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A guerra de consolas é estúpida e explicamos o porquê

Uma carta para todos os fanboys.

O barulho dos tambores da guerra é ensurdecedor, já não há mais espaço para a razão ou diálogo. Nas trincheiras estão neste momento milhares de soldados de cada nação, cada lado convicto na sua razão, nas suas escolhas. E todos sabemos que na guerra vale tudo. O cenário é caótico, violento e desumano. O único ponto positivo desta guerra é que não envolve munição real, não há troca de tiros que perfuram a carne - apenas troca de palavras, com insultos e muita estupidez pelo menos. Esta é uma Guerra de Consolas e está a acontecer pela Internet fora nas caixas de comentários das redes sociais, dos fóruns e dos muitos sites de comunicação. É uma guerra virtual que se repete intensamente sempre que se avizinham novas consolas.

De um lado temos os soldados da PlayStation (os sonystas), do outro os da Xbox (os caixistas). Quanto ao motivo da guerra, é o mesmo de sempre: provar que a sua consola de eleição é obviamente muito melhor do que a outra! Confesso que é perturbante, mas simultaneamente fascinante, observar os comportamentos de consumidores que se tornaram tão leais a uma marca que são capazes de insultar outros para a defender ou, ainda pior, perder tempo em dissertações falaciosas que tentam explicar este tipo de comportamento irracional. É o mesmo fenómeno que se verifica no futebol com o clubismo, que ofusca completamente o desporto em prol de provar que o o meu clube é obviamente muito melhor do que o teu! Este tipo de discussões são uma perda tempo e nunca se discute o que é realmente importante.

"Consumidores que se tornaram tão leais a uma marca que são capazes de insultar outros para a defender"

Não me entendam mal, haver concorrência no mercado dos videojogos - neste caso entre consolas - é positivo e extremamente importante para o consumidor. Contudo, a guerra não deve ser disputada pelos consumidores, mas antes pelas próprias empresas. Por mais perfumado e decorado que seja o palavreado de uma empresa, no fundo o que eles querem é sempre o mesmo: o teu dinheiro! E quantas mais vezes lhes deres o teu dinheiro, mais contentes eles ficam. Num mercado capitalista, nenhuma empresa é realmente tua amiga porque ultimamente o objectivo é sempre aumentar os lucros. Aumentar os lucros significa aumentar as receitas, o que por sua vez implica que cada consumidor gaste mais ou que haja mais consumidores a gastar. Enquanto consumidor o que tens de perceber é, no momento da compra, qual é o produto que vai de encontro às tuas necessidades e que te vai deixar mais satisfeito.

O preço das novas consolas ainda não foi revelado, o que será determinante na escolha dos consumidores. Quanto mais baixo for o preço, melhor.

Quando existe brand loyalty cega, não há espaço para este tipo de exercício racional de analisar o que é melhor para ti. E convém compreender que o que é melhor para ti pode não ser o que é melhor para o teu vizinho ou amigo. A maravilha da concorrência é que existem diferentes produtos - cada um com os seus prós e contras - para agradar a consumidores com preferências e necessidades diferentes. O problema é que a guerra das consolas é fomentada por inseguranças e inflação de egos. Por um lado é compreensível, afinal uma consola nova ainda é um investimento considerável que custa quase um salário mínimo em Portugal. Vir proclamar para a Internet que a sua consola é a melhor e juntarem-se a cultos de marcas de consolas é um mecanismo de validação, uma forma de reforçar o sentimento de que fez uma boa compra.

No entanto, para perceberes o quão ridículo e estúpido é este tipo de comportamento, pensa nisto: compraste um snickers, o teu chocolate favorito, e adoraste a mistura do chocolate, caramelo e amendoim. Quando chegares a casa certamente não vais perder o teu tempo a participar em inflamadas discussões com pessoas que preferem um Twix ou Mars. Este tipo de discussões não acontecem porque um chocolate é uma coisa tão barata e banalmente consumida que ninguém vai perder tempo e energia a tentar validar a sua compra. Para ser justo, uma consola, como tem um custo maior, requer um estudo e consideração maior antes da compra, no entanto, é apenas mais um produto comercial como qualquer outro. Não ganhas nada em tentar provar que é melhor do que outro produto concorrente (a não ser que decidas começar a investir em acções dessa empresa).

"Este tipo de discussões não acontecem porque um chocolate é uma coisa tão barata e banalmente consumida que ninguém vai perder tempo e energia a tentar validar a sua compra"

Deixa que a Sony e a Microsoft (e não refiro a Nintendo porque está numa corrida à parte) disputem a guerra. As empresas é que têm de provar o seu valor e porque razão merecerem o teu dinheiro, e não o contrário. Defender cegamente qualquer uma destas empresas não faz sentido, nenhuma delas vai defender-te cegamente a ti. Se formos a analisar o histórico destas empresas, tanto uma como outra fizeram coisas positivas e negativas para o consumidor.

A Microsoft foi a primeira a cobrar pelo multiplayer online pago nas consolas e hoje não há nenhuma consola em que não seja preciso subscrição para usufruir de uma funcionalidade incluída nos jogos. No entanto, a Microsoft tornou-se no exemplo máximo da retrocompatibilidade e cross-play, dois avanços positivos nesta geração de consolas. Na geração da PS3 a Sony foi pioneira no Online Pass - uma medida para capitalizar no mercado dos jogos usados e que forçava os consumidores a gastar dinheiro para usufruir do online em cópias compradas em segunda mão. Todavia, na apresentação da PS4 a Sony foi completamente contra a direcção da Microsoft, que pretendia tornar a partilha de jogos muito mais complicada.

Tudo isto para mostrar que nenhum delas é inerentemente boa ou má. São empresas que tomam decisões com base no lucro e, por vezes, essas decisões beneficiam os consumidores. Outras vezes nem por isso.

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