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A Nintendo Switch é um déjá vú?

Existem diferenças, mas ainda assim tanto de igual.

Foi no dia 13 de Janeiro que a Nintendo apresentou finalmente a sua Nintendo Switch ao mundo, que vivia em incrível entusiasmo perante o anúncio da nova proposta da companhia Japonesa. Eu digo vivia pois nos dias seguintes instalou-se aquela incredulidade tão característica que se segue após os anúncios da Nintendo, em que meio mundo fica com a cabeça inclinada e as sobrancelhas encorrilhadas, enquanto o outro meio declamava poemas de amor, acusando qualquer céptico de ser uma vil criatura que apenas odeia. Como seria de esperar, mais do que a consola em si, o que mais está a dar que falar são as decisões da Nintendo, recuperando aquela ideia que na companhia Japonesa, vista por muitos como um bastião de uma outra era, os génios criativos que imaginam todo o entretenimento com o qual te vais apaixonar, andam às turras com os senhores que vestem o fato e tomam as decisões.

Mais do que isso, na madrugada do dia 13 de Janeiro, a Nintendo mostrou mais uma vez que a única coisa que sabe fazer é ser a Nintendo, para o bem e para o mal. Depois da apresentação daquele esperançoso vídeo em Outubro e de inúmeras declarações dos seus representantes a declamar lições aprendidas com a Nintendo Wii U e a Nintendo 3DS, basicamente os últimos 5 anos da companhia, milhões de entusiastas em todo o mundo, apaixonados por esta nossa indústria, desesperaram para descobrir finalmente esse delicioso lado N dos videojogos. Muitos correram a comprar uma Xbox One ou PlayStation 4, mas existe imenso espaço neste nosso coração para abraçar com todo o gosto as propostas tão singulares da companhia de Mario. No entanto, se por um lado levamos com tudo o que há de bom na Nintendo, pelo outro, também nos esfregou na cara com toda a amargura o que de mau exibiu ao longo destes últimos anos.

Há muito que a Nintendo se colocou de lado das guerras de especificações e deixou a Microsoft num braço de ferro com a Sony. Isto permitiu que de Quioto viessem plataformas únicas, com conceitos próprios, mas ao mesmo tempo demonstrava que a Nintendo, por toda a sua genialidade, não parecia ter capacidade para ler o mercado, interpretar os avanços no tempo, e parecia contente por existir na sua própria bolha, à parte do resto. O desastre em que se tornou a Wii U não demoveu os fãs, e depois de meses com mensagens de esperança a sentir que a Nintendo poderia injectar uma bela energia na indústria, afinal de contas as Nintendo "vibes" são tão fixes, a Nintendo demonstra toda a sua teimosia (será persistência?) ao surgir tão Nintendo quanto nos habitou. Não pelos melhores motivos, mas sim por todo um déjá vú que nos embasbacou.

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Uma mensagem Japonesa carregada com a mesma incerteza

A Nintendo sempre esteve no seu melhor quando realça a diferença sobre as outras companhias, mas numa companhia que estabeleceu tantos dos padrões actuais da indústria, nem sempre ser diferente significa o melhor. No entanto, a conferência de imprensa da Nintendo no Japão foi exactamente o que tinha de ser: Nintendo. Sem a seriedade que marca as conferências da Microsoft ou da Sony, com os criativos a comunicar directamente as mensagens da Switch e dos seus jogos, foi decididamente Japonesa, e repleta de memes que vão persistir durante longos anos, pelo menos enquanto a internet não os esquecer. Neste festival de memes, repleto de momentos incríveis e envoltos numa atmosfera muito própria, a Nintendo mostrou que a diversidade é uma coisa tão deslumbrante e que não pensamos todos da mesma forma. No entanto, no meio de tantas palavras, parece que nada foi dito.

Para uma consola que será lançada a 3 de Março, a Nintendo deixou mais dúvidas do que respostas, e por mais que Yoshiaki Koizumi, produtor geral da Nintendo Switch, tenha sido o mais carismático apresentador de uma conferência nos últimos largos anos, toda a mensagem da Nintendo pareceu ineficaz. Se o rescaldo, com as inúmeras declarações dos principais responsáveis da Nintendo, não fosse prova disso (uns a dizer que é uma portátil acima de tudo, outros que é uma caseira principalmente, uns a dizer que é algo novo, outros a defender que existe ADN da Wii U), após somar toda a informação, sem esquecer o que diz respeito às third-parties, e à necessidade de separar desde já a Switch do panorama que asfixiou a Wii U, ficou a sensação que a Nintendo apresentou uma mão cheia de nada com sabor a coisa nenhuma.

