cedo para falar da versão final. João Requião afirmou que a expectativa é que Tiny Little Bastards esteja na lojas digitais no segundo semestre de 2020.

João Requião e Yan Magalhães, respectivamente, na PAX South

O estúdio também está trabalhando em outro dois projetos não anunciados, um deles se trata de um card game de codinome temporário Deckforge; o outro tem a ver com Tiny Little Bastards, mas sob uma perspectiva completamente diferente. Recheado, este ano nos aguarda com muitas surpresas da Overlord Game Studio. Com toda certeza, nós estaremos de olho em todas elas.

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