A necessidade de ter a Electronic Arts a dizer que FIFA estará na Switch é uma prova de como a Nintendo quer alcançar as massas, e não somente os 13.3 milhões que compraram uma Wii U. No entanto, nada de concreto para mostrar, nada sobre outros projectos da companhia na Switch, especialmente quando falamos de uma das mais importantes editoras da actualidade, e muitas palavras nos bastidores sobre qual será a base desta versão. Ainda assim, tivemos a Square Enix a apresentar jogos com data e projectos de equipas de respeito, tivemos Suda 51 a anunciar um novo jogo com Travis Touchdown de No More Heroes, e tivemos Toshihiro Nagoshi a subir ao palco para dizer, basicamente, que a SEGA reconhece a existência da Switch, que gosta da sua proposta singular, mas não tem nada para apresentar.

Isto foi basicamente o que sucedeu com a Wii U, todo um declarado entusiasmo das editoras internacionais, mas nada de concreto que tire proveito dessa singularidade. A postura do 'esperar para ver' parece ser novamente a ordem do dia, e a Nintendo deveria ter feito algo mais forte e coeso para entregar uma mensagem diferente ao mundo. Ao invés de pessoas a dizer que sabem que a consola existe, deviam ter apresentado jogos de companhias que sabem que a consola existe. Era aqui que a Nintendo deveria ter respondido de forma firme a toda a onda positiva que existia.

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Vamos reconhecer que é a Nintendo que tem de vender consolas e não a EA ou a 2K

Penso que estamos de acordo quando digo que a responsável por vender consolas é a Nintendo e não a Ubisoft, a Square Enix, ou qualquer uma outra editora. Para sossegar toda uma indústria face aos receios da falta de apoio à Wii U, a Nintendo partilhou o palco da conferência com algumas das principais editoras da actualidade, e uma das maiores queixas dos fãs é que o apoio que revelaram não foi propriamente o mais satisfatório. Mas tens de reconhecer que quem tem de as convencer a lançar jogos na Switch é a Nintendo. A grande maioria das editoras limitou-se a anunciar ports de jogos existentes, como a Ubisoft com o seu trio de jogos, enquanto outras companhias, como a Square Enix ou a Atlus, anunciaram jogos novos mas sem muitas informações.

Parece ser mais um jogo da espera para ver se a consola consegue atrair as massas, antes de começar a criar jogos, especialmente porque a natureza híbrida da consola significará uma postura diferente dos estúdios. Tendo em conta que já estão sobrecarregados com versões, é mais uma equação na sua frágil matemática. Anunciar que a Nintendo Switch terá Steep ou Rayman Legends parece uma declaração de esforço mínimo da Ubisoft, e um belo exemplo da postura que as editoras parecem estar a tomar perante a Switch. Isto levanta desde já questões para o futuro, não porque estou a traçar cenários desastrosos, mas porque tudo parece brilhar com o mesmo esplendor de outrora, mas ao mesmo tempo soa tão igual.

A Nintendo Wii U sofreu com a falta de apoio, precisamente porque a Nintendo não soube vender a consola e não a tornou apetecível, muito além do seu público tradicional, não chegou aos que justificam a criação de mais uma versão. Para uma consola que até há uns dias parecia surgir de uma companhia envolta em refrescada energia, a sensação de déjá vú é imensa. Será que receber meras conversões de jogos com vários meses, ou anos, de atraso é suficiente? Será que passar meses a fio sem os multiplataformas de eleição é apelativo? Seja de que forma for, não sou eu nem tu, ou as editoras, que têm de vender a Switch, é a Nintendo, e a mensagem nesta conferência devia ter sido mais clara, mais firme, e mais distante do que foi feito com o início da Wii U.

Quando todos queriam ver as third-parties a brilhar, fosse com a apresentação de Persona 5 ou um outro qualquer jogo de alto perfil, de sabor Japonês preferencialmente, para demonstrar desde logo uma firme viragem sobre o panorama da anterior consola, deveria ter sido a Nintendo a cimentar essa refrescante abordagem, especialmente quando é a Ninendo que está no controlo. Pokémon está na mó de cima, mais do que nunca (se é que alguma vez esteve na mó de baixo), e ver uma versão Switch de Sun e Moon suscitaria muito mais euforia do que qualquer Shin Megami Tensei. Não porque os rumores o indicavam e não aconteceu, mas porque sabes que era um incrível trunfo mainstream para a consola. Numa altura em que os olhos do mundo estavam centrados na Nintendo, com a faca e o Metroid na mão, a companhia Japonesa voltou a ser igual a si mesma.

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A genialidade criativa vs. sede corporativa

Enquanto alguns encaram a Nintendo Switch como uma novidade total, outros acreditam que se trata de uma Wii U 2 com o benefício acrescido de transportar o GamePad para qualquer lado, em formato portátil. A Nintendo afastou-se da guerra das especificações há muito tempo, e focou-se na introdução de conceitos diferentes, cujas mensagens nem sempre convenceram os consumidores. Enquanto os adeptos acérrimos da Nintendo não prescindem das suas consolas para jogar os seus exclusivos, outros tantos precisam ser convencidos que uma consola híbrida deve fazer parte da sua vida. Será especialmente difícil se não existirem os jogos capazes de tal, e com os preços que foram anunciados então ainda ficamos pior.

Com um conceito próprio e totalmente focada nos videojogos, sem funções multimedia, a Nintendo continua a traçar o seu caminho próprio, mas a sua política para os preços não. Enquanto muitos aclamam que a Nintendo era do povo, com os preços das suas consolas e jogos, esta Nintendo Switch mais parece um produto da Apple, com preços que não correspondem ao que os consumidores esperam. Apesar de se catalogar como uma companhia para as famílias, os valores apresentados pela Nintendo soam definitivamente a premium, o que introduziu a sensação que o valor pedido pela proposta é demasiado elevado.

Quanto mais a Nintendo quer crescer mais as suas debilidades mostra, e por mais brilhantes e criativas que sejam as mentes que nos trazem aqueles jogos que nos apaixonam, é difícil não questionar uma companhia que nos apresenta serviços online pagos, a necessidade de um smartphone para desfrutar de funções básicas numa consola de 2017 que precisa de ser mais social do que nunca, e os preços dos periféricos que deixaram o mundo de queixo caído. Desde Outubro que aplaudimos de pé o conceito da Switch e esta vontade da Nintendo em destacar-se, mas também aqui ficamos com a sensação de déjá vú. A controversa questão dos periféricos caros, algo que existe em outras plataformas é certo, não parece ser próprio de uma companhia que acabou de vender apenas 13 milhões da sua anterior consola, e quer rapidamente conquistar os consumidores de volta.

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O serviço online pago mostra que não há nada de errado em ser igual aos outros

Por todos os gritos de singularidade proferidos pela Nintendo com a sua Switch, houve uma demonstração da companhia Japonesa através da qual indicou claramente que não existe problema nenhum em ser igual aos outros. Numa era em que a PlayStation e a Xbox partilham uma fatia de $7 mil milhões em receitas de serviços de subscrição e vendas de conteúdos adicionais, a Nintendo demonstra querer viver em 2017 ao apresentar o seu serviço online pago. Toda a forma como foi gerida a sua introdução é bem reveladora que afinal, ao contrário do que acreditamos em Outubro de 2016, a Nintendo ainda não sabe apresentar a sua mensagem de forma clara, e revela estar no seu pior quando é o mais Nintendo que pode ser.

Esta é talvez a maior amostra da confusão em que se tornou a a actualidade da Nintendo, deixando a sensação que a Nintendo está a correr contra o tempo, forçada a apresentar ideias ainda mal cozinhadas. Muitos partem logo para a sua defesa, declamando que não podemos criticar algo do qual ainda pouco, ou mesmo nada, sabemos. Então, por que é que a Nintendo anunciou a existência do serviço? Se o fez, devia ter sido feito na sua totalidade e não de uma forma tão atrapalhada. Anunciar o serviço de forma firme e coesa, completamente estruturado e definido, teria sido benéfico para a sua estratégia, pois desde logo daria uma ideia concisa e correcta a todos os seus consumidores. Se fosse confiante na sua mensagem, transmitiria confiança aos consumidores. Um "a Nintendo sabe o que quer fazer" foi perdido e tornou-se em mais um "mas afinal o que quer a Nintendo fazer"?

Esta foi mais uma amostra das meias mensagens que caracterizaram a Nintendo na era Wii U, que afinal de contas não terminou assim há tanto tempo. Será que esperamos demasiado da mensagem optimista da Nintendo em 2016, que nos fez acreditar que agora seria diferente da 3DS e Wii U? Não existe qualquer problema na Nintendo procurar a sua fatia dessas inacreditáveis receitas, mas sem o historial necessário para conquistar a confiança dos consumidores, e sem uma mensagem firme, voltamos a sentir que a Nintendo anda, ainda, às apalpadelas em aspectos importantes desta indústria.

É mais uma sensação de déjá vú, com um toque de inaptidão para comunicar as suas ideias, de uma empresa que se quer actualizar de um dia para o outro, sem percorrer todo o caminho que as concorrentes tiveram de percorrer. Seja nas sucessivas experiências ao estilo tentativa e erro, seja no consciencializar dos consumidores e das suas carteiras. Será igualmente importante analisar a reacção a jogos como Splatoon 2, para o qual os consumidores terão de saber que vão pagar para jogar online.

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Onde estão os jogos?

Pode não parecer, mas este é talvez o ponto mais controverso em toda esta situação da Nintendo Switch, especialmente porque se por um lado parece que a consola tem tudo, pelo outro parece que não tem nada. Lançar uma consola com The Legend of Zelda é decididamente incrível, e no mesmo ano lançar Super Mario Odyssey e Xenoblade Chronicles 2, é um estrondo, mas existe tanto espaço em branco, e ainda aquela sensação que estamos a reviver os anos da Wii U no que diz respeito às third-parties, o que torna toda esta situação dos jogos decididamente confusa. Não existe aqui qualquer dramatismo, ou procura de fatalidades antecipadas, apenas a procura por compreensão para as políticas da Nintendo, e a necessidade de encontrar um qualquer sinal de uma companhia revitalizada, e incapaz de repetir os mesmos erros cometidos há tão poucos meses atrás.

A Nintendo Switch chegará às lojas com uma mão cheia de jogos, Zelda: Breath of the Wild é o cabeça de cartaz, e a Nintendo aproveita-se aqui das vendas fracas da Wii U, sabendo que muitos podem começar de novo com a sua nova consola e desde logo com um grande jogo. Para outros tantos, o fraco alinhamento inicial é apenas um convite para esperar mais uns meses, enquanto desfrutam de Zelda: Breath of the Wild na sua Wii U, fazendo justiça à malograda consola da Nintendo. Os próximos meses serão passados com Mario Kart 8 Deluxe, um jogo de 2014, e Splatoon 2, que ainda terá de provar ser uma verdadeira sequela ao original de 2015. Aqui a Nintendo parece estar a acompanhar a indústria, criando "remasters" dos seus melhores jogos Wii U, para os vender a toda uma nova audiência que pode não os ter jogado. Aconteceu o mesmo com a Sony e com muitas outras editoras, e os resultados foram melhores do que as adversas reacções na internet sugerem.

Com ARMS ainda sem data concreta, e sem provas que é mais do que uma glorificação de uma gimmick, Super Mario Odyssey, Fire Emblem Warriors e Xenoblade Chronicles 2 são as grandes apostas para o final do ano. Acreditando que nenhum deles será adiado e teremos um final de ano estrondoso, a ideia de passar quase quase 6 meses sem verdadeiras novidades poderá desmotivar muitos da compra da consola. De um lado, os donos de uma Wii U que preferem comprar Zelda: Breath of the Wild e aguardar a compra, e do outro lado, os que querem começar a vida da Switch com o épico da Nintendo. Será altamente importante para a Nintendo tornar a Switch apetecível, especialmente porque, ao contrário de outras concorrentes, não terá o benefício de ser vista como uma "remasterstation 4" mais acessível que a concorrência.

As recentes tendências no mercado, especialmente no final de 2016, mostraram que os consumidores preferem esperar algumas semanas e ver os preços baixar, antes de comprar os jogos. Será que a Nintendo conseguirá manter-se à parte desta realidade da indústria e segurar os preços meses, ou até anos, a fio? Muitos consumidores podem optar por esperar por uma baixa de preço, na consola e nos jogos, e também aqui será altamente interessante ver o desenrolar dos acontecimentos. Reacções a jogos como Super Bomberman R mostram que existe cada vez maior preocupação dos consumidores que a Nintendo se queira manter numa realidade à parte, o que poderá afastar o interesse de alguns. Nunca anteriormente se viu tamanha preocupação com os preços dos jogos numa consola, o que revela bem os receios com que vivem os consumidores da Nintendo, depois temos ainda outras contas para fazer. Para quê comprar uma versão Switch quando a versão Xbox One ou PS4 irá baixar de preço semanas após o lançamento?

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A Nintendo não era a companhia das consolas baratas?

Este é muito possivelmente o elemento para o qual parece existir quase um consenso, a Nintendo carregou exageradamente no preço da sua Nintendo Switch e poderá ter-se colocado numa posição incómoda. Será por uma questão de stock? Será que a companhia prefere vender a um preço superior para os seus acérrimos fãs, enquanto gere o stock que vai saindo das fábricas? A Nintendo é frequentemente acusada de forçar a escassez dos seus produtos para os tornar mais apetecíveis, para motivar o indeciso a correr às lojas antes que esgote, ou simplesmente para que o comprador sinta que tem o produto tão desejado. No entanto isso é pura especulação, e apenas nos podemos cingir ao que realmente foi dito, ou aconteceu.

Quando a Nintendo anunciou o preço, essa informação tão desejada chegou na verdade logo no início da conferência, o primeiro momento "mas então não aprenderam nada" nasceu logo ali. Depois da sua postura altamente criticável com a Wii U, sem apresentar promoções, actualmente mais cara que uma Xbox One S ou uma PlayStation 4, muitos esperavam que a Nintendo estivesse mais atenta ao mundo real, mais activa, mas não. A única amostra de coragem da Nintendo foi em cometer o mesmo erro que cometeu nas duas consolas anteriores, a de colocar um preço decididamente alto. A inovação e a tecnologia têm os seus preços, é certo, mas para uma companhia que diz pensar nas famílias, é difícil olhar para a Switch e pensar que está desde já a abraçar as massas.

Parte do positivismo e esperança em torno da Switch estava relacionado com o preço, com essa sensação que a Nintendo estava disposta a corrigir os erros. Isso não nasceu em rumores, não nasceu de questionários na internet, nasceu da própria Nintendo. Ao longo de 2016, Tatsumi Kimishima, presidente da Nintendo, e diversos representantes, sistematicamente insistiram nesse tom optimista e esperançoso. Foi frequente ouvir Kimishima dizer que a Nintendo aprendeu com os erros da 3DS, cujo preço foi reduzido poucos meses após o lançamento devido à fraca adesão, e que a consola não seria lançada com um preço tão elevado como o da Wii U. Foi a Nintendo que o disse, foi essa a mensagem que nos encheu de alegria, a mensagem que nos dizia que a Nintendo estava finalmente em sintonia com os fãs.

Se formos precisos, a Nintendo Wii U foi lançada por €349.99, pacote premium, logo os €329 pedidos para a Switch são um valor inferior, mas não era isto que os consumidores e fãs esperavam, especialmente quando existiu uma Wii U Basic que custava €299. Foi a própria companhia que admitiu ter errado, que referiu ter aprendido com os erros e que estava em posição de apresentar um preço capaz de agradar aos seus fãs, que sentiram alguma injustiça no passado. Será que isto significa que teremos um "Programa Embaixador na Switch" em Agosto?


A chegada da Nintendo Switch é um momento altamente entusiasmante na indústria, e continuo a afirmar que o lado Nintendo da indústria é incrivelmente refrescante. No entanto, é curioso assistir a um déjá vú de uma companhia que apenas precisava provar que aprendeu com os erros, e não que tinha coragem para os cometer novamente. A mensagem não mais é clara, e o que parecia ser uma vitória certa tornou-se agora em algo incerto. Seja na preço da consola, no preço dos acessórios, ou até nos jogos third-party encarados como caros, a Nintendo deveria ter feito para se tornar mais apetecível, e demonstrar ser tão competente na vertente corporativa, quanto na genialidade criativa.

Seja de que forma for, a Nintendo Switch estará nas lojas no próximo dia 3 de Março, e o que aprendi ao longo destas duas semanas é que a Nintendo continua igual a si mesma. Por um lado, é algo deslumbrante, pelo outro, é algo assustador. Num momento em que a Nintendo cimenta a sua singularidade com o conceito híbrido da consola, mostra que está atenta às concorrentes e disposta a emular, mas é pena que não faça precisamente isso em outros sectores que o justificam.

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Bruno Galvão

Redator

O Bruno tem um gosto requintado. Para ele os videojogos são mais que um entretenimento e gosta de discutir sobre formas e arte. Para além disso consome tudo que seja Japonês, principalmente JRPG. Nós só agradecemos.
